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sábado, 17 de maio de 2014

17.- HERÁCLITO, TAMBÉM GUAPURUVU

ANO
 8
RIO DE JANEIRO / PORTO ALEGRE
EDIÇÃO
 2776

Esta blogada entra em circulação quando já me aproximo da hora aprazada para pouso no Salgado Filho, em Porto Alegre depois de meu dia fluminense. Esta edição ocorre com a ajuda de mais um texto de Heráclito Parmegiano. Permito-me recordar meus leitores: ele esteve aqui na edição de 30 de abril. Então, em um texto muito original, conhecemos um professor aposentado, que de vez em vez volta à escola de Icujá Seco para ensinar algo do que o envolve agora: agricultura ecológica. A segunda vez foi, há uma semana, 10 de maio, quando nos contou da repercussão de seu primeiro texto no vilarejo, onde se pode inferir é uma liderança. Hoje, com sua ajuda se preenche esta edição sabática. Demos-lhe trela. Parece ser isso que ele gosta.
Muito estimado Mestre Chassot, agora, também, meu editor.
Como o prometido, hoje quero contar algo mais dos meus ‘casos’. Mas, primeiro quero manifestar meus agradecimentos por publicar meus textos. Eu que nunca tinha publicado nada, agora tenho até um editor, professor doutor. Preciso, todavia, me conformar: desta vez a segunda publicação não teve muita repercussão em Icujá Seco. Até a foto de nossa aldeia que lhe enviei foi criticada, dizendo que eu fazia questão de divulgar que não passávamos de uma aldeota. Da foto que trago hoje não caberá recurso.
Estou escrevendo na noite de terça-feira, contemplando uma linda lua cheia, ou um plenilúnio, como diz a Isolina, que ficou muito orgulhosa com a referência que fiz, no outro artigo, ao seu linguajar — ela jacta-se de ser castiço. Professor, não sei se posso chamar estes escritos de artigos. Até pensei em nominá-los como ‘Crônicas de Icujá’. Claro que é muita pretensão.
Tinha previsto para hoje o segundo movimento ‘Um adágio: De ficções e realidades acerca de um Heráclito missioneiro’. Quase que diria que hoje vamos carpir mais eito deste roçado que se transforma em escritura.
Começo dizendo das ficções. Ela está no sobrenome que aditei ao meu nome. Em 2002 tive a felicidade de fazer minha única viagem ao exterior. A Sociedade de Canto Santa Cecília, de São Zenóbio de Inhacorá foi convidada para uma excursão à Itália. Tínhamos um espetáculo “Assim se canta a nossa Itália no Brasil”. Foi um sucesso. Apaixonei-me pela cidade de Parma. Está explicado o sobrenome, de meu pseudônimo literário. Neste o Heráclito é verdadeiro. Na verdade: Heráclito Guapuruvu. E sobre este meu nome conto a seguir.
Meu falecido pai, descendente de indígenas das missões jesuíticas (sobre minha ascendência paterna guaranítica falo adiante) era um homem culto. Guaraci Guapuruvu (1910-1987) nasceu e se criou (como se dizia) aqui em Icujá Seco. Teria muito para contar de meu pai. Cito, pela ordem de nascimento, o nome de seus sete filhos que teve com minha finada e muito querida mãe Elena Luzia Lages Guapuruvu (1906-1970): Anaxágoras, Sócrates, Sofia (minha irmã gêmea), Heráclito, Heródoto, Parmênides e Hipácia. Há que inferir pelos nomes escolhidos a cultura de seu Guaraci.
Ele não teve, em termos de escolarização formal, mais que o aprendizado das primeiras letras e das quatro operações da aritmética. Um autodidata que inovou a agricultura transformando canhadas íngremes em terraços planos, com a construção de muros de arrimo (andenes, como faziam os incas) e fez espaços agricultáveis com sistemas de irrigação. Engenheiros e agrônomos vinham ver as produções de seu Guaraci e convidá-lo para ensinar em outros povoados.
Em nossa casa havia uma biblioteca com cerca de 2 mil livros. A biblioteca era uma bonita construção de favo ao lado da casa, com 16 espaços hexagonais que abrigavam setores temáticos: agricultura, com destaque aos primeiros livros sobre ecologia, história, filosofia, religiões, viagens. Em um dos espaços havia mapas, globos e um telescópio. Os diferentes recantos de leituras tinham reproduções ou bustos de escritores ou reproduções de capas de obras célebres. Havia um setor de literatura infantil e outro de revistas: assinávamos Seleções, Pomares & Jardins, Pais & filhos. As revistas Manchete e Realidade o jornaleiro de Cerro Alto, enviava a cada edição. Na biblioteca, franqueada à vizinhança, entrávamos e portávamo-nos como se estivéssemos numa igreja. Ali, entre outras coisas, aprendemos a murmurar, ao invés de falar alto.
Mais uma vez estou me espraiando e não disse quase. Vou fazer um artigo só sobre a Biblioteca.
Quero cumprir a promessa e contar algo de minha ascendência paterna. Os pais e os avôs de meu pai (Guaraci Guapuruvu) eram indígenas ou bugres como se dizia, por aqui pejorativamente. Deles graças a zelosas investigações de meu pai temos informações (nomes, fotografias e dados colhidos em lápides). Assim meu bisavô nasceu em 1850. Ele transmitiu, para as gerações pósteras que seu avô (nascido em torno de 1760) foi fugitivo da redução de São Miguel, quando as Missões jesuíticas se esfacelaram. Ele era chamado filho do padre, pois corria um boato, que um jesuíta engravidará sua mãe. Realmente, a acreditar-se em boatos e genética havia porque Guaraci Gaupuruvu ter sido o gênio que foi. E... quem sai aos seus...
Sobre minha ascendência materna sei que meu avô foi um colono italiano, que chegou solteiro ao Brasil, quase no final do século 19. Com um grupo de outros colonos italianos cedo deixou a região de Caxias do Sul e se estabeleceram nas cercanias de São Zenóbio do Inhacorá. Terminaram por se e integrar à comunidade de Icujá Seco, especialmente por meio do folclore e de Sociedades de canto.
Encerro por hoje, mesmo sabendo que subtraí muito de minha genealogia, mas narrei que tenho sangue de índio, de italiano e, de jesuíta... é claro. Tenho ainda muito a contar. 

2 comentários:

  1. Árvore conta história

    Mais uma vez Icujá Seco presente
    No texto de Heráclito Guapuruvu
    Homem planta de copa proeminente
    Publica história do fundo do baú.

    Sangue gentio lhe corre nas veias
    Do qual se orgulha com justa razão
    Gaúcho brasileiro de mãos cheias
    Orgulhoso e prócer de seu torrão.

    Mais vezes o teremos aqui imagino
    Porque despertou nele um escritor
    Porém acima de tudo com seu tino
    Seus escritos têm conteúdo e vigor.

    E como sei que escrever é destino
    Louvemos a ascensão desse autor.

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  2. Mestre Chassot,
    quisera saber poetar como o Jair, para dizer-lhe do encantamento que me trazem os textos de Heráclito que agora sabemos Guapuruvu.
    Icujá Seco já tem é a minha aldeia de desejos, especialmente para estar na biblioteca que tem um sabor sacral.
    Como o Jair aguardo saber mais deste escritor que amanha a terra e as palavras.
    Mirian

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