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quarta-feira, 11 de maio de 2011

11.- Pingos & Respingos

Porto Alegre * Ano 5 # 1742

Esta é uma edição que entra em circulação não muito depois de ter retornado da minha única jornada de aulas semanais à noite neste semestre: terças-feiras; quando leciono disciplina de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa para uma turma formada por licenciados, já em atividades de estágio, dos cursos de Educação Física e de Filosofia. A discussão significativa que ocorreu esta noite – catalisada pela aprovação pelo STF dos direitos conferidos às relações homoafetivas – foi o quanto eles são testemunhas de profundas mudanças que estão em curso em nossa em nossa civilização decorrente das quebras de paradigmas. Convidei-os a imaginar as famílias de seus avós, de seus bisavós e comparar com de seus pais e aquelas que eles formam/formarão. Mostrou-se o quanto a família patriarcal está desestabilizada com o surgimento de novos paradigmas.

Na tarde desta quarta-feira, como também na próxima, dia 18, participo em Cachoeirinha, de um curso ‘A Ciência através dos tempos’ numa promoção do Museu da Natureza - www.museudanatureza.blogspot.com/ na Escola São Mateus da ULBRA. A atividade é coordenada pelo Professor Guy Barcelos, criador e curador do Museu. www.ulbra.br/noticiasdoensino/2011/05/curso-de-extensao-em-museu-da-natureza/

A blogada de hoje, até por sua chamada, seria formada por três pingos colhidos do cotidiano destes últimos dias e encerra com um respingo. Depois de começar escrever dei-me conta, que cada tópico mais explorado, poderia se fazer numa edição. Resolvi fazer a cisão, mas como achei título poético o mantive. Os outros dois pingos, ainda esta semana.

Talvez de todas as fotos que se viu acerca do assassinato de Bin Laden é a mais ignominiosa abjeta é aquela em que o alto comando estadunidense, acompanha ao vivo, a execução da vítima, sabendo que sua localização foi obtida com tortura. Ali está a síntese do ufanismo da ‘vitória do bem sobre o mal.’

O jornal judeu ultra-ortodoxo Der Tzitung, editado pela comunidade

hassídica* em Nova York, apagou a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton (à esquerda) da agora famosa imagem na Casa Branca durante a morte de Osama bin Laden (à direita), por proibir a publicação de fotos de mulheres em suas páginas. Segundo a CNN, o jornal pediu desculpas à Casa Branca. Outra mulher, a diretora nacional de operações contraterrorismo, Audrey Tomason, que aparece mais ao fundo na foto, também foi apagada. A comunidade hassídica tem suas próprias interpretações dos costumes e das leis judaicas.

* O Judaísmo chassídico ou hassídico é um movimento dentro do judaísmo ortodoxo que promove a espiritualidade e existiu praticamente em todas as eras da história judaica. Hoje, no entanto, este termo é aplicado para denominar a tendência que se desenvolveu na primeira metade do século18, na Europa Oriental, com o rabino Baal Shem Tov, em reação ao judaísmo legalista. Promove a espiritualidade, através da popularização e internalização do misticismo judaico, como um aspecto fundamental da fé judaica.

Pinga, pinga, pinga... então respinga. A notícia discreta em um jornal de ontem da necessidade que tem um grupo de apagar a presença de mulheres em uma publicação informativa, ensejaria extensos comentários laterais: como um grupo humano ainda pode ver tanto mal na figura da mulher? Pensei que no século 21 isso não existisse mais. Como será que esses religiosos se reproduzem? Devo me convencer que certos estavam meus pais que me contavam que cegonhas traziam os nenês.

Faz-me lembrar de algo que narro no Ciência através dos tempos. A República de Monte Atos (também transliterado como Monte Athos, em grego Άγιο Όρος, "Montanha Santa"). Esta mesmo pertencendo formalmente ao território da Grécia, mantém um governo próprio, constituído-se na verdade uma "entidade teocrática independente". Para entrar neste território é necessária uma permissão especial, não obstante a Grécia faça parte da União Europeia e tenha abolido os controles fronteiriços. A única forma de chegar ao Monte Atos é por barco. Tratando-se de um território habitado por monges, só podem entrar homens e animais do sexo masculino. A proibição do ingresso de galinhas deve ser para que não se cometa algo que se constituiu, para alguns guris de minha geração, nas primeiras práticas sexuais.

O território desta pequena república masculina está situado na península da Calcídica, a 100 km a sudeste da cidade de Tessalônica e é habitado por cerca de 1500 monges ortodoxos distribuídos em vinte mosteiros principais. Cada um destes mosteiros elege seu próprio superior e os representantes para a Santa Assembleia, que exerce o poder legislativo em todo Monte Atos.

Este pequeno enclave abriga preciosos tesouros artísticos: antigos manuscritos, ícones e afrescos pintados pelos mais ilustres representantes da pintura bizantina. Desde suas origens, a Montanha Santa hospedou místicos e mestres espirituais cujos escritos foram recolhidos no século 18 numa célebre antologia - a Filocalia - que influenciou profundamente o mundo ortodoxo.

Que esta quarta-feira seja proveitosa a cada uma e cada um de meus amáveis leitores. Espero amanhã trazer mais um dos pingos.

10 comentários:

  1. Caro Attico,

    gostaria de acrescentar uma dica de leitura a tua postagem: "O mundo assombrado pelos demônios", de autoria de Carl Sagan.

    Abraços,

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  2. Meu caro Paulo Marcelo,
    catalisado por tua mensagem acabo de ler uma resenha de que "O mundo assombrado pelos demônios", passa entrar em minhas expectativa de leituras. Lateralmente ouço que neste 11 de maio de 2011, 20% da população de Roma deixou a cidade pois um astrônomo/astrólogo previu um terremoto que destruiria o Coliseu e a basílica de S. Pedro.
    Aguardemos,
    Obrigado por tua presença madrugadora,

    attico chassot

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  3. Essa visão da mulher à qual se refere no blog ainda é muito presente, inclusive em nossa sociedade. Não fazem duas semanas que assisti a uma palestra sobre contracepção de um renomado médico, aqui em Juiz de Fora. Qual não foi minha surpresa ao ouvir em tal palestra algumas "pérolas" como: "as mulheres acham que, só porque queimaram sutiãs, podem fazer o que querem" ou "a mulher sai com dois ou três homens em uma semana, engravida, e depois te um 'otário 'que assume" ou ainda ëssas meninas pobres ficam tendo filho na adolescência, param de estudar e serão, no méximo, uma empregadinha, no futuro".E a que mais me chocou foi quando tal senhor proclamou que a menstruação é um erro da natureza, pois a mulher é o único dentre os mamíferos que menstrua. Ele não apresentou o tema como uma controvérsia médica, mas sim como uma sentença! E o que mais me entristece é que este é um formador de médicos, chefe de residência. Que exemplo está dando aos futuros médicos? Durante a palestra não me contive e fiz esse e outros questionamentos ao doutor, perguntando se ele não percebia que estava sendo machista e preconceituoso. Acredito que não podemos mais ouvir tamanho despropósito, não é mesmo? Um abraço e um excelente dia! Cris Flôr

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  4. Cristhiane querida,
    impressionante teu relato. Não são machista apenas a comunidade hassídica de judeus ortodoxos ou os monges que guardam tesouros nos monastérios de Monte Athos (que tu nãos poder ver ao vivo) mas também os responsáveis pela formação médica em Juiz de Fora. Saibe que o assunto da menstruação me atiçou. As respostas que encontrei são díspares. Parece que se possa afirmar que a menstruação só existe entre as espécies dos grandes primatas. Fora da espécie humana, ela ocorre nas fêmeas de orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. Todas descendem de um ancestral muito próximo, o que justifica a identidade genética. Atenção: cadelas e vacas não menstruam. O sangramento que surge na região genital desses animais é causado pela ação de hormônios, liberados durante o cio, que acentuam o fluxo sanguíneo no local. Isso pode provocar edemas e até romper pequenas veias.
    Quem puder colaborar agradeço
    attico chassot

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  5. Caro Chassot,
    Excelente blogada. É de se perguntar como pode, em pleno século vinte e um, existir ainda essa discriminação por gênero. Bem colocada a sua pergundo de "como eles se reproduzem?". Parece-me, em contrapartida, que não há registro de sociedade alguma que discrimine os homens. Não li em qualquer lugar que exista um lugar tipo "clube da Luluzinha" onde homem não entra, a não ser os haréns, prova máxima do "machismo" de certas culturas. Abraços, JAIR.

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  6. Meu caro Jair,
    realmente o machismo ainda é – mesmo neste badalado século 21 – algo muito presente.
    Com estima
    attico chassot

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  7. Caro Chassot,

    mais uma vez não quero ser repetitivo, mas os relatos que se ouvem em consultórios e salas de Orientação Educacional, nas periferias de nossa cidade, demarcam muito a posição machista, independente de classe sócio-econômica, por aqui mesmo.

    Nosso olhar idealista, a partir de algumas ações particulares que ajudamos a construir no nosso fazer pedagógico, às vezes dissipa nossa visão mais objetiva da realidade que nos rodeia.

    Mesmo na universidade, o machismo está muito presente e o séuclo XXI não tem justificado avanços significativos até agora.

    Boa quarta-feira!

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  8. Meu colega e amigo Garin,
    o lamentável – como narra a Cristhiane – que o machismo não é só na periferia e tu ratificas dizendo do quanto a Universidade (ainda) é machista.
    Obrigado pelas parcerias intelectuais,
    attico chassot

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  9. Ave Chassot,

    obrigado pela brilhante tarde no São Mateus hoje a tarde. Foi inesquecível, semana que vem tem mais. Feyrebendianos tremei!

    Grande abraço,
    Guy

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  10. Muito querido Guy,
    o polímata,
    para mim foi excelente.
    Já aguardo o bis na próxima quarta-feira tanto das aulas como dos translados.

    attico chassot

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