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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

02.- TEMPOS DE REENCONTROS

ANO
 9
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br    
EDIÇÃO
 2914

Ainda madrugada, viajo, via rodoviária, para Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre. Uma das mais importantes cidades gaúchas é um dos principais núcleos da colonização alemã do Rio Grande do Sul. O potencial econômico da cidade vem das plantações de fumo, que trouxeram para a cidade inúmeros fabricantes de cigarro e distribuidoras de fumo, por isso conhecida também como a Capital Nacional do Fumo.
Nesta quinta e sexta participo do 34º Encontro de Debates sobre o Ensino de Química — evento gaúcho que tem dimensão nacional — na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), uma das mais importantes universidades comunitárias.
Por primeiro, celebro estar mais uma vez em um Encontro de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ). Ostento o invejável galardão: não apenas sou um dos fundadores dos EDEQs, mas tenho estado, de maneira continuada, envolvido na organização desta já extensa série de eventos. Participei de todas as edições, com uma exceção: faltei ao XVI EDEQ, em 1996, justamente na UNISC, que acolhe esta edição de 2014; então, como um dos organizadores, que recém fizera uma cirurgia de tíbia e perônio, me fiz presente com o envio de um texto que foi lido na abertura pelo meu colega e amigo Edni Oscar Schroeder.
Esta manhã, profiro a conferência de abertura do evento que deve reunir cerca de meio milhar de participantes. Há tarde ministro um minicurso. Mas mais que as atividades formais, nestas ocasiões há a gostosa confraternização de reencontros. Dizia, na abertura do Encontro Nacional de Ensino de Química que era muito bom que esses encontros não sejam apenas virtuais.
Os Encontros de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQs) têm origem com o primeiro EDEQ realizado em 06 de dezembro de 1980 no Instituto de Química da PUCRS, com o apoio da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) que estava sendo criada. Setenta e três professores dos três níveis de ensino reuniram-se para iniciar um processo de discussão, que neste ano atinge sua trigésima quarta edição. Não existem no Brasil muitos eventos que tem uma séria histórica tão extensa e densa.
Desde lá, os EDEQs vêm sendo realizados anualmente graças ao esforço de professores que têm se engajado na melhoria do ensino de Química. Na sequência, foram sede dos encontros, as seguintes Instituições: PUCRS - Porto Alegre (1980) UFRGS - Porto Alegre (1981), UFSM - Santa Maria (1982), UPF - Passo Fundo (1983), FURG - Rio Grande (1984), UCS - Caxias do Sul (1985), UCPel - Pelotas (1986), UNIJUÍ - Ijuí (1987), UFSM - Santa Maria (1988), PUCRS - Porto Alegre (1989), UPF - Passo Fundo (1990), ULBRA - Canoas (1992), UFRGS - Porto Alegre (1993), ETLSVC {Liberato} - Novo Hamburgo (1994), FURG - Rio Grande (1995), UNISC - Santa Cruz do Sul (1996), UNIJUÍ - Ijuí (1997), UNICRUZ - Cruz Alta (1998), UFPel - Pelotas (1999), PUCRS - Porto Alegre (2000), UFSM - Santa Maria (2001), UNIVATES - Lajeado (2002), UPF - Passo Fundo (2003), UCS - Caxias do Sul (2004), UNIJUÍ - Ijuí (2005), UNISC - Santa Cruz do Sul (2006), URI - Erechim (2007), ULBRA - Canoas (2008), UNIFRA - Santa Maria (2009), PUCRS (2010), FURG - Rio Grande (2011), UFRGS - Porto Alegre (2012), UNIJUÍ - Ijuí (2013).

4 comentários:

  1. Os males do fumo

    Houve uma época em que o ato de fumar traduzia sucesso e glamour, até o Brasão da República Brasileira contém folhas de fumo ao lado de ramos de café. Mas nos últimos cinquenta anos a ciência se esmerou em provar que o hábito do tabagismo acarreta danos terríveis ao fumante. Mostrou cabalmente que o tabaco contém centenas de agentes nocivos à saúde, muitos deles causadores de câncer. Pulmões, garganta, lábios, língua, estômago, rins e bexiga são alguns dos órgãos que estão sujeitos à maior incidência de vários tipos da doença, com graus variados de morbidade e, muito pior, graus terríveis de sofrimento atrelado a despesas elevadas e degradação da qualidade de vida do doente e dos familiares, resultando quase sempre numa morte prematura e dolorosa.
    Em consequência dos elevados custos sociais e materiais, muitos governos do ocidente, o do Brasil inclusive, resolveram atacar o hábito do fumo proibindo propaganda de qualquer espécie e banindo dos meios de comunicação qualquer referência que estimule o ato de fumar. Não há estatísticas que demonstrem a assertiva dessas medidas. A indústria fumageira se ressente dessas campanhas? Houve uma redução de fumantes a partir da extinção das propagandas? Não há divulgação dos resultados. O que se sabe com certeza, é que os órgãos responsáveis pelas campanhas antifumo atacaram apenas a ponta do consumo, isto é, o alvo dos ataques sempre foram os fumantes, a eles se dirigiu o grosso da artilharia que visa melhorar a saúde da população e, por tabela, diminuir os gastos dos sistemas de saúde com tratamentos de doenças provenientes dos males do fumo. Mas e a outra ponta, aquela que produz o fumo desde a semente até o produto final: cigarro? Há alguma preocupação governamental em esclarecer os males que plantar tabaco (Nicotiana tabacum) causa aos agricultores? Parece que não, milhares de famílias do campo estão morrendo por causa do fumo e nada se fala sobre isso.
    Os fatos a seguir foram publicados por Sandreli Gross Costa no blogue http://pinheiraldebaixo.blogspot.com baseados no trabalho de Fabianne Heemann, publicado no saite http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/22063 e nos dão uma ideia da dimensão do problema:
    “Para produzir fumo de qualidade, o agricultor necessita aplicar múltiplas sessões de agrotóxicos, fica exposto às intempéries climáticas para fazer a colheita na maturação certa das folhas, tem o sono interrompido várias vezes a noite para cuidar dos fornos durante a secagem, passa horas em posições desconfortáveis para colher, transportar e classificar as folhas. Resumindo, trabalha feito “um burro de carga”. Esse excesso de trabalho, afeta o organismo dos agricultores acarretando problemas físicos e mentais (depressão)”.

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  2. Continuando…
    Em outro trecho ela lembra: “A colheita e secagem acontecem simultaneamente. Essa é a etapa do processo produtivo mais cansativa, esgotante, penosa e desconfortável. Inicialmente o agricultor colhe o baixeiro (folhas rentes ao chão) e à medida que as folhas maduram colhe o restante. É preciso repassar de 5 a 6 vezes o mesmo pé de fumo. Esta etapa do trabalho acontece nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. O fumicultor passa horas curvado, carregando maços pesados de folhas, sob o sol e calor insuportável, isso quando não é pego de surpresa pelas repentinas chuvas de verão. A nicotina presente nas folhas do fumo entra em contato com a pele dos agricultores e causa a “Doença do Tabaco Verde” provocando vômitos, dores estomacais, dores de cabeça, tontura, fraqueza, dificuldades para dormir, entre outros”.
    E continua: “Após secas, as folhas são depositadas no paiol, onde mais tarde passarão por um processo de classificação por cor, tamanho e espessura. Em seguida são feitas as manocas ou bonecas (várias folhas da mesma classificação são amarradas umas nas outras pelo talo) e finalmente o fumo é enfardado. Essa etapa é rotineira e desconfortável, pois os fumicultores passam os dias sentados no chão, manuseando as folhas, aspirando pó e sentindo um cheiro ruim que só o fumo sabe ter. Depois de pronto, os fardos são enviados as empresas fumageiras que normalmente pagam um preço muito abaixo do esperado pelo agricultor”.
    A certa altura a autora denuncia: “Em relação à saúde dos fumeiros como a gente diz por aqui, chega janeiro estão todos magros, amarelos e "soiudos" na linguagem popular, com o decorrer dos anos adquirem sérios problemas de coluna, artrite, câncer de pele, depressão. Este é um trabalho muito desvalorizado, mas infelizmente é o que garante a sobrevivência das famílias. Eles não têm opção melhor. Quem acende um cigarro não imagina quanto sofrimento ele provocou até chegar naquela caixinha”.
    Então por que os agricultores continuam a se expor a uma atividade tão nociva nessa ponta como o é na outra, e ainda mais sendo mal pagos? Parece uma pergunta irrespondível, mas não é. A própria Sandreli aponta a resposta: “O trabalho com o fumo é quase todo manual e pode ser cultivado em pequenas e descontínuas áreas, terrenos, maquinários, insumos agrícolas possuem preços exorbitantes, muito além do que meus conterrâneos podem pagar. Além disso, embora as fumageiras paguem um preço ridículo pelo quilo de fumo, essa cultura é mais rentável em relação a de milho, feijão e outras, se estas forem plantadas em pequenas áreas”. Veja bem, mais rentável, é a expressão chave que deve ser considerada. Se plantar fumo rende mais que plantar alimentos essenciais, deve haver uma relação perversa entre o estímulo que as indústrias de cigarros oferecem e as facilidades que o poder público deveria oferecer para tornar a agricultura alimentar rentável, não é mesmo? Além disso, as autoridades fazem vistas grossas quando se trata de esclarecer e ajudar os agricultores. Será isso mais uma prova que as indústrias fumageiras continuam dando as cartas nas ações de combate ao fumo porque pagam pesados impostos ao governo? Será que essa prática de desestimular o consumo numa ponta e na outra ignorar as terríveis consequências do cultivo, é uma maneira de “compensar” as indústrias que fabricam cigarros? Uma espécie de atitude de “morde e assopra” tão ao gosto das demagogias ocidentais? Se assim for, é a política mais maquiavélica e covarde que se tem notícia neste país desde o descobrimento, e o Brasão da República é apenas mais uma comprovação de que no Brasil vidas sempre foram menos importantes que impostos. Com a palavra as autoridades. JAIR, Floripa, 28/11/11.

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  3. Penso que em tempos de conscientização sobre os malefícios do tabaco Santa Cruz poderia ostentar outro título em substituição ao de "Capital Nacional do Fumo". Potencial tem. Poderia ser, por exemplo, CAPITAL dos DEBATES sobre ENSINO de QUÍMICA da fundação ATTICO CHASSOT. Que tal?

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  4. Nada mais reconfortante do rever velhos amigos, apesar de constatar o nosso envelhecimento pelo semblante do amigo a muito não visto, colocar a prosa em dia produz uma dose extra de endorfinas. Amigos vem e se vão, deixam lembranças de boas épocas, curiosamente deletamos de nosso hd mental os maus momentos, e como dizia Platão "Buscar e aprender, na realidade, não são mais do que recordar."

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