ANO 17*** 18/11/2022***EDIÇÃO 2060
Na tarde da última segunda-feira -- permeada de sabor de feriadão -- fui à 68ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Recordo que em 1957, ano que me formei no ginásio (hoje nono ano) em Montenegro, vim à Porto Alegre, em função do convite da formatura. Fui pela primeira vez a uma feira de livros. Maravilhei-me. Era então a 3ª edição da feira de Porto Alegre.
Desde então, das cerca de sessenta edições que houve após aquela, estive praticamente em todas. Mais de uma vez autografei na feira da cidade qual moro há mais de meio século. Não lembro de algum ano que estando hábil na capital, tenha faltado à sumarenta experiência do contato público e íntimo com o livro, artefato cultural tão importante na história da humanidade.
Por ser pertinente vale referir algo aqui -- nos feriados de finados terminei de ler o volumoso presente do Nelson Marques, meu amigo e colega de Natal, d’outro Rio Grande --: Irene VALLEJO Infinito em um junco A invenção dos livros no mundo antigo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022. 496 p. ISBN 978-65-5560-468-9 Lançamento 02/06/2022. Um livro sobre a evolução dos livros, um passeio pela trajetória desse inevitável que inventamos para que as palavras pudessem ser transportadas pelo espaço e pelo tempo: O infinito em um junco conta a história desse objeto desde sua criação, há milênios, passando por diferentes modelos e formatos que testamos ao longo da jornada humana”.
“A obra de Irene Vallejo é também sobre viagens e diferentes lugares. Uma rota com paradas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, e na Vila dos Papiros sepultada pelas lavas do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra e na cena do crime de Hipátia, nas primeiras livrarias e nas oficinas de cópia manuscrita”.
Mas o meu móvel -- na 4a. acepção do Priberam: Aquilo que é a origem ou causa de alguma coisa. = FITO, INTENTO, MÓBIL, MOTIVO, MOTOR, RAZÃO -- era celebrar, com o Denilson da Silva, o lançamento do livro Práticas curriculares democráticas em escolas do campo no Brasil, Curitiba: Appris, 273 p. ISBN 978-65-250-3103-3. 2022.
Esta obra ora celebrada na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre é resultado da tese doutoral do Denilson, defendida em 17 de agosto de 2020, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. Para o livro do qual a tese é geratriz fui obsequiado no escrever um posfácio.
Nestes tempos pandêmicos, os convites a prefácios e posfácios pulularam (claro que não com a velocidade do covid-19). Nos parágrafos iniciais da introdução, o Denilson faz uma adequada referência a palavras como pandemia, trabalho remoto, lockdown e lives que entraram subitamente em nosso cotidiano. Mas a atualização (em julho de 2020) quase colapsou. O que se descreve nos parágrafos iniciais, com muita competência e criticamente analisado — e eu não poderia esperar algo diferente de meu orientando de mestrado nos anos iniciais do século 20 — está desatualizadíssimo, tal a rapidação dos cenários em que vivemos, enquanto inseridos planetariamente no mundo pandêmico. Vivemos e ora revivemos (novembro 2022) marcados por cruenta melancolia, catalisada por vírus que é espetacularmente veloz na disseminação viral. Não há como ter um texto atualizado por mais de 24 horas (quando crianças e adultos, jovens e idosos continuam levados a óbitos!
Antes de assestar a tessitura de um blogar vou fugar e me permitir, trazer algumas linhas marcadas por intimismos, datados de há quase duas décadas. No ocaso do século 20, expressões como ‘apagão na rede elétrica’, ‘racionamento de energia elétrica’ e assemelhadas eram presença no cotidiano dos gaúchos e também em outras unidades da Federação. Denílson, recém licenciado em Física e, então, fazendo Mestrado em Educação, viu oportunidade para, na visitação e descrição de rodas d’água, usadas para produção doméstica de energia elétrica. Estava com um excelente tema do cotidiano para sua dissertação de mestrado. Em 21 de março de 2003, defendeu com sucesso a dissertação: A roda d'água termina com o apagão nos currículos e transforma o ensino da conservação da energia. Se fez mestre. Se tornou ainda mais competente no adensar uma trajetória de educador que teve vários e diferentes ápices memoráveis: Como bolsista Capes atuou, por um ano, na Formação Docente na Universidade Nacional e no Instituto de Formação de Professores da Educação Básica na reformulação curricular de curso junto ao Ministério da Educação e Cultura do Timor Leste. Foi Secretário Municipal de Educação em Palmares do Sul. Atualmente é Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul, no Câmpus de Erechim.
Mas, ocorre que uma atenta leitora possa estar a interrogar pelo anunciado intimismo. Ei-lo. Para perpetuar nossa relação na tessitura da dissertação, materializamos o ícone da mesma: uma roda d’água. Na fonte, nos jardins da Morada dos Afagos (que já tinha variedades de plantas aquáticas, trazidas pelo Denílson quando vinha de sua Osório a sessões de orientação), colocamos uma pequena roda d’água. Ainda hoje, quando me encanto com algumas carpas, fruindo das benesses do ícone da dissertação oxigenando águas, lembro que há quase 20 anos, se terminou com apagões em currículos de Ciências da Natureza na Educação básica, narrando, quanto então, as rodas d’água iluminava trevas e moíam grãos.
O dia 14 deste novembro -- que nos mostra quanto houve precipitação no abandonar o uso de máscaras -- foi de apascentar saudades: com a Zelma revivi a Feira do Livro que nesta edição nos recorda: uma boa festa tem história, saboreamos comeres no Bistrô do MARGS, buscamos saudades como a Casa Masson na Rua da Praia, tomamos chopes no Chalet da Praça Parobé. Valeu ter antecipado o feriado do Golpe de 15 de novembro de 1889. Agora a Feira do Livro terminou. É preciso esperar o já tão sonhado 2023 para nos encontrar na Praça da Alfândega para ver as flores de jacarandás cair sobre os livros.
Que a "roda d'água" volte a girar e nos livre do apagão chamado BNCC
ResponderExcluirGraziele Pena
ExcluirEncantada com o blog professor… cada dia mais estamos sofrendo apagões das áreas de ciências no currículo do E.M.
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