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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um galardoado com o Nobel da Paz que falou em guerra

Edições de 30JUL2006 a 30NOV2009 em achassot.blog.uol.com.br/

Porto Alegre Ano 4 # 1229

Abro essa blogada que inaugura a última semana plenamente útil de 2009 com um renovado lembrete:

Queria convidar que conhecessem a proposta de desafio trazida aqui na edição do domingo dia 6. Foram oferecidos 20 exemplares de “A Ciência é masculina?”autografados. Até o momento dois leitores enviaram textos fazendo jus ao prêmio. Restam 18. Confira o regulamento na Edição 1222 de 06DEZ1009 e ganhe o presente de Natal oferecido por este blogue.

Uma das sensações que me desestabiliza quando volta à minha Morada dos Afagos depois de uns dias é encontrar um monte de jornais por ler. A chegada de ontem, mesmo que só com uma pousada fora, como quase emendou com a viagem a Santa Maria e foi em fim de semana, dava-me a sensação de ter estado ausente vários dias.

Tinha muito a ler. É muito difícil descartar jornais que não foram abertos. Dá uma sensação de esbanjamento.


Os jornais de sexta-feira traziam notícias da fala do Sr. Barak Obama quando da outorga do Prêmio Nobel da Paz. O uso que faço há muito dos prêmios Nobel como indicadores de uma Ciência masculino torna-se pelo menos mais questionável. Meus leitores são testemunhas do quanto já em 20 de janeiro – dia da celebrada posse – eu não aderia ao entusiasmo global. Às vezes me acho um tanto ridículo quando vejo em meu refrigerador aderido um imã alusivo à data que recebi de uma visitante dos Estados Unidos na ocasião. Todos recordam que desde a Colômbia em outubro manifestei meu desencanto com a fundação Nobel quanto do anúncio dos


laureados. Ainda no dia três deste mês a blogada tinha como título: E..., às vésperas da outorga do Nobel da Paz. Mesmo que se diga que uma jornada de mil milhas comece com o primeiro passo, o aquinhoado ganhou o prêmio quando se pensava que ia dar o primeiro passo.


Pois vale considerarmos um pouco o belicoso discurso do Nobel da Paz. Ele lembrou-me primeiro um ditado latino que recordo estava inscrito no portal do quartel que havia onde hoje há a elevada próxima à Santa Casa aqui em Porto Alegre: Si vis pacem para bellum é uma locução latina que quer dizer: “Se queres a paz, prepara a guerra”. “Lembro que jocosamente se traduzia: “Aos civis as parabelas”

Foi escrita pelo autor romano Publius Flavius Vegetius Renatus. A locução é uma de muitas provenientes do seu livro "Epitoma rei Militaris", que foi provavelmente escrito no ano 390 D.C.

Há aqueles que tendem a justificar que a expressão não se trata de espírito belicoso. Discordo, pois ela sempre foi justificativa aos guerreadores romanos para atacar aos seus vizinhos.

Esta frase também foi usada como lema pelo fabricante alemão de armas Deutsche Waffen und Munitionsfabriken e é a origem da palavra Parabellum, usada para designar calibre de armas de fogo e munições.

Mas vejamos algo da imprensa acerca do discurso do ‘pacifista’.


Uma boa síntese do discurso está na manchete da Folha de S. Paulo desta sexta-feira: “Obama recebe Nobel da Paz com loas à guerra”.

O sr. Barack Obama, aceitou em Oslo (Noruega) o Prêmio Nobel da Paz de 2009 com um discurso dedicado primordialmente à guerra. Em 36 minutos de fala, ele defendeu a necessidade de lutar no Afeganistão e indicou que o uso da força no país, assim como outros no passado, é "moralmente justificável"

"Sou responsável pelo envio de milhares de jovens americanos para a batalha. [Tenho] uma aguda consciência dos custos do conflito armado -carregado de questões difíceis sobre a relação entre guerra e paz e nosso esforço para substituir um pelo outro."

Nas oito páginas do discurso, ele usou a palavra "guerra" 44 vezes e "paz", 30. Sem menção direta, o envio, anunciado na semana passada, de mais 30 mil soldados ao Afeganistão pairou sobre a fala.

A fala do presidente foi bem recebida também em círculos inesperados, como os conservadores da direita americana. "Em alguns aspectos, foi um discurso muito histórico", afirmou o ex-líder republicano do Congresso Newt Gingrich. "Um presidente esquerdista foi a Oslo receber um prêmio de paz e lembrou ao comitê [do Nobel] que não seriam livres sem a força." "A ironia é que [o ex-presidente] George W. Bush poderia ter feito o mesmo discurso", completou Bradley Blakeman, estrategista republicano.

Clóvis Rossi, articulista da Folha de S. Paulo, nesta sexta-feira opinou sobre discurso – que está na íntegra em www.folha.com.br/093442. Pinço alguns excerto para meus leitores:

Foi acima de tudo um discurso do "comandante em chefe de uma nação no meio de duas guerras", como o próprio Barack Obama fez questão de lembrar, logo no início do seu discurso.

[...] O senso de realismo talvez dispensasse uma homenagem também a George Walker Bush, ainda que não o tenha citado nominalmente. Bastou dizer, no entanto, que "o mal ("evil') de fato existe no mundo", para soar como seu antecessor e seu "eixo do mal" e, pior ainda, ao direito que os Estados Unidos assumiram de definir o que ou quem é "o mal".

[...] É a mais pura verdade, mas não é exatamente o tipo de filosofia que se espera de um Nobel da Paz.

É igualmente compreensível que o comandante em chefe faça o elogio do papel que os Estados Unidos desempenharam no mundo desde que se tornaram uma grande potência. Mas não é aceitável que um Nobel da Paz cometa omissões graves no balanço histórico.

Obama disse que "os Estados Unidos ajudaram a preservar a segurança global por mais de seis décadas, com o sangue de nossos cidadãos e a força de nossas armas e (...) permitiram que a democracia se firmasse em lugares como os Bálcãs".

Faltou dizer que os EUA, particularmente na América Latina, impediram que a democracia se firmasse, patrocinando incontáveis golpes de Estado que custaram o sangue de cidadãos de outros países.

[...] Sanções, sim, para quem desafiar determinações da comunidade internacional (e o Irã foi especificamente citado, como era natural e previsível). Sanções também para comportamentos aberrantes, como "o genocídio em Darfur, as violações sistemáticas no Congo ou a repressão em Mianmar".

Só no final do discurso, o comandante em chefe deu lugar ao "yes, we can" da campanha, ao defender que "só uma paz justa baseada nos direitos e dignidade inerentes a cada indivíduo pode de fato durar" e ao dizer que "a segurança não existe onde seres humanos não têm acesso a comida suficiente, ou água limpa, ou ao remédio que necessitam para sobreviver. Não existe onde crianças não podem aspirar a uma educação decente ou a um emprego que sustente a família".

Pena que tão generosos conceitos sejam, na essência, a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, velha de 60 anos, mas que nenhum comandante em chefe ou prêmio Nobel conseguiu tornar de fato universal.”

Não esquecemos a COP-15. As guerras são as maiores destruidoras do ambiente natural em todas as dimensões.

Meus desejos de uma boa segunda-feira para abrir uma muito importante semana deste 2009 que vai para o ocaso. Amanhã, nos lemos de novo aqui. Isso é esperança.

4 comentários:

  1. Professor attico Chassot, Acompanhei sua palestra em Florianopolis, infelizmente não pude estar la no dia em que fizeram a mesa redonda.
    Mas desde sabado tenho lido uma parte de suas publicações e textos, e fiquei impressionado com a maneira que o Sr. fala sobre a disciplinariedade das ciências e o caminho que se percorre para a in-disciplinariedade.

    Quero deixar aqui o meu email para que possamos se possível manter contato
    Desde ja, grato.
    Gustavo Soares

    email : gustavoss15@hotmail.com

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  2. Muito estimado Gustavo,
    obrigado por tua visitação a este blogue e mais, obrigado por deixares um comentário.
    Foi muito bom trabalhar com as licenciaturas do IF-SC.
    Mantenhamo-nos em contato.
    Com disponibilidade
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, eu estava esperando seu posicionamento sobre o discurso de Obama, e muito me alegra que ele seja o inaugural dos "dias uteis" dessa última semana sem feriados no ano.
    A frase latina que o senhor transcreveu é emblemática e, devo admitir, está correta ao meu ver. Não existe paz sem guerra, pois paz é um estado que só se consegue em dois momentos: antes ou depois da guerra. Ainda assim, continuo veementemente contra a outorga do Nobel da Paz a alguém que ainda nada de relevante fez por ela. Afinal, a guerra pela paz não se trava apenas com armas, muito embora a maioria dos políticos tenha se esquecido da tão preciosa guerra diplomática. Palavras, muitas vezes, pesam mais do que ações. Depende de quem fala e de quem ouve.
    Ao meu ver, Obama representa a esperança e o medo para os estadunidenses e para os afegãos. Ele sintetiza um pensamento de Maquiavel: "De crudelitate et pietate: et an sit melius amari quam timeri, vel e contra." (A crueldade e a piedade: é melhor ser amado do que temido, ou o contrário).
    Ótimo dia.

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  4. Muito estimado Marcos,
    realmente ficara em dívida com meus leitores. Minha sexta-feira e sábado foram por demais extensas com o IF-SC. Acredito que os estadunidenses que exultam com o premio a Obama são aqueles que tem interesse com a indústria da guerra. Si vis pacem, para bellum! Os humanos são carnívoros ou melhor carniceiros. Precisam pelear.
    Isso parece que faz parte do DNA. Todavia somos criaturas racionais que poderíamos evoluir e superar-nos.
    Desejo que essa semana de fechamento seja a melhor. Dia 15 de janeiro (¿é isso?) será um grande dia.
    Na torcida sempre.
    Com admiração e obrigado por tão elaborado comentário, que qualifica este blogue, que ainda aguarda algumas contribuições de tua lavra,
    attico chassot

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