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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

UM 06/11/1939: DE VIDA E DE MORTES

ANO 17*** 11/11/2022***EDIÇÃO 2059

A guisa de um prelúdio: Na última edição (04/11/2022) cometi um erro. Aqui e agora, retifico uma informação. Escrevi: 06/11/1939 é uma data (quase) só minha. Na Wikipédia não há  registro de nenhum nascimento, falecimento ou efeméride nesta  data. Esta informação está equivocada. A Danila (Instituto Federal de Goiás) alertou-me que eu já escrevera em 2015: Uma pavana para Século 20: olhando um mundo dito humano. Pavana Dança espanhola grave e séria e de movimentos pausados. [tocar a pavana a Sovar, tosar, maltratar].

Na quarta-feira, 28 de janeiro de 2015, estive nos campos de concentração de Auschwitz e de Birkenau. São inenarráveis as emoções. Estar sem qualquer pessoa conhecida ou mesmo falante de seu idioma de berço adensa a dor.  As velas colocadas pelas comemorações dos 70 anos da libertação dos dois Campos, no dia anterior, ainda estavam acessas; as flores depositadas não haviam murchado. Vivi por mais de 1,5 hora, em  Auschwitz e por 1,5 hora em Birkenau. em cada um dos dois Campos de extermínios, momentos por demais emocionantes. Estar em cenários que de maneira tão densa documentam uma das maiores barbáries, de todos os tempos, cometidas no nosso século 20, por humanos contra milhões de crianças, mulheres e homens me obriga compartir, aqui e agora.

Em Auschwitz, com 28 prédios, por exemplo, contemplar locais dos banhos antes do acesso a câmaras de gás e depois a crematórios. Conhecer o paredão das execuções e as forcas. Impressionar-me com as tentativas (muitas vezes frustradas) de resistências. Ver locais de experimentos promovidos em mulheres e crianças. Percorrer vitrines com toneladas de sapatos (de crianças, de mulheres, de homens) de óculos, de próteses, de louças e esmaltados, de malas endereçadas, de roupas de bebês e crianças fere-nos tão profundamente que parece que vivemos um pesadelo. A imagem que colhi em Auschwitz com a frase: "Arbeit macht frei" = O trabalho liberta” está ligada ao discurso do primeiro episódio mais adiante. A frase "Arbeit macht frei" foi colocada nas entradas de vários campos de concentração do regime nazista para zombar dos prisioneiros.

Em Birkenau — um dos 45 campos satélites de Auschwitz, que chegou a ter 300 barracões — caminhar sobre a neve e entre árvores desnudas ver numa extensa área de 175 hectares dezenas de chaminés de crematórios é tão incrível que parece estarmos vendo um filme de ficção.

Não tenho condição de narrar mais nada. Se algum leitor quiser saber mais acerca 1,3 milhões de pessoas que morreram ali: a maioria gaseificada e 500.000 de fome e doenças, sendo 90% deles de judeus. Outros deportados e executados ali foram 150 mil poloneses, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades, basta colocar em qualquer buscador a palavra que não cessa de martelar em meus ouvidos. Escolhi dentre centenas de relatos apenas dois episódios.

Episódio UM Discurso feito pelo Obersturmführer Franz Hössler para um grupo de judeus gregos na antecâmara onde os prisioneiros se despiam, pouco antes do grupo ser levado à câmara de gás para ser executado:

"Em nome da administração do campo eu lhes dou as boas-vindas. Isto não é uma colônia de férias, mas um campo de trabalho. Assim como nossos soldados arriscam suas vidas na frente de combate para conquistar a vitória para o Terceiro Reich, vocês terão que trabalhar aqui para o bem-estar de uma nova Europa. Como vocês irão desempenhar essa tarefa depende apenas de vocês. A chance existe para cada um de vocês. Vamos cuidar de sua saúde e também ofereceremos trabalho bem pago. Após a guerra, vamos avaliar todos de acordo com os seus méritos e tratá-lo adequadamente.

Agora, por favor, tirem suas roupas. Pendurem as roupas nos cabides que nós providenciamos e por favor lembrem-se de seu número (no cabide). Depois de seu banho haverá uma tigela de sopa e café e chá para todos. Oh sim, antes que eu me esqueça, depois do banho, por favor, tenham seus certificados, diplomas, boletins escolares e outros documentos à mão, para que possamos empregar todos de acordo com seu treinamento e habilidade. Os diabéticos que não podem consumir açúcar comuniquem ao pessoal de serviço após o banho".

 

Episódio DOIS. No sábado, 31 de janeiro, visitei o Collegium Maius (Grande Escola), na parte antiga de Cracóvia. É o prédio mais antigo da Universidade Jaguelônica (polonês: Uniwersytet Jagielloński) que está classificada dentre as universidades de elite da Europa. Foi fundada em 1364 por Casimiro III, o Grande, como Akademia Krakowska e desde então está entre as mais antigas universidades da Europa e do mundo, a segunda mais antiga da Europa Central (depois da Universidade de Praga). Vi salas (bibliotecas, refeitórios, sala de conselhos) do século 14.

As faculdades de astronomia, direito e teologia atraíram eminentes estudiosos. Destaco dois alunos importantes, entre os muitos listados. Nicolau Copérnico (1473-1543) e Karol Wojtyła (1920-2005), depois, João Paulo II, agora, São João Paulo II.

Foi emocionante ver, por exemplo, a primeira edição de 1453 manuscrita (no sentido literal) por Copérnico da obra De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções das esferas celestes).

A obra, dedicada ao papa Paulo III, foi publicada depois de 36 anos de angustiante maturação, algumas horas antes da morte de Copérnico, em 24 de maio de 1543, aos setenta anos, vítima de um acidente vascular cerebral. O livro esteve quase 300 anos no index.

Mas ao lado das muitas exposições é me recordado um fato que conhecera dias antes no Museu Oskar Schindler: no dia 6 de novembro de 1939, os nazistas, que desde 01 de setembro de 1939 ocupavam a Polônia, convocaram os professores e cientistas mais eminentes da Polônia para uma aula inaugural na Universidade Jagiellomiam. Em sua totalidade, os 184 que atenderam a convocação, foram presos e deportados pelos nazistas para campo de concentração onde foram mortos.

No dia 6 de novembro de 1939 há a celebração de minha vida e a funérea recordação da morte de 184 professores poloneses. Há, ainda, que chorar por eles.  

4 comentários:

  1. Que maravilha de texto, Querido, apesar de triste pelas mortes referidas! Mas é sempre ótimo ler você!! Em 06/11/2019 eu escrevi um texto mencionando um pedacinho desta última história, dos 184 professores mortos!
    Como você disse: “há ainda que chorar por eles!”
    Mas também temos muito a comemorar neste 06/11!! O SEU ANIVERSÁRIO!!
    Receba o meu abraço carinhoso e saudoso!!
    Dan

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  2. Um FELICÍSSIMO niver, caro MESTRE, mesmo que atrasado.... Isto é para comemorar muito!!!

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  3. Boa tarde Sr. Attico, muito triste seu relato, como foi possível esse imenso genocídio programado!!! O que é a força de um poder totalitário, sem controle, ditatorial a ponto de transformar o homem em homicida em série. Um horror!!!!
    E o pior é que estamos vivenciando tempos de loucos despertados e movidos por uma autoridade insana, nazista, prepotente e ignorante liderando o País! Que tarefa árdua para o Lula arrumar o estrago!!!!
    Que as forças divinas iluminem o Lula e sua equipe ministerial.

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  4. O comentário anterior é de Anahi & Edson: comentado em edição passads

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