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segunda-feira, 16 de maio de 2011

16. "Meninos, eu vi!".

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1747

Uma segunda-feira, que em muitos estados do Brasil tem ressaibo das decisões dos campeonatos estaduais de futebol. Quando digo que religiosos ou não, estamos imersos em um mundo religioso, poderia dizer quase o mesmo acerca do futebol: esportistas ou não, vivemos no país do futebol. Uns vibram, outros sofrem. Aqui no Rio Grande do Sul foi dramático. Uma decisão dramática, nos pênaltis, por 8 x 7, em favor do Internacional.

Pensava no que escrever para abrir mais uma semana. Uma vez mais, aflora minha infância e nela minha mãe: “O que vou cozinhar a manhã?” Essa era uma pergunta de quase cada noite de quem precisava, no dia seguinte, com poucos recursos, prover a mesa de nove pessoas. Agora estou eu aqui: “¿O que vou blogar amanhã?”

Falei de meus tempos de guri e recordo que na minha escolarização. Não tínhamos muito a decorar. Tenho colegas que sabem poesias extensas de cor. De vez em vez, lembro alguns excertos. Recordo muito de trechos do lindo poema épico de estilo indianista I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias. Ele é dividido em dez cantos, em versos alexandrinos e decassílabos.

Relata a história de um guerreiro tupi, aprisionado por uma tribo antropófaga dos Timbiras e que, sacrificando a sua honra ao pedir clemência na hora da morte, prefere passar por covarde de modo a cuidar do seu pai, velho, doente e cego. O pai, ao rever o filho e ao cheirar a tinta com que este está ungido para efeitos de sacrifício, e perceber a calva de prisioneiro, fica envergonhado da covardia do filho e envia-o de volta para a tribo Timbira.

O índio leva seu pai consigo para presenciar a consumação do ritual. Contudo, muito triste e consumido pela vergonha do filho fica o velho ao ouvir do chefe Timbira que eles não o desejavam mais porque havia provado ser covarde e não digno de ser sacrificado.

O velho, irado, pragueja uma sequencia de desgraças para o filho, que manchara a honra e o nome na raça Tupi. O filho, não podendo suportar o ódio do pai, se enche de valentia e num súbito ato, declara ataque a toda a tribo Timbira. O cego reconhece o brado do filho, e ouvindo os barulhos da que se formou entendeu que o filho lutava com bravura.

Os versos finais são encantadores:

Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".

Este poema aflorou-me quando pensei em contar algumas pérolas do fim de semana. Não amealho muitas, mas de cada uma eu posso dizer, se alguém duvidar, repito como o velho guerreiro ‘Meninos, eu vi!’

*** Começo com a fala eivada de preconceito de Dom Raymundo Damasceno Assis, Presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), eleito na semana que passou: "Quando há ascensão social, as pessoas começam a ler mais e, por isso, são mais críticas. Afastam-se mais dos evangélicos e se aproximam mais da Igreja Católica". Esta afirmação além de marcada por uma tentativa de uma elitização da igreja católica, que já fizera em tempos idos uma opção pelos pobres, não corresponde a verdade, pois é diferente o que dizem pesquisas: a Igreja Católica não está perdendo fiéis. A estreia de Dom Raymundo na presidência da CNBB foi preconceituosa e mentirosa.

*** Em uma nova alternativa para os voos domésticos, evoco uma vez minha mãe. Quando fazíamos uma viagem de trem mais demorada, ela preparava uma galinha com farofa, e em determinado momento era usada a mesinha que havia entre os assentos para saborearmos o farnel. No voo Porto Alegre/Rio de Janeiro, da Gol, na última sexta-feira, só havia comida e bebida paga. Nem água havia de graça. E mais um detalhe: só poderia ser adquirido algo com valores exatos em reais. Isto é não se aceitava cartão e nem se dava troco. Fui informado que cortesia só depois do serviço pago se sobrasse 40 minutos; isto não ocorreu. Não há como não recordar os tempos que se serviam lautos serviços de bordos, substituídos primeiro por barrinhas e agora nem água. É preciso dizer que na volta houve a inversão: primeiro, meia dúzia de amendoins e um suco e depois o serviço pago.

*** Ao chegar ao Rio de Janeiro, acolhido pela professora Príscila Marques de Siqueira da PROGRAD do IFRJ, almoçamos num pitoresco restaurante da Ilha do Governador vendo garças mergulhar na baia da Guanabara para pescar. Acenei, aqui na sexta-feiraalgo pitoresco: o garçom perguntando qual a diferença de cartão crédito/débito. Então me ocorreram as dezenas de vezes que vemos caixas de supermercados, farmácias, postos de gasolina com a atenciosa pergunta: débito ou crédito? Muito provavelmente estes funcionários não têm uma alfabetização cidadã que lhes permite saber a diferença das alternativas que oferecem. O garçom ouviu satisfeito as explicações de Príscila. Depois, em meio a um trânsito engarrafado voltou-me a dúvida do garçom. Dei-me conta que na verdade, as duas operações são débito, numa escritura contábil rigorosa. O chamado crédito é uma postergação da cobrança de um débito.

*** Ontem, depois ter estado no Cemitério para acompanhar uma cerimônia fúnebre em memoria da tia Amália, passei pelo brique de Redenção, algo que não fazia muitos anos. Procurava comprar mel. Encontrei oferta de uma ampla variedade de néctares. Entre a imensa variedade de lembranças duas se destacaram: Uma, quantas manhãs de domingos fomos com a Laura, Ana Lúcia, Clarissa e Júlia para comprar roupas para as Barbies. Agora as roupas que elas compram são para Guilherme, Felipe, Maria Clara e Antônio. Outra, lembrei de quantas vezes fizemos daquele espaço ‘o nosso espaço privilegiado de maioria política’. O brique era a área de maior densidade de bandeiras petistas. Uma e outra geraram saudades imensas.

Cumprida a tarefa, uma muito boa semana iniciada por uma excelente segunda-feira. Lemo-nos, talvez, aqui amanhã. Até então.

8 comentários:

  1. Car Chassot,
    Como teu post hoje está variado, vou me ater a dois itens. Sobre voos domésticos, chamo a atenção que esse "decaimento" dos serviços de bordo é um fenômeno mundial, agora mesmo estou indo para os EUA e lá paga-se até a bagagem despachada. Visando atingir um público maior, os preços das passagens caem e os serviços tornam-se mais caros, é a globalização.
    Quanto ao Bric da Redenção, considero o melhor espaço de PA, sempre que estou aí da capital gaúcha faço questão de ir ao Bric, compro quadros e algumas peças de coleção lá. Abraços, JAIR.

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  2. Caro Chassot,

    tua segunda-feira está recheada, parece um menu de restaurante internacional.
    Vou escolher o vôo da Gol. Enquanto lia comecei a imaginar a cena da gente comendo galinha enfarofada em plena classe executiva e de repente chega um comissário perguntando se aceitamos um refrigerante. Meio embaraçado a gente vai responder e faz uma asperção de farinha de mandioca sobre as poltronas. Será uma cena e tanto!

    Uma boa semana para ti!

    Garin

    httpo://norberto-garin.blogspot.com/

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  3. Obrigado Jair,
    tu como aeronauta hás de saber contar histórias dos serviços de bordo. Um bom tema para uma blogada pós-EUA. Foi bom para mim ter voltado ao Brique ontem. Encanta-me saber que tu o aprecias.
    Uma muito boa viagem e prelibando as crônicas de um viajor.
    Na torcida
    attico chassot

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  4. Muito querido colega Garin,
    como são proibidos o transporte de líquidos, não da para levar um ki-suco ou chimarrão para desemuichar a farofa. A cena que prognosticas é hilária.
    Só rindo dos novos tempos nos voos.
    Esta tarde um aluno da Universidade do Adulto Maior referiu tua presença no meu blogue, com muito orgulho.
    Obrigado pela presença aqui.

    attico chassot

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  5. Boa tarde, Professor!
    =]
    Antes de mais nada, mais um muito obrigada pelos livros!E, eles já chegaram, viu?! [agorinha pouco!]
    Bom, quanto as palavras de Dom Raymundo..chega ser triste..
    Mas me chamaste mais a atenção quando falaste das roupinhas das Barbies[rsss] e dos netinhos!
    =D
    E, dentre tantas lembranças que o senhor aflorou nesta postagem, a mim fez lembrar as várias vezes que sentei com minha mãe e minha irmã para costurarmos as roupinhas das nossas Barbies!Rsssss!Adoraaaaaava visualizar os modelos e reproduzi-los para minhas bonecas!Inventar os novos então!!
    Ô tempo bom!
    Por hora tenho "brincado" com roupinhas de bebê, mas logo logo sei que estarei costurando novamente!
    hehehe!
    Um ótimo início de semana ao senhor!

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  6. Muito querida Thaiza,
    que bom os correios jogaram em nosso favor. Viva a chegada dos livros.
    Que bom que ‘Barbies’ fizeram aflorar saudades. Agora elas passam a ser Ellen.
    Dom Raymundo teve uma péssima estreia na presidência da CNBB.
    Afagos com saudades
    attico chassot

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  7. pior acontece quando os clientes não sabem diferenciar débito de crédito, e respondem qualquer um... Já presenciei isso.
    A Igreja está muito bem alicerçada, acho que ainda serão precisos muuitas gerações de fiéis para que ela seja abalada mesmo.

    nenhuma imputação, Mestre, rsrs meu olhar que antecipou o assunto da blogada.

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  8. ito querida Marília,
    realmente dou-me conta que isto de débito/crédito é uma empulhação. Há muitos que não entendem.
    Que dom Raymundo se apiede de nós e cale-se.
    Saudades
    attico chassot

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