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terça-feira, 24 de novembro de 2015

24— UMA BLOGADA EM TRÊS MOVIMENTOS


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3106

Teço esta blogada em três movimentos: #1) Uma pavana chamada saudades, onde se evoca marcas fortes que tem a data de hoje. #2) Uma sonata que marcada pela tolerância, que mostra a disseminação do bom nas redes sociais. #3) Um sinfonia para se aprender a viver juntos, numa realidade chamada cidade.
#1) Uma pavana chamada saudades. Há datas que tem marcas fortes em nossas histórias. 24 de novembro é talvez para mim a de mais densas emoções. Hoje é dia de aniversário do Sirne (1940-2002). Erámos sete filhos. Eu o primeiro. Ele o segundo. Um ano e 18 dias de diferença. Houve tempo que passávamos por gêmeos. Já faz 13 anos que ele partiu. Mas parece que a cada dia se aviva mais a saudade. Ter ele morrido quando estava em pós-doutorado em Madri, parece que potencializa a saudade.
Minha saudade é incomparavelmente menor que a daqueles que perderam pessoas queridas nos ataques terroristas. A dor deles, especialmente de Melvil e Antoine, que estão no segundo movimento, se faz exemplo para aprendermos a ser tolerantes.
#2) Uma sonata que marcada pela tolerância. Nesta segunda lemos na aula da Universidade do Adulto Maior uma carta que já foi disseminada, em dezenas de idiomas nas redes sociais. Meus alunos pediram que a colocasse no blogue. Antoine Leiris é o nome de um jornalista francês, até aqui desconhecido do grande público, mas que está inspirando o mundo após perder uma das pessoas mais importantes em sua vida nos atentados da última sexta-feira, 13 de novembro, em Paris: a mulher e mãe de seu filho.
O jornal Libération divulgou a carta do recém-viúvo e ela tem se tornado viral. Os motivos são óbvios: inspiradora, tocante, a carta é uma prova de que o amor vencerá.
Vocês não terão o meu ódio
Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez a sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.
Por isso eu não vos darei o presente de vos odiar. Vocês procuraram-no, mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.
Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no país das almas livres a que nunca terão acesso.
Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio.
#3) Um sinfonia para se aprender a viver juntos. Na noite desta segunda ocorreu a última das oito sessões do Fronteiras do Pensamento 2015. Ouvimos Janette Sadik-Khan, uma jovem urbanista estadunidense. Ela ficou conhecida ao transformar, em questão de dias, ruas e avenidas como a Broadway, reduzindo as pistas para os carros e ampliando o espaço para as pessoas. Formada em Ciências Políticas pela Faculdade Occidental e mestre em Direito pela Universidade de Columbia, foi Secretária de Transportes de Nova York de 2007 a 2013, durante a gestão do prefeito Michael Bloomberg. Em seus projetos, mudou o cenário da cidade, privilegiando o pedestre, o ciclista e o transporte público.
Em sua gestão, liderou quase 5 mil colaboradores e administrou mais de 10 mil quilômetros de ruas e centenas de pontes, apresentando novos conceitos e aproveitamentos à população nova-iorquina, através de testes rápidos e ensaios regulares. Além da Broadway Boulevard e da área na Times Square, criou outras dezenas de novas praças para pedestres, aumentando a circulação e incentivando o comércio local. Com mobiliário simples e provisório, estudava os impactos para, posteriormente, sugerir mudanças a longo prazo, com design melhorado. Também criou mais de quatro centenas de novas ciclovias e vias compartilhadas.
Atualmente, é presidente do Strategic Advisory Board da National Association of City Transportation Officials e diretora de transportes da Bloomberg Associates, onde trabalha com prefeitos de todo o mundo para redesenhar cidades com projetos rápidos e de baixo custo. Usuária das ciclovias, em 2013 colaborou para o projeto de compartilhamento de bicicletas em Nova York, tornando a cidade uma das capitais mais amigáveis à bicicleta nos Estados Unidos.
Janette Sadik-Khan defende que somente a criação de ciclovias não promove mudanças, pois é necessário negociar com o comércio e criar atrativos para que as pessoas frequentem as novas vias. Suas contribuições foram agraciadas com os prêmios da Fundação Rockefeller e do American Institute of Architects.
Os humanos optaram por morar em cidades. É cada vez maior o êxodo rural. O aumento da população urbano só é viável se diminuirmos os automóveis.

2 comentários:

  1. O homem moderno precisa aprender a viver e a conviver em cidade harmonicamente, em que o respeito ao outro como outro seja a chave da necessária tolerância. O mundo é uma grande pequena aldeia com recursos materiais finitos. É como uma grande casa comum na qual as pessoas são mais importantes que qualquer material. Porque, por exemplo, destruir árvores que servem aos humanos para priorizar enormes ruas/estradas que priorizam o indústria automobilística? Ou inutilizar espaços comuns em detrimento da especulação financeira?
    Abraços, mestre.

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  2. Muito estimado Vanderlei,
    obrigado por agregares qualidade a este blogue com as reflexões do filósofo que se faz professor.
    Realmente a nossa aldeia não foi feita para sua 'majestade o automóvel'. No momento que pensarmos que a polis é para os humanos, talvez estaremos sendo mais racionais. Vale ouvir o Papa Francisco na Laudato Si'.
    Renovo meu encantamento com tua presença marcada, aqui, pela lucidez de teus comentários,
    achassot

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