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Já vencemos (na terça-feira) sete semanas desta
inédita quarentena. 7x7=49 dias. Me lembro que minha mãe, quando me ensinava tabuada,
dava ênfase — não sei o porquê — a esta multiplicação. Ainda hoje, de vez em
vez, evoco a cena.
Nesta quarta-feira, postei em alguns grupos de
comunicação do WhatsApp esta inserção: Minhas amigas e meus amigos! Não preciso dizer
que estou com saudades de vocês. Porque isto vocês já sabem... Queria contar
algo diferente: esta manhã, participei (de maneira remota, é claro!) em Marabá
PA, por mais de 3 horas de uma reunião envolvendo cerca de 20 colegas
professores, como eu, e mestrandos do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências
e Matemática da UNIFESSPA: esta tarde postei no grupo do PPGECM o que eu transcrevo
para vocês a seguir: Gente muito querida!
Sabem algo que a reunião dessa amanhã me ensinou? nestes tempos viróticos vamos
ter que aprender a chorar juntos!
Com a avassaladora rapidação do aumento do número
de óbitos, vitimados pelo Coronavírus cada vez mais os mortos se aproximam de
nós. Quando era na China, parecia quase uma abstração. Depois na Europa,
começamos ficar mais antenados. Agora, são nossos conhecidos (parentes,
vizinhos, colegas, amigos...) e mesmo figuras públicas (filósofos, professores,
autores, atores, atrizes, artistas...) como acontece nesta semana. Nos últimos
três dias, diariamente, a cada dia, mais 600 pessoas foram a óbito (esta
expressão, ora um modismo, me incomoda! Ela parece denotar um falso ato
volitivo).
Há muitos rostos nos quais vemos rolar lágrimas.
E não as podemos recolher. Vivemos um muito necessário isolamento social.
Realmente, como me escreveu nesta quarta-feira, a Prof. Dra. Andréia Fernandes
Salgueiro, da Unipampa, campus de Uruguaiana: Nestes
tempos viróticos, há que aprender a chorar juntos. Estamos todos envolvidos em mundo em lágrimas.
Há que aprendermos o consolar.
Uma observação lateral: nos saberes desta nova
era da livecizeção, aprendi que em uma
cabeça de alfinete, cabem 100 milhões do vírus que se faz o personagem central
desta pandemia. Mesmo que no livro Alfabetização
Científica: questões e desafios para educação, tenha escrito um capítulo Do fantasticamente pequeno ao
fantasticamente grande, é difícil para mim imaginar as dimensões de um coronavírus.
Na reunião de quarta-feira, que referi antes,
um dos pontos de pauta era acerca de exigências atividades acadêmicas remotas, neste
momento no qual há ainda mais necessidade de afastamento social. Encaminhou-se,
então, proposta pela não-exigência de qualquer atividades dos alunos (exceto aquelas voluntárias, acordadas em comum por discentes
e docentes). Três dimensões embasaram a justificativa à proposta:
1) psicológica: em tempos lutuosos e/ou insanos nos quais
convivemos, tanto alunos como professores não raro somos intelectualmente incapazes.
Muitos de nós, nestas semanas, vivemos em uma quase esterilidade mental. É quase
vedado produzir um parágrafo de um texto acadêmico submetido ao aguilhão do
luto. Tu choras. Eu choro. Nós choramos.
2) técnica: não é uma pandemia, que de uma maneira mágica,
confere a todos, de maneira universal, expertise em Educação à distância. Há
que recordar também que nem todos têm acesso a recursos tecnológicos para tal. Vale
recordar que um terço dos lares brasileiros não tem internet. Esta dimensão
esta, mais extensamente na edição de 17ABR2020 deste blogue. Lembrei, que
mesmos nós, na reunião em que estávamos participando, tivemos problemas
técnicos. Um bom exemplo ocorreu ontem à noite: o presidente teve que recomeçar
pela menos três vezes (depois destas desisti!) sua live para com gabolice relatar a visita que fez ao STF para pedir que deixe o povo trabalhar e isto
podiam ratificar seus escudeiros-empresários que atestavam que seu capital
estava diminuindo.
3) política: há que dizer não a propostas indecentes do
governo às instituições públicas. Se quer barganhar verbas para as instituições
que não aderirem ao necessário distanciamento social. Nas escolas de redes
privadas (muitas delas ligadas a grupos alienígenas que fazem da Educação uma
mercadoria) a situação não é diferente: há que transmitir conteúdos, para
cumprir programas, para fazer dos pais devedores das mensalidades às escolas.
Nesta situação ocorre, especialmente na Educação Básica, não raro um gasto
duplo, pois nem todos pais, avós e/ou domésticas são capazes de se tornar
professores num repente. Para assegurar que se transmita todo os conteúdos há famílias
que contratam professores particulares.
Estas três dimensões são pertinentes na Educação
Básica, na Graduação e na Pós-graduação.
A decisão da reunião foi que se possa orientar
os alunos em atividades sem que estas tenham exigências de cobranças
obrigatórias.
Adito meus votos de mais uma boa semana, o
quanto tal é possível. Saúde a cada uma e cada um do Planeta Terra. Possamos
nos ler de novo na próxima sexta-feira. Até então.
Muito boa semana para você também querido Chassot! Uma vasta consideração fizeste nesta edição... decorrendo a leitura alguns aspectos chamam mais atenção, a quantidade de vítimas diárias já no Brasil em função do fantasticamente pequeno coronavirus, o trabalho e as aulas remotas, dentro dessa adequação pela qual nos educadores, alunos, país... responsáveis... estamos vivenciando dia após dia e como conciliar nos diversos aspectos: psicológico, político etc... tudo isso! É um fantasticamente grande contexto de mudanças! Obrigada por trazer incentivo ao início do dia e da semana! Um abraço carinhoso, fique bem. Aliás, já está fera na receita do feijão e na limpeza da casa?
ResponderExcluirSaudações de apertos e de vigor pela saúde da Terra, meu bom e caro amigo Áttico! Quanto à pessoa abjeta - nas palavras de Márcia Tiburi - eu sequer consigo falar. Vivo uma espécie de "bloqueio" seguido de trauma e indignação. Se não é normal e é minha fraqueza, conto com as devidas desculpas. Perdoe-me. Sobre a EaD, vivemos por aqui - rede pública municipal de ensino fundamental I (1º ao 5º ano) a situação muito bem descrita por tuas palavras. Tenho contribuído com leituras para as crianças, como forma de incentivá-las e dizer que, também do lado de cá, vivemos o mesmo isolamento. Gratíssimo pelos votos e desejos que compartilhas pelo nosso estar bem. Do mesmo modo, envio energias pela tua boa e conservada saúde, dos membros e da cabeça, em especial. Carinhosamente, aquele abraço apertado!
ResponderExcluirMestre querido!
ResponderExcluirAssisti sua live no III SQIFE. Inspiradora e esclarecedora, como sempre! Mais do que nunca precisamos assestar nossos óculos da ciência! É sempre uma felicidade te ver e ouvir! Com muito carinho e admiração, Cris Flôr!