TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Ciência =/= Ciências

  


ANO 17*** 14/10/2022***EDIÇÃO 2054


Ciência =/= Ciências



Há uma antecipação desta edição. Desde que as edições se tornaram hebdomadárias, passaram a ser as sextas-feiras (antes do surgimento do simpático e popular verbo sextar). Aliás, de maneira mais ortodoxa, a postagem deveria ser ao pôr-do-sol, numa inspiração do shabat judaico. Quando contemplo o meu fazer/ser blogueiro admiro a minha ousadia, em tempos que este blogue era diário (2009/2014). Por ora, produzir um semanário já se faz árduo.

Talvez, devesse dizer: edições semanais ao invés de edições hebdomadárias. Há que reconhecer que bora se faz distópico com o adjetivo hebdomadário. Bora, sextar com a gente, cara! conta pra quê essa tal de antecipação. Sim! Respondo aqui mais adiante! Antes uma 

***** NOTA DE ESCLARECIMENTO***** 

Aquelas e aqueles que leem meus escritos ou conhecem minhas palestras sabem minhas posturas teóricas. Uma síntese de algumas ações é até título de um dos meus livros: Das disciplinas à indisciplina. No nosso cotidiano, uma pergunta recorrente: qual a sua profissão? À minha resposta: Professor! Meu interlocutor pergunta: Professor de que? Minha resposta: … de Ciência! {não digo de Ciências}. Eis uma diferença: Ciência =/= Ciências. Esta sutileza não é da alçada de meu interlocutor. Fica agradado se digo que fui professor de Química, por exemplo. Até narra o quanto teve dificuldades com Química no Ensino Médio. O que está a seguir é um texto disciplinar. Não vou mostrar, por exemplo, que não existe um fenômeno somente químico. Assim, Química e Biologia são ciências. Estas, junto com dezenas de outras Ciências (Geologia, Astronomia, Botânica e muitas outras) fazem parte da Ciência. O texto a seguir se refere a uma disciplina, que é uma pequena parte -- mas muito importante -- da Ciência. Não mudei minha leitura acerca da epistemologia da ciência. Mas vale lembrar que a narrativa que vem a seguir começou há mais de quarenta anos. Vale conhecer uma significativa história. O convite está feito. Obrigado pela parceria.

Nesta sexta-feira e sábado, 14 e 15 de outubro, ocorre na UFPel, em Pelotas, o 41o EDEQ. O Prof. Dr. Bruno Pastoriza, em nome da Comissão Organizadora, me convidou, enquanto co-fundador, do primeiro EDEQ, em 06 de dezembro de 1980. Este ocorreu no Instituto de Química da PUC RS,  foi desencadeado pela então emergente regional gaúcha da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Reunimos uma centena de professores de Química, dos três graus de ensino, para  discutir: “As inter-relações do ensino da Química nas diferentes etapas da escolarização, bem como as interações dos pesquisadores com o ensino”. 

Este foi o encontro seminal dos quarenta EDEQs posteriores, que vêm se realizando ininterruptamente, com apenas uma lacuna em 1991. Apreciaria evocar cada um dos outros 39. Seria um rememorar que em muitos catalisarão saudosismos. Eu só não estive em um. Participei da organização de pelo menos da primeira metade. Em homenagem àqueles que comigo lançaram sementes em terra fértil, comento os cinco que se sucedem ao primeiro EDEQ em 1980.

O II EDEQ foi realizado em 1981, no Instituto de Química da UFRGS, nos dias 5 e 6 de dezembro. O tema central do encontro buscava respostas para a pergunta: “Como tornar o ensino de Química mais criativo? O encontro, uma realização estadual, já na sua segunda edição, teve participação de professores de SC, PR, SP, RJ, MG e CE. A bandeira da educação química era desfraldada pelos professores de Química do RS e era assumida também por professores de vários outros estados.

O III EDEQ ocorreu em 15 e 16 de outubro de 1982, no campus da UFSM, em Santa Maria, tendo como tema central: “Química: uma ciência experimental”. Neste encontro houve palestrantes de outros estados e se continuou a privilegiar a presença de conferencistas de fora da área da Educação Química. Começava a interiorização dos encontros e se inaugurou a tradição, ainda mantida, de fazê-los em uma sexta-feira e sábado, da segunda quinzena de outubro. 

O IV EDEQ integrou a programação de 10 anos da Universidade de Passo Fundo e no dia 27 de outubro de 1983, seu reitor o instalava solenemente e por dois dias se tentou responder: “Por que ensinar Química?” Foi neste encontro que se iniciou a apresentação de trabalhos, e estes já foram em número de catorze.

O V EDEQ que ocorreu nos dias 26 e 27 de outubro de 1984, na Universidade de Rio Grande teve um tema audacioso como proposta de discussão: “Ensinar ou educar em Química”. Esta distinção passa a ser uma exigência dos envolvidos mais próximos na organização dos encontros. Ao lado de duas centenas de participantes gaúchos, houve participantes de vários estados do  Brasil e de professores e alunos uruguaios.  

O VI EDEQ foi na Universidade de Caxias do Sul (UCS) que acolheu quase 300 participantes do Rio Grande do Sul e de outros estados e do Uruguai para discutir o tema: “Pesquisa: resposta de como educar através da Química”, nos dias 25 e 26 de outubro de 1985. Houve a apresentação de 31 trabalhos e a presença de conferencistas expoentes do ensino e da pesquisa da Química no Brasil.

Depois deste sexto EDEQ na UCS em 1985 houve 34 EDEQs para chegarmos a este XLI EDEQ, hoje em Pelotas. Destaco o XX EDEQ que ocorreu de 12 a 15 de julho de 2000, na Pontifícia Universidade Católica RS em Porto Alegre (lócus do 1º e do 10º EDEQs) em conjunto com três eventos : XX Encontro de Debates de Ensino de Química (EDEQ) – X Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) e II Encontro Latino-americano Ensino de Química (ELEQ) tendo como tema: A Educação em Química pela pesquisa: um desafio para a sala de aula. Estes eventos reuniram mais de 700 participantes do Rio Grande do Sul e de vários estados brasileiros e também de alguns países latino americanos. A propósito: a realização destes EDEQs já envolveram quase duas dezenas de Universidades e Institutos Federais no sediar os eventos,   

A semente gaúcha germinou em outras plagas. Os EDEQs frutificaram. Há outras séries de encontros regionais, estruturadas à semelhança dos EDEQs: ECODEQs (Encontro Centro-oeste de Debates sobre Ensino de Química) desde 1989; os ENNEQs (Encontro Norte-nordeste de Ensino de Química) a partir de 1990 e os ESEQs (Encontro Sudeste de Ensino de Química). Em 2017, ocorre também o Encontro da Rede Rio de Ensino de Química, que é uma iniciativa das universidades do estado do Rio de Janeiro no sentido de congregar os pesquisadores em educação química das universidades participantes. 

Obviamente, pode ser que existam outros eventos não listados aqui, seja de caráter regional, local ou nacional, não sendo possível abarcar a todos em um país continental como o nosso.

A partir da iniciativa do Rio Grande do Sul, surgiram, em 1982, os Encontros Nacionais de Ensino de Química: ENEQs. Assim realizamos em 1982, na UNICAMP, o primeiro ENEQ, definindo-se seu caráter bianual. O segundo foi em 1984 na USP, o terceiro em 1986 na UFPR; e o quarto, mais uma vez USP; o quinto foi 1990, na UFRGS e o sexto, em 1992, novamente na USP. Os mineiros foram os primeiros que organizaram um encontro sem ter a infra estrutura da SBQ e SBPC. O sétimo ENEQs foi na UFMG. Deste VII ENEQ ficou aquela que é nossa realização maior: Química Nova na Escola. A revista -- em agosto deste 2022 circulou o número 3 do volume 44 -– quer ser a materialização de ações de educadores que sonham em fazer transformações na Educação para que consigamos homens e mulheres que construam a sonhada nação-cidadã. O XXI ENEQ está previsto para ser realizado na UFU, em Uberlândia, de 01 a 03 de março de 2023.

A proposta de criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Química – SBEnQ foi aprovada em julho de 2016, no XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ), realizado na UFSC. Pode-se afirmar que a gênese da formação desta Sociedade se relaciona às ações do movimento de participação em encontros dos educadores nas Ciências.

Estes eventos são fóruns privilegiados de várias propostas alternativas, como as que buscam valorizar a ligação da Química com o cotidiano do aluno, tornando esta ciência uma facilitadora da leitura do mundo. São também o momento onde as professoras e os professores apresentam resultados de suas pesquisas em sala de aula e tomam conhecimento dos desenvolvimentos na área de Educação Química em termos internacionais e, também, nacionais. Acredita-se que estes encontros já tenham gerado significativos avanços no conhecimento e inúmeras contribuições potenciais para a melhoria do trabalho docente em Química.  Por isso é que estamos nesta sexta-feira e neste sábado na hospitaleira Pelotas e também para mais de uma vez poder nos abraçar depois da abstinência de alguns afetos nesses pandêmicos.

 

Um comentário:

  1. Bom dia. Mais um Edeq amigo Chassot...otimo texto...sempre é bom relembrar ...daqui a pouco te darei aquele abraço carinhoso....

    ResponderExcluir