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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

5.- UM PARADOXO URBANO: SATÉLITES SÃO CÊNTRICOS.


ANO
 9
TAGUATINGA- DF
EDIÇÃO
 2887

Esta edição é desde Brasília. Não tenho contabilizado quantas vezes já estive na Capital Federal. Talvez mais que dez. É provável, menos de vinte. Sempre estive aqui profissionalmente. Há uma época, várias vezes, ligado ao Ministério de Educação, especialmente enquanto membro de grupos de avaliação. Algumas vezes, em bancas de mestrado e doutorado. Também em alguns eventos.
Nesta última categoria, registro de maneira muito particular o XV ENEQ, há quatro anos, que me ensejou também um domingo propício para visitação de lugares ligados a aspectos místicos. Estes, muito densos aqui. Recordo de outra vez, quando em trânsito, com destino a Belém: fiquei mais de 10 horas assentado no chão do aeroporto, em de um maiores caos aéreos da aviação brasileira.
Agora estou, mais uma vez, nesta cidade que ‘ouvi’ (pelo rádio) ser inaugurada em 21 de abril de 1960. Hoje a cidade já tem mais 2,5 milhões de habitantes. Isto parece quase inimaginável. É provável que, quando JK fez realidade um dos seus sonhos, não imaginava que a criava uma megalópole.
Tendo estado ou não em uma cidade, muitas delas existem em nosso imaginário. Por elas flanamos de maneira virtual, vencendo as restrições de trânsito, presente em quase todas as cidades reais.
Em 1989, fui a primeira vez à Europa. Ao desembarcar em Paris, parecia que estava chegando a uma cidade muito familiar, tantos os livros e filmes com cenários parisienses que vivenciara. Meu colega da UnB Ricardo Gauche, também meu assessor para assuntos de vidas passadas, diria que reconheci Paris, pois ali, eu vivera no medievo como um monge.
Com Brasília, não foi/é diferente. Aqui, por ser tudo tão desenhado e pelo plano piloto do urbanista Lúcio Costa ter sido tão divulgado, pelo menos há época da construção e por serem as linhas monumentais de Oscar Niemeyer ícones da arquitetura mundial tudo parece revivido.
De Paris, sabia do Sena com seus livreiros às margens do rio; de Notre Dame, conhecia até onde o sineiro Quasímodo se ocultava; a torre Eiffel ou o Arco do Triunfo estavam bem onde deveriam estar. O laboratório onde trabalhava o casal Curie era familiar; o Collège de France, quase me fez ouvir as aulas de Foucault, de Barthes e outros.
 Assim como em Brasília, a catedral, a Esplanada dos Ministérios, o Itamaraty o edifício do Banco Central, o Palácio da Alvorada... surgiriam, mais uma vez, como seria o esperado.
No meu estar em Brasília, por ora nada disso surgiu. Não chego ao Plano Piloto. Não vejo nada do que Brasília no imaginário de muitos.
É em Taguatinga onde estão: o hotel no qual me hospedo, a universidade na qual fiz palestra e dei minicurso, o restaurante onde almocei, onde moram os professores que me anfitrioneiam e a casa de um que nos reuniu para um café da tarde. É distrito, (ou bairro, uma cidade satélite ou região administrativa) de Brasília, que juridicamente é parte do Distrito Federal.
É um imenso conglomerado humano, com conjunto de espigões altos e densos que chega lembrar Nova York. Com mais de 200 mil habitantes e tem uma densidade de quase 2.000 hab/km2. Logo maior que a maioria das cidades brasileiras (mesmo que politicamente não seja cidade). Apenas um dado: Taguatinga foi a 12ª região com lançamentos mais caros do Brasil em 2012.
Pois esta é a Brasília, que não é Brasília que a Verenna e o Alexandre me mostraram na manhã e na tarde de ontem. Junto com Taguatinga está Águas Claras com seus maciços blocos residenciais. Impressionei-me. Não tanto com que vi, mas e principalmente, pelo que não sabia existir.
Depois destes impactos, quando dava palestra à noite para professoras e professores e alunas e alunos dos cursos de Química e Pedagogia, não sabia bem onde estava. Dava-me conta que estava numa universidade que acolhe muito mais trabalhadores que estudam do que estudantes que trabalham.
Foram esses que acolheram autógrafos em dezenas de meus livros, tiraram fotos que não hora eram curtidas no Facebook e me homenagearam. As fotos do Professor Jonatas Gomes da Silva mostram três momentos. 
Há ainda uma foto postada pela Aline Camargo da Universidade Federal de Goiás, com pôster do Ariano Suassuna que reproduz, pois me encantou.
Esta tarde falo no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências da UnB — esta no Plano Piloto — e à ao final da tarde estarei novamente em Taguatinga para mais uma sessão do minicurso.
Foi muito bom compartir com cada uma e cada um de meus leitores as emoções de mais um estar numa realidade tão central e paradoxalmente periférica. Há satélites que podem ser cêntricos. Uma boa lição na dita Semana da Pátria. 

Um comentário:

  1. Mestre Chassot,
    há um tempo ausente de comentários mas continuado leitor quase diário do bligue aonde sempre se aprende, hoje não posso me furtar de um comentário.
    Hoje imitas Ítalo Calvino, no seu passeio pelas cidades. Realmente, teu flanar por Paris é bonito.... mas, teu desencontro no DF é original. Esta reconversão de periferia para o centro parece uma sacação que só erudito consegue analisar em poucas linhas como fizeste. Achei uma maneira original teu narrar acerca de uma não Brasília em Brasília. Na próxima vez que for ao DF quero conhecer Taguatinga.
    Grande sacada mestre viajor e observador,
    MM

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