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sábado, 18 de outubro de 2014

18.- A ESTRANHA


ANO
 9
A G E N D A  em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2930

O texto desta sabatina tem origem naquelas mensagens que chegam à catadupa. Não conheço a autoria. Apenas alterei dois personagens do último parágrafo.
Necessariamente não subscrevo o texto na sua íntegra. Mas há que reconhecer que contem instigantes no relato, mantendo suspenses. Por tal vale faze-lo parte de uma fugaz presença num sábado marcado por rituais de troca de horário.
 A ESTRANHA Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade. Desde o princípio, meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, em seguida, a convidou a viver com nossa família.
A estranha aceitou e, desde então, tem estado conosco. Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre seu lugar em minha família; na minha mente jovem ela já tinha ganho um lugar muito especial.
Meus pais eram professores da Educação básica... minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau e meu pai me ensinou a obedecer.
Mas a estranha era nossa narradora. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias. Ela sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.
Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Sabia, como poucos, qual seria o tempo no dia de amanhã. As previsões meteorológicas sabidas por meu avô eram contraditas.
 Levou minha família ao primeiro jogo de futebol. Fazia-me rir, e me fazia chorar. A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, minha mãe se levantava cedo e calada, ia à cozinha para ter paz e tranquilidade, enquanto o resto de nós ficava escutando o que aquela que já não era mais estranha sempre tinha a dizer. (Agora me pergunto se ela teria rezado alguma vez para que a estranha fosse embora).
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las.
As blasfêmias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… nem por parte nossa, nem de nossos amigos ou de qualquer um que nos visitasse.
Entretanto, nossa visitante de longo prazo usava sem problemas sua linguagem inapropriada que às vezes queimava meus ouvidos e que fazia meu pai se retorcer e minha mãe se ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas a estranha nos animou a tentá-lo e a fazê-lo regularmente. Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem distinguidos.
Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Seus comentários eram, às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos. Agora sei que meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante minha adolescência por essa estranha.
Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso aos valores de meus pais, e mesmo assim, permaneceu em nosso lar!
 Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.
Não obstante, se hoje você pudesse entrar na casa de meus pais, ainda a veria em seu canto, esperando que alguém quisesse escutar suas conversas ou dedicar seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
Seu nome? Bom... nós a chamamos Televisão. Agora ela tem um esposo que se chama Internet e um filho que se chama Smartphone. Ambos mais invasivos que ela.

5 comentários:

  1. Simplesmente sensacional o texto. Acredito que só os mais antigos entenderão como foi marcante essa mudança. Dentre as varias atividades de meu constava também a de técnico de radio e tv, sendo assim desde menino convivi com as exóticas válvulas que davam à nossa realidade um toque futurístico. O que não imaginávamos é que a telinha mágica era um fiel funcionário a serviço do consumo. E nem sempre o que vende é o que presta, ao contrario o proibido tem um sabor mais atraente.

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  2. Acontece que a "estranha" é apenas MEIO, um VEÍCULO. Portanto não tem culpa de todas as mudanças, lambanças e influências...E foi recebida de braços, corpos e alma abertos sem restrição alguma. Já, quem a manipula...Bueno, aí é outra história. São os tais interesses, as intenções, ilusões...
    Belo texto.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Haverá inteligência?

    Impressionante o tal mundo da tevê,
    Universo impregnado de mesmice
    Porém uma vez ou outra veja você
    Produz alguma coisa além da tolice.

    No mais, tudo atende ao puro irreal
    Descontando cabedal de babaquice
    Que não tem da inteligência o aval
    Resta esquecer o que um tolo disse.

    Televisão não é do bem ou do mal
    Aceita qualquer coisa, até estultice
    Como as que rolam na rede social.

    Se conhecimento do mundo fluísse
    Por essa importante veia universal
    Decretada seria a morte da burrice.

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