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terça-feira, 22 de setembro de 2015

22.- SOBRE SER OBJETO


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3085

                Esta manhã chuvosa de terça-feira se faz, de maneira repentina, muito triste com a chegada da notícia da morte da grande educadora Beatriz D’Ambrosio, filha dos queridos Maria José e Ubiratan D’Ambrosio.


No dia 3 de agosto, quando assisti a Valter Hugo Mãe, no Fronteiras do Pensamento ouvi algo que caiu naquela coxia do cérebro que, de vez em vez, se faz presente a uma espiadela. O escritor português contou que, com muita frequência é perguntado por que não faz doutorado em literatura. Disse em sua resposta: sou objeto de teses, como iria conviver na Academia com aqueles de quem sou sujeito.
Não sei explicar as razões pelas quais a resposta me fez interrogante. Posso assegurar que, desta vez, não pequei por inveja, algo muito frequente em mim quando ouço acerca de sucesso de escritores.
Na manhã desta terça estou numa banca de qualificação de Daniela Regina Resende no Programa de Pós-Graduação: Processos Socioeducativos e Práticas Escolares, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de São João del-Rei. A Daniela, orientanda do Professor Dr. Paulo César Pinheiro, traz a exame “A interação de professores com as narrativas híbridas do sítio Ciência na Comunidade: efeitos e desdobramentos”.
Por estas maravilhas da tecnologia (e também por um dito contingenciamento de despesas que encolhe as universidades) não estarei, fisicamente, naquela cidade que desde abril de 1985, me evoca um pedreiro em um interminável fechamento tumular, quando do sepultamento de Tancredo Neves. A banca ocorrerá por Skype ou pelo Facebook.
Há de se perguntar qual a conexão da observação de Valter Hugo Mãe com a proposta de dissertação da Daniela. Surpreendeu-me já a leitura do sumário, que está transcrito na figura ao lado. Mas, quando li a proposta me senti um pouco (bastante) sujeito de uma dissertação.
No primeiro capítulo da proposta a Daniela faz, em mais de 20 páginas, uma minuciosa análise de quatro textos meus. O primeiro é de A Educação no Ensino de Química [Ijuí: Editora Unijuí, 1990]. Talvez um dos primeiros livros de Educação Química escritos no Brasil.
Ao analisar um dos capítulos deste livrinho de 118 p. Procurando Resgatar a Química nos Saberes Populares ela escreve ‘o décimo primeiro capítulo do livro [...] é o único do livro a tratar do ensino de Química por meio de saberes populares. É um texto de seis páginas, que vem “mostrar uma linha de trabalho relativamente nova na área de Educação Química: o resgate de saberes populares”. Tudo indica que esta seja a primeira publicação em livro sobre este tema feita no Brasil’ (Proposta p. 21). Pois passado um quarto de século o tema já rendeu teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de especialização, trabalhos de conclusão de cursos...
Na proposta está transcrito algo que eu escrevera na p. 104, em 1990: ‘A proposta que se defende implica na necessidade de resgatar a Química que está inserida na realidade física e social vivenciada pelos alunos (ou em outras realidades) e analisar com eles, de forma dialógica, os diferentes significados atribuídos e as diferentes formas de construção do conhecimento’ (Proposta, p. 21). Outros textos são do Alfabetização científica: Questões e desafios para a Educação (2001) e do Sete escritos sobre Educação e Ciências (2008) são analisados no primeiro capítulo.
No segundo capítulo da proposta a Daniela analise sete artigos da Revista Química Nova Na Escola de 2000 a 2013 de diferentes autores e procura nestes as ‘ideias de Chassot’. A Daniela escreve: ‘todos os sete artigos encontrados mencionam, de certa forma, a inserção dos saberes populares em sala de aula como uma prática para promover a valorização dos mesmos e a sua transformação em saberes escolares, assim como foi sugerido nos quatro textos de Chassot descritos no capítulo 1. Os artigos propõem trabalhos que, além de apoiarem a inserção dos saberes populares em sala de aula, orientam os professores na realização de práticas pedagógicas que busquem a inter-relação entre os saberes populares e os saberes formais ensinados na escola, promovendo uma mudança significativa no ensino de ciências’ (Proposta p. 49).
Trouxe apenas pequenos excertos da Proposta. Ela espraia-se por várias páginas fazendo tessituras de ideias que se vem disseminando na Educação Química brasileira. Sinto a importância de minha contribuição. Este é um orgulho que me entusiasma a continuar estes fazeres. Um agradecimento muito reconhecido ao Paulo César e à Daniela. Será bom estar com vocês esta manhã em São João del-Rey.

4 comentários:

  1. Soneto-acróstico
    Assim é

    Existe gente que está no mundo a passeio
    Como quem aqui nunca deixará sua marca
    Há ou outro que diz exatamente a que veio
    Assim, com brilho e sentimento de tetrarca.

    Se Chassot causa influência no seu meio
    Sobre estudiosos do país ou da comarca
    Observa-se que do estudante é um esteio
    Tamanha amplitude sua sapiência abarca.

    É mestre inconteste dos saberes primevos
    Onde nada de braçadas nessa relevância
    Conduz seu rebanho com carinho e enlevo
    Alertando sobre ciência e sua importância.

    Racional e sensível, classifica-lo eu devo
    Attico Chassot, gaudério alfa da estância.

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  2. Meu muito estimado amigo Jair.
    Saboreei, encantado, teu soneto-acróstico:
    Assim é.... E CHASSOT É O CARA,
    onde o último verso: Attico Chassot, gaudério alfa da estância. fez-me de ego lustrado.
    Além de retemperar-me com teu versejar, alegrou-me saber que ainda te tenho como leitor distinguido.
    Nesta semana estarei na UFSC, Pena que não no Campus de Florianópolis, e sim no de Blumenau. Ainda não nesta viagem que nos conheceremos pessoalmente,
    Com amizade,
    achassot

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    1. Caro Chassot,
      Fico deveras satisfeito que você tenha gostado de meu castiço soneto-acróstico. Quanto a visitá-lo no seu blogue, sempre o faço, só não comento porque, o mais das vezes, me faltam palavras inspiradas, como você tão bem as merece.
      Abraços, JAIR.

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  3. Nada é por acaso. Tudo tem sentido.
    Sabes que é merecido...Freire já advertia sobre não deixar de sonhar sonhos possíveis...
    Grande abraço, mestre!!!

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