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sexta-feira, 20 de maio de 2011

20. Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama”

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1751

Quando a maioria de meus leitores estiver lendo esta edição, já estarei em Florianópolis, onde esta tarde e esta noite faço duas palestras. Vou participar do Encontro da SBQ com o ensino básico, promoção da Divisão de Ensino da SBQ e da Comissão professores da UFSC, com apoio do CRQ 13a Região e Secretaria de Educação de SC. As atividades acontecem dentro das celebrações do Ano Internacional da Química e são destinadas a professores do Ensino Básico – Fundamental e Médio do Estado de Santa Catarina – visando contribuir para a melhoria do ensino de Química na região. À noite faço a palestra de abertura do evento: Por que ensinar Química?

Para a tarde, aproveitando minha presença em Florianópolis atendo convite de minhas ex-alunas Profs. Dras. Cláudia Glavan e Rejane Maria Ghisolfi da Silva para falar para os licenciandos em Educação do Campo (segunda e quarta fase) da UFSC. Vou discutir com eles a Ciência como um dos mentefatos para ler o mundo natural e como ser professor hoje pode implicar no propósito de formar jardineiros para cuidar do Planeta. Amanhã certamente trago algo de um e outro evento.

Parece que blogues – e refiro-me talvez a muitos que se assemelham a este –, assumiram, entre outras, a missão de repassadores de textos. Estes são preciosas descobertas resultantes de continuadas tarrafeadas que damos na rede. Um blogue de tiragem diária não pode ter sempre uma produção própria. É também por isso que um mesmo texto como o de Noam Chomsky e sua reação ante a morte de Osama, que reparto nesta sexta-feira, aparece em vários blogues.

Avram Noam Chomsky, filho de um estudioso do hebraico e professor, William Chomsky nasceu na Filadélfia, 7 de dezembro de 1928. É um linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Chomsky é professor emérito É professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Alguns de nós nos lembramos de ouvi-lo em Porto Alegre, em 2003, no Fórum Social Mundial (a foto é de então).

Chomsky é autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de “Power and Terror”, “The Essential Chomsky” é uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, “Gaza in Crisis”, com Ilan Pappé, e “Hopes and Prospects”, também disponível em áudio.

Seu nome está associado à criação da gramática ge(ne)rativa transformacional, abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também o autor de trabalhos fundamentais sobre as propriedades matemáticas das linguagens formais, sendo o seu nome associado à chamada Hierarquia de Chomsky.

Com trazida de um texto valioso, que está abaixo adito votos de uma excelente sexta-feira. Anuncio que a dica de leitura de amanhã virá de Florianópolis. Até lá.

Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.

Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra “suspeitos”. Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que “acreditava” que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantaneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que “rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaida.

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da “confissão” de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Boston. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor anti-estadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exacerbaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderíamos perguntar como reagiríamos se uns comandos iraquianos aterrissassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um “suspeito”, mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que “tomou as decisões”, quem deu as ordens de cometer o “supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto” (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: as centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórida, e sobre a “doutrina Bush”, de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como “Judeu”, ou “Cigano”.

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

4 comentários:

  1. Caro Chassot,

    não tenho dúvidas de que uma de nossas missões nos blogues é disseminar as boas notícias que andam circulando na rede e que nem sempre nossa comunidade de leitores tem acesso.

    O que Chomsky retoma aqui é, de fato, aquela percepção que temos sobre o requinte do assassinato de Osama. Uma pergunta: esse crime não irá ser investigado internacionalmente?

    Boa viagem e boas palestras aí pela Ilha.

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  2. RITA de Belo Horizonte escreveu:

    Carissimo,

    esse comentario me lembrou um dos episodios do filme 11 de setembro, que apresenta 11 curtas de onze diretores...o do diretor do Reino Unido, mostra o 11 de setembro de 1973 no Chile, quando os americanos destruiram o La moneda e mataram o Alende sustentados pelo discurso da liberdade...por ironia um dia acabaram tendo um grande atentado na mesma data de 2001...

    Essa liberdade unilateral não para de dar confusão...

    beijim,

    Rita

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  3. Meu caro Garin,
    uma viagem que foi academicamente muito bem sucedida, mas que teve problemas com tecnologia, faz que só agora responda deu comentário de sexta-feira: uma pergunta complexa a que propões: torna-se fácil entender porque o Conselho de Segurança da ONU tem suas vagas tão disputadas. Não sei se conforta: a opinião pública, com exceção, julga Obama e p considera assassino.
    Com admiração
    attico chassot

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  4. Rita muito querida,
    uma viagem a Floripa, que foi academicamente muito bem sucedida, mas que teve problemas com tecnologia, postergou para domingo a resposta a teu comentário de sexta-feira: realmente os Estados Unidos ‘pediram’ o ataque de 11S e não nos surpreendamos se a assassinato cometido contra Obama tenha ‘o troco’
    Com agradecimentos e continuada admiração um afago do
    attico chassot

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