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quinta-feira, 16 de maio de 2013

16.- INDISCIPLINARIDADE; PARA ALÉM DA TRANSDICIPLINARIDADE.


ANO
7
Inaugurando uma nova fase: Agora, SEMANÁRIO.
EDIÇÃO
2477
Esta é a primeira edição deste blogue depois da migração de diário (por 6,8 anos) para semanário. Vestibularmente, agradeço os acarinhamento de meus leitores entendendo a opção anunciada na edição anterior. Houve mensagens que me emocionaram. Obrigado a cada uma e cada um. Não posso negar que a sensação de abstinência é, às vezes, amarga, mas há também, uma sensação de alívio.
Nesta quinta-feira — dia eleito à circulação semanal — viajo à tarde para Santa Maria (são 4 horas de ônibus) para a conferência de encerramento do III Seminário do Pibid da UNIFRA. A proposta para discussão é Indisciplinaridade: um passo além da transdiciplinaridade. Volto na madrugada. Para mim, é significativo ser a primeira vez que retorno a Santa Maria — tão presente em minha infância como filho de ferroviário —, após o macabro 27JAN13.

Acerca de minha fala, em um momento destaco que nosso fazer Educação não se consubstancia numa ilha programada por nossa fantasia. Há múltiplas realidades, a nos alertar sobre a impossibilidade da existência de um mundo ideal.
Todavia, a visão fracionada da realidade não ocorre assim por acaso. As agências de fomento – o nome não poderia ser mais poético – tendem a contratar especialistas cada vez mais especializados, para resolver segmentariamente um problema. A maior parte das análises, diagnósticos e propostas para dar respostas a uma demanda, só tem uma característica comum: entender o problema com seus óculos específicos. Peritos de cada uma das áreas propõem soluções no terreno das outras:
 – o educador considera que é impossível oferecer uma educação de qualidade a meninos cujos pais não têm trabalho e moradia adequada e sofrem de carências alimentares, portanto propõe começar a resolver a questão do emprego, da moradia e da saúde;
– o experto em empregos sustenta que precisa começar atendendo as questões educativas, pois os novos modelos laborais requerem uma formação e capacitação tal que sem educação não pode haver emprego de qualidade; ainda afirma que se requer boas condições sanitárias da população para que se possa trabalhar adequadamente;
– o perito em segurança afirma que precisa começar educação, emprego e erradicação da pobreza, pois está comprovado estatisticamente – e isso é decisivo – que quanto maior o nível educativo, menor é o uso da violência e que quanto maior o nível de equidade social, menor a taxa de violência em geral;
– o experto em saúde afirma que não há sistema de saúde sustentável sem pleno emprego (pois o sistema público não pode atender satisfatoriamente a toda a população) sem educação suficiente (base da prevenção) e sem condições ambientais e educacionais adequadas;
– o perito em habitações afirma que sem emprego e sem educação toda a política de moradias não passa de mero assistencialismo.
– o perito em questões ambientais remete o inicio de suas ações à segurança, à educação, à saúde, ao emprego...
Como nenhum dos problemas centrais da vida é possível ser abordado sem múltiplas conexões com outros problemas vitais, resulta que parece impossível de solucionarmos aquele problema no qual temos expertise. É preciso pensar, deixando de lado as nossas especializações, transgredindo as fronteiras de nossas disciplinas é propormos ações que tragam a marca daquilo que Del Pércio propõe como “a in-disciplina como a metodologia mais adequada para abordar a análise das principais tendências sociais”. (p. 20).
DEL PERCIO, Enrique M. La condición social: Consumo, poder y representación en el capitalismo tardío. Buenos Aires: Altamira, 2006.

8 comentários:

  1. Limerique

    Era uma vez um tal de achismo
    Que na educação virou um sismo
    "Não pode isso sem aquilo "
    "Ensina-se então por quilo "
    Então descobriu-se o ecletismo.

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  2. Mais uma vez insisto na lembrança de nosso saudoso Darcy Ribeiro, que com sua visão futurista já à época criou o projeto dos Brizolões, projeto enterrado pela infelicidade de ter sido batizado politicamente. Os Brizolões eram escolas pré-moldadas, as quais seriam fabricadas no sambódromo durante o ano, e tinham peculiaridades especiais. Os Brizolões, nome original CIEP, Centro Integrado de Escola Pública (se não me falha a memória) eram centro educacionais com complexos esportivos com quadra de futebol de salão, campo de futebol, piscina etc. Lá o aluno passava o dia todo, se alimentava, aprendia profissões além de ter uma formação escolar da melhor categoria. Havia programas paralelos que monitorava a casa do aluno para complementar o sustento do resto de sua família. Quando o então governador Leonel Brizola perdeu a reeleição para o governador Moreira Franco, houve um sucateamento dos Brizolões sendo colocado em seu lugar um projeto tão medíocre que nem me lembro do nome. Seria uma solução para a educação no Brasil a médio e longo prazo.

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Estive ansioso pela chegada da quinta feira, dia eleito para suas blogadas. Confesso não ter sido em vão a espera, pois o tema, além de ser bastante relevante, necessita de mais discussões, pois nós educadores precisamos assumir o compromisso de abandonarmos o ensino cartesiano, onde cada área do conhecimento está em uma gaveta específica, só sendo possível seu manuseio por quem é especialista na área. Precisamos perceber a necessidade de trazer o novo para o ensino, tal como as notícias de jornal, da internet, realizar visitas a museus, bosques, zoológicos e exposições de divulgação científica, entre outros. Assim, teremos mais possibilidades de realizar um ensino indisciplinar, integrando os conhecimentos da diferentes ciências, por meio de debates que abranjam o dia-a-dia dos estudantes, de forma a possibilitar uma aprendizagem, não apenas significativa, mas também relevante e pertinente.

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  4. Ao Mestre chassot: Jornais noticiam fracassos na educação por outro lado programa do Governo Federal declara "Mais Educação" visando minimizar os problemas sociais como uma saída para manter as crianças e jovens afastadas das ruas,e consequentemente melhorar o desenpenho dos estudantes, será que precisamos virar notícia para termos uma política educativa de qualidade? Um forte abraço ley

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  5. Meu caro Chassot. Tua reflexao a respeito da indisciplinaridade é substancial, pois demonstra que a educação sobrepoe praticamente todas as outras questoes, ou poderiamos dizer "perpassa", "ultrapassa", "sobrepassa". E o que mais me intriga é "porque o investimento naqueles que "fazem a educação" são tão desvalorizados? Será que é porque são incapazes de se articularem como outras categorias e fazem deste mister uma forma egoista de atuar? Quem sabe a vaidade e o orgulho estejam também no cerne desta dificuldade.
    Abraço do JB

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  6. Chassot,

    ontem, durante a aula de "Seminário avançados em História e Epistemologia da Ciência" do doutorado em Educação em Ciências da PUCRS, debatemos acerca do teu "Diálogo". Um dos temas emergentes foi, justamente, a "indisciplinaridade". A maioria considerou-a necessária e importante e muitos, incluindo a mim, confessaram verem-se em dificuldades para tentar a não-fragmentação, uma vez que nossa formação é altamente estanque.
    Penso que a verdadeira mudança virá quando a Universidade começar a reunir as peças quebradas por Descartes e seus seguidores.
    Abraços,
    Guy

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  7. Meu caro Guy,
    duas explicações a posturas que trazes.
    1) É natural que, secularmente formatados como sujeitos disciplinares, resistamos a posturas feyerabendiaanas e nos confortemos em quem nos oferece certezas;
    2) Na proposta defendida pelo texto não se advoga o abandono das disciplinas (como Freud não terminou com o consciente, ao propor o inconsciente.) e sim um equilíbrio disciplina<>indisciplina;
    Fico lisonjeado levares à discussão de meu “Diálogo de aprendentes’.
    Com renovada admiração

    attico chassot

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  8. Mestre Chassot: " Ensinar é a arte de Transformar " Um abraço Ley

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