ANO
11 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
3295
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No término da escada de
acesso ao meu Scriptorium — o nome da ampla
peça de onde descortino parte de
meu jardim é para evocar um lindo vitral, no qual um monge medieval executa sua
penosa tarefa de copista, em tempos pré-gutenberguiano — há uma frase atribuída
a Gaston Bachelard: “O paraíso não há dúvida, não é mais
que uma imensa biblioteca!”
Pois isso sempre me
pareceu assim. E, até, esforçava-me em ser bom para conquistar (esse)
paraíso. Mas ...
... esta semana soube de
uma situação em que uma biblioteca (espero que seja um caso isolado) perdeu
suas marcas edênicas. Isso se parece com uma situação tragicômica.
Em uma biblioteca de uma Universidade Federal (leia-se, pública... ainda) um colega contou-me que ele NÃO pode retirar livros, pois está afastado para doutorado. Espantado, pedi que ele repetisse a afirmação, pois talvez eu ouvira mal. A informação maldita, estava certa. Lembrei-me, que quando colecionava estampas Eucalol, em minha infância, havia série: "Incrível, porém verdadeiro!" Eis que ela é ressuscitada.
Sim, acreditem: Existe uma biblioteca que não empresta livros a um servidor da instituição porque ele está afastado para doutoramento. Parece-me que eu esteja mentindo neste blogar.
Em uma biblioteca de uma Universidade Federal (leia-se, pública... ainda) um colega contou-me que ele NÃO pode retirar livros, pois está afastado para doutorado. Espantado, pedi que ele repetisse a afirmação, pois talvez eu ouvira mal. A informação maldita, estava certa. Lembrei-me, que quando colecionava estampas Eucalol, em minha infância, havia série: "Incrível, porém verdadeiro!" Eis que ela é ressuscitada.
Sim, acreditem: Existe uma biblioteca que não empresta livros a um servidor da instituição porque ele está afastado para doutoramento. Parece-me que eu esteja mentindo neste blogar.
E mais: a população também
não pode retirar livros da biblioteca de uma universidade pública. Lembrei-me
que fui professor de uma instituição privada, cujo serviço de biblioteca funcionava
24 horas por dia, em sete dias da semana. Mais de uma vez taxistas, com ponto
próximo ao Centro Universitário do IPA, contaram-me que retiravam livros da biblioteca
para abreviar os momentos que estavam parados. Aquela biblioteca devia se
parecer, então, a algo paradisíaco. Muito diferente daquela biblioteca da UFYZ,
que não empresta livros nem para seus professores.
Não basta a falta de incentivo à leitura, quando os leitores em resistência a buscam, ainda encontram limitações. Além disso, uma biblioteca pública... que não é pública, só deixando a mensagem de buscarem em livrarias - isso sem pensar nos que talvez não sejam mais editados - atitude já costumeiramente elitista, pois quem dinheiro tem segue em vantagem. Que crie sua biblioteca em casa aquele que possa.
ResponderExcluirMuito estimado Dimitrius,
Excluirenquanto vemos em artefatos culturais ,como a Wikipédia, apontados exemplos da democratização do conhecimento, temos na UFYZ a tradução do privilegiamentos dos abastados que podem, com destacas, comprar livros e fazer bibliotecas domésticas.
Meu caro Chassot
ResponderExcluirTeremos voltado aos tempos da Santa Inquisição? Onde não se queimam os Livros, mas o Index agora é do não Emprestar?
Diria o Gaúcho, mas que Barbaridade.
Meu querido colega Jairo,
Excluirmas que barbaridade, Tchê!
A UFYZ não empresta livros nem para os seus professores!
Realmente os tempos são TEMERosos.
achassot
Saudações, mui querido Chassot, de todas as terras! Esta sua blogada é providencial. Veja o amigo, que num dia desses, a Adriana, minha bela esposa, contou-me de sua trajetória estudantil - ensinos fundamental e médio. Ela, como adolescente que era, assim como seus amigos, estavam numa escola com a proibição explícita de adentrar os espaços da biblioteca. Fiquei assustado! Será possível? Então,como curioso das letras que sou, e provocado que fui, disse a ela que escreveria uma história, a ser publicada, sobre a tal situação envolvendo uma biblioteca proibida e a luta dos adolescentes que queriam acessá-la. E agora, ouvindo-o, vejo que aquele passado volta com toda a força, impedindo que o pesquisador, adulto, tenha acesso aos livros, como também me aconteceu numa instituição de ensino superior que frequentava, já faz um tempo. Aquele filme "O nome da rosa", assim como a produção escrita, fazem tal retrato de impedimento, completamente absurdo, é verdade. Afinal, que receio paira sobre os livros manuseados? Perde-se o controle de quem os tem entre cadeados? Não creio em preocupação com o saber libertador, mas, o pavor de se perder o controle, afinal, o chefe mandou fazer assim... Além de absurdo, também é estúpido. Cabe nosso lamento e nosso protesto por tão ignominiosa situação. Meu abraço solidário, amigo Chassot! Élcio, Sorocaba - com o e-mail trocado por confusão da máquina.
ResponderExcluirMuito querido Élcio,
Excluir[por méritos, também: muito querida Adriana]
primeiro estranhei o endereço remetente.
Mas cedo sorvi sotaque que se afigurava conhecido. Não discerni bem ser de Angatuba ou de Sorocaba. A meu ouvido, talvez pela reduzida amostra, ambos se confundem.
Mais uma vez agradeço tu qualificares uma edição deste blogue com teus comentários.
Há porque ficarmos assustados. Uma universidade proibir o acesso livros (a seus professores) é uma situação de lesa cultura.
Tu lembras, por oportuno, “O nome da Rosa” do precioso Umberto Eco. Eu evoco o distópico romance “Fahrenheit 451” escrito por Ray Bradbury.
Olho o vitral que adorna meu Scriptorium e vejo aquele monge copista. Apenas falta-lhe o crachá da UFYZ, pois nela, onde já fiz várias palestras e tenho muitos amigos, parece ter havido retornos ao medievo.
Realmente os tempos voltaram a ser TEMERosos.
Expectante,
Agora sim, meu bom amigo Chassot! De volta à máquina com a qual "viajo" em seu blog compartilhado. Continuei refletindo sobre os livros e, sinceramente, não creio que o entendimento de quem nega seja, suficientemente, claro para fazê-lo, ideologicamente motivado. Por outro tanto, pode ser pura burocracia vinda de alguma decisão já sem razão de ser, extemporânea. Contudo, pondere-se que quem o decidiu, pode contar com o esquecimento do fiel cumpridor que só sabe obedecer. Para além disso, o almejado poder, muito procurado, ainda que ínfimo, tacanho, insignificante, ou ainda, representando a mísera migalha deixada por quem se satisfaz em ver seus subalternados obedecerem, cause realização na fonte autoritária; afinal, quem cumpre, não decide e quem decide não se envolve com migalhas. Se for este o tema de tamanho emaranhado, sinto-me atraído por ele, pois, se o tal pecado existe, não tenho dúvida, o poder é um deles e, dos bons. Para completar, meu caro Chassot, permita-me interpor minha humilde conclusão: não defendo que o poder absoluto corrompe absolutamente. Mas, defendo que o menor, vil e insignificante poder também corrompe absolutamente. Meu abraço, "desempoderado" de bestialidades, na linguagem do grande Manoel de Barros!
ResponderExcluirSaudações, mestre querido! Daqui de Sinop-MT, assim como os outros leitores, também fiquei perplexo com essa notícia da biblioteca pública que não empresta livros a um servidor afastado para o doutorado. É tragicômico, sim! No entanto, nesse caso, o lado trágico é o que mais sobressai. O comentário do Élcio fala de uma biblioteca proibida e o do Jairo pergunta se estamos novamente em tempos de Inquisição. Acho que, de fato, a síntese disso tudo, conforme o senhor destacou, é a de que estamos em tempos "TEMERosos". Tempos de destruição da educação pública, saúde pública e tudo o mais que deveria ser público, incluindo as bibliotecas. Seu texto e os comentários dos dois citados colegas leitores do seu blogue me fizeram lembrar da biblioteca do mosteiro onde se passa a história de "O nome da rosa", extraordinário livro de Umberto Eco. Naquela biblioteca, Jorge, o bibliotecário cego (homenagem a Jorge Luis Borges) tem como missão impedir que os monges copistas e os estudiosos de teologia adentrem à biblioteca do mosteiro. Também não pude deixar de pensar nas suas aulas em Cuiabá, onde recentemente fui seu aluno de pós-graduação. Aprendemos a entender, ali, o conhecimento como o mais extraordinário dos bens e o quanto o acesso a bons livros pode nos tornar melhores seres humanos. Comungo com o senhor a tristeza (e a indignação também) de ver que uma biblioteca PÚBLICA que quer fugir à sua missão de ser pública.
ResponderExcluirMuito estimado colega Jair,
Excluira magia de uma mensagem produziu evocações na manhã chuvosa desta quinta.
Primeiro revivi um pouco nossa semana de curso em Cuiabá. Foram momentos preciosos. Não sem razão, mais de uma vez pensei em trocar de lugar com alguns de vocês. Com o Edslei para ouvir mais sobre Darwin ou contigo para aprender melhor Kuhn.
Voltei, na tua postagem, também a Sinop para olhar, na sua imponente catedral, uma vez mais, os painéis nos quais Mari Bueno trouxe os profanos 4 elementos alquímicos fundantes do Planeta para o sagrado dos evangelistas.
Vejo que tua postagem no blogue acerca de uma Universidade que borra ser pública nas suas ações é quase esquecida.
Realmente a UFYZ não inova também na repressão à disseminação do saber. Umberto Eco já previa as UFYZz e as anunciara com o bibliotecário Jorge uma ratificação do Index librorum prohibitorum.
Obrigado por tua postagem fazer presenças que sabem a saberes.
Mestre, adito ao absurdo postado, e aos relevantes comentários, uma não menos absurda regra da minha instituição, que também é pública. Aqui temos 5 campi e, pasmem, um servidor de um campus não pode emprestar livros na biblioteca do outro! Qual é a lógica se a instituição é a mesma? Sabes q sou servidor no campus do Araguaia, e que estou doutorando afastado; Ainda ontem estive na biblioteca de Cuiaba e não puderam me emprestar um livro na condição de servidor de outro campus. Tive q realizar outro cadastro, na condição de doutorando, para então puder levar o dito livro. Doideira, né! Será q nossa educação pública se elitizou a tal ponto q suas regras são ideologicamente promotoras da ignorância do povo?
ResponderExcluirAbraço.
Eduardo
Meu caro Eduardo,
Excluirtua postagem me recordou as místicas que tantas vezes participei nos momentos de formação do MST. Lá se fala das sementes que não são semente, pois a pirataria das gangues das sementes as fazem estéreis na segunda geração.
Bibliotecas que não emprestam livros são estéreis como certos Organismos Geneticamente Modificados. Elas não disseminam e assim a UFMT se assemelha a UFYZ.
Valeu tua postagem
Querido Chassot
ResponderExcluirVoltas a se referir a Sinop onde estiveste a uns anos e parece que foi ontem... menciona nossa linda Catedral e as pinturas dos 4 elementos... Sinop onde está nosso colega Jair, que também tão perto está de mim e lembro-me das boas aulas de uns dias atrás!!! Triste situação das bibliotecas públicas... lamento por aqueles que estão afastados para doutorado e não podem retirar livros como docentes!
Abraços
Muito querida Patrícia,
Excluirhá porque retornar a majestosa catedral de Sinop e revisitar mentalmente os quatro elementos alquímicos que inspiram os quatro painéis da Mari Bueno, numa releitura dos quatro evangelistas cristãos.
Ver esta comunhão do profano (ou da Ciência primeva) com o sagrado é também um desafio...
Privilegiados são tu e o Jair que estão nessa interface descrita pelo romeno-estadunidense Mircea Eliade. Curtam esse privilégio.
Obrigado por tua manifestação contra uma universidade que dificulta o acesso ao conhecimento de seus docentes.
Querido Mestre Chassot,
ResponderExcluirÉ grande a alegria de ler o que escreve, mais ainda quando dedica seu tempo para tratar de questões ligadas a nossa vida.
Veja como são as coisas, uma universidade que se diz popular, nasce do seio do povo, torna-se rapidamente burocrática, envelhecendo a passos largos.
Abraços saudosos, de toda a turma daqui, lisonjeados pela sua menção.
Antonio
Antônio,
Excluiraquele querido do milho crioulo!
Realmente fizeste uma apurada síntese do que parece ocorrer na UFYZ. Ela é "uma universidade que se diz popular, pois nasce do seio do povo [mas], torna-se rapidamente burocrática, envelhecendo a passos largos".
Bibliotecas universitárias — repito o que escrevi para o Eduardo, que vive situação muito homóloga — que não emprestam livros são estéreis como certos Organismos Geneticamente Modificados. E disto tu entendes como poucos e por tal e não decodifiquei a sigla como faz uma rapinadora de sementes: Organismos Geneticamente Melhorados.
Sonho que a nosso querida UFXZ revise seu burocratismo e rejuvenesça.
Muito na torcida por isso
Que o homem 'moderno' esteja apegado às coisas materiais, é compreensível pela abandono do espírito fora das coisas. No entanto, negar acesso à fonte de alimento para o espírito já é insanidade. Quem e o que se ganha com isso? Sabemos quem perde: a Humanidade, a vida, o Espírito.
ResponderExcluirMuito estimado colega Vanderlei!
Excluirobrigado por qualificares esta blogada com tua filosófica reflexão.
Pela disseminação dos saber