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quarta-feira, 24 de abril de 2013

24.- UM LUMINAR TAMBÉM DERRAPA


ANO
7
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
2457
Hoje, me meto de pato a ganso. Li no domingo texto de um dos melhores cronistas brasileiros. Como sempre muito espirituoso e envolvido em fino bom humor. A ‘concepção teórica’, mesmo reconhecendo tratar-se de uma composição anedótica, incomodou-me. Transcrevo aqui dois excertos e após trago minha crítica. Reconheço-me pretencioso sabendo contra quem assesto minha observação.
O debate Luís F. Veríssimo
O apresentador entra no palco, onde estão três cadeiras.
Apresentador – Boa noite. Teremos hoje o último debate da nossa série Criacionismo ou Evolucionismo: Qual é a sua?. Afinal, fomos feitos por Deus ou descendemos dos macacos? O debate desta noite é o que todos estavam esperando, o que explica o auditório lotado e as cadeiras extras. Durante toda a semana tivemos aqui embates memoráveis entre defensores do criacionismo e defensores do evolucionismo, culminando com o debate de ontem, entre Richard Dawkins e o padre Rossi, que foi abandonado por Dawkins aos gritos de “Não. Não!” na metade, quando o padre Rossi ameaçou cantar.
[...]
Mas vamos ao grande debate desta noite. Os dois participantes não precisam de apresentações. O primeiro é... Charles Darwin em pessoa! Mr. Darwin, por favor.
Charles Darwin entra no palco e é aplaudidíssimo por parte da plateia. O resto da plateia aplaude educadamente.
Apresentador – Charles Darwin, quem não sabe, é o fundador do evolucionismo. Foram seus estudos sobre a adaptação dos genes ao meio e a seleção natural que deram origem a teoria da evolução das espécies, inclusive a espécie humana, que descenderia dos macacos. Apesar de estar morto desde 1882, Mr. Darwin concordou, gentilmente, em participar do nosso simpósio, principalmente quando soube quem seria o outro debatedor. Não é, Mr. Darwin?
Darwin – É. Será uma oportunidade para esclarecer alguns pontos.
Apresentador – E aqui está ele, senhoras e senhores. O outro debatedor desta noite. O grande, o eterno, o nunca assaz louvado... Deus Nosso Senhor!
Deus entra no palco saudando o público e é recebido com uma ovação. Parte da plateia grita “Senhor! Senhor! Senhor!”. Deus senta à direita do apresentador, Darwin à esquerda.
Darwin – Senhor, eu queria aproveitar esta oportunidade para dizer que, em momento algum a minha teoria negou a sua existência, ou desrespeitou o seu poder. Eu vivi e morri como um cristão. Só não podia esconder minha descoberta.
Deus – Eu sei, meu filho, eu sei. E você estava certo.
Darwin (surpreso) – Eu estava certo?!
Deus – Estava. Aquela história que eu criei o homem do barro, à minha imagem, e depois fiz a mulher da sua costela... Tudo literatura. Licença poética. O homem descende do macaco. Eu quis que fosse assim. E quis que você descobrisse. A sua obra é a maior prova de que eu (aliás, Eu) existo. E mando. Num mundo regido pelo acaso você dificilmente chegaria aonde chegou.
Apresentador – Então o senhor acredita num...
Deus – Evolucionismo dirigido. Um pouco como o capitalismo na China.
Darwin – Mas então por que tanta gente resiste à ideia de que o homem descende do macaco e não foi criado por Deus à sua imagem?
Deus – Ah, meu filho. A vaidade humana nem Eu controlo.
Nos meios acadêmicos, e em grande parte da humanidade, desde o século 19, há um continuado debate: Criacionismo ou Evolucionismo. Há, mais recentemente, uma caricata alternativa: o ‘design inteligente’ que, lamentavelmente LFV abraça (nominando de “Evolucionismo dirigido”. Claro que ele pode aderir a ela, como o fazem alguns cientistas de renome. Estes têm sido desmascarados, como está densamente argumentado, por exemplo, no Manifesto da Sociedade Brasileira de Genética (publicado e comentado neste blogue em 23JUN12).

Mas, ¿se há cientistas proeminentes que defendem esse criacionismo trasvestido com máscara rota e desengonçada de evolucionismo, eu surpreendo-me com o brilhante cronista? Por apenas uma razão: a (minha) desilusão por ver alguém que é um luminar intelectual para tantos (e, eu me incluo) embarcar, talvez, em uma canoa furada. Mas, sigo seu leitor. Não leio apenas os que pensam como eu.

8 comentários:

  1. Limerique

    A conversa de design inteligente
    Léria de criacionistas somente
    Eles perdendo a batalha
    Antes de jogar a toalha
    Tentaram parecer proeminentes.

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  2. Limerique

    Érico esse gaúcho quatrocentão
    Que seguidores formam batalhão
    Quase que se enrola
    Pois pisou na bola
    A criacionista estendeu a mão.

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  3. Limerique

    Érico é formador de opinião
    Acreditamos em seus textos então
    Mas quando diz estultice
    Baseada em crendice
    Seus escritos vão para o lixão.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Chassot,
    Quando li o texto de primeira olhada achei muito espirituoso e ri muito...
    Após, um amigo chamou-me a atenção que o autor (talvez sem querer) estava endossando o design inteligente.
    Esta (pseudo) teoria é, nada mais nada menos, que o criacionismo vestindo um smoking vagabundo.
    Um falso verniz científico dá à mais pétrea e dogmática das idéias um aspecto de teoria científica. Aprendi, em um livro chamado "A ciência através dos tempos", que a Ciência é uma leitura da natureza, só isso já destituiria o criacionismo e seus mutantes do status de "científico".Apesar de não achar o Veríssimo um gênio também não o considero um apedeuta. Tenho forte convicção que não quis fazer apologia ao design...
    Resta "rezar" que os picaretas de plantão não usem este texto infeliz para fins espúrios.
    Abraçøs

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  7. Meu caro Guy,
    Desde o Galeão, rumo a Boa Vista, RR.
    Agradeço ao Biólogo os bem postos comentários.
    Com estima e admiração

    attico chassot

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  8. Caro Chassot,
    Não consigo explicar porque chamei o Luiz Fernando de Érico nos meus limeriques, talvez um ato falho, não sei. Em todo caso espero que o Érico do qual sempre fui leitor, entenda (se lá onde ele se encontra for possível isso) que eu não tinha intenção de ofendê-lo, nem ao Luiz Fernando, aliás. de qualquer modo vou deixar assim mesmo, estou sem vontade de consertar a minha estultice. Abraços e desculpe minha falha, JAIR.

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