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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

19.- UM BATE-VOLTA MANAUARA


ANO
 9
EDIÇÃO
 3011

Na manhã desta quinta-feira viajo para Manaus com escala em Campinas. Será um quase um bate-volta. Retorno amanhã à noite.
Justifico o ‘quase’, pois a expressão popular bate-volta significa: Ir a um determinado evento, em geral, sem que seja necessária hospedagem. Vai, participa do evento e retorna.
Talvez mais adequada seja locução: Buscar fogo que significa visita muito rápida; ir e voltar logo. Refere-se a uma visita que se demora pouco
Exemplo de seu uso: Já vais? Parece que vieste buscar fogo. Veio buscar fogo? Ou então, uma marcada por uma dose de preconceitos: Parece visita de médico.
Este preambulo tem a ver com ações que me levam a capital do Amazonas: a valorização de sabores primevos. Quando nos envolvemos com estes estudos temos, muitas vezes, na linguagem popular oral uma fonte rica de material folclórico e filológico, marcada por vocabulário pleno de curiosidades, não raro com sumarento rol de frases feitas de cunho nitidamente tradicional. Muitas vezes jovens investigadores não se dão conta de precioso subproduto, perdendo esses detalhes.
Está em posição heliocêntrica nesta minha meteórica viagem a defesa de tese doutoral de minha orientanda Célia Maria Serrão Eleutério que submete a banca formada pelos professores doutores Wagner Rodrigues Valente, da Universidade Federal de São Paulo, Josefina Barrera, da Universidade do Estado do Amazonas, Sidilene Aquino de Farias da Universidade Federal do Amazonas e Rafael Jovito Souza e Adriano Marcio Santos, ambos da Universidade do Estado do Amazonas a tese O Diálogo entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação inicial de professores de Química na Amazônia.
A Célia, professora da Universidade do Estado do Amazonas, no Campus de Parintins é a minha primeira doutoranda que defenderá tese ligada à Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC), a qual sou vinculado há mais de quatro anos. A REAMEC é formada por mais de duas dezenas de universidades dos nove estados amazônicos que tem como meta formar doutores em ensino de Ciências.
A tese a ser defendida amanhã tem a intenção de sustentar as relações de diálogos possíveis entre três culturas: a cultura local (saberes primevos), a cultura acadêmica e a cultura escolar. Destas relações se busca fortalecer a formação inicial de professores de Química na Amazônia. Isso determinou a necessidade de verificar as possibilidades de engajamento na vida cotidiana do caboclo da Amazônia para a apropriação do saber sistematizado da Química; criar um mecanismo para trilhar os caminhos da pesquisa etnográfica, assim como, identificar o tipo de estratégia que melhor se adequaria para encontrar os saberes primevos do caboclo da Amazônia e deles fazer saberes escolares.
O lócus da pesquisa foi o Distrito de Mocambo do Arari onde foram realizadas três Oficinas Temáticas com colaboração de ceramistas, agricultores familiares, caboclos extratores de produtos de subsistência, professores e estudantes do ensino superior e educação básica. O estudo envolveu vinte estudantes da formação inicial, três professores do Curso de Química da Universidade do Estado do Amazonas, Campus Parintins. Os dados foram obtidos por meio de observação in loco, entrevistas realizadas durante as visitas de campo no período compreendido entre 2012 a 2014 onde foram contatadas aproximadamente 20 pessoas mais anosas de duas comunidades. Os resultados das Oficinas Temáticas e das experiências controladas foram organizados, analisados e se constituíram elementos imprescindíveis para que os diálogos entre a cultura local, cultura acadêmica e escolar acontecessem. As experiências anteriores e este estudo direcionam o olhar para aspectos da educação química, no contexto da educação em ciências.
Enquanto orientador deste extenso e denso trabalho apraz-me destacar a seriedade acadêmica e uma atilada postura ética da Célia. Trabalhadora com uma persistência e uma independência intelectual impares. Encanto-me em ver uma ribeirinha cabocla amazônica vencer percalços ingentes e fazer-se doutora. A professora diligente, cercada de filhos e netos, muito provavelmente, ensinou-me muito mais do que eu ofereci enquanto orientador. Foi um privilégio excepcional orientar a Célia.
Ainda ligado a minha atividade à REAMEC aproveito horários, especialmente na tarde e noite de hoje para ampliar em orientações presenciais as muitas sessões por Skype com a doutoranda Irlane Maia, que busca entender os saber primevos que sabem à extensão.
Ainda na tarde de amanhã participo da defesa de mestrado de Maria Valcirlene de Souza Bruce no Programa de Mestrado em Educação em Ciências na Amazônia, da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, que apresenta a dissertação Os saberes tradicionais locais como possibilidades de inserção no ensino de ciências na Escola Pedro Reis Ferreira em Parintins/AM.
Assim, o fogo que vou buscar em Manaus se traduz em privilegiadas oportunidades de aprendizado. O bom será voltar e estar na manhã de sábado em Porto Alegre.

5 comentários:

  1. Acróstico

    Chacota: bússola é que gosta do norte!
    Há portanto essa tolíssima concepção
    Apenas poucos têm tal apreciada sorte
    Somente os tolos a Manaus dizem não.

    Sabe o Mestre Chassot o que lhe apraz
    Olha com seu Saber Primevo Amazônia
    Toda vez que o desafiam ele se satisfaz
    Movendo-se para o norte ou a Patagônia.

    Agora em Manaus está se sentido baré
    Nada muito diferente do que ser sulista
    A um globe trotter que Attico Chassot é
    Unindo culturas diferentes como altruísta.

    Ao ser chamado, Chassot então dá no pé
    Refaz a viajada mala, então cai na pista
    Apenas dando um tempo para tomar café.

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    Respostas
    1. Obrigada meu Deus por colocar no meu caminho pessoas boas e sensíveis como o Prof. Dr.Átticco Inácio Chassot. Nunca passou pela minha cabeça um dia ser orientanda de Chassot, renomado professor, conhecido no Brasil e no mundo da ciência pela sua "Alfabetização Científica", também conhecido como Peregrino da Ciência. Hoje ao abrir meu e-mail deparei-me com seu pronunciamento feito ao seu blog que circula nesta quinta-feira, dia 19,http://mestrechassot.blogspot.com/
      Muito Obrigada Prof. Chassot que não se negou em me orientar, mostrando-se sempre disponível e atencioso. Mesmo sabendo que não seria tarefa fácil, pelas condições geográficas que não permitiriam um contato mais direto, com paciência e presteza conseguiu dar valiosas contribuições para que este estudo saísse do casulo e se transformasse nesta TESE. Sinto-me privilegiada também por sua orientação e amizade. Um abraço. Daqui a pouco nos encontraremos.

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  2. Querido mestre! Parabéns a você e Célia pela primeira defesa na Rede Amazônica. Ficou muito satisfeita em ver que as articulações entre saberes primevos, escolares e acadêmicos são estudadas e aprofundadas. Como sabe, trabalho com seus textos sobre saberes primevos nas licenciaturas e será ótimo contar com a produção sua e de Célia... Aguardo a divulgação e publicação! Grande abraço!!!

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  3. Parabéns pelo trabalho com a Célia e a REAMEC, Chassot. É muito bom saber que está plantando suas sementes na região Amazônica.Gostaria muito muito de ler a tese. Por favor, peça à Célia para me enviar uma cópia, se for possível.

    Eu estou preparando um material para professores e quem sabe possa servir de alguma utilidade para ela. Há também uma mestranda realizando uma pesquisa na UFSJ que irá lhe envolver. Ela está no segundo ano do mestrado, com qualificação prevista para o segundo semestre e defesa para início do ano que vem. Já vá se preparando porque queremos que vá a São João Del Rei.

    Abraços
    Paulo

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  4. Querido Chassot!
    Admiro teu sempre renovado entusiasmo e dedicação.
    É muito bom ter amigo e colega como você.
    Abração e muita saúde para sempre!
    Otavio

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