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sábado, 21 de novembro de 2015

21— A formação de um cientista


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3105
Há alguns dias, terminei de ler Fome de Saber livro de memórias de Richard Dawkins. Fez-se inevitável para mim, por primeiro, comparar com a autobiografia de Olivier Sacks, Sempre em movimento: uma vida, resenhada neste blogue em 11/10/2015. As evocações de Sacks me encantaram muito mais que as de Dawkins, mesmo que, talvez, tenha me decepcionado por três arestas que não quisera ver em alguém que tenho como ídolo: 1) seu envolvimento continuado com drogas pesadas; 2) os exageros do motoqueiro fanático; e 3) o halterofilista um tanto exagerado no culto ao corpo. Talvez o ponto de destaque do livro é como Sacks lida bonito com sua homossexualidade.
DAWKINS, Richard. Fome de Saber A formação de um cientista, Memórias. [Original inglês: An appetite for wonder (Tradução Érico Assis)] 344p. 14.00 x 21.00 cm; 416g; lançamento no Brasil, 15/05/2015. ISBN 978-85-359-2583-8. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Dawkins é um falso africano de 74 anos, nasceu em, Nairóbi Quênia, em 26 de março de 1941. Seus pais serviam, então, a coroa britânica em diferentes colônias na África ao tempo de Jorge VI (Rei de 1932~1952). Lá nasce e cresce um menino que se descreve prodígio e que pelo seu berço de pais naturalistas torna-se um biólogo evolucionista, considerado mais darwiniano que o próprio Charles Darwin.
As críticas usuais que dirijo no meu blogue a Richard Dawkins – que ouvi e aplaudi emocionado (e, também, decepcionado), em 25 de maio de 2015, no auditório Araujo Vianna, em Porto Alegre, junto com quase 4 mil pessoas – e a José Saramago não são, apenas, por suas militâncias ateístas, mas pelo deboche que fazem de Deus. Isso me ofende, pois destrata o Deus que foi de meus pais. Não me parece ético fazer conversões de religiosos ao ateísmo. Faço uma afirmação: algo que me encanta é dialogar com uma pessoa religiosa. Atesto isso num prosaico episódio familiar. Certa vez telefonei, para a casa de um de meus filhos. Atendeu-me minha neta. Ao pedir para falar com seu pai, respondeu: ‘Papai, agora, está rezando!’. Fiquei muito emocionado. Mais fiquei muito feliz. Outro pai talvez tivesse que ouvir que o filho estava chapado ou consumindo drogas.
O pseudo-título de ‘Papa dos ateus’ atribuído à Dawkins, foi ratificado com seu livro mais polêmico, Deus, um delírio [São Paulo, Companhia das Letras, 2007] no qual, num texto sagaz e sarcástico, ataca impiedosamente o que considera um dos grandes equívocos da humanidade: a fé em qualquer divindade sobrenatural.
Neste livro de memorias Dawkins fala muito pouco na defesa do ateísmo. De seus livros o que merece maiores comentários nestas memórias é O gene egoísta, (1976) seu primeiro livro, lançado em 1976 (no Brasil: São Paulo, Companhia das Letras, 2007) no qual popularizou o gene como a principal unidade de seleção na evolução e que catapultou Dawkins ao estrelato. Também introduziu o termo “meme", o equivalente comportamental do gene, para incentivar o pensamento de que os princípios darwinianos podem ser estendidos para além dos domínios dos genes.
Dawkins conta em Fome de saber uma história sobre Galileu, que parece importante destacar aqui e “resume a novidade da Ciência renascentista – [...] este estava apresentando a um homem instruído algum fenômeno astronômico através do telescópio. O cavalheiro disse, mais ou menos: ‘Senhor, sua demonstração com telescópio é tão convincente que, não afirmasse Aristóteles o contrário, eu acreditaria’” (2015, p.167). Eu não teria melhor ilustração para mostrar a marca do dogmatismo. Transcorrido 2.000 anos a autoridade de Aristóteles, ainda se impunha frente a experimentação. Não há como não lembrar um iluminista escocês: “Se acreditamos que fogo esquenta e a água refresca, é somente porque nos causa imensa angústia pensar diferente!” David Hume (1711-1776).
Encero este comentário com uma observação muito pessoal: Ver em uma orquestra uma violoncelista sempre tem para mim certo erotismo. Isso aumentou muito lendo Fome de Saber onde relata: “Só fui perder a virgindade muito depois, na idade bem avançada de 22 anos, em Londres, com uma linda violoncelista. Ela tirou a saia para poder tocar para mim, em sua quitinete (não há como tocar violoncelo com saia apertada) — e então tirou o resto da roupa” (2015, p. 171). É fácil imaginar (gosto deste verbo: fazer imagens) a linda cena.

4 comentários:

  1. Concordo com o senhor mestre, quando se sente ofendido com os comentários que tentam denegrir a imagem do Deus dos corações das pessoas. Penso que ninguém tem o direito de ofender a quem amamos, muito menos ao Deus que cultuamos. Embora todo o ser humano tenha seus momentos de incerteza e dúvida, não há como não pensar em uma força maior que é responsável pela existência. Richard Dawkins é uma prova viva disso. Em um de seus livros, (não me recordo no momento qual deles, mas deve ser "The God Delusion) ele elabora uma lista de crentes, mais ou menos crentes e descrentes. Os dois últimos itens da lista dizem: (desculpe-me a má tradução) "É muito pouco provável que Deus exista" e finamente, "definitivamente Deus não existe" o nosso querido autor se posicionou na penúltima posição. Sintomático, não?

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  2. Muito estimada Alice,
    primeiro obrigado pelo comentário. Há muito admiro tua presença como leitora deste blogue, mediada pela amizade com duas pessoas muito especiais e muito queridas: Fábio e Clóvia.
    Quanto a Dawkins, como se disse: desconforta sua militância virulenta em prol do ateísmo, como em “Deus, um delírio”. Ser ateu ou ser religioso são muito respeitáveis opções pessoais.
    Mesmo não comungando o mesmo credo que professaram meus ancestrais, incomoda ver o Deus que eles criam ser dilapidado.
    Minha admiração e reconhecida gratidão,
    attico chassot

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  3. Admiro os corajosos, mesmo para defender teorias essencialmente controvérsias. Quanto à religião, entendo a não aceitação de tudo o que é imposto, principalmente da maneira como são tratadas. Porém a religião, os deuses são criações humanas, desde que o homem ficou intrigado com o seu destino: a morte. Daí que negar a Deus, negar os deuses ou atacar a(s) religião(s), em si, com o uso do deboche pode ser arriscado demais. Não convence. Perde-se a confiança, uma vez que a argumentação para negar a historicidade deste "mentefato" cultural desde a pré-história é um verdadeiro suicídio. O homem é um animal racional, emotivo, sensitivo e religioso: é a história que prova. Posso não concordar com a maneira como certas religiões ou deuses são conduzidos. Mas aí o problema não é a religião, nem seu Deus, são as pessoas (indivíduos) que a conduzem...Quem mais pode falar sobre nosso destino?
    Grande abraço.

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  4. Muito querido colega Vanderlei.
    concordo com tuas posições. As religões só poderão ser saudáveis aos humanos se houver tolerância e respeitarmos as posições do outro. Respeitar não significa aderir.
    Obrigado por tua presença aqui,

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