ANO
13 |
A G E
N D A 2019
Www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
3388
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As edições deste
blogue em 2018 chegam quase ao ocaso. Já antecipo que a próxima edição que
circulará dia 27 não será apenas a última e 56ª do ano, mas também aquela que
decretará o recesso de férias do blogue até o dia 25 de janeiro.
Tinha dois assuntos pautados para hoje. No
primeiro desejava simplesmente reproduzir o excelente texto ‘O
antiministério’ do médico Manoel
Olavo, que circula a rodo na rede.
Na busca de uma certificação do texto, o
encontrei no formativo blogue Cidadania e
Cultura do Professor Fernando Nogueira Costa, da UNICAMP. Aos meus leitores
que não conhecem o texto, vale a pena conhece-lo em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2018/12/17/o-antiministerio-pelo-medico-e-professor-manoel-olavo/ Recomendações entusiasmadas .
Opto, assim, pela
segunda alternativa. [Sempre me lembro quando há muito aprendi que não posso dizer
‘outra alternativa’ porque a palavra latina alter
em português significa outro].
Em vários dias desta
semana, por estar colaborando em capítulo do livro Ascensão Conservadora e os desafios
da educação pública precisei revisitar
minha tese de doutorado*. Há alguns anos não a relia. Podem me chamar de narciso:
foi uma sumarenta releitura.
Trago, em seguida, excertos
(em verde) que extrai das quase uma centena de páginas do capítulo
3: ... sobre ensinar química. Para eleição
do texto certamente contribuiu o convite que recebi em 24 de novembro de professores
do Colégio Pedro II para uma palestra em 2019.
O período dos 9 anos
de regência (1831-1840), que se seguiu a renúncia de D. Pedro I, foi marcado
por muitas agitações intestinas e evidentemente, mais uma vez, a educação foi a
grande prejudicada. No período foi criada uma escola para meninos indígenas em
Minas Gerais. A maior realização educacional ocorreu em 1837 (Segunda Regência)
com a transformação do Seminário São Joaquim, no Rio de Janeiro, em Colégio Dom
Pedro II, transformado em colégio-padrão brasileiro, título que ainda mantém.
No artigo 3º do
Decreto de criação dizia: “que neste colégio serão ensinadas as Línguas latina,
grega, francesa e inglesa, Retórica e princípios elementares de Geografia,
História, Filosofia, Zoologia, Mineralogia, Botânica, Química, Física,
Aritmética, Álgebra, Geometria e Astronomia.” A menção de tão extensa lista de
disciplinas demonstra o caráter enciclopédico e a tendência humanista do
ensino, podendo por outro lado inferir-se que o seu endereço era para as
elites, que depois completariam seus estudos em Coimbra ou Évora ou em outras
Universidades europeias. Mesmo no estabelecimento
padrão houve muitos problemas, principalmente relacionados com a falta de
livros adequados e de professores preparados para cumprir a proposta curricular
contida no Decreto Imperial.
Uma tabela de estudos do
Imperial Colégio Pedro II — o Liceu Nacional — organizada para 6 anos de
estudos que se seguiam a cinco anos de curso primário, mostra a seguinte grade
curricular com o número de lições semanais:
1º
ano: Latim (10), Francês (5) Aritmética (4), Geografia (3), Desenho (3).
2ºano:
Latim (5), Francês (5), Inglês (5), Geografia (3), Álgebra (3), Desenho (3).
3º
ano: Latim (5), Francês (2), Inglês (5), Alemão (3), Grego (5), Geografia (3),
Geometria (2), Desenho (1).
4º
ano: Latim (5), Grego (3), Inglês (2), Alemão (3), História (3), Ciência
Naturais (3), Trigonometria (3) , Geografia(3), Desenho (2).
5º
ano: Latim (4), Grego (4), Alemão (2), História (3), Física (2), Filosofia (5)
Retórica (5).
6º
ano: Latim (1), Grego (1), Alemão (2), História (3), Química e Mineralogia (4),
Astronomia (2), Filosofia (5), Retórica (5).
Uma simples olhada nesta grade curricular
permite inferir o caráter humanista antes referido. Parece ser também um ensino
desatualizado a nova realidade, onde por exemplo, o Latim tem cerca de 24% da
carga horária total do curso, enquanto que a Química tem menos de 2%, ou a
Filosofia ou a Retórica tem cargas didáticas quase iguais que o conjunto das
disciplinas matemáticas. Em uma reforma de 1878, se propunha que em Química, no
Pedro II, se ensinasse “nomenclatura e notação química, equivalente, caracteres
e preparação dos corpos simples e compostos mais importantes para o uso da
vida, análises e experiências.”
O extenso regimento inicial do colégio, tanto
do internato quanto do externato, mostra, por exemplo, quanto a Igreja
Católica, estava associada ao Império: o capelão é igual em dignidade ao
vice-reitor, habitará no interior do Colégio o mais perto que for possível da
enfermaria, sendo que havia a celebração da missa para os alunos nas
quintas-feiras, além dos domingos e dias festivos; a preparação para primeira
comunhão e confirmação era feita no colégio. Este regimento destaca a
necessidade de aval do Ministro na escolha feita pelo Reitor dos livros para
biblioteca.
Num rasgo de
generosidade do governo brasileiro para com a juventude da pátria, (da qual em
1840 frequentou o Colégio, 42 alunos internos e 28 externos), segue-se a
informação de que “muito desejaria o governo franquear a instrução gratuita no
Colégio Dom Pedro II a maior número de meninos pobres, do que aqueles que os
estatutos atualmente admitem, porém seus desejos serão baldados, se a
benevolência do corpo legislativo, não ocorrer com algum auxílio para a
sustentação do estabelecimento.”
Em tempos de então
parecia não haver a polêmica da escola sem partido. As escolas — especialmente a
escola modelo a todos as outros era com partido (monarquista). Adito votos de um bem temperado verão que está se iniciando.
·
* CHASSOT, Attico. Para que(m) é útil o nosso
ensino de Química? Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRGS,
316 p. (tese
de doutorado; orientador: Prof. Dr Lætus Mario Veit). 1994.
Curioso é que essa instituição mereceu até uma menção em nossa Constituição Federal de 1988. Artigo 242 parágrafo 2°: " O colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal" Antonio Jorgeda Costa Furtado
ResponderExcluirMuito bom dia de domingo, quase véspera do Natal cristão, amigo caro Chassot!
ResponderExcluirNada como retornar ao histórico para redescobrir esquecimentos interesseiros e para se ter luz diante das catástrofes que se aproximam. O lamento aumenta quando pensamos naqueles que acreditaram e por isso escolheram. Também estes sofrerão o que creem não os atingirá. O engano pode ser ledo (se de boa-fé). Será?
Bem, então, vamos de dezembro esperando pelo janeiro chuvoso. Chassot, retornaremos ao blog tão logo as postagens sejam retomadas. Abraços calorosos para 2019!
Muito querido amigo Élcio Mario,
ResponderExcluirdentro de mais um pouco circulará a última edição de 2018 do blogue. Te escrevo para agradecer a fabulosa companhoa.
2018 foi um anos de dolorosas perdas... foi um anos de ilusões que se transmutaram em desilusões.
Vivemos uma virada de anos que até dizer 'Feliz ano novo' é difícil.
Na difícil buscada dos ganhos aponta a tua amizade e tua calorosa persistência de a cada semana trazer um upgrade aos meus blogares.
Fomos muito além que ler massudas memórias um do outro.
Registrar e ter consolidado tua amizade dá outra cor ao balanço do ano que se esvai.
Por tal.... muito obrigado