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sexta-feira, 29 de junho de 2012

29.- CRONOS E KAIRÓS



Ano 6*** Santo Ângelo ***Edição 2158
A postagem desta sexta-feira é de Santo Ângelo, onde ontem participei do II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica, que encerra hoje. Pela manhã assisti a excelente oficina “A abordagem de um tema controverso no ensino de Ciências: uma proposta integradora” de um grupo da UFSC e uma sessão plenária com cinco comunicações acerca do que é central no evento: temas controversos. 
À noite, fiz a conferência plenária “A Ciência tem gênero?” para cerca de 1,5 centena de participantes, que receberam a fala com atenção e aplausos. Também autografei vários exemplares de meus livros. A quinta-feira também foi de matar saudades, pois por um tempo fui professor de um mestrado interinstitucional Unisinos/URI de Santo Ângelo. Também, conheci ‘ao vivo’ leitoras e leitores deste blogue. Um alegre jantar de confraternizou encerrou a frutuosa quinta-feira.
No começo desta manhã vou a Frederico Westphalen, percorrendo cerca de 220 km, passando, entre outras cidades, por Ijuí, Panambi e Palmeira das Missões. Hoje encerro o seminário acerca da escrita no Programa de Pós-Graduação em Educação da URI e tenho atividades de orientação. Quase meia-noite retorno à Porto Alegre.
Nesta data, que em priscas eras foi feriado no Rio Grande do Sul e dia santo na ‘Igreja Católica Romana’ uma saudação a todos nominados como Pedro, e de maneira especialíssima ao meu muito querido neto Pedro, filho do André e da Tatiana,  que hoje faz três anos.
Mais de uma vez referi neste blogue duas maneiras de vivermos o tempo regidos por duas divindades Cronos e Kairós. Antecipo que não vou filosofar sobre o tempo, por mais que desejasse ter capacidades para tal. Há dias deliciava-me olhando o verbete tempo em dois dicionários de filosofia. Uma boa pedida, mesmo quando não se tem tempo.
Aliás, já as duas primeiras acepções de tempo, entre cerca de duas dezenas do Priberam, dão margem a filosofares. 1. Série ininterrupta e eterna de instantes; 2. Medida arbitrária da duração das coisas, ensejando boas reflexões acerca da relatividade desta variável em nossa história.
No cotidiano hodierno, é usual termos uma única palavra para significar qualquer situação de vivência de "tempo". Dois exemplos: “O tempo de duração desta viagem é de 55 minutos.” “Não faz muito tempo que ele morreu.”
Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: Chronos e Kairós. A primeira indica tempo cronológico, ou sequencial, o tempo medido ou o tempo cronometrado. O outro é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece, a experiência do momento oportuno. Kairós é usada também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o "tempo de Deus", enquanto Cronos é de natureza quantitativa, o "tempo dos homens".
Elegi para ilustrar esta edição acerca do controle do tempo alguns dos ‘relógios de Salvador Dalí’. Parece que não preciso justificar a escolha.
A regência destes dois tempos cabia a dois deuses: Cronos e Kairós. Eis um breve excerto da teogonia grega [Teogonia = genealogia e filiação dos deuses cujo culto constitui o sistema religioso de um povo politeísta].
Na mitologia grega, Chronos ou Khronos (em grego Χρόνος, que significa ‘tempo’; em latim Chronus) era a personificação do tempo. Também era habitual chamar-lhe Eón ou Aión (em grego Αίών).
No mesmo cenário, Kairos(καιρός, “o momento certo” ou “oportuno”) é filho de Chronos. Ao tempo existencial os gregos denominavam Kairos e acreditavam nele para enfrentar ao cruel tirano Chronos. Na filosofia grega e romana é a experiência do momento oportuno. Os pitagóricos lhe chamavam Oportunidade. Kairos é o tempo em potencial, tempo eterno, enquanto que Chronos é a duração de um movimento, uma criação.
Na teologia cristã, em síntese pode-se dizer que Cronos, é o "tempo humano", é medido em anos, dias, horas e suas divisões. Enquanto Kairós descreve "o tempo de Deus", não pode ser medido, pois "para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia."
Nossa vida cotidiana é marcada por esses dois tempos: enquanto Cronos quantifica, Kairós qualifica. Isso significa que podemos viver o tempo burocrático, cronometrado por horas, prazos determinados, cronogramas, com qualidade, valorizando e quantificando o instante, o momento vivido. Kairós é a ação que qualifica o sentido interior das nossas atividades diárias.
Na sociedade em que vivemos, balizada pelo relógio inexorável de Cronos parece importante dar atenção a momentos qualificados por Kairós, que possibilitarão uma vida plena e feliz. 
A cada uma e cada um: uma sexta-feira com sua passagem medida por Cronos e abençoada por Kairós.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,
    ainda que sempre desejemos viver o Kairós, acabamos escravos do cronos. Acabo de lembrar que tenho uma reunião dentro de algum tempo e por isso preciso me ausentar.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Ótima dissertação, leva-nos a reflexão e a ponderação do nosso modo de encarar a existência.

    Antonio Jorge

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  3. Caro Chassot,
    Para ilustrar tua excelente blogada, um texto meu sobre o TEMPO:
    "Digamos que antes de tudo só existia o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido, surgiu um universo em expansão. Centenas de milhões de anos foram gastos no processo de produção dos elementos necessários para a confecção das estrelas; após a morte e a explosão de uma estrela, foi preciso mais tempo ainda para a incorporação desses elementos até formarem um planeta como a Terra, por exemplo. Só depois do Planeta formado, com as condições ideais, surgiu a vida de alguma forma ainda não conhecida. Portanto, devemos admitir que para que haja tempo para construção dos seres vivos, o universo terá que ter bilhões de anos, ou seja, terá que ter muito tempo.
    Olhar para o firmamento e contemplar a abóbada com milhares de estrelas visíveis e milhões de outras imagináveis, deveria nos dar a dimensão exata de nossa pequenez; deveria nos fazer sentir o grão de poeira insignificante que somos; deveria lembrar que não somos os senhores ou controladores daquilo que vemos ou podemos imaginar; deveria nos ensinar que existe uma entidade, e somente uma, que define a existência ou não de tudo, o inescrutável tempo.
    Tudo que vemos deveria inspirar não somente o exercício da humildade, mas nos obrigar a reverenciar a entidade dona absoluta do destino, o tempo. De fato, o tempo é a única entidade que permanecerá depois de nós, depois das coisas, depois do Universo, depois de tudo. Podemos deduzir que o tempo tudo construiu e a tudo suplantará, ele próprio é imune ao tempo.
    A natureza é prova viva de quanto o tempo pode criar, de que ele tem um objetivo, no qual nos incluímos, somos uma criatura do tempo. Criador fecundo, o tempo assegura a existência de tudo até quando não houver mais tempo na existência dos seres e das coisas quando, então, a vida, as coisas e próprio Universo deixarão de existir, então restará apenas o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido... JAIR, Floripa, 23/06/10".

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  4. Bom dia,vim pesquisando e acabei chegando ao seu blog.Quanta riqueza encontrei aqui.Percebo que seu trabalho é divino,pois ama o que faz.Aproveitei para ler suas postagens.Com certeza voltarei! Abraço!

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  5. Ave Chassot,

    adorei o tema de hoje. Sinto-me escravizado e ludibriado por esses deuses de areias "caindas"...
    Queria fazer um protesto para ampliar o dia para 30h e que passem como se fossem 60h.

    Pilhérias a parte deixo-te meus votos de um bom retorno e um saudoso abraço.

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  6. Querido professor Chassot,
    Me faltam palavras pra expressar a alegria de poder ter convivido contigo nestas poucas horas da quinta-feira, em Santo Ângelo. Sua presença em nossa oficina tornou-a um momento inesquecível.
    Grande abraço!
    Marilisa Hoffmann (UFSC)

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