TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sábado, 11 de maio de 2013

11.- LOAS NO MÍNIMO ORIGINAIS.



ANO
7
Frederico Westphalen /
Porto Alegre
EDIÇÃO
2474
Esta edição circula quando estou partindo rumo à Porto Alegre. Ela faz a clausura de meu tríduo missioneiro (e missionário, segundo alguns) que nos últimos três dias levou-me a sucessivamente à São Luiz Gonzaga / Cerro Largo / Frederico Westphalen.
Pela agenda cumprida (e comprida) é dispensável justificativa para não trazer uma usual dica de leitura sabática. Mas não deixo o espaço em branco. A inspiração: quarta feira à tarde, antes de minha fala para professores do ensino fundamental, promovida pela 32º CRE de São Luiz Gonzaga, no espaço cultural, a professora Alice Moraes declamou uma laudação a algo usualmente esquecido. Impressionou-me a originalidade do tema. Teço com texto de Pablo Morenno esta blogada.
Com votos de frutuoso sábado, o poema também antecipa votos às mães pelo dia de amanhã. Afinal foram elas que nos legaram o sinal de beleza agora aqui cantado:
O UMBIGO
Detenha-se um instante. Se for homem, abra a camisa. Se for mulher, desabotoe o vestido, levante a blusa. Se as gorduras atrapalharem, use um espelho. Se mesmo assim for impossível, solicite ajuda. Há algo imprescindível para a felicidade, algo a ser feito urgentemente pela vida: você tem de ver seu umbigo. Quer dizer, olhá-lo simplesmente é pouco. É preciso mais. Muito mais. Faça um filme, tire fotografias, elabore uma maquete. Seu umbigo, como você, é único.
Analise-o como a uma conta a ser paga. Pense nele como se pensa em grandes investimentos. Admire-o como um agricultor ao céu nublado em tempos de semeadura. Dedique-se a ele como algumas mulheres à cútis, como alguns homens aos músculos. De hoje em diante, dedicar-se ao umbigo deixa de ser mesquinhez.
Nestes tempos econômicos, do umbigo dependem a alegria e a esperança. O amor. O paraíso exige reconstrução. Adão e Eva já tiveram suas chances. Eles não têm para onde olhar. Nós, sim. Somos seres cortados de outros seres. Somos humanos originados de outros. Temos procedência e o mapa das trilhas.
 Procuram-se homens e mulheres construtores da paz; eles precisam amar seus umbigos. Procuram-se homens e mulheres solidários, generosos, entulhados de afeto; eles devem estar reconciliados com seus umbigos. Procuram-se homens e mulheres ternos e tolerantes; de seus umbigos devem ter resgatado as bagagens dos antigos navegantes.
Nestes tempos econômicos, enxergar o próprio umbigo tornou-se rara oportunidade de compreensão do todo. O umbigo é um espelho côncavo e convexo, uma lente para perto e para longe. No umbigo há histórias e profecias. Primeiro, respiramos e gritamos. Depois, nos cortaram do útero para o mundo. A cicatriz está ali para exibir respostas complexas. O umbigo é a caixa-preta do voo humano.
O umbigo diz muito sobre nossa natureza. Não somos ovíparos, por exemplo. Não fomos engendrados fora, expostos às intempéries. Não precisamos ser salvos da boca de lagartos e do bico de gaviões. Somos vivíparos, mamíferos. Fomos gerados num ventre. Tivemos calor, afeto, cuidado. Estávamos ligados a alguém, recebemos seu sangue e nutrientes. Ouvíamos sua voz antes mesmo de destrinchar o sentido das palavras.
 Se você até agora não olhou seu umbigo, anda desinformado. Procure ler mais jornais, revistas, assista à televisão. O umbigo está super na moda. (Não me refiro às calças de cós baixo.) O umbigo virou assunto científico. As células do cordão umbilical guardam segredos. Podem trazer a cura de doenças incuráveis até hoje e, com isso, prolongar a expectativa de vida.
Olhe seu umbigo atentamente. Você nunca mais será o mesmo. Não desista. Tente de novo. Curve-se. Não se envergonhe. Faça-lhe uma reverência. Quanto maior a curvatura para dentro, maior será a abertura para o universo. Faça um abdominal reflexivo.
Pelo umbigo tomamos consciência, tivemos ligados a alguém. Ela. Mulher. Mãe. Nos deu abrigo, amor e alimento. Cortado o cordão umbilical, deu-nos seu peito, seu coração e nos fez herdeiros de coisas e valores. O umbigo jamais será sinal de egoísmo, ou símbolo de quem tem medo do mundo. Quem teve uma mãe e foi realmente amado jamais olhará o umbigo para fugir da realidade ou para esquecer-se dos outros.

3 comentários:

  1. Limerique

    Pois eu cá pensando mesmo comigo
    Nos acompanha do berço ao jazigo
    Um buraco na barriga
    Que quase ninguém liga
    Essa cicatriz de nascenca, o umbigo.

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante o apelo metafórico do escritor na ode ao umbigo, embora na realidade acredito que o problema atual seja que a maioria só pense no próprio umbigo...

    abraços

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir
  3. Ao Grande Mestre Chassot: "Procuram-se homens e mulheres" respondo mestre eles estão tão atarefados com seus próprios problemas que estão perdendo a capacidade de se dar e de se doar aos outros,e até mesmo de perceber quem precisa de sua atenção. Será que perderam a sensibilidade de ver a vida? ou não consegue enxergar seu próprio umbigo? Um forte abraço ley

    ResponderExcluir