TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

terça-feira, 17 de abril de 2012

17.- ESTADO FUTEBOLÍSTICO DE EXCEÇÃO



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2085
Aqui neste blogue, já antes da decisão de que Brasil sediaria a Copa da Fifa de 2014, se torcia contra; em 01JUN10 fazia denúncias aqui. Em 29NOV11 se apresentou um dossiê lastrado no ‘Le Monde Diplomatique’ de novembro. Dói ver o quanto ainda há deslumbramento colonizado com o evento. As 12 cidades escolhidas parecem que se preparam mais para a chegada de um novo Messias do que por terem por alguns dias suas rotinas transtornadas por vorazes visitantes.
Afortunadamente há chamadas ao bom senso. Neste domingo, historiador Chico Alencar, que é deputado federal pelo PSOL-RJ, publicou na p. A3 da Folha de S. Paulo Estado Futebolístico de Exceção que vale que eu o comparta com os leitores deste blogue.
O manifesto dos tenentes rebelados em São Paulo, em 1924, denunciava: "O Brasil está reduzido a verdadeiras satrapias, desconhecendo-se completamente o merecimento dos homens e estabelecendo-se como condição primordial, para o acesso às posições de evidência, o servilismo contumaz".
Passados 88 anos, um anacrônico servilismo emoldura as iniciativas nas 12 cidades-sede da Copa de 2014 e nas alterações legais que o Congresso Nacional está votando para receber o megaevento.
Sobra subserviência, falta transparência: os compromissos do governo com a Fifa, assinados em 2007, seguem cercados de mistério. As informações sobre gastos e etapas das obras, nos portais oficiais, são contraditórias e incompletas.
O processo de remoção de moradias, que pode afetar 170 mil pessoas, desrespeita o princípio do "chave por chave", que diz que ninguém pode ser despejado de sua casa sem receber outra, próxima e melhor.
O projeto da Lei Geral da Copa — bem mais do que uma "lei do copo de cerveja" nas partida — transforma o Brasil em protetorado de interesses mercantis.
Ele "expulsa de campo" a legislação nacional que regula concorrência, patentes, direitos do consumidor, transmissões esportivas, gastos orçamentários, publicidade, punição a delitos e até calendário escolar. A lei das licitações já fora "escanteada" pelo Regime Diferenciado de Contratações. Uma entidade privada internacional impõe legislação excepcional, garantindo isenções fiscais a mais de mil produtos!
O projeto aprovado na Câmara assegura megaprivilégios à Fifa. O Inpi vira um "cartório particular", com regime especial para pedidos de registro de "marcas de alto renome" apresentadas pela entidade.
Libera-se uma associação suíça de direito privado do pagamento de custos e emolumentos exigidos a todos que requerem registro de marca no Brasil. Trata-se de uma renúncia fiscal longa e onerosa!
O projeto afronta até um preceito defendido pelos liberais de todos os matizes: o da livre iniciativa.
Isto é evidenciado ao se "assegurar à Fifa e às pessoas por ela indicadas a autorização para, com exclusividade, divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços, bem como outras atividades promocionais ou de comércio de rua, nos locais oficiais de competição, nas suas imediações e principais vias de acesso".
Prevê-se também que será objeto de sanções — como prisão de três meses a um ano — a "oferta de provas de comida ou bebida, distribuição de panfletos ou outros materiais promocionais (...), inclusive em automóveis, nos locais oficiais de competição, em suas principais vias de acesso ou em lugares que sejam claramente visíveis a partir daqueles".
O "Estado Futebolístico de Exceção" cria suas "zonas de exclusão". A União fica também obrigada a disponibilizar, sem quaisquer custos para a Fifa, "a segurança, serviços de saúde, vigilância sanitária e alfândega e imigração".
Além de disponibilizar gratuitamente todos esses serviços para um evento privado, o Brasil também se responsabiliza por quaisquer acidentes que venham a ocorrer.
A Fifa, que ganhou na África do Sul mais de R$ 7,2 bilhões só com radiodifusão e marketing, "marca sob pressão" as nossas autoridades. Em 2011, já faturou R$ 1,67 bilhão com vendas vinculadas à Copa de 2014. Medidas provisórias poderão ser editadas "na prorrogação" para garantir os resultados esperados.
No lugar de caixinha de surpresas, o futebol se transforma em um instrumento para nutrir a caixa-registradora da Fifa e dos seus sócios. 

6 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Mais uma vez "panis et circenses". A "Nomenklatura" brasileira se vale da paixão futebolística dos tupiniquins para maquinar junto à poderosa FIFA mais um espólio do produto de nosso suor para encher as burras de empresários (sempre os mesmos) e facilitar os envio de bilhões de dólares para o exterior. Tudo isso, e aplaudimos ainda. VIVA O POVO BRASILEIRO! Somos ovelhas conduzidas pelos sarneis da vida. Abraços indignados, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Estimado Jair,
    concordamos em gênero, número e grau: vermos a possível transformação de potente Republica, que se diz crescendo aos olhos do mundo, em uma RepubliFifa verde/amarela governada por uma empresa suíça e como dizes pastoreados pelos sarneis (de ter sarna / acólitos do José Ribamar).
    Obrigado por teus sempre abalizados comentários aqui e tembém pela produção do ‘blogue que pensa” www.jairclopes.blogspot.com onde evidencias o polímata que és.
    Com a admiração

    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. ALVARO KONING escreveu
    mestre,
    a conclusão é de que nada ou muito pouca coisa mudou desde o nosso descobrimento,segue como nosso orgulho maior ser o pais do futebol;

    ResponderExcluir
  4. Boa tarde, Mestre!
    Eu adoro futebol, tanto na qualidade de praticante (enquanto pude) como na de assistente, mas nessa eu nunca caí!
    Sempre torci contra esse evento ser realizado no Brasil!
    Seria muito egoísmo se deleitar com um espetáculo que, além de não trazer nada de bom para o país, ainda favorecerá incontáveis maracutaias!
    Essas fortunas que estão sendo gastas para reformar e construir estádios (que depois da Copa nunca mais serão lotados) seria muito melhor empregada na educação e na saúde (sem maracutaias)!
    É o mesmo que um operário dando uma festa de arromba para a vizinhança, enquanto seus filhos estão doentes e passando fome!
    Mas, quem espera lucrar com isto está felicíssimo, inclusive alguns órgãos de imprensa!
    Quanto a sermos "o país do futebol", até mesmo isto já deixamos de ser, como mostra o ranking da FIFA! A incompetência e a desonestidade afetam até o esporte!
    Abraços!

    ResponderExcluir
  5. Caro Chassot,
    as mazelas que a Copa traz para a vida do país não compensa os esforços empreendidos. Concordo contigo.
    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir
  6. Boa noite Chassot,
    penso que é melhor que haja a copa aqui do que o contrário,algo de bom o povo vai ganhar com a estrutura montada para o evento, como melhorias na saúde,trânsito,segurança e até mesmo o contato com outras culturas.
    Pode ser que algumas vão embora com o término da festa ,mas outras permanecerão.


    Hendney Fernandes Uruguaiana RS

    ResponderExcluir