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sábado, 29 de maio de 2010

29* A Ciência é Masculina? É, sim senhora!

Porto Alegre Ano 4 # 1395

Madrugada em que as nuvens impedem fruirmos o plenilúnio. A previsão é de mais um dia nublado. Mas é preferível a opacidade dos céus por nuvens a por cinzas vulcânicas como nesta sexta-feira se anunciou no Equador, remetendo-me a lembranças leitores que esse blogue tem nesse país.

Há mais de um ano, a cada sábado, tenho trazido aqui dicas de leituras. Essa marca das blogadas sabatinas deve credito a uma sugestão de Marcos Vinicius Pacheco Bastos, um historiador que há um tempo mereceu o título de comentarista mais assíduo aqui, completando mais de um ano sem faltar a um comentário diário. Ora maiores atividades profissionais têm causado a vários de nós abstinência de seus sempre instigantes comentários. Mas há promessa escrita de volta.

Como esta tarde participo do Café Filosófico promovido pelos meus alunos do Curso de Filosofia do Centro Universitário Metodista - IPA que terá como tema o meu livro A Ciência é Masculina? permito-me, uma vez mais assuntá-lo aqui.

No dia 11 de março deste ano contei aqui algo que antecipadamente considerei quase uma profanação do livro, pois o livro estava no cardápio em Sarau no Bar Farofa. Foi uma muito concorrida promoção dos Gabinetes do Deputado Ronaldo Zulke e da Vereadora Sofia Cavedon. Na sexta-feira, que se seguiu, levei a mesma discussão à Fundação CEEE, esta em decorrência de palestra que fiz no ano passado na Eletrosul. Hoje a tarde, na Livraria Nova Roma, muito próxima ao Bar Farofa, espero reabilitar-me do que escrevi aqui no dia seguinte: Só lamento que eu não tenha aproveitado mais esse auditório, pois no começo não cria que captaria a atenção dos presentes. Eu me subestimei. Terminado minha fala me imaginava como me superaria se tivesse uma nova oportunidade. Hoje num cenário mais de livro, tenho a desejada oportunidade de superar-me.

Se então esta palestra pela primeira vez tinha como cenário um bar, hoje faço em uma livraria aquela que é uma de minhas palestras que mais apresentei. A Ciência é masculina? É sim, senhora! A primeira vez foi, em 2002 em uma sessão ‘IHU ideias’. Essa palestra já a realizei mais de meia centena de vezes em dezenas de Universidades de vários estados brasileiros como também na França, no México, na Argentina (onde foi publicada em espanhol), no Uruguai e na Colômbia. Na próxima semana faço-a, entre outras atividades, em duas cidades de Rondônia (Ariquemes e Porto Velho).

Nunca é demais recordar que as primeiras falas provocaram polêmicas (e até vaias) a começar pelo título provocativo do livro A Ciência é masculina? e a resposta seguida na página de abertura: É sim, senhora! Sempre contrapus as acusações machistas com as dedicatórias: Para Maria Antônia, minha neta, que, afortunadamente, será mulher em novos tempos e para Gelsa, minha companheira, cujo fazer acadêmico ajuda a chegada destes novos tempos. Esta semana ainda contei aqui que um grupo de estudantes vaiou-me, pois pensavam que minha trazida de algumas concepções machistas do Apóstolo Paulo fosse em defesa de sua ratificação. Qual a finalidade usual pela qual citamos um texto bíblico?

É bom recordar o surgimento do livro que já teve desde 2003 quatro edições. Estava preparando a publicação do Educação conSciência (que escrevera em Madrid; hoje comecei a revisar o material da 3ª edição) quando um capitulo ficava extenso demais. Ele foi desentranhado do mesmo, e depois de apresentado no IHU Ideias, se fez livro independente. Aqui refiro minha gratidão muito especial, ao Instituto Humanitas Unisinos. Ele é um fórum de discussão muito especial. Cabe-lhe uma palavra muito corrente na academia, sem que se atente ao seu significado mais denso: seminário, canteiro onde se semeiam vegetais que depois serão transplantados, um semeadouro de ideias. Tomara que eu contribua para que na tarde deste último sábado de maio eu ajude a fazer do Café Filosófico na Livraria Roma um seminário de ideias.

Palestra em Campina Grande, PB, antecedendo o lançamento do livro, teve destaque no ‘Jornal da Ciência’ da SBPC – http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=14200 – em novembro de 2003.

CHASSOT, Attico. A Ciência é Masculina? São Leopoldo: Editora Unisinos. Coleção Aldus, 16. 2003 4. ed 2009). 110p. ISBN 85-7431-186-3

No livro mostro que não apenas a Ciência é masculina, mas a Filosofia, as Artes (quais as mulheres proeminentes que aparecem na constelação de grandes compositores, pintores ou escultores?), a política (veja o significado de duas palavras ‘os políticos’ e ‘as políticas’), os esportes (qual o destaque que tem um uma copa do mundo de futebol feminino, a masculina, nem precisa adjetivar), as religiões [nada é tão flagrantemente machista como estas. São homens os pregadores e líderes religiosos, na maioria das religiões; estas em geral criações masculinas. Na Igreja católica, além do sacerdócio ser vetado a mulheres, há muitas ordens religiosas femininas fundadas (e até governadas (=disciplinadas) por homens]. Dentro desta mesma análise, quais os nomes de mulheres que poderíamos colocar como similares aos dos sanguinolentos Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Milosevic, Pol Pot, Pinochet, Bush, Sadan, apenas para citar aqueles de quem somos mais próximos temporalmente? Não parece ocorrer nenhum.

No Brasil as mulheres ganham em média 2/3 do salário pago aos homens. Os homens detêm 70% dos rendimentos do país. As mulheres ocupam em torno de 10% das cadeiras dos legislativos. Em cerca 5.560 municípios brasileiros é entorno de 5% o número daqueles em que mulheres são as dirigentes (prefeito) da prefeitura. Poderíamos alinhavar um número extenso de outras discriminações.

Parto do princípio de que não somos sociedades machistas por acaso, e sim devido ao nosso DNA, onde se analisa, em recorte ocidental, três vertentes que nos constituíram como humanos: a grega, que nos legou o saber (os mitos e a filosofia), a judaica, de herdamos as leis e as culpas (cosmogonia e a torá) e a cristã, marcada pelo Amor (Apóstolo Paulo e outros doutores da Igreja Cristã). Discute-se as (des)contribuições destas três raízes que nos fizeram assim.

Na Ciência essa análise pode ser feita por muitos indicadores, por exemplo, listagem de prêmios Nobel. Não é preciso nenhum esforço para se verificar o quanto vivemos numa civilização que ainda tem uma conotação predominantemente masculina. Um exemplo quantitativo, mesmo que possa ter seus critérios de objetividades contestados, é uma lista dos 100 nomes – The One Hundred HART, Michel "The one Hundred - a Ranking of the Most Influential Persons in History. (London: Simon & Schuster, 1996). – que em toda a História da Humanidade, são considerados como os mais significativos em termos de influências, na visão de um amplo universo de respondentes. O resultado é uma lista com noventa e oito nomes de homens e de duas mulheres e estas são duas rainhas – Isabel, a Católica (n. 65) e Elizabeth I (n.94) – que foram personagens muito importantes.

Ao se destacar a presença de algumas mulheres cientistas – Hipátia, Marie Curie, Margareth Mead – se traz duas hipótese para possível superação do machismo na Ciência: uma histórica e outra biológica. O livro quer contribuir para que tenhamos uma sociedade menos desigual quando às diferenças de gênero.

Com votos de um muito bom sábado, a expectativa que algum de meus leitores possa encontrar algum de meus leitores esta tarde.


6 comentários:

  1. Bom, não me farei presente neste café, mas no blogue sim(olha só, mais uma vez o que comentava em outra postagem sobre as distâncias).

    Professor, percebo, na convivência com amigas e companheiras de caminhada, que algumas feministas visam a superação do machsimo, mas acabam reforçando relações de poder subjetivas na sua postura no cotidiano... Por exemplo, após um grupo de estudos, a pausa para descontração... dai, ou se colocam no papel de "mulherzinhas", ou tentam inverter o jogo adotando atitudes vingativas para com os homens... Deste jeito, a Grande Revolução ficará para lá do horizonte!

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  2. Muy querido Profesor Chassot,
    Gracias por su preocupación: ayer Guayaquil estuvo invadido de ceniza. Además, ha habido desplazamientos de comunidades enteras que viven en el área de influencia del volcán Tungurahua. Según los vulcanólogos, ésta ha sido la segunda erupción más fuerte en los últimos tiempos.
    Por otra parte, siempre es un agrado leer sus reflexiones sobre la visión machista del mundo que nos han legado esas tres fuentes que sabiamente cita.
    ¡Que tenga un lindo fin de semana!

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  3. e este sistema que nos rege tem sabido tirar proveito até mesmo desta luta por uma sociedade menos desigual quando às diferenças de gênero, incutindo a idéia de que as mulheres precisam adotar o ritmo de trabalho e consumir produtos tanto quanto os "homens de sucesso". Afinal, mulher do lar não é tão lucrativo quanto "mulher independente", não é mesmo?

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  4. Matilde,
    muy estimada y apreciada lectora guayaquileña,
    ayer cuando he leído la noticia de los temblores del volcán Tungurahua me recordado de las ecuatorianas e ecuatorianos conocidos y he torcido para que nada de grave ocurriese con elles,
    Agradezco por saberte bien.
    Gracias por tus siempre deseados comentarios aquí,
    Con estima y admiración continuada, ~
    un afago
    attico chassot

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  5. Muito querida Marília,
    tua pergunta tem como resposta sim, Mas tu, eu e muitos outros estamos acelerando a chegada de novos temos.
    Obrigado por teus sempre bem postos comentários.
    Com admiração
    attico chassot

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  6. Marília querida,
    teu trabalho na Vila Chocolatão era presença também no Café Filosófico, de onde cheguei hã não muito,
    Tu te fazes presente nos limites entre o humano/não humano.
    Sabes onde está a sonhada revolução? Bem ali onde termina o arco-íris.
    Um muito bom domingo,
    attico chassot

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