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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

31*E amanhã já será 2010

Atlântida Ano 4 # 1246

Estou desde meia tarde de ontem na praia. A Gelsa e eu chegamos com chuva. Essa de vez em vez permitia que um sol tímido espiasse por dentre nuvens densamente carregadas. Capão da Canoa/Atlântida rapidamente trocavam o pacato por um trânsito engarrafado de mega-cidades. Os supermercados se tornavam desabastecidos pela horda de turistas que disputava da cebola a cerveja. Dentre as extensas filas em casas comerciais, as maiores eram nas casas lotéricas, pois nas últimas horas de 2009 milhões de homens e mulheres embalam sonhos de abiscoitar aquele que deverá ser o maior prêmio distribuído em um sorteio por no Brasil.

Na casa da Zabalê de tantas evocações encontramos a Liba – sempre atenciosa anfitriã. A Gelsa logo se associou à Silvia e à Beatriz na continuação do preparo para os ilustres hóspedes esperados para o começo desta manhã.

Ontem contei aqui acerca de minha ambivalência. Gosto do mar, mas não gosto da praia, no sentido trazido aqui em mais de uma oportunidade. Ao final da tarde caminhei pela praia com a Gelsa. Aflorou-me à memória, de uma maneira continuada uma poesia de Casimiro de Abreu, que tive que decorar em meus tempos de escola primário. Trago-a nesta blogada de hoje. Talvez haja leitores que a conheçam. Mas permito-me evidenciar o que esse texto ensejava fantasias a um menino que nunca havia visto o mar. Lembro muito de tomar lugar junto ao professor, recitá-la com ensaiada entonação. Mais de uma vez fui criticado, por não fazer a devida virgulação no último verso, fazendo do filho que recebia a explicação da mãe o Deus.



Eu me lembro! eu me lembro! Era pequeno

E brincava na praia; o mar bramia

E, erguendo o dorso altivo, sacudia

A branca escuma para o céu sereno.


E eu disse a minha mãe nesse momento:

“Que dura orquestra! Que furor insano!

Que pode haver maior do que o oceano,

Ou que seja mais forte do que o vento?!”


Minha mãe a sorrir olhou pr'os céus

E respondeu: “Um Ser que nós não vemos

É maior do que o mar que nós tememos,

Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus!”

Estou na praia a poucas horas de mais um ritual de passagem. Na nossa civilização os rituais de troca de ano são prenhes de simbolismo. Isso não [e diferente em outros calendários. Já vivi o privilégio de estar na China em um ano novo e a cada anos acompanho a troca de ano no calendário judaico. Vemos pela imprensa aos cerimoniais que ocorrem entre islâmicos para espera do novo ano.

Num vagabundear mexi, em dia desta semana, nos meus diários e olhei algumas de minhas viradas de ano no último quarto de século. Nesses momentos já vivi privilégios ímpares. Já mudei de ano duas vezes em Paris (1990/91 e 98/99); uma em Cusco (95/96) e outra Chambery (2004/05) e também uma vez (05/06) em um vôo entre New York – São Paulo, quando, situações de fuso horário, ensejou pelo menos duas comemorações. A passagem 06/07 foi no prosaico trânsito de Porto Alegre, encerrando uma viagem que começara em Amsterdam, 21 horas antes, com o Guilherme e Maria Clara, entre outros queridos, quando fôramos ao casamento da Júlia e do Benjamin. A 07/08 por pouco não foi no Hospital Moinho de Ventos. Pelas 20 horas a Liba não estava se sentindo bem e fomos à Emergência do HMV. Afortunadamente a suspeita de pneumonia não se concretizou e depois das 23 horas deixamos muito felizes o hospital com a Liba para uma celebração na casa da Sílvia. Lá também foi a virada de 08/09.

Dou-me conta o quanto sou um sujeito privilegiado. Sempre tenho virado o ano em meio a pessoas queridas e, as que estão distantes, estão com outros grupos de afetos, também felizes.

Mas, como todos os meus leitores, vivi intensamente uma virada de século e de milênio. Recordo as emoções da chegada de 2000 que fez que o 1999 fosse adjetivado como um ano velho. Acompanhamos por 24 horas, a cada 15 minutos a chegada de 2000 nos 360º do Planeta. O século 20 parece que ainda não tem o gosto igual como até há pouco nos referíamos ao século 19. “No século passado...” então, isso se referia a tempos que não vivêramos; agora, referir-se ao século passado remonta ao nosso tempo. O segundo milênio cumpriu História e nele fizemos parte significativa da nossa.

Acredito que a maioria dos leitores deste blogue, não viverá de novo os rituais de passagem vividos por nós então. A troca de século / de milênio, que quis ser bisada na virada de 2000/01 por quem evoca contagens (algumas desprovidas de senso histórico: quando foi proposto o atual calendário não se conhecia o zero...). Já estamos 10 anos em novas realidades. Já vamos começar a segunda década do século 21. Recordo ainda como naquela virada superamos até o badalado bug do milênio: uma possível pane em todo o sistema de computadores (pois esses não reconheceriam o ano 2000 e voltariam para 1900).

Para mim, então a superação do bug teve, então, outra dimensão. Quando trocamos de ano / século / milênio recém me recuperava de uma cirurgia radical. Vivia a recuperação de uma cirurgia radical. Foi fabuloso vencê-los. Conto um pouco disso em um livro inédito ‘Uma rapsódia prostática’ [disponível em edição digital].

Mas dentro de mais algumas horas será em Atlântida que iniciarei novo ano, nova década. Como a maioria, embalarei sonhos. Desejarei concretização dos mesmos. Quando nos lermos aqui, amanhã será 2010, que sabemos será um ano 10. Desejo a cada uma e cada um e também àqueles que lhes são próximos o melhor neste novo ano. Se me permitido um convite: associemo-nos, cada vez mais, no cuidado do Planeta.


Fórum Social Mundial em Porto Alegre de 25 a 29 de janeiro de 2010.

4 comentários:

  1. Querido Chassot,
    Desejo a você e toda sua família um 2010 repleto de alegrias, saúde, paz e muitas realizações.
    Te adoro !!!!!
    Aproveite a viagem!!!!!

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  2. Muito querida Joélia, obrigado pelo comentário que trouxeste .aqui. Desejo a ti, ao Ítalo e ao Henrique e todos os teus muitas alegrias nos dias de festas que vivemos e que 2010 – um ano 10 – seja pleno de realizações, às quais associemos juntos redobrados cuidados com o Planeta.
    Com admiração e com saudades de minhas estadas em Jequié
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, nesta última blogada do ano, quero deixar ao senhor e a todos os leitores os votos de um próspero e excelente 2010.
    Que possamos, juntos, fazer do ano vindouro um ano não apenas de esperanças, mas sim de realizações.
    Ótimodia, e até ano que vem!

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  4. Meu caro Marcos,
    quiseram os deuses que gerem minha agenda que no aditar meu comentário a tua postagem encerrasse minhas ações internéticas neste 2009 que tem ainda cerca de 100 minutos.
    É bom que o encerramento seja numa mensagem para ti que nesse ano prestigiou de maneira tão dedicada e competente esse blogue.
    Para ti e cada uma e cada um dos leitores deste blogue os melhores votos para esse adventício 2010. Temos muitos sonhos.e que alguns se transmutem em realidades.
    Com agradecimentos por tudo
    attico chassot

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