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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

07.- Sobre escrita se faz tríduo


Porto Alegre Ano 5 # 1618

Provavelmente a árvore de natal e os arranjos já estão guardados. Hoje quando fechei a caixa e lembrei-me só abriria em dezembro vi-me fazendo sonhos até reusar o material que guardava. Estamos completando a primeira semana de 2011.

Esta tarde estou em mais uma banca no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Hoje o médico Jerri Estevan Varcaro, orientado pelo Prof. Dr. Fleming Salvador Pedroso apresenta a dissertação “Estudo do desempenho dos segurados que participaram do programa de reabilitação.profissional do Instituto Nacional de Seguridade Social”. Integra também comigo a banca o Prof. Dr. Marcos Mucenic. Mesmo que seja um assunto de uma tribo onde sou alienígena, como a dissertação de ontem, esta foi de estudo mais fácil (se comparada com aquela dos amputados, pelo menos não tão sofrida).

Permito-me continuar – e isso agora já se faz tríduo – trazendo minhas lucubrações acerca das modificações em nosso ferramental de escrita que se fez capítulo do livro que preparo celebrações do 50tenário que se avizinha

Imagino (no mais profundo significado da ação verbal desta palavra: fazer imagens) qual não teria sido a produção de alguns homens e mulheres se já tivessem os meios de escrever de hoje. Pensemos, apenas para ficarmos em um exemplo, na situação de Marx, pesquisando no British Museum, quando produziu parte significativa de sua volumosa obra, plena de notas de rodapé, de índices analíticos e de índices remissivos, que tinham ser manualmente ordena­dos, quando comparamos com a situação de hoje, quando usamos um editor de texto com­putadorizado, por exemplo, ao inserimos uma nota de pé-de-página, todas as outras posterio­res são renumeradas ou quando temos o índice alfabético, a entrada de uma nova palavra se posiciona rigorosamente, sem que precisemos nos preocupar com sua posição na listagem. A facilitação das citações bibliográficas (e transferência das mesmas para diferentes textos) é outra fabulosa comodidade que nos oferecem os editores de texto. Tudo isto sem deixar de referir a excelente qualidade (cali)gráfica dos rascunhos.

Poderia trazer vários exemplos de quanto o trabalho de escrever mudou mais recentemente e de quanto profissões desapareceram com esta evolução. O escriturário, quase um copista medieval, que fazia os lançamentos contábeis ou os registros nas contas-correntes em um banco era uma figura que ainda nos anos 60 do século 20 estava presente em diferentes estabelecimentos. Referiu-se profissões seculares que desapareceram em função da evolução dos processos de escritas, a rapidação nesta área é tão fantástica que houve profissões que foram criadas em função do desenvolvimento tecnológico e que este mesmo desenvolvimento extinguiu, tão rapidamente quanto as criou: nos anos 70, por exemplo, havia uma profissão de perfurador de cartões para processamento de dados, que hoje com leitoras óticas desapareceu.

Se olhamos uma rápida evolução em algumas profissões parece interessante que se observe algo referente aos problemas de saúde relacionados com o escrever. Eis o que dizia um escriba do Século 8º sobre sua profissão “É um ofício duro, embaralha a vista, causa corcunda, encurva o peito e o ventre, dá dor nos rins. É uma rude provação para todo o corpo”. (Rouche, 1991, p. 523)[1]. Este mesmo escriba, na busca da valorização e proteção de seu trabalho, acrescentava: ”Assim, leitor, não ponhas o dedo sobre as letras!”. (Idem: p. 523). Atualmente, mais de mil anos depois, quando se faz estudos sobre as doenças funcionais mais comuns que atingem aqueles que digitam num teclado de computador, a listagem das mesmas parece não ser muito diferente, apenas numa redação que traduz uma linguagem específica da área médica, como por exemplo esta descrição presente num relato clínico: “Síndrome compressiva periférica: conjunto de doenças da coluna cervical que a partir da compressão dos nervos, pode causar alteração da sensibilidade, dor, formigamento. Problemas visuais: cansaço visual, cintilamento frente aos olhos, prurido ocular, visão borrada, olhos ardentes. Tendinite: inflamações que podem atingir ombros, punhos, cotovelo. Tenossonovites: espécie de tendinite, que atinge punho e antebraço” (Hoefel: 1995)[2]

Na Idade Média, talvez pelo esforço físico que exigia (e pelas dores que causava) a cópia de livros era, também, uma forma de castigo ou até um trabalho penitencial que era imposto aos monges. Esta tarefa de copistas era, muitas vezes, realizada mesmo por não letrados, donde se pode inferir também quantos erros não ocorriam nos livros que eram assim copiados e talvez quantas passagens de textos, ditos sagrados não tenham sido adulteradas.

Parece indiscutível quanto nos últimos anos, as modificações tecnológicas se fizeram presentes nas alterações no nosso trabalho de escrever.

[1] ROUCHE, Michel Alta idade média Ocidental. In ARIÈS, Philippe & DUBY, Geoges. Coleção História da vida privada. Vol. 1 Do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

[1] HOEFEL, Maria da Graça: Jornal do Comércio, 31JUL1995

Uma muito boa sexta-feira. Aqui este dia seria bom se abrandasse o senegalês calor e se houvesse a desejada chuva. A estiagem cresta o solo com a morte de animais e planta. Ainda um aviso: amanhã as dicas sabáticas de leitura voltam a ser editadas. Assim, um convite: fruam a sabatina.



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