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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

12.- O movimento slow reading

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1866

Uma segunda-feira, que se segue a um domingo em que tivemos, a rodo, evocações do 11S de 2011, se pode concluir que o medo parece ter aumentado nestes dez anos. Mas o domingo teve algo mais que evocações geradas a partir de Nova York.

Em 10 de agosto, este blogue trouxe, com certo pioneirismo: 10.- Slow Science: Devagar & sempre pois hoje trago algo isonômico: o movimento slow reading propõe um resgate do prazer de ler, na contramão do ritmo acelerado. Alguns de nós hão de lembrar os concorridos e badalados ‘cursos de leitura dinâmica.’

A fonte da blogada de hoje é o caderno Dona, deste domingo em Zero Hora. A matéria é assinada pela jornalista Carolina Klóss, que transcrevo. A ela adito votos de uma muito boa segunda-feira.

Com uma rotina cada vez mais turbulenta e acostumados a obter informações em 140 caracteres ou dividindo a atenção com dezenas de abas do navegador de internet, muitos deixaram de lado um hábito aparentemente banal: ler com calma e prazer.

Isso indica que, embora por conta da internet tenhamos nos tornado receptores constantes de informação, também estamos esquecendo de processar e absorver conteúdos sem pressa. Ao analisar esse fenômeno, especialistas acreditam que uma revolução literária está chegando. Ou, pelo menos, uma prática está sendo retomada. Primeiro, surgiu o slow food (comer devagar). Agora, muitos estão seguindo o movimento slow reading (leitura lenta).

Pesquisado pelo especialista em tecnologia da informação John Miedema, o assunto chegou às livrarias brasileiras sob o título Slow Reading – Os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa (editora Octavo, 128 páginas, R$ 37 em média). De acordo com Miedema, há um número crescente de pessoas frustradas com a sobrecarga de informações, sejam elas impressas ou digitais. Por isso, estariam adotando uma leitura sem pressa. O movimento, como descreve o autor, propõe um resgate do prazer de ler, dando uma chance exclusiva, nem que seja uma vez ao dia, a um bom título.

– Se você quer uma experiência profunda com um livro, se quer internalizar isso, para misturar as ideias dos autores com as suas próprias e fazer disso uma experiência pessoal, você deve ler devagar – relata.

Em Slow Reading, Miedema assume ser um leitor lento. – A leitura demorada de um livro leva a uma relação mais profunda com as suas histórias e ideias. Quando leio um livro lentamente, ele continua me influenciando mesmo depois de passados anos – defende o autor, no preâmbulo da obra.

A doutora em Letras e especialista em Literatura Brasileira Flávia Brocchetto Ramos acredita que todos têm o direito a ler devagar, a saborear e a degustar um bom livro. Para ela, até mesmo histórias em quadrinhos não são narrativas para ler apressadamente, já que temos de pensar nas relações estabelecidas entre palavra e ilustração, por exemplo.

– Comparando com a alimentação, ao receber um bife com arroz e salada, podemos nos alimentar de pé, com o prato na mão, e nem sentir o gosto da comida. Mas também podemos apreciar a disposição dos alimentos no prato, as suas tonalidades, os aromas e sentir a textura de cada um dos alimentos – explica Flávia.

Para praticar o slow reading

- Leia o livro inteiro: capa, prefácio, notas de rodapé e apêndices
- Saboreie as ilustrações e não ouse saltar a poesia
- Subvocalize as palavras ou leia-as em voz alta
- Volte atrás e releia trechos
- Discuta com o livro: o que ele apresenta se comparado à sua experiência?

Em Slow Reading – Os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa, Miedema afirma que, assim como muitos leitores, não dispensa anotações nas margens dos livros, marcações nas páginas e fichamento de partes que julga interessantes. Para ele, é uma forma de saborear personagens e participar das tramas, nem que seja puxando flechas e destilando comentários contrários ao autor.

– É a prova imediata da resposta do leitor ao que ele lê, do diálogo que se dá entre livro e leitor – afirma Miedema na publicação.

O autor é a favor de uma técnica conhecida como marginália, que divide opiniões. As anotações nos livros, que, para muitos, seriam um ato de violência com as obras, para outros são valiosas. É o caso da jornalista Adriana Antunes, 34 anos. Na sua coleção de quase 400 livros, poucos não receberam um sublinhado, um comentário a lápis ou a marcação com um colorido adesivo. Leitora desde pequena, quando se apaixonou por Capitães da Areia, de Jorge Amado, Adriana não lê sem estar acompanhada por um lápis, uma caneta e um caderno de anotações.

– Cada sinal é um código, mas só eu entendo. Risco, sublinho e escrevo muito sobre o que me interessar na leitura. Eu comento e até discuto com o autor nas margens dos livros mesmo – revela a Mestre em Literatura.

As interferências de Adriana nas obras são as mais variadas. Além dos escritos referentes à história, ela desenha nos espaços em branco e faz anotações sobre o que está acontecendo no dia em questão. A certa altura de Por que Sou Gorda, Mamãe?, de Cintia Moscovich, por exemplo, é possível encontrar as frases: “Pai cozinhando. Tarde fria de domingo”.

Nem todos, porém, concordam com a ideia do slow reading. O professor de literatura francesa Pierre Bayard, autor de Como Falar dos Livros que não Lemos (Objetiva, 207 páginas, R$ 34,90 em média), por exemplo, afirma que é absolutamente possível ter uma longa e produtiva conversa sobre uma obra da qual se tenha lido apenas resumos.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,

    sou um tanto viciado na tal de Slow Readin. A minha leitura recreativa chega a demorar três anos. O livro Next de Michael Crichton demorei de 2007 a 2010 para concluir sua leitura. Consegui a companhar, vagarosamente o drama da relação vivida pelo cientista às voltas com a sua invenção de laboratório, o David, um chipanzé que falava e o dilema de como se livrar do imbróglio de ter feito uma pesquisa não autorizada pelo Comitê de Bioética de sua universidade. Interagir e conviver com o personagem de um livro é prazeroso e divertido: provoca múltiplas reflexões. A obra que estou lendo agora é A Verdade Lançada ao Solo, de Paulo Rosenbaum, Record, 2010. Iniciei em janeiro 2011 e não tenho previsão de quando irei concluir suas 570 páginas. Obrigado por trazeres esse assunto, confesso que me identifiquei.

    Boa semana, caro amigo.

    Garin

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  2. Garin, estimado parceiro nos blogares,
    realmente o slow Science / o slow Reading / o slow Food também me atraem. Não sei se já existe o slow Loving… mas me parece uma boa sugestão.
    Uma boa segunda-feira que vejo se faz madrugadora para ti,
    attico chassot

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  3. Caro mestre e amigo.
    Ainda bem que o hábito da litura lenta está retornando! Sempre detestei leituras "fast food". Ler um texto é degustá-lo, saboreá-lo em cada página, em cada linha, em cada palavra. Mas em nossa sociedade acelerada isso se perdeu. Tomara que retorne com força!
    Abs
    Renato

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  4. Meu caro Renato,
    vibro com teu retorno.
    Oxalá, possamos nos deleitar com muito fruídas leituras,
    Com amizade
    attico chassot

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  5. Caro Chassot,
    Como leitor compulsivo que sou, não sei dizer se leio devagar ou não. O fato é que os livros ditam a maneira que eu os abordo: alguns são acepipes finos que pedem para serem degustados com vagar; outros se impõem com certa alacridade obrigando-nos a transpô-los sem qualquer parada para descanso; e outros nos conquistam e não queremos largá-los, ficamos tristes quando chegamos ao fim. De qualquer forma, como dizia Fernando Sabino, TODOS merecem ser lidos. E assim, não vou me deter em ler devagar ou rápido, vou continuar seguindo o autor, pois é ele o "culpado" pelo conteúdo que nos agradará ou não. Excelente blogada, parabéns, JAIR.

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  6. Muito estimado Jair,
    desde que não me impinjam a leitura dinâmica, concordo contigo que quem dá o tom é em geral o autor
    Com agradecimentos
    attico chassot

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