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sábado, 11 de dezembro de 2010

11.- Ginzburg: A memória nos tempos do Google

Porto Alegre Ano 5 # 1591

Um sábado abafado e de chuvas esparsas em Porto Alegre. Uma edição que já está um tanto atrasada por um estender preguiçoso do despertar. A proposta da dica de leitura, com a apresentação de um livro, tem sobejas razões para ser um pouco modificada. Foi uma semana de ressaca pós-Roraima, marcada por forte e continuada gripe entremeada de muitos fazeres acadêmicos. Logo considero absolvido por mudar o perfil da sugestão sabática.

A dica de leitura de hoje, se faz através da sugestão de um autor. Ele é, como outro escritor que me envolve – Amós Os – e eu, da histórica safra de 1939.

Na semana passada, quando estive ausente, Porto Alegre recebeu a visita historiador Carlo Ginzburg falou sobre as novas significações no cenário dominado pela internet. Ele, então, encerrou a série 2010 do Fronteiras do Pensamento, no dia 29, com uma conferência sobre os rumos da história e da memória no cenário ultra contemporâneo da internet. Parece válido, mesmo que seja ‘assunto de jornal velho’ trazer algo do pensamento de um dos mais importantes historiadores da atualidade. Preambularmente, adito algumas informações que me parecem relevante para entendermos de quem se está falando.

Carlo Ginzburg (Turim, 1939) é um historiador e antropólogo italiano, conhecido como um dos pioneiros no estudo da micro História. Filho do professor e tradutor Leone Ginzburg e da romancista Natalia Ginzburg, estudou na Scuola Normale Superiore de Pisa, e em seguida no Warburg Institute de Londres; ensinou história moderna na Universidade de Bolonha e, em seguida, nas universidades de Harvard, Yale e Princeton, e na Universidade da Califórnia, Los Angeles (nesta última, ocupou, durante duas décadas desde 1988, a cadeira de história do Renascimento italiano). Desde 2006, ele ocupa a cadeira de história cultural europeia na Scuola Normale Superiore de Pisa.

Atento especialista das atitudes e crenças religiosas populares do início da época moderna, publicou em 1966 Os andarilhos do bem (I Benandanti), um estudo sobre a sociedade camponesa de Friul do século XVI, no qual ilumina, tendo como base um tipo de documentação relacionada a processos inquisitoriais, a relação dialética entre um complexo sistema de crenças amplamente disseminadas no mundo rural, resultado da evolução de um antigo culto agrário, e sua interpretação pelos inquisidores que tendiam a equipará-las a formas codificadas de bruxaria. Tornou-se mundialmente conhecido com a obra O queijo e os vermes (Il formaggio e i vermi, 1976), que abordava a vida de um camponês em Montereale Valcellina, Itália. Em História noturna (Storia notturna, 1989), ele traça um caminho complexo desde a caça às bruxas até uma grande variedade de práticas que evidenciam substratos de cultos xamânicos na Europa.

Com os cabelos grisalhos revoltos e um terno sóbrio, imagem acabada de professor – conforme o relato de Carlos André Moreira, na Zero do dia 30NOV10, dissertou para a audiência reunida no Salão de Atos da UFRGS sobre a dupla significação da memória nos tempos em que o termo é usado para nossa capacidade de reter dados e a central de processamento de computadores como os que permitem acesso ao Google.– Todos usam a internet, eu também. Todos falam sobre a internet. Eu também – foram as palavras iniciais da palestra, que discutiu os efeitos de portais como Google ou a Wikipedia.
Antes de passar aos exemplos com os quais pretendia contribuir para uma análise do impacto da internet, Ginzburg discutiu duas afirmações feitas por seu colega e amigo Roger Chartier, um dos maiores historiadores da leitura. Para Chartier, dois problemas da internet são a maneira como ela incentiva uma leitura fragmentada, dispersa e não integral e a padronização das especificidades dos suportes materiais de leitura – não mais papel, tábuas, papiros e sim apenas a tela do computador – problemas que Ginzburg comentou não serem novos e nem específicos da internet.
Ginzburg passou então a falar sobre o tema de seu primeiro livro, de 1966, Os Andarilhos do Bem (recentemente relançado em edição de bolso pela Companhia das Letras), sobre uma lenda medieval a respeito de místicos xamânicos nascidos com uma membrana fetal, e de como décadas depois uma religiosa epilética da Sibéria lhe escreveu relatando um caso pessoal muito semelhante aos que havia relatado. Uma mulher que se considerava imbuída de uma missão mística por um anjo. Depois de algumas pesquisas no Google, ela encontrou menções ao livro de Ginzburg e se identificou com um caso relatado.
– O Google, esse poderoso instrumento de homogeneização cultural pode ser usado em várias direções, até mesmo para ajudar uma jovem a construir uma identidade e subtrair-se dos estigmas de sua doença identificando-se com um culto místico xamânico talvez desaparecido – disse Ginzburg.
No dia da palestra, em entrevista coletiva,– ainda no relato de Carlos André Moreira – Ginzburg já havia tocado no tema dos desafios da internet ao trabalho dos historiadores e na escrita da história – que Ginzburg fez questão de distinguir da História como processo.– Sempre tivemos que lidar com várias versões para um mesmo tema em arquivos e documentos. Hoje se tem com a internet. O que é diferente é a escala. O desafio hoje é descobrir como lidar com a enorme massa de informações – relatou.

Espero que tenham ficado atiçados para conhecer um pouco Carlo Ginzburg. Votos de um muito bom sábado, e que este possa ser de descanso. Sei o quanto são exaustivos estes últimos dias do ano. Para os mesmo é preciso é preciso, agora, descansar.

6 comentários:

  1. mas o sr não é modesto, heim Mestre? "e eu, da histórica safra de 1939", rssrsr

    aprender a descansar é que é.

    abraços!

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  2. Muito querida Marília,
    saúdo a volta de uma querida filósofa(des)aparecida. Talvez esse meu viés mégalo tenha a ver com outro nascido em 1939 (ano que morreu Freud) 1ue tu conheces: Paulo Santana.
    Um afago pelo precioso retorno.
    attico chassot

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  3. Muito querido Jairo,
    realmente lês meu blogue em uma plataforma que serve muito mais do que para telefonar.
    Nesta féria pretendo reler O queijo e os vermes.
    Teu comentário me fez desejoso de revisá-lo.
    No blogue de ontem comentei nosso almoço.
    Um agradecimento por deixares teu comentário.
    Fazes uma quebrada em que estava sentido pela ausência de comentaristas.
    attico chassot

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  4. Leio teu blog a partir de meu celular, o que me. Parece magnifico, principalmente nesse momento em que Ginzburg fala de internet. O Queijo e os Vermes foi a primeira obra que li em minha graduacao em Brasilia. Mostra quantas injusticas se faziam durante a Inquisicao e que o moleiro destacado pelo autor foi vitima. Abraco do JB

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  5. Olá, Mestre,
    penso que a internet é uma ferramenta essencial na atualidade, para a maioria das sociedades. O volume de informações é imenso, como o é o das publicações em livros. Precisamos de pessoas como historiadores, filósofos, educadores, sociólogos e tantas outros que reflitam, analisem, entendam e transmitam informações sobre suas especialidades e sobre a própria internet. Que a utilizem, trocando idéias e informações. Que nos ajudem a separarmos o joio do trigo. Escrevendo na internet e publicando livros.A escola, em todos os níveis de ensino deve se utilizar destas ferramentas.
    Abraços,
    Malu.

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  6. Muito querida colega e amiga Maria Lúcia,
    Primeiro agradeço tua presença aqui.
    Realmente a internet determina novas realidades em nossas Vida.
    Enquanto educadores temos imensas disponibilidades;
    O significativo é sabermos fruí-las.
    Um afago carinhoso de
    attico chassot

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