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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

01.- IDADE MÉDIA:¿QUANDO TERMINOU?



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2283
Esta já é a edição inaugural de novembro. Ela já sabe a fim de ano. O tema de hoje vem na esteira da evocação de ontem 31 de outubro de 1517. Ele se contextualiza nos cinco anos ontem iniciados em advento do Quinto centenário da Reforma Luterana em 2017.
Quando nos referimos à Idade Média, parece natural nos perguntarmos por sua certidão de nascimento e seu atestado de óbito. Todavia, mesmo que se reconheça cidadania histórica à Idade Média, não existe nenhum registro batismal ou um dado funeral para um período de cerca de mil anos da história da humanidade (ocidental).
Hilário Franco Junior, no apreciado A Idade Média: o nascimento do Ocidente [São Paulo: Brasiliense, 1994] diz que “se utilizássemos numa conversa com homens medievais a expressão Idade Média, eles não teriam ideia o que isso poderia significar. Eles, como todos os homens de todos os períodos históricos, se viam vivendo na época contemporânea. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de darmos nomes aos momentos passados” (p. 17).
No A ciência através dos tempos, que já vai fazer 20 anos de continuada circulação escrevi: “A Idade Média é o milênio transcorrido entre o término da Idade Antiga (identificado com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476) e o surgimento do Renascimento (ou a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, ou, ainda, a descoberta da América, em 1492). Este período foi chamado de "Idade Obscura" ou "Noite de Mil Anos", e o adjetivo "medieval" (ou "medievo"), às vezes, quer significar retrógrado ou obscuro, mesmo que se faça outra leitura desse milênio, principalmente do seu final” (p. 101).
Não vou fazer, aqui e agora, uma listagem de legados da Idade Média. Chiara Frugoni escreveu um apetitoso “Invenções da Idade Média: Óculos, livros, bancos, botões e outras inovações” [Rio de Janeiro: Zahar, 2007]. Dar-nos conta que Universidade, que já tem mais de 800 anos, é um legado do medievo é suficiente para expurgar a conotação de obscurantismo para o adjetivo medieval.
Afirmei que esta blogada estava na esteira da celebração que este blogue fez ontem. Para justificar trago uma narrativa da medievalista Régine Pernoud: “quando eu era encarregada do Museu da França nos Arquivos Nacionais chegou uma carta perguntando ‘Poderia me informar a data exata do tratado que marca o fim da Idade Média?’ Havia uma pergunta complementar: ‘Em que cidade se reuniram os diplomatas que preparam este tratado?’” [Idade Média: o que não nos ensinaram. Rio de Janeiro: Agir, 1994, p.7]
Há uma meia dúzia de propostas de um evento para marcar o início do Renascimento ou fim da Idade Média. Assim para seu término já se pensou (cronologicamente) em:
A)  1439: invenção da imprensa;
B)  1453: queda de Constantinopla;
C)  1453: fim da Guerra dos 100 anos;
D) 1492: descoberta da América;
E)  1517: Reforma Luterana;
F)  1534: Reforma Anglicana.
Não há sentido de fazermos um plebiscito entre estes eventos e eleger o lapidar. A escolha daquele que foi mais relevante ou mais revolucionário vai muito de opiniões.
Mesmo que eu não seja historiador, se tivesse eleger um, a minha escolha seria em primeiro lugar a Reforma Luterana, talvez marcado pelo meu viés dito ‘igrejeiro’, (leia-se querer ler a história marcada pela presença da religião). Se fosse eleger outro, seria a invenção da imprensa, reconhecendo-a tão importante, quanto o invento da Internet, a criação mais revolucionária do Século 20.
Uma blogada especial caberia para destacar as muitas consequências políticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais da Reforma Luterana. Talvez um dos feitos mais significativos foi traduzir toda Bíblia para o alemão, em uma edição de 1534. Antes houve outras traduções parciais (especialmente dos evangelhos) em diferentes idiomas.
A Bíblia de Lutero se torna referência na manutenção da ortodoxia nas igrejas reformada. Ela confere ao alemão o status de língua culta e com isso fortalece o emergente conceito de ‘Estado nação’.
Importância mais significativa desta tradução foi que agora a Bíblia estava acessível a todos (que soubessem ler). Como os cultos nas igrejas reformadas eram no vernáculo [a igreja católica continuou com cultos em latim até o Concílio Vaticano 2º (1962-65)] se criaram escolas junto a cada igreja para se ensinar a leitura, assim o povo poderia ler a Bíblia e ler os hinos nos cultos.
Assim a Escola como conhecemos hoje é produto da Reforma Protestante. A primeira ordem religiosa ensinante da igreja romana (antes as ordens religiosas são pregadoras, esmolastes, orantes, hospitalares, militares...) é a companhia de Jesus (jesuítas) fundada por Inácio de Loyola em 1531.
Paradoxalmente a Reforma Luterana é muito benéfica à igreja romana, pois com a contrarreforma há a refontização, na busca das verdades e das práticas que haviam sido perdidas.
Na recordação de quando 1º de novembro era dia santo religioso ou dia de preceito, desejo uma quinta-feira na expectativa de um feriadão.

2 comentários:

  1. A blogada de hoje, sem desmerecer as demais, contém uma essência ditática formidável. Os fatos históricos comentados, fugindo à narrativa maçante transformam o conhecimento da história em prazerosa leitura.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Hoje queremos entender a história
    Como uma linha reta obrigatória
    Nada mais imperfeito
    Construir conceito
    Quando inexiste qualquer trajetória.

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