ANO
13 |
AGENDA 2 0 1 9
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EDIÇÃO
3392
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Pela terceira vez consecutiva a 9ª
Escola de Verão Revoluções
Científicas atuais do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados
ILEA / UFRGS é semente prenhe para mais uma edição deste blogue. E antecipo uma
provável pauta para a próxima semana: reflexos da
maternidade na produção acadêmica de mulheres cientistas, um dos temas de
destaque da mesma Escola de Verão.
Na quinta-feira, 24/01, na 23ª conferência
encerrou o evento, o Prof. Dr. Fernando Becker, com o texto: Involução
Educacional: “... expurgando a ideologia de Paulo Freire” fez fala emocionante.
Não cabe aqui e agora fazer uma síntese de sete páginas. Minha resposta à
recepção do texto: Muito
atencioso colega Fernando Becker, acabo de receber o melhor presente para o meu
2019 acadêmico. O texto que marcou para mim a 9ª escola de verão do ILEA. [...]
Estou com muitos planos para com teu texto iluminar meus fazeres. Muito
obrigado para partilhares comigo e com alunos que fruirão de tua sapiência.
A constatação mais significativa é
o quanto muito pouco conheço das propostas freirianas. Já estou cumprindo um
dos meus propósitos de estudo.
O texto de FB traz uma gravíssima afirmação
que eu desconhecia: O plano de governo
do Presidente eleito, registrado no TSE, afirma: “Precisamos revisar e
modernizar o conteúdo, expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base
Nacional Comum Curricular, impedindo a aprovação automática e a própria questão
da disciplina”. O anúncio dessa execração pública de Freire tem
aparecido em vários veículos de comunicação. Quando se falava no expurgo de PF
da Educação brasileira, pensava ser uma fake news. Só agora vejo que é plano de
governo registrado no TSE. Está justificado porque alunos, professores e
escolas são considerados como inimigos pelo atual governo.
Acerca da
ilustração: no meu mestrado em Educação
(UFRGS, 1974/1976) não fui apresentado a uma linha de Marx. Diferentemente do doutor ado em Ciências Humanas (UFRGS, 1991/1994). A
foto mostra a que tempos se quer voltar.
FB, em original tessitura, traz
seis razões para que se concretize a proposta obscurantista e néscia
bolsonarista. Trago acenos das seis justificativas.
Primeira, pelos
títulos acadêmicos: Paulo Freire recebeu
o título de doutor Honoris Causa por mais de 35 universidades das quais 12
universidades brasileiras. Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a Lei nº
12.612, que declara o educador Paulo
Freire Patrono da Educação Brasileira. Segundo uma pesquisa envolvendo três
estados brasileiros, Paulo Freire é o nome de escola mais comum. Depois da
trazida de muitas outras informações, FB, com sarcasmo, conclui: “Como se vê,
esse parece um excelente motivo para expurgar Paulo Freire da educação
brasileira.”
Segunda, pelos títulos de algumas
de suas muitas obras: Pedagogia
do Oprimido, Educação como prática da liberdade, Educação e conscientização,
Extensão ou comunicação (explicitação das bases epistemológicas de seu
pensamento), Ação cultural para a liberdade, Cartas a Guiné-Bissau, Educação e
mudança, Por uma pedagogia da pergunta, Ideologia e educação: reflexões sobre a
não neutralidade da educação, A educação na cidade, A importância do ato de
ler, Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido,
Professora sim, tia não, À sombra desta mangueira, Pedagogia: diálogo e
conflito, A África ensinando a gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
Terceira, sua visão
política: A continuada
presença em suas obras de quanto um Estado poderoso pode desarticular os
movimentos legítimos da população, em especial da escola, na cerceadura da
autonomia, tanto intelectual quanto moral, de docentes e discentes.
Quarta, suas
radicais concepções acerca da alfabetização: Tanto de crianças,
quanto de adultos a alfabetização deve avançar, desde o início, “para além de
um domínio mecânico de técnicas de leitura e escrita ou de uma ‘memorização
mecânica das sentenças, das palavras, das sílabas, desvinculadas de um universo
existencial’, num ato de criação e recriação: ‘É entender o que se lê e
escrever o que se entende’ “Ao contrário das cartilhas [alusão clara ao Mobral,
criado pela Ditadura Militar], esta alfabetização não é doada, é construída,
feita de dentro para fora, pelo alfabetizando como sujeito em diálogo com outro
sujeito, o educador. E... com ironia FB diz que este é certamente um motivo
forte para eliminar Paulo Freire da educação brasileira.
Quinta, sua proposta
de uma pedagogia do diálogo: Diálogo é
palavra-chave na pedagogia do oprimido, da esperança, da autonomia. “Sem amor
[diz ele] é impossível o diálogo. Por isso não pode haver diálogo entre
opressores e oprimidos. É imprescindível, para restaurar se, ou inaugurar se o
diálogo, que se acabe com a opressão”. Perdemos a conta dos milhões de pessoas
que foram mortas, na história humana, inclusive na atualidade, pela
incapacidade das pessoas e, sobretudo, das instituições de exercer essa
capacidade. É a formação dessa capacidade que deve ser a preocupação básica da
educação, seja ela familiar, institucional, do trânsito, da praça pública, das
relações de trabalho, etc. A proposta de uma pedagogia do diálogo é, portanto,
mais um motivo para expatriar Paulo Freire da educação brasileira.
Sexta, sua visão
política de uma aprendizagem crítica e solidária: PF afirmava que “...assim
como a tomada de consciência não se dá nos homens isolados, mas enquanto travam
entre si e o mundo relações de transformação, assim também somente aí pode a
conscientização instaurar-se” ele estava convicto que “Ninguém é autônomo
primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de
várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” E mais “Quanto mais crítico
um grupo humano, tanto mais democrático, tanto mais ligado às condições de sua
circunstância.” “... o Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas às
experiências democráticas.” “Necessitamos de uma educação para a decisão, para
a responsabilidade social e política.” Pois, “A própria essência da democracia
envolve uma nota fundamental, que lhe é intrínseca – a mudança.” Eis mais um
motivo para expurgar PF da educação brasileira.
Como encerramento: (a)venturei-me, em
ligeira mirada ao texto do Fernando Becker, fazer alguns respingos mostrando seis
razões que pelo extraordinário valor pedagógico de Paulo Freire oferecem sobrados
motivos para banir Freire da educação brasileira. Estas seis razões poderiam
ser ratificadas pelo relato de apenas um evento: em 1996, o Centro de
Epistemologia Genética da Universidade de Genebra realizou homenagem aos 100
anos de nascimento de Jean Piaget (1896/1980) se destacando então aqueles que
com Piaget são considerados os dez maiores pedagogos do Século 20: cinco da
Europa Central (Claparède, Decroly, Freinet, Gramsci,
Maria Montessori)*, um da Rússia (Makarenko), um da Bielorússia (Vygotski),
um dos Estados Unidos (Dewey) e apenas um do então chamado Terceiro Mundo:
Paulo Freire (1921/1997), presente ao evento. *estes cinco nomes são de lista provável
(AC).
O que tem a dizer o mal-educado
ministro da Educação que certamente será o verdugo encarregado do expurgo?
Diante do contexto estamos em retrocesso, com a tentativa de negação do avanço na compreensão do próprio conceito de educação e a quem ela se destina, vivemos angustiados diante de posturas que só podem emergir da ignorância... não vejo maiores explicações uma vez que me nego acreditar que na exclusão como opção! Chassot você é um orgulho, poder contar com tua orientação me faz ampliar os olhares! Grata!
ResponderExcluirPatrícia querida,
ResponderExcluirmuito orgulhoso com prestígio que ofereces a este blogue e conheço de teus relatos o quanto teus alunos se fazem temerosos nestes tempos bolsonarianos.
com estima achassot
Profe Chassot. Eu jah lhe contei que recentenente estudei Na Espanha e nao houve uma aula sequer na qual o mestre Freire nao fosse relembrado...e em muitas del, estudado. O prehdio tb levava seu nome. Para mim eh inacreditahvel esta intencao do governo. Eh infundada e absurda.
ResponderExcluirBoa tarde, Chassot, meu amigo! Enviei-lhe um e-mail com singela síntese do atual governo em seu primeiro mês. Foi Adriana, minha esposa, quem me enviou. Conversamos e ela me disse o que falamos em outros momentos: devo rir ou chorar? Eu diria que a zombaria que nos provoca é ainda maior que a vergonha sentida por admitirmos tais lambanças. Se fosse questão de merecimento, como já conversamos, diríamos: nem o país, nem os brasileiros, inclusos aqueles que nele votaram, merecem tal constrangimento, que na prática, solapa nossa dignidade pessoal e nacional. Então, preparo-me para, em breve, diante dos desmandos e da "canoa" furada criada e alimentada, apontar o dedo para pessoas dizendo: você contribuiu para tal, votando. Eis mais um desabafo. Obrigado, meu amigo!
ResponderExcluirInteressante, aqui no nordeste faz um calor terrível, muito seco o ar, vou ver esse Climatizador de Ar Philco para refrescar um pouco. Valeu pela dica
ResponderExcluirCara, eu fiz uso desse suplemento, eu gravei até um vídeo falando desse testo power caps, se você tem interesse em saber o meu resultado clique aqui
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