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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

26.—Falando de Mascate


ANO
 11
A bordo do Vision of the seas
FÉRIAS 13/24
EDIÇÃO
 3258

As férias já estão na segunda metade. A quarta feira começou com a aproximação do Vision of the seas do porto de Muscat ou Mascate — para recordar o 1,5 século dos portugueses em Omã e, também, na evocação de algumas figuras de mascates de minha infância. 
Era o momento do clarear do dia com um sol mais tímido. Desde que estamos nas Arábias foi o primeiro dia que não foi ensolarado e a temperatura parecia aquela de nossas primaveras (entorno dos 20 ºC). Logo fomos ao dejejum em um dos restaurantes da proa para nos encantarmos com centenas de pássaros (cujo nome não sabemos) que voavam, nadavam e, talvez, pescavam;
Logo deixamos ao navio e nos integramos a um citytur de modalidade que nos encanta. Toma-se ônibus, contempla-se cenários, ouve-se descrições e pode-se descer em determinados pontos e meia hora ou hora depois tomar um ônibus seguintes.
Assim nos encantamos com Mascate. Lindas avenidas, prédios todos brancos, jardim e árvores (estas tão ausente em Khasab) entres as quais lindas tamareiras, montanhas desnudas que afloram no perímetro urbano, lindos prédios, jardins muito floridos, dezenas de mesquitas... Quando anoitecia estávamos no souk (=mercado) e aí uma decepção. Quem conhece souk — marca dos centro históricos de cidades como Istambul, Cairo, Tanger, Túnis, Doha não precisa ir ao souk de Mascate.
Pensara nessa blogada falar das belezas que vi nesta quarta-feira. Desisti. Há duas leituras que tenho feito acerca dos três países que conheci (melhor, dei uma espiadela) em uma semana — Qatar, Emirados Árabes Unidos (apenas Dubai, por ora) e Sultanato de Omã — que estão me incomodando. Reparto-as aqui. Talvez, esteja usando óculos inadequados.
A primeira, estes países são monarquias absolutistas, logo não democráticas com os vícios de ditaduras. Seus governantes são homens (mulheres, jamais terão esta oportunidade) ascendem ao poder em uma sucessão familiar que se perpetua a séculos dita ‘escolhida por Deus’. O atual sultão de Omã — descrito nas falas oficiais com sábio e bom — passou a governar o pais em consequência de um golpe contra seu pai que resultou na morte de seu predecessor. Situações como estas não são exceções.
A segunda, nestes três países coabitam duas classes distintas: cidadãos e semi-cidadãos. Os nativos têm privilégios que qualquer humano almeja: benesses como cuidados de saúde, água, energia elétrica gratuito, isenção de impostos e abono salarial para aqueles que não trabalham. Os expatriados (estrangeiros que se constituem numa grande maioria, no Qatar, são mais de 80%) não têm acesso a cuidados de saúde pública, não podem exercer certas profissões (só omanis podem dirigir táxis), são submetidos a regimes de trabalho insalubres e seus filhos mesmo nascidos no país não adquirem cidadania (se um nativo casar com um alienígena, perde todos os direitos). Em síntese, existem duas castas: nativos e estrangeiros.
Não se pode deixar de reconhecer que existem destaques distintivos entre esses países: maior expectativa de vida, baixa mortalidade infantil, bens públicos de excelente qualidade (museus, teatros, rodovias...), elevado PIB (são países dos mais ricos), baixo índice Gini (melhor distribuição de renda). Há uma grande preocupação com o meio ambiente (mesmo que alguns destes países sejam os maiores produtores de gás carbônico per capita (gasolina muito barata e altas temperaturas geram um ser simbiôntico: homem+automóvel).
Ainda um registro do diário de bordo desta noite de quarta para quinta-feira: o Vision of the seas não navegou. Pousamos na capital do Sultanato de Omã e nesta quinta-feira teremos mais um dia para fruir Mascate.

2 comentários:

  1. Que delícia acompanhá-lo nessa viagem de tantas belezas e tantas diferenças culturais e políticas. Confesso que dá até certo receio em ir...

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  2. Chassot, amigo mui caro! Passando por aqui só para que saibas: estamos contigo. Hoje, choveu a maior parte do tempo em Sorocaba e região próxima. E para não dizer que não falamos das flores, cá pensando que a chamada equidade na distribuição de renda é, no mínimo, suspeita. Veja só: dividindo milhões ($$) entre milhares de pessoas, todas ficarão muito bem. Mas, não se disse dos critérios de tal divisão. Quando poucos têm tudo e muitos quase nada, não resta dúvida que a divisão dos bens está longe de ser justa. As necessidades básicas são a base do que é justo. Mas, sem delongas, aquele abraço desta nossa "terra rasgada". Élcio e Adriana.

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