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quinta-feira, 21 de março de 2013

21.- HOMO SAPIENS 1900




Ano 7***    www.professorchassot.pro.br   Edição 2423
Se abrisse esta edição afirmando que na tarde e noite desta terça-feira, assisti, a 4ª e 5ª vez o mesmo filme, talvez apenas o José Carneiro, de Belém do Pará, pudesse pensar que agora eu fosse ‘lanterninha’, pois esta é uma das profissões que novas tecnologias apagaram, e, aqui, não em sentido metafórico. O excelente Priberam dicionariza: Lanterninha: 4. [Brasil] Pessoa que, geralmente munida de uma lanterna, indica o lugar dos espectadores em salas de espetáculo. = Vaga-Lume”. Como o Carneiro, seguindo o rastro de seu pai, disseminou o invento dos irmãos Auguste e Louis Lumière (usualmente referidos como os pais do cinema) no interior do Pará, ele deve ter sido lanterninha também.
Nas aulas de Teorias do Desenvolvimento Humano, que neste semestre leciono para duas turmas no Centro Universitário Metodista do IPA nas terças-feiras, em nosso quinto encontro da disciplina assistimos ‘Homo Sapiens 1900’ talvez o mais dolorosamente impactante documentário que eu já tenha assistido. Mesmo quando o vi a 5ª vez emocionei-me; pois a cada releitura parece que as loucuras humanas de cientistas importantes nos fazem mais doridos.
Homo Sapiens 1900 é um documentário do diretor sueco Peter Cohen lançado em 1998 que foi construído a partir de arquivos de fotos e filmes na tentativa de narrar como a Europa na passagem do século 19 para o 20 — quando a Ciência triunfa embalada por certezas — tentou estabelecer a eugenia e a limpeza racial como formas de aperfeiçoar a espécie humana por meio da genética.
O diretor sueco Cohen é filho de um judeu alemão que fugiu de Berlim em 1938, apenas um ano antes do início da 2ª Guerra. É natural, portanto, que se dedique a destrinchar assuntos ligados ao nazismo e ao preconceito racial. Mas o faz com uma originalidade surpreendente. Assim como em Arquitetura da Destruição — de 1989, quando dissecou a relação entre a violência de Adolf Hitler e a arte —, em Homo Sapiens 1900 ele vasculhou arquivos históricos de vários países para garimpar imagens inéditas. Algumas delas são verdadeiros achados, que como disse um dos meus alunos da tarde, são como um soco no estomago.
Aqui algo que surpreende: parece ser senso comum ligarmos as experiências eugênicas ao nazismo. Um equívoco, na pacífica Suécia, na então nascente URSS e no puritano Estados Unidos as experiências e as leis racistas foram anteriores e serviram para inspirar o nazismo. Só um exemplo: em 1907, mais de vinte Estados estadunidenses aprovaram leis que permitiam ou obrigavam a esterilização de indivíduos cuja reprodução era considerada indesejável.
"Há ocasiões em que salvar uma vida é um crime maior do que tirá-la", diz o médico Harry Haiselden numa cena do filme A Cegonha Negra — uma peça de propaganda, feita em 1917 para divulgar a ideia da higiene racial —, ao instruir uma enfermeira a deixar à morte um recém-nascido deformado. O doutor Haiselden não é um personagem de ficção, mas um estadunidense que, como tantos outros cientistas até a metade do século 20, defendeu a possibilidade de criar um ser humano "superior" — desde que os indivíduos "inferiores" fossem tirados do caminho. Um trecho desse filme macabro pode ser visto em Homo Sapiens 1900.
O ácido documento é um estudo claro, factual e impiedoso do racismo mascarado de Ciência, marcado inclusive com equívocos crassos como o de entender que se faz aperfeiçoar uma ‘raça’ impedido cruzamentos com outras raças, gerando uma endogamia (=Reprodução com alta frequência de cruzamento entre indivíduos que apresentam consanguinidade) com o enfraquecimento ou com o reforço de caracteres negativos.
Somos tomados de perplexidade ao ver até que ponto pode chegar o ser humano na busca de uma ilusória perfeição lastreado em um misto de ignorância e loucura. Talvez essa seja uma das lições que nos oferece Homo Sapiens 1900. Por isso, também sou agradecido ao colega e amigo Geziel Moura, da UFPA, que me enviou este DVD, que desconhecia.

9 comentários:

  1. Prezado Professor Chassot,
    Eu também pensava que a eugenia era nova invenção dos nazista, mas como nos diz Michel Foucault: "O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta".Parabéns pela blogada, desde a amazônia chuvosa.

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  2. Querido amigo prof. Chassot: Mais uma vez me sensibilizo com sua lembrança do meu nome na blogada de hoje. De fato, fui "lanterninha" do Cine Argus, em Castanhal, em priscas eras. Mas, curiosamente, eu era "lanterninha" sem lanterna, se é que isso pode ser dito. Lá tinhamos duas funções: a primeira era indicar o lugar no escurinho do cinema para os atrasados e a segunda - pasme - era mandar fumantes renitentes apagarem seus cigarros, acesos em plena projeção do filme. E assim, guardei mais memórias cinematográficas.
    Grande abraço

    José Carneiro

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  3. Limerique

    Num Planeta dominado por "ismos"
    O homem se comporta como sismo
    Destroi como traça
    Em nome da sua "raça"
    E criou uma excrescência: o racismo.

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  4. Temos tambem aqui em nosso canto a polêmica criada em torno de uma das reformas propostas em nosso Código Penal em relação ao aborto. O aborto seria então lícito em quatro situações, se a gestação fosse oriunda de abuso sexual, se fosse anencéfalo, se fosse portador de deformação grave que tornasse a sobrevivência duvidosa, e por último por vontade da gestante. Ora bolas, nada mais é do que uma grande passo a eugenia. Será que ser filho de uma relação sexual criminosa tornaria o ser com menos direito a vida do que outrem gerado por exemplo em um casamento forçado a exemplo dos acontecidos em nosso interior? Será que um "quasímodo" não teria sentimentos tão belos, ou mais até que um "Bruno" ou um "macarrão"? E mais, a simples vontade de uma então gestante bastaria para definir se há vida ou não?
    É curioso lembrar que na perfeição da natureza os gens dominantes não trazem as características mais belas, um olho verde é recessivo. A ótica estreita e estúpida do preconceito sobrevive nos bastidores.

    abraços

    Antonio Jorge

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    1. Sim, uma criança fruto de abuso sexual não deve nascer, pois se nascer, só trará lembranças ruins à vítima. Moralista de merda!

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    2. Sim, uma criança fruto de abuso sexual não deve nascer, pois se nascer, só trará lembranças ruins à vítima. Moralista de merda!

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  5. Grande Mestre. Mais um tema polêmico né? concordo com o aluno é um soco mais não só no estomago em tudo. É impossível negar o inegável, parece que a herança ainda continua, existem muitos Eugenistas por aí escondidos ou não. Não tem jeito a guerra é contra os fracos,ainda ressurgem com muita força a descrição dos indivíduos é um delito contra a vida. Além desse famigerado Dr. Harry Haiselden,não podemos esquecer da feminista sueca Ellen Key para ela " O leito matrimonial é a influência mais deletérea da ordem social" e a maternidade é uma escravidão,e tantos outros Margaret Sanger ferrenha adepta a eugenia e muito racista. Harry Haiselden e ainda sacudiu os Estados Unidos em 1912 negando de cuidar de um bebê que nasceu com problema ele retorquiu "tenho medo que ele passe a melhorar" . Foi processado por seu ato hediondo mas foi liberado sem punição e ainda se tornou uma celebridade tendo participação de um filme a Cegonha negra.É um absurdo. um abraço Ley

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    1. Estimada Ley,
      muito grato pela maneira preciosa como tens enriquecido as diferentes edições deste blogue aditando conhecimentos.
      Com gratidão

      attico chassot

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  6. Um tema tao antigo e atual, seriam eles iluminados da erA AurA ?
    Caso precise de bytes de infomações visite minha núvem
    http://minhateca.com.br/A_Arvore
    Parabéns pelo site novamente.
    Forte Abraço

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