TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

08.- A Ciência é masculina? É, sim senhora! mas tem uma hiper-laureada

Ano 6 *** PORTO ALEGRE

*** Edição 1953

Sou do tempo que esta data era dia santo. Em vários municípios hoje, por terem com orago a Imaculada Conceição. Há 54 anos, em badalada solenidade, formei-me no curso ginasial. O equivalente a terminar o ensino fundamental hoje. Isto era motivo para missa solene na igreja da cidade e cerimônia no clube mais importante, com quadro de formatura na vitrine da loja perto da praça. Agora, visito a sala de aula de 1957 da 4ª série do Ginásio São João Batista em Montenegro. Não encontro mais todos os colegas. Mas há saudades,

Propus ontem um tríduo preparando o sábado, dia da entrega dos Prêmios Nobel aos laureados de 2011. Hoje trago alguns dados que que corroboram a tese que se faz manchete de hoje.

Tenho elegido – mesmo aceitando críticas a manipulações deste indicador, abalado, por exemplo, com concessão em 2009 do Nobel da Paz à Barack Obama – a outorga de Prêmios Nobel de Ciências para olhar o predomínio masculino na produção do conhecimento. Os números trazidos aqui decorrem de pesquisas que realizo de maneira continuada em nobelprize.org


Se olharmos os dados dos três prêmios de Ciências desde 1901 a 2011 (não houve premiações em 1940/1942 e o da Paz em alguns outros anos também), veremos um nítido predomínio masculino. Os totais diferentes de cada um dos prêmios se deve ao fato de que, especialmente em anos mais recentes, ser o prêmio dividido entre duas ou três pessoas (na situação de três premiados um pode receber a metade e os outros dois um quarto ou cada um dos três um terço).

Assim temos em Física, entre os 192 laureados, há duas mulheres, uma 1903 e outra em 1963, ambas dividindo, nestes anos com homens.

Em Química há quatro mulheres laureadas de um total 161, das duas ganharam junto com homens (1935 e 2009) e duas sozinhas (1911 e 1964).

Dos 199 laureados em Medicina ou Fisiologia, há dez mulheres sendo que somente uma Barbara McClintock, em 1983. Em 2009 duas mulheres e um homem ganharam o Nobel nesta categoria.

Assim entre os 552 laureados nas três categorias, em 111 anos, há apenas 16 mulheres (apenas três sozinhas). As 16 representam menos de 3%.

Literatura foram premiadas ONZE mulheres em 101.

Paz foram concedidos a QUINZE mulheres entre 98 pessoas e 30 organizações.

Economia: distribuído desde 1965, já foi concedido a 62 homens. Apenas uma mulher até hoje, em 2009, Elinor Ostrom (nascida em 1933 USA) junto com um homem, também estadunidense. Talvez, nessa última referência (apenas uma mulher, haja uma justificativa para o esboroamento do capitalismo: a falta de mulheres na oferta de sua sagacidade ao administrar economias domésticas operando milagres com recursos limitados.

Escrevo no A Ciência é masculina? É, sim senhora! que “os químicos, quando se observa a menor participação das mulheres na Ciência, rebatem essa afirmação dando o destaque que tem Marie Slodowska Curie dentro da história da Ciência. Realmente, uma das mais significativas contribuições da Ciência do século 20 – a estrutura do átomo – tem uma tríade feminina que pode ser considerada como definidora de novos paradigmas para a teoria atômica: Marie Curie, Maria Goeppert-Mayer e Lise Meitner (1878-1968), física nascida na Áustria, e posteriormente naturalizada sueca, descobriu o elemento protactínio em 1918 e é autora da publicação do primeiro trabalho de fissão nuclear, tendo prognosticado a reação em cadeia. Em 1997, a International Union of Pure and Applied Chemistry anunciou o elemento químico com número atômico 109, que recebeu o nome oficial de Meitnerium (Mt) em sua honra. Recebeu o Prêmio Fermi em 1966. (não recebeu o Nobel, mas tem o elemento 109 com seu nome).” Poder-se-ia contra-argumentar que são apenas três os nomes de mulheres mais destacados na área da física nuclear em meio a uma miríade masculina”.

Realmente, não se pode desconsiderar que Madame Curie ostentouuma situação ímpar, não detida por nenhum homem: foi galardoada com dois Prêmios Nobel de Ciência, pois recebeu o Nobel de Física em 1903, juntamente com Pierre Curie e Henri Becquerel (este recebeu a metade do prêmio, enquanto o casal Curie recebeu cada um a quarta parte do valor) e o Nobel de Química em 1911, pela descoberta do Polônio e do Rádio e pela contribuição no avanço da química. A bi-premiação com um Nobel de Ciências se manteve como feito exclusivo de Marie Curie por 61 anos. Linus Pauling também teve duas premiações: Prêmio Nobel de Química (1954) e da Paz (1961).

Em 1972 surge mais um bi-laureado em ciências: o estadunidense John Bardeen (1908-1991) dividiu o Nobel de Física em 1956, pelos estudos dos supercondutores e descoberta do transistor, com seus compatriotas William Bradford Shockley e Walter Houser Brattain, cada um com 1/3 do prêmio para repetir o feito uma vez mais em 1972, dividindo então o Nobel de Física mais uma vez, pelos estudos da teoria da supercondutividade, com seus conterrâneos Leon Neil Coopere e John Robert Schrieffer.

Em 1935, a filha do casal Curie, Irene, recebeu o Nobel de Química, juntamente com o marido, Frederic Juliot-Curie, pela síntese de elementos artificialmente radioativos.

Vale recordar como Marie Curie, em 1911, perdeu por um voto o acesso à Academia de Ciências da França por ser mulher, por ter uma possível ascendência judia e por ser estrangeira, ainda oriunda de um país periférico. Talvez tenha sido a primeira das três qualidades a mais discriminadora.

Quando essa cientista, já viúva, envolveu-se em um caso amoroso com o físico Paul Langevin (1872-1946), que trabalhou com Pierre Curie, chegando independentemente de Einstein, às mesmas conclusões relativas a equivalência massa e energia. Foi o primeiro não britânico a ser admitido no laboratório Cavendish, onde trabalhou com Rutherford. A imprensa sensacionalista explorou a relação amorosa de Langevin e Maria Curie, invadindo a residência desta (uma estrangeira conspurcando a honra da família francesa) para dar publicidade à correspondência íntima, o que não faria certamente se fosse um homem.

Não foi sem motivos que um dos últimos atos de François Miterrand, ao encerrar seu segundo mandato de sete anos como Presidente da França, resgatando desconsiderações históricas, faz levar ao Pantheón as cinzas de Pierre e Marie Curie. Em 20 de abril de 1995, numa festa que engalanava um dos mais imponentes monumentos de Paris, em cujo frontispício consta “Aux grands hommes, la Patrie reconnaissante", se prestava uma justa homenagem a dois cientistas que foram muito importantes no entorno da virada do século 19 para o 20. Miterrand então destacava que “a cerimônia de hoje tem um caráter particular, pois que entra para o Pantheon a primeira mulher honrada pelos seus próprios méritos”. Assim, mesmo que estivesse previsto que aquele era um local destinado aos grandes homens aos quais se homenageia porque a Pátria está reconhecida, se acolhia, então, uma mulher polonesa mais de 60 anos depois de sua morte. Anteriormente, algumas mulheres haviam sido enterradas no Panthéon, ao lado de seus maridos, por isso a referência explícita de Miterrand, a Madame Curie ali ser a primeira a ser celebrada por seus próprios méritos.

Há um excelente filme acerca da vida de Marie Curie. “Madame Curie”, uma obra-prima estadunidense de 1943, é baseado numa biografia de Marie Curie (1867-1934) escrita pela então jornalista Eva Curie, filha de Pierre e Marie. O produtor foi Sidney Franklin para o Estúdio MGM. Roteiro de Paul Osborn, Paul H. Rameau e Aldous Huxley (não creditado) "Madame Curie", realizado por Mervyn LeRoy com Greer Garson no papel de Marie, que aparece como uma mulher brilhante, enamorada da Ciência e Walter Pidgeon como Pierre, no começo com posturas machistas em relação às possibilidades de uma mulher ser cientista, mas que se rende aos encantos e inteligência de Marie. As pesquisas para o isolamento do rádio são muito bem mostradas no filme, produzido nos Estados Unidos, em preto e branco com a duração de 128 min, classificado como um drama biográfico, mesmo com algumas licenças cinematográficas aceitáveis, mesmo que ‘dourem’ alguns fatos históricos. Há uma linda frase que embala a obra cinematográfica: É preciso buscar colocar as pontas dos dedos em uma estrela.

5 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Esse texto corrobora mais uma vez o que você tem reiterado aqui inúmeras vezes. Há um viés de gênero quando se trata de ciência. Se isso pode ser atribuído ao machismo de nossa cultura judaico-cristã é uma observação pertinente. Abraços, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Caro Mestre Chassot
    Mais uma vez estou aqui no aprendizado de quanto a sociedade tem sido machista na avaliação e concessão destes nobéis. Parabéns por teres sido um incansavel propagador da competência feminina em todas as áreas do conhecimento, principalmente quando te dedicas a escrever a respeito e a denominar que a Ciência também Feminina, sim, senhores!!! JB

    ResponderExcluir
  3. Ave Chassot,

    esta semana eu e meus alunos assistimos emocionados ao filme "Alexandria". Passei para todas as turmas, é realmente uma obra de arte.
    Fiquei admirando ainda mais a grande Hipácia, que previu em suas teorias até Copérnico e Galileu.
    Fiquei profundamente aviltado vendo a destruição da biblioteca e ao assassínio cruel, frio e bárbado da cientista. Dói ainda mais lembrar que o mesmo ocorreu a Giordano Bruno e ao Museu de Bagdá, destruído pela guerra em 2003.
    Que mundo este...
    Abraços! Obrigado pela dica.

    ResponderExcluir
  4. Muito estimado colega Guy,
    fico muito feliz que minha sugestão fílmica, quando de minha inesquecível estada no São Mateus tenha representado fruição intelectual para ti e teus alunos.
    Realmente o que se faz em nome do fanatismo ideológico é doloroso.
    Com gratidão por catalisares a outorga do Troféu Giordano Bruno adito uma promessa: honrar seu patrono,

    attico chassot

    ResponderExcluir
  5. Caro Chassot,

    tenho acompanhado, de perto, a tua trajetória no sentido de demonstrar a masculinidade da ciência. O impressionante é que outros saberes também são marcados pelo masculino. Infelizmente, o machismo tem imposto a sua opressão sobre o conhecimento feminino e se arvorado como o 'melhor saber'. Não é diferente nos textos sagrados, especialmente falo pela Bíblia.

    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir