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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

14.- REPÚBLICA DE MONTE ATHOS



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2022
No último fim de semana, iniciei a primeira experiência de ler um livro no iPad. Acompanhei a curiosidade da Gelsa acerca dos dramas que vive a rainha da Espanha e leio “La soledad de la Reina”. Mas não é sobre a experiência de folhear paginas de um livro digital e nem sobre a solidão de Sofia que falo nesta blogada.
Sofia é grega de nascimento; o livro refere Monte Athos. Buscava assunto para esta blogada, que devesse ser mais ameno que tétrico tema de ontem. Ocorreu-me pensar que, talvez alguns de meus leitores não conhecessem o Monte Athos, que para mim é algo muito significativa.
Já na primeira edição (1994) de A ciência através dos tempos ao falar dos monastérios do medievo dizia:
“Essa nossa referência à vida monacal medieval seria incompleta se não destacássemos um núcleo que foi, e surpreendentemente ainda é, um dos maiores repositórios do saber: A República de Monte Athos (também transliterado como Monte Athos, em grego Άγιο Όρος, "Montanha Santa") é uma península montanhosa de 2.033 m de altura, situada na parte mais oriental da Grécia, no mar Egeu, que está sob o exclusivo controle da Igreja ortodoxa, tendo governo próprio, reconhecido como um distrito autônomo pela constituição grega de 1975 – há apenas a proteção militar da Grécia” (p. 106, na edição de 2011).
Desde o século 7º, eremitas começaram a fazer dessa montanha seu refúgio e local de orações. No século 11, o imperador grego deu a Monte Athos uma destinação exclusiva: local para a construção de mosteiros. No século 15 chegaram a existir nesta montanha santa trinta mosteiros, com mais de mil monges cada um. São os monges que detêm nessa época os primeiros postos na Igreja e na cristandade de Bizâncio, onde a vida comunitária predominava sobre o eremitismo. Os estatutos dos mosteiros eram variados e uma pessoa podia fundar para si ou para os seus um mosteiro, ou transformar a própria morada em mosteiro. Havia situações em que o monge, por provir de família abastada, levava para o mosteiro serviçais e tinha até embarcações. Há casos em que a propriedade das celas monacais era transferida em testamento.
Monte Athos, mesmo pertencendo formalmente ao território da Grécia, que mantém um espécie de governador, é na verdade uma "entidade teocrática independente". Para entrar neste território é necessária uma permissão especial, não obstante a Grécia faça parte da União Europeia e tenha abolido os controles fronteiriços. A única forma de chegar ao Monte Atos é por barco, partindo da cidade de Ouran-oupoli. Tratando-se de um território habitado por monges, só podem entrar homens e animais do sexo masculino.
Quando meu livro foi reformulado em 2004, vali-me de depoimento de Gregório MORÁN, Un ateo en el monte Athos. [La vanguardia, (Barcelona) p. 27; 25 de mayo de 2002] e ampliei informações como acerca da gestão: assim, comunidade é administrada por um conselho de 4 membros e por assembleia de 20 deputados, um de cada um dos principais monastérios da Igreja Ortodoxa grega.
O território desta pequena república está situado na península da Calcídica, a 100 km a sudeste da cidade de Tessalônica e é habitado por cerca de 1500 monges ortodoxos distribuídos em vinte mosteiros principais, alguns datados do século 9. Cada um destes mosteiros elege seu próprio superior e os representantes para a Santa Assembleia, que exerce o poder legislativo em todo Monte Atos.
Este pequeno enclave abriga preciosos tesouros artísticos: antigos manuscritos, ícones e afrescos pintados pelos mais ilustres representantes da pintura bizantina, destes muitos salvos da Biblioteca de Alexandria e de outros centros culturais. Acredita-se que o conteúdo de muitos desses manuscritos, ainda hoje, não tenha sido reincorporado ao patrimônio de conhecimentos da humanidade.
Desde suas origens, a Montanha Santa hospedou místicos e mestres espirituais cujos escritos foram recolhidos no século 18 numa célebre antologia - a Filocalia - que influenciou profundamente o mundo ortodoxo.
Em Monte Athos se pode entrar por mar, depois de com muita antecedência ter providenciado um atestado de peregrino. Reservo para concluir algo muito exótico e que mostra, de uma maneira diferente, como se pode ser intolerante, para não violar alguma suposta norma religiosa: O território orgulha-se de desde o século 11 não admitir o ingresso de nenhuma fêmeahumana ou animal (não maior que uma galinha) –. Assim, está preservada, supõe-se, a castidade da comunidade.
Quando em agosto do ano passado, visitei pela primeira vez Saint Petersburgo na Rússia, sentia-me realizando um dos meus maiores sonhos de turista. Valeu muito. Tenho ainda outros; um deles: Monte Athos. 

6 comentários:

  1. Mestre!
    Minha leitura diaria e seu blog...como faço poucos comentarios precisso me redimir..e pedir descupa que escrevo pouco, mas "Que delicia" é a leitura diaria do blog...Que tal o sonho de conhecer Monte Athos...mas pelo visto so pode ser sonhado por masculinos...
    Com carinho
    Elzira.

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  2. Elzira muito querida,
    sabes que posso acompanhar diariamente cada cidade no Planeta de onde há acesso ao blogue. Vejo a assiduidade de Maravilha e sei que és tu que me lês aí no oeste catarinense.
    Tenho sempre a lembrança de teu carinho ‘segurando’ o ônibus para eu chegar a tempo e me obsequiando com um gostoso sanduíche.
    Lamentavelmente tu, por ora, não podes pensar em visitar Monte Athos.
    Um afago do

    attico chassot

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  3. Bom dia, Mestre!
    Esta reportagem me desperta humildade, pois às vezes a gente pensa que está bem informado, mas desconhece coisas como esta!
    Eu desconhecia completamente a existência deste "Vaticano Ortodoxo".
    Mas, um lugar onde não entram fêmeas, apesar de curioso, para mim perde um pouco do colorido e deixa de figurar nos topos da minha lista de locais a serem visitados...Talvez uma passagem rápida!
    Será que algum brasileiro já tentou contrabandear alguma mulher para lá?
    Abraços!

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  4. Caro Chassot,
    Estarrecedor! Como? Um local cheio de machos em que não podem adentrar fêmeas? Clube do Bolinha? Eu ein? Se deixar de existir homens dispostos a abdicar da vida comum em machos e fêmeas interagem, essa comunidade está destinada a extinção. Como eles poderiam se reproduzir, não é mesmo? Deixando de lado essa excentricidade que discorda daquele "crescei e multiplicai-vos" bíblico, será bem feito se eles não receberem sangue novo e forem para onde a vaca do adágio foi.
    Quero apenas assinalar: "Assim, está preservada, supõe-se, a castidade da comunidade". A ver as milhares de denúncias de pedofilia dos padres, bispos e outros religiosos, não creio nessa suposta castidade nessa comunidade de machos, muitos certamente cheios de hormônios. Abraços, JAIR.

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  5. Meu caro Jair,
    na frase: “Assim, está preservada, supõe-se, a castidade da comunidade” a oração chave é: ‘supõe-se’!
    Com estima

    attico chassot

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  6. Caro Chassot,
    há muito tempo assisti a um documentário sobre os mosteiros do Monte Athos. Entre outras particularidades, dizia que o dia dos monges é dividido em quatro partes: seis horas dedicadas ao sono e ao descanso; seis horas dedicadas ao trabalho e ao estudo; seis horas dedicadas à meditação e seis dedicadas ao culto, esse dividido em duas missas: uma pela manhã e outra á noite, cada uma com duração de três horas. Não há homilia e nos templos não há bancos, cadeiras ou poltronas; todos ficam em pé durante o ato religioso. É mesmo muito particular.

    Um abraço, com os votos de que em breve possas subir a Montanha Sagrada.

    Garin

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