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terça-feira, 8 de setembro de 2015

8.- VIEIRAS: SABOROSAS PARA A GASTRONOMIA E PARA O INTELECTO

Na manhã de sábado, a Gelsa e eu fomos ao Mercado Público de Porto Alegre. Sábado, usualmente, é um dia muito especial. Para quem, a cada duas semanas, tem aula aos sábados, a vigília do domingo, integrada a um feriadão, foi algo ainda mais prazeroso. Assim, nesta Semana da Pátria premiamo-nos com algo que muito curtimos: ir ao mercado. Isto é uma dádiva que sempre incluímos em nossas viagens. Visitar estes artefatos culturais tão impregnados nas relações dos humanos é usualmente fonte de muitos aprenderes. Com o mercado da cidade não é diferentes. Os saberes, sabores e olores, mesmo que familiares, trazem, a cada visita, dimensões diferentes e oferecem novas leituras da história.
Dentre os estabelecimentos comerciais, nenhum espaço parece ser tão democrático como um mercado. Miremos ‘consumidores’ de dois locais antípodas: uma fina loja de um shopping e uma ‘banca’ de um mercado. Neste parece haver mais confraternização, que enseja aprender acerca de um chá ou de uma receita. A venda dos alimentos ‘a granel’ dos armazéns de nossa infância é algo que os mercados ainda sabem preservar face aos empacotados de agora.
É nas bancas de peixarias que usualmente nos detemos mais. Desta vez algo inédito: compramos vieiras. Com auxílio do gourmet Google a Gelsa transmutou a pequena porção em um prato saboroso. Aliás, a gastronomia está na crista da onda. É surpreendente o número de títulos de livros nas livrarias e de programas de televisão acerca do tema.
Por tal aquisição vieiras passam ser mote desta blogada. Meus conhecimentos acerca deste fruto do mar era quase zero.
A Wikipédia ensina-me que vieiras (nome cientifico Pecten maximus) são moluscos bivalves marinhos, isto é que tem duas conchas. Encontram-se em vários oceanos, sendo bastante apreciadas como alimento refinado. Nos países de língua inglesa são conhecidas como scallop e em francês como coquille saint-jacques. Vieiras são nadadores, sendo o único bivalve migratório, movendo-se por propulsão com ajuda do músculo adutor.
As conchas coloridas em forma de leque de vieiras são apreciadas por colecionadores e malacologistas (=especialista em malacologia ou no estudos dos moluscos). As conchas de vieiras são peças muito presentes em vários brasões heráldicos e muito ligadas a representações de Santiago Maior, ostentado pelos peregrinos que vão a Santiago de Compostela.
São Tiago Maior foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo; e é chamado Maior (mais velho) para o diferenciar de outro discípulo de Jesus de mesmo nome, conhecido como Tiago Menor (mais jovem).
Os nomes Tiago e Jaime derivam do latim Iacobus, por sua vez uma latinização do nome hebraico Jacob (aportuguesado em "Jacó") Com o decorrer do tempo, o nome evoluiu em diversas direções linguisticas: manteve-se Jakob em alemão e noutras línguas nórdicas, James em inglês, Giacomo em italiano e Jacques em francês.
Eis o porque da ligação deste fruto do mar com Santiago (de Compostela). Assim, coquille saint-jacques significa ‘Concha de São Tiago’. A Concha é o símbolo do peregrino que vai, em geral percorrendo grandes distâncias a pé ou de bicicleta, a um dos santuários mais importantes do Ocidente: Santiago de Compostela, no Norte da Espanha. Ela é pendurada em qualquer lugar do corpo ou em mochilas ou bagagens. Segundo alguns a concha serve para beber água durante a peregrinação e a mesma significa proteção e busca de conhecimento e deve ser devolvida ao mar depois de completado o caminho. Há muitas histórias e lendas acerca da presença da concha de vieira na peregrinação.
É também a concha representada em O Nascimento de Vênus de Botticelli que tive o privilégio de ver na Galeria de Ufizze em Florença.
A mesma concha (em inglês: shell) é também o símbolo e nome de uma das maiores empresas do Planeta. A origem da marca Shell está vinculada as origens da Shell Transport and Trading Company. Em 1833, o pai do fundador, chamado Marcus Samuel, fundou um importante negócio para vender conchas marinhas a colecionadores de Londres. Ao coletar espécimes de conchas marinhas na zona do mar Cáspio em 1892, o jovem Samuel se deu conta de que havia potencial de exportar querosene desta região e pôs em serviço o primeiro navio construído para transportar petróleo do mundo.
Tão saborosa quanto o iguaria preparada pela Gelsa foram os conhecimentos que as vieiras catalisaram.

3 comentários:

  1. Mestre Chassot,
    Não tendo sido uma das eleitas para saborear os quitutes de vieiras preparados pela professora e gourmet Gelsa, devo dizer que saboreei as iguarias catalisadas por vieiras ofertadas pelo mestre,
    Com água na boca
    Cíntia

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  2. Querido Chassot!
    Não sei se sabes que meu pai é, antes de museólogo, Malacólogo. Seu orientador Eliézer Rios, que conheceste, finado em abril, fora o mais ilustre malacólogo do Brasil. Sempre apreciei vieiras, ostras e mexilhões. Tanto para fins gastronômicos quanto estéticos. Ainda hoje dei uma aula sobre a evolução dos moluscos e mostrei aos pimpolhos exemplares de Pecten maximus, atuais e fósseis. Sua simbologia é realmente forte, constava no brasão do papa Ratzinger e também é o símbolo da Shell, pois indica petróleo no extrato onde é encontrada… Levarei tua blogada para a sala de aula.
    A admiração do
    Guy B. Barcellos

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  3. Se "Vieiras" simboliza o peregrino que percorre grandes distâncias, logo é possível dizer que o mestre é um legítimo vieiras!!!

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