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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

10.- Educação e crescimento econômico

Ano 6

www.professorchassot.pro.br

Edição 1925

Foi uma quarta-feira de começo primaveril, mas que à tarde resolveu fazer uma amostra de verão. Abro a edição com o mote de ontem. Hoje o calor convidou-me a ler na rua e isto ensejou pudesse brindar meus leitores com mais duas vista d’olhos desde meu reino. Uma é outro ângulo da igreja da Piedade, que referi ontem e outra é um guapuruvu de residência na Miguel Tostes, que é paralela a minha rua. Este é o aperitivo.

Agora o ‘assunto do dia’.

Sempre me surpreendo quando ao falarmos em Educação damos voz à assim chamada ‘hard science’. Não vou trazer aqui, uma vez mais, meu repto a esta preconceituosa discriminação. Ela é produto de um ‘cientista’ duro que reconhece naquele que fazem, por exemplo, Ciências Humanas, algo soft ou leve. Esta discussão é anosa e talvez tenha começado ao se dizer que Lord Kelvin (1824–1907) afirmara que ‘só se pode falar daquilo que se pode medir’.

É fácil inferir o quanto eu, que tenho minha origem na Química e, posteriormente, migro para a Educação, já tenha me debatido com esta questão. Mas, isto não me inibi de trazer nesta quinta-feira, um texto publicado em 17OUT2011 na Folha de S. Paulo por Fernando Veloso, 44 anos, pesquisador do Ibre/FGV que mostra algo que talvez, muitos de nós já houvessem afirmado: Estudos comprovam que a qualidade da educação influi mais no desempenho do país que acesso à escola.

A educação é amplamente reconhecida como um dos principais determinantes do crescimento econômico. De fato, alguns dos países que mais cresceram nas últimas décadas – Coreia do Sul, Hong Kong e Cingapura – aparecem regularmente no topo das avaliações internacionais do nível de aprendizagem dos estudantes.

Existem pelo menos três mecanismos por meio dos quais a educação pode estimular o crescimento. O primeiro fator está relacionado à elevação do nível de qualificação da população e, em função disso, da produtividade do trabalho. Os outros dois estão associados à sua importância para o progresso tecnológico. Por um lado, a educação aumenta a capacidade de inovação na economia e favorece o surgimento de novas tecnologias. Além disso, facilita a absorção de tecnologias já existentes e sua adoção no processo produtivo.

A despeito das diversas razões teóricas e dos casos de sucesso, somente na última década a relação empírica entre educação e crescimento foi claramente estabelecida. O processo por meio do qual isso ocorreu contribuiu de forma importante para a compreensão do papel da educação para a elevação do padrão de vida da população.

Em um conhecido estudo publicado dez anos atrás, "Where Has All the Education Gone?", Lant Pritchett mostrou que, apesar de vários indicadores educacionais terem melhorado significativamente nas últimas décadas em vários países da África e da América Latina, o crescimento desses países foi nulo ou mesmo negativo se analisado durante o mesmo período. As evidências empíricas encontradas por Pritchett foram alçadas à categoria de "paradoxo da educação" por William Easterly em seu livro "The Elusive Quest for Growth", o que motivou uma série de estudos.

Dentre as várias explicações, a mais importante foi a que estabeleceu o papel crucial da qualidade da educação. Em várias pesquisas, Eric Hanushek mostrou que o nível de aprendizagem dos alunos, medido pelo seu desempenho em testes padronizados de matemática e ciências, tem um grande impacto no crescimento econômico.
Além disso, a qualidade da educação tem um efeito muito maior no desempenho econômico do que medidas de quantidade, como taxas de matrícula e número de anos de estudo da população.

Segundo Hanushek, o fraco crescimento econômico da América Latina em comparação aos países do Sudeste Asiático deve-se em grande medida ao fato de que, apesar dos progressos em indicadores de quantidade, a qualidade da educação nos países latino-americanos ainda é muito baixa.

O desafio para esses países será complementar o acesso à escola com políticas que assegurem um nível elevado de qualidade da educação. Disso dependerão suas perspectivas de crescimento econômico sustentado.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,

    é um assunto polêmico, mas que aponta para indicadores. Interessante fazer uma comparação com certas autoridades de educação daqui, que pretendem aumentar o número de dias letivos como solução para a educação neste país.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Como comentário à excelente Matéria de Fernando Veloso, coloco trecho do que publiquei sobre escolas: "Não é estultice afirmar que civilização e escolas têm relações tão estreitas que é inconcebível existir uma sem a contrapartida da outra. Aliás, no mundo moderno, a qualidade do ensino e a quantidade de escolas estão relacionadas diretamente ao nível de desenvolvimento das sociedades e à qualidade de vida das populações. A humanidade só pode se afirmar civilizada com o advento de escolas. Impensável admitir algo diferente dessa ligação poderosa e formadora do que veio a ser o diferencial do homem com relação a seus parentes primatas: Um cérebro inteligente organizado. A inteligência por si só, não organizada, é apenas um potencial a ser explorado. A inteligência necessita orientar-se com método e organizar-se segundo conhecimentos já consagrados para conduzir seu dono a descobertas e lucubrações utilizáveis. As escolas, numa concepção ideal, não devem apenas ensinar, apenas colocar na cabeça dos jovens conhecimentos estáticos, deve propor aos aprendizes modos de pensar sobre as coisas, deve estimular o pensamento criativo e abstrato". Abraços escolares, JAIR.

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  3. ah, Professor! Ler esta matéria apóso primeiro turno de formação para alfabetizadores, é uma facada. A fla do café sempre mais animada que o auditório!
    Bom, qualidades... muitos grupos, escolas acreditam que a sua tem qualidade. E ai?
    Como se mede a qualidade?

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  4. Muito querida Marília,
    com teus questionamentos me fazes evocar a aluna inquisidora que tive em uma das melhores turmas nos meus 50 anos de professor: a tua de Filosofia no Centro Universitário Metodista, do IPA. Quando me perguntas como se mede a qualidade, devolvo a pergunta à filósofa: ¿O que é qualidade?
    Obrigado por chegares aqui. Amanhã 11.11.11 uma blogada especial.
    Um afago do
    attico chassot

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  5. e a filósofa responde com poesia: "que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós" Manoel de Barros

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  6. Linda a resposta,
    minha filósofa,
    na minha biblioteca, há uma rede, perto da qual há um cartazete que se faz apropriado: ‘A rede é a vasilha de dormir que mais se assemelha ao útero materno’. Esta frase do poeta que responde por ti, colhi no aeroporto de Cuiabá talvez há uma década.
    Um bom saldo de 11.11.11, quando o blogue baterá um recorde histórico de visitação


    attico chassot

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