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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

12.— A GUERRA DO FOGO

ANO
 8
A G E N D A    em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2535


O 11 de setembro já tinha dobrado a esquina do meio dia, quando postei, então, uma edição atemporã. Um 11 de setembro nunca mais se fará incógnito.
A sétima semana (de 18) na graduação é prenhe de muitos fazeres e nesta edição de quinta-feira, cabe uma ligeira sinopse para registro do que se faz de diferente. Na segunda-feira, à tarde, estive uma vez mais na Universidade do Adulto Maior, onde dentro do tema: “Longevidade na produção cientifica” sorvemos a emocionante entrevista com Rita Levi-Montalcini (Turim, 22 de abril de 1909 — Roma, 30 de dezembro de 2012) médica neurologista italiana. Agraciada com o Prêmio Nobel de Fisiologia/ Medicina de 1986.
No mesmo dia, à noite, proferi a aula inaugural “Das disciplinas à indisciplina" para alunos da Pedagogia das Faculdades Integradas São Judas, na zona norte de Porto Alegre a convite da coordenadora do Curso Professora Rosmarie Reinehr, minha ex-aluna no mestrado da Unisinos. Tive nesta atividade oportunas e generosas ajudas do sempre dadivoso Prof. José Luis Novais.
Hoje pela manhã, falo em atividade de formação para professores da rede estadual. Prognostico viver, então, as emoções de retornar ao Colégio Júlio de Castilhos, onde em 1957/59 fiz o curso científico ‘inaugurando’ o prédio onde Julinho está hoje, na Praça Piratini. Ali também fui professor de 1964/68. Talvez já faça mais de um quarto de século não retorne ao local.
Na noite de amanhã, faço a palestra de encerramento da Semana da Matemática, na Facos em Osório, onde a proposta é discorrer acerca de “Fazer Ciência: caminhos da teoria à prática”.
Ainda neste sábado tenho atividades no seminário de Educação e Inclusão no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão.
Nesta semana, meus alunos das duas turmas de Teorias do Desenvolvimento Humano assistiram o filme “Guerra do Fogo”. Acerca desta preciosidade cinematográfica, tão relevante para trabalharmos a evolução dos humanos, reproduzo aqui excertos extraídos de
CHASSOT, Attico; RIBEIRO, Vândiner.  O fogo catalisador de guerras que já são milenares. In: OLIVEIRA, Bernardo Jeferson de. (Org.). História da Ciência no Cinema 2 - O retorno. 1 ed. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2007, v. 2, p. 85-94. ISSN: 9788598885131
 “[...] Imaginar – permitimo-nos recordar ao pleno sentido dessa ação verbal: fazer imagens – como deve ter ocorrido a conservação do fogo – em eras imemoráveis, das quais não temos qualquer vestígio de relatos e por isso chamados de tempos pré históricos – é realmente complexo. Por mais fértil que seja a nossa imaginação, muito provavelmente teremos dificuldades para remontar cenários e vivências ocorridas há mais de oitenta mil de anos antes do presente e conceber nossos ancestrais fazendo descobertas acerca do fogo e sua conservação e também suas propriedades. Quantas descobertas foram feitas e quantos mistérios ficaram (e talvez ainda fiquem) insolúveis.
Falar sobre os vestígios que possam comprovar a descoberta do fogo é algo complexo. Alguns estes já encontrados não são aceitos por muitos cientistas, pois acidentes naturais como a queda de um raio, podem facilmente ser confundidos com as fogueiras feitas por nossos ancestrais, por exemplo. Os sítios arqueológicos mais antigos que temos notícia é Swartkrans, na África do Sul, com 1,5 milhão de anos; e Koobi Fora, Quênia, com 1,6 milhão. Possíveis “provas” desta surpreendente descoberta, digamos mais confiáveis, permite-nos inclusive hoje dizer que esta ocorreu a aproximadamente oitenta mil anos antes do presente. Num sítio arqueológico descoberto por arqueólogos israelenses às margens do rio Jordão (entre a África e a Eurásia) foram encontradas pedras que podem ter sido utilizadas como fósforos, digamos assim. Também encontraram redes de fogueira e restos de vegetais calcinados, alguns destes comestíveis.
A conquista do fogo trouxe mudanças muito significativas à vida humana. Permitiu ao homem proteger-se de animais selvagens, aquecer-se, cozinhar alimentos, o que, aliás, impedia muitas contaminações, criar instrumentos etc.
[...] Há outras lições que nos A guerra do fogo oferece. Foi dito antes que o uso que as duas tribos faziam do fogo era diferente. Aquela que dominava a técnica de produção detinha não apenas produções culturais ‘mais avançadas’ como habitações e ritos, mas também uma significativa diferença no uso de grupos vocálicos usado para comunicação, que mesmo que ainda primitivos, fazia diferença nas comunicações, se comparado com o outro grupamento. Em pelo menos uma das fichas técnicas do filme, onde usualmente consta o idioma do filme, para A guerra do fogo aparece: nenhum. Na verdade esse é um filme não dublável. Os atores utilizam de memorável expressão corporal, utilizando também deste artifício de linguagem para marcar mais diferenças entre os grupos. Essa sutileza no trazer a emergência da linguagem em nossa ancestralidade que se deva a contribuição acerca dos detalhes lingüísticos – a distinção entre a linguagem de uma tribo e de outra – possa ser atribuída ao autor do roteiro, foneticista Anthony Burgess, conhecido pelo livro Laranja Mecância, que foi adaptado para o cinema por Stanley Kubrick.
[...] Mesmo que se tenha dado destaque a diferenças entre duas tribos, é preciso explicitar que no filme aparecem três grupos de hominídeos. O mais primitivo, que aparece apenas no início, sem uso de roupas e corpo coberto de pêlo, talvez um australopiteco ou Homo habilis/ergaster. Um segundo grupo, ao que pertencem os protagonistas, que lembram neandertais ou Homo heildebergensis, vivendo em cavernas e abrigos, vestindo peles de animais e com uma linguagem mais gestual que oral. Este grupo ainda se divide em diferentes "culturas", como a dos protagonistas, que têm tabu para canibalismo, e outros que são canibais. Eles brigam uns com os outros. Por fim, estão os que se parecem ao Homo sapiens, vivendo longe dos abrigos e cavernas, em cabanas construídas por eles, corpos pintados, linguagem oral e, produzindo fogo, não apenas o usando. Estes são pouco ou nada conhecidos pelo povo protagonista, a não ser como presas dos canibais. Não existe guerra entre esses dois grupos, mas sim entre as diferentes "variedades" culturais do segundo grupo. Mas o mais significativo é que os avançados parecem dispostos a partilhar dos seus conhecimentos mais facilmente que os outros, como se com o domínio do fogo, ganhassem também a capacidade de difundir esse conhecimento. [...]

4 comentários:

  1. Heráclito dizia que tudo vem do fogo e tudo vai para o fogo. A vida é calor. Sem o sol não haveria vida, e de acordo com os cientistas estamos fadados a extinção com o fim desse corpo celeste.
    abraços

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  2. Limerique

    Na pré-história escrito nos anais
    Homo sapiens igual aos demais
    Então descobriu o fogo
    Desequilibrou o jogo
    Venceu outros primatas seus iguais.

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  3. Meu querido prof. Attico,

    Grato por suas palavras, sempre generosas e elegantes.
    Sua fala foi marcante para alunos e professores. Até o dia de ontem estavam comentando a Aula Magna.
    O sr. é uma figura pública. Sou muito grato pelo privilégio de usufruir de sua amizade.
    Um abraço,
    Ze Luis

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  4. Parabéns pelo texto.
    Pessoas assim faz uma enorme diferença, Obrigada por existir !.

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