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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

26.- O LOBO E O CORDEIRO



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1971
Última semana de 2011. Este ano, por Natal cair em domingo, temos uma semana completa para despedir o ano. Completa mas não plena, pois o recesso acadêmico entre 23/12 e 02/01 é uma gostosa tradição sempre muito bem fruída.
Ainda na meia tarde deste sábado, enviei a última ‘divida acadêmica’ de 2011. O prefácio de um livro produzido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciência na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas. [É verdade que, no mesmo sábado, chegou de uma editora de revista, talvez preocupada como eu, em limpar agenda para terminar mais leve o ano, um pedido de parecer a um artigo.]
Compus um prelúdio ao livro “O ensino de ciências e a conservação dos recursos hídricos” que considero uma sinfonia para as águas composta com maestria Adriana Araújo Pompeu Piza, uma paulista que armou sua rede na Amazônia, e sob a batuta Augusto Fachín Terán, um pesquisador que sabe transgredir fronteiras. Abro o prefácio com a conhecida fábula que a muitos leitores evocará seus estudos escolares iniciais.





Sem nenhuma referência à mesma discorro sobre o livro e depois de três páginas trago o conto, como transcrevo a seguir:
Mas, pergunta-se um leitor mais atento: e a fábula “O Lobo e o Cordeiro” que está na portada deste prelúdio? O que tem a ver com este livro este pequeno conto moral escrito no século 17, na França, por Jean de La Fontaine (1621-1695), considerado o pai da fábula moderna?
Este conto talvez nem seja da autoria de La Fontaine, pois além de compor suas próprias fábulas, também reescreveu em versos franceses muitas das fábulas antigas de Esopo e de Fedro (alguns autores chegam a afirmar que La Fontaine não passa, o mais das vezes, de mero tradutor das obras de Fedro). Fedro [cujo nome completo era Caio Júlio Fedro (latim: Gaius Iulius Phaedrus)] foi talvez um fabulista romano nascido na Macedônia, Grécia que tenha vivido na mesma época que se diz que Jesus viveu na Palestina. Pode ter sido ele o autor trouxe para abrir o prelúdio a um livro que fala de água. Mas, por que, aqui e agora, esta historieta que fala de lobos que só estão em nosso imaginário, que, talvez, tenha mais de dois mil anos?
Simplesmente porque os lobos continuam cada vez mais ativos usurpando – como na fábula – água que é e deveria ser sempre ‘um bem publico’! O livro da Adriana e do Augusto parece dizer: ‘cuidado com os lobos! Eles querem a nossa água!”
São lobos aqueles que inculcam na população que água servida a população por empresas públicas tem pouca qualidade. Recordemos que antes não se comprava água em supermercados como hoje. Isto não passa de uma manobra para depois privatizar a água.
Também são lobos empresas multinacionais que oferecem o aluguel de um purificador de água pelo qual se passa a pagar a cada mês ‘apenas’ R$ 66,90. Desacredita-se o fornecimento de água das empresas públicas (onde elas ainda existem), e depois se oferece uma engenhoca por mais que um décimo de salário mínimo mensal. Estes lobos estão ávidos de abocanhar cordeiros.
São lobos hodiernos produtores de arroz que mesmo quando a seca deixa os rios abaixo dos níveis que permite a coleta de água para fazê-la potável a uma população sedenta desviam o curso das águas para fazer irrigação de suas lavouras.
São lobos, que se apresentam travestidos com peles de ovelhas, as ‘papeleras’ que dizem fazer reflorestamento, mas plantam matos de eucaliptos fazendo primeiro um deserto verde, onde não pousam nem pássaros para depois deixar tocos em um solo de foi retirada toda água.
São lobos as agroindústrias que usam uma poção mágica – o agrotóxico – espalhando-a nas margens dos rios e arroios contaminando águas fluviais que são fontes de abastecimento de humanos, de animais e de plantas, inclusive de irrigação de hortaliças.
São lobos as indústrias que descartam em arroios seus dejetos contento materiais tóxicos, mesmo sabendo que estes arroios são tributários de rios piscosos e que abastassem estações de tratamento de água para vilas e cidades.
São lobos homens e mulheres que usam água tratada para lavar calçadas ou automóveis fingindo inocentemente desconhecer o preço da mesma.
Parece que está justificado porque abri este prelúdio com fábula talvez bimilenar. É com ela que, entusiasmadamente, convido a cada uma e cada um adentrarem neste O ensino de ciências e a conservação dos recursos hídricos” que Adriana Araújo Pompeu Piza produziu em parceria com Augusto Fachín. Neste texto eles nos dizem: Acautelai-vos dos lobos. Vale apenas nos abeberarmos das propostas que uma e outro fazem para com água qualificarmos o ensino das Ciências em Manaus, na Amazônia, no Brasil e na América Latina.
Repito usem este livro para mitigar a sede de transformar o ensino de Ciências que Adriana e Augusto têm. Vale apena usar água para fazer alfabetização cientifica.
Porto Alegre, quase no ocaso de 2011.

10 comentários:

  1. Caro Chassot,

    já desisti: não existe essa de limpar a agenda para adentrar o novo ano 'limpo' - sempre nasceu um novo compromisso.

    Muito criativo o teu texto para o livro da Adriana: uma bela denúncia de um modo bem humorado - parabéns!

    Boa segunda-feira de recesso!

    Garin

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  2. Querido Tio e Guru!

    Com alegria inicio meu dia pós natalino com a leitura deste presente com o qual brinda aos teus leitores.
    Já estou curioso para ler o livro...
    aproveitando-me da metáfora, quero dizer que devemos (nós que queremos nos safar dos lobos)formar uma matilha, horda, rebanho manada de algum outro tipo de animal que nao seja tão indefeso como os cordeiros.
    Já estou ávido para BEBER este livro!

    com renovados votos de admiração e um desejo de que o espírito natalino se estenda por muito tempo

    Daniel - sobrinho e fã de Curitiba

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  3. Meu caro mestre! Não há melhor consonância para um aperitivo preliminar da obra em destaque, a fabula por ti reconduzida à sua importancia e coadunada com a prática das grandes corporações. Muito bem postada e com a minha admiração. É essa água virtual (virtual water - by John Allan) que está na grande maioria dos produtos por nós consumidos e que muitas vezes não nos damos conta. Grande abraço e uma bela semana derradeira de 2011. JB

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  4. Meu estimado colega Garin,
    realmente sempre estamos devendo algo na academia. Realmente há que denunciar lobos.
    Curtir o recesso é preciso,

    attico chassot

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  5. Muito querido Daniel, é um presente natalino saber-te meu leitor aí nesta Curitiba para onde mandei eflúvios de Paz pelas festas aos meus muito queridos familiares.
    Realmente não sei que metáfora escolher para nos precaver dos lobos: talvez sendo astutos como raposas os venceremos.
    Obrigado por seres parceiro tão competente no ajudar a transformar para melhor o mundo,

    Tio attico

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  6. Meu caro Jairo,
    que se ajunta com competência aos que ajudam a transformar o mundo, o assunto da água virtual deverá ser assunto de uma próxima blogada. Que tal prepararmos uma edição conjunta de nossos blogues.
    Uma boa segunda-feira

    attico chassot

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  7. Caro Chassot,
    Segundo a Unicef, menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para a indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico. Um bilhão e 200 milhões de pessoas não têm acesso a água tratada. Um bilhão e 800 milhões de pessoas não contam com serviços adequados de saneamento básico. A água é um desses bens escassos indispensáveis, sem as quais não poderíamos viver. Ainda que na atualidade a falta desse bem não se apresente como um grande problema para a América Latina e, em especial ao Brasil, este é um tema de suma importância a todos nós. Em uma rápida síntese sobre as condições da água, vemos que apesar da terra ser coberta por cerca de dois terços de água ou mais precisamente 71% da superfície, o planeta está começando a passar por problemas de escassez do precioso líquido. Problema perfeitamente fácil de entender, já que o total de água do planeta continua o mesmo e a população se multiplica em progressão geométrica. Do total de água existente no mundo 97,5% são de águas que se encontram nos Oceanos, ou seja, água salgada, restando apenas 2,5% de água doce. E nem mesmo esses 2,5% podem ser totalmente aproveitados, pois 1,75% se encontram em calotas e geleiras polares, restando tão somente 0,75% desta água podendo ser considerada aproveitável. Devemos ressaltar ainda que essa quantia deva ser dividida entre 6 bilhões de pessoas. Devido a esse problema, já vemos em vários locais do mundo, principalmente no Oriente Médio, as constantes desavenças que a escassez de água vem proporcionando. Atualmente, 31 países sofrem com uma grave escassez de água; uma de cada cinco pessoas no mundo carece de fornecimento de água potável e se calcula que em tão somente 15 anos, mais da metade da população mundial não terá acesso ao vital liquido, tudo isto devido ao uso industrial indiscriminado e à falta de políticas adequadas para o manejo do recurso. Então, políticas sérias de preservação e administração desse bem escasso e de vital importância para a sobrevivência do homo sapiens, devem ser priorizadas em qualquer sociedade que queira manter a perspectiva de civilização a médio e longo prazo.

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  8. Meu caríssimo Jair,
    obrigado por aditares informações com dados tão relevantes acerca da injusta situação da água no Planeta. Esta edição da última segunda-feira de 2011 ficou valorizada com teu comentário.
    Ajunto ao teu denso comentário, a lembrança de que quando lamentamos que em 11 de Setembro de 2001 tenha havido cerca de três mil mortes inocentes, no ataque às torres gêmeas do World Trade Center – inocentes, sem dúvidas –, é importante referir que, atualmente, a cada dia, morrem dez vezes mais pessoas devido a falta de água potável.
    Ouvi essa afirmação dolorosa de Ricardo Petrella, economista italiano, professor na Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, que esteve na UNISINOS, participando em setembro de 2004, do Simpósio Internacional Água: bem público universal com a palestra “Água: o desafio do bem comum”. A palestra está publicada no livro NEUTZLING, Inácio, Água: bem Público universal. São Leopoldo: Editora UNISINOS. 2004, p. 9-31.
    É como se cada dia houvesse a derrubada de dez WTC. Mesmo que os apregoadores dos transgênicos apresentem soluções para a produção de alimentos por menor custo, assistimos ao aumento da miséria, com mais homens e mulheres, e especialmente crianças, morrendo de fome e de sede. Morrendo por não ter esgoto.
    Com reconhecidos agradecimentos,


    attico chassot

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  9. Ave Chassot,

    muito boa a escolha da cronica de hoje.
    A agua e um bem universal ameacado pela ganancia e pela ignorancia. Felizmente vemos que a segunda "ancia" pode ser mitigada por iniciativas como esta. Parabens aos autores.
    Que nossos esforcos frutifiquem e nao tenhamos que dessalinizar agua antes de 2050.

    Quando queres que envie o primeiro relato do "diario de viagem de um professor de Ciencias"?

    Abracos,
    Guy

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  10. Muito caro Guy,
    a ratificação, desde os Estados Unidos, de um biólogo à tematização da água na escola é muito significativa.
    Obrigado pela parceria no fazer alfabetização cientifica.
    Definida a periodicidade semanal, se enviasses a cada quinta-feira um relato, sextas-feiras poderia ser o dia de tuas blogadas.
    Com muita expectativa

    attico chassot

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