TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 17 de maio de 2010

17* Caderno Mais! (*1992 +2010)

Porto Alegre Ano 4 # 1383

Uma segunda-feira que sucede a domingo plúmbeo e carrancudo. Agora com temperatura de 12ºC com previsão de um dia com nebulosidade e úmido e ainda com chuva. Esta prece ser também a perspectiva de toda semana. Isso parece fazer o fim de semana, quando teremos novamente sol, ficar mais longe.

Ontem acenava que, talvez, nesta segunda-feira, trouxesse acerca da destituição do juiz Baltasar Garzón dos processos que examinam os crimes cometidos pelo franquismo. Peço permissão para postergar o assunto. Outra notícia se sobrepôs.

Na primeira página da Folha de S. Paulo deste domingo, recebíamos um presente grego: O Mais! deixa de circular, legando exemplos de liberdade e atualidade na abordagem de temas culturais. Todos meus leitores são testemunhas do quanto aquele que era (sim, dolorosamente o presente se faz passado), talvez, o melhor caderno cultural da imprensa brasileira foi destacado aqui, sendo com muita frequência fonte de várias blogadas.

Assino há Folha desde 1988, logo pelas datas do obituário Mais! (*1992 +2010) sou leitor-testemunho do nascimento e morte do Mais!

Quando o Mais! foi lançado, em fevereiro de 1992, o recebemos com ceticismo: uma das brincadeiras que mais ouvi, dentro e fora da Redação, indagava: "O caderno chama-se Mais! Pois ele foi criado para reunir num só caderno dois produtos muito apreciado da folha: "Ciência" e "Letras".

Um e outro eram à época excelentes artefatos culturais. O ‘Jornal de Resenhas’,

que não recordo quando deixou de circular também foi absorvido com perdas pelo novo caderno.

Alcino Leite Neto, editor do Mais! de 1994 a 2000 é o autor do texto de despedida que está na última página da última edição que circulou ontem. Ele faz um histórico dos sucessos do caderno. Conta, por exemplo, que em oposição ao espírito acadêmico e literário que predominava nos cadernos culturais semanais da época, este foi erguido sobre o seguinte tripé: mais jornalismo, mais atenção aos temas atuais e mais intervenção polêmica no debate sociocultural (e mesmo político) brasileiro.

A preocupação com trazer temas atuais à pauta, por sua vez, foi um modo de evitar a tendência ao passadismo e à museificação, que continuam sendo verdadeiras pragas do jornalismo cultural. Com isso, o semanário abriu-se a assuntos muito variados e heterodoxos, às vezes futuristas.

O ex-editor de Mais! Diz que o caderno foi o primeiro espaço da grande imprensa a levar a sério a internet, quando em 1994, a web ainda era apenas uma fantasia. Em 2000, o assunto de capa ("O livro morreu! Viva o e-livro!") traz uma reportagem minuciosa sobre as experiências com livros eletrônicos -dez anos antes do Kindle e do iPad.

No final do século 20 e do início do século 21 foram abordados: o fim do comunismo, a crise da esquerda, a globalização, o multiculturalismo, as políticas afirmativas, o colapso da psicanálise, a neurociência, a bioética, a entrada na era digital, o terrorismo e a política securitária pós-11 de Setembro, o neoconservadorismo etc. etc.

À parte o tripé que associava jornalismo, atualidade e intervenção, o Mais! tinha outra base editorial, nos bastidores: mais irreverência, mais reflexão e mais liberdade.

Outra atitude destacada por Alcino Leite Neto foi a de nunca considerar o leitor um néscio e sempre acreditar que ele se interessa pelas reflexões mais complexas e mais ousadas. A editoria evitou a todo custo cair no anti-intelectualismo ou na aversão às "vanguardas" das artes e do pensamento – ressentimentos que atingem com frequência o meio jornalístico.
Assim, abriu-se à colaboração inestimável de um numeroso elenco de professores, intelectuais, escritores, dramaturgos, cineastas e artistas plásticos, entre outros profissionais, do Brasil e do exterior, dos mais diferentes matizes políticos e das mais diversas correntes culturais. Sem eles, teria sido apenas um caderno cultural qualquer.

A despedida se encerra dizendo: “Foi a tradição editorial da Folha de um jornalismo

polifônico, aberto e tolerante –- tradição erguida na luta contra a ditadura militar – que inspirou e alimentou essa dinâmica colaborativa, multidisciplinar e calcada na liberdade de pensamento.”

Muito bonita como despedida esse obituário laudatório. Como o Mais! Foi importante. E daí! Mas de que morreu mesmo o Mais!? Essa pergunta não foi respondida. Como leitores, merecíamos mais atenção. Há um anúncio de duas páginas anunciado que no próximo domingo teremos um novo jornal. Mas com o Mais! de menos. Esperemos para ver.

Com votos de uma segunda-feira muito boa e que a semana, especialmente para os gaúchos, seja de crença que o sol, mesmo oculto, continua a existir.

10 comentários:

  1. Meu caro Mestre Chassot! Preocupa-me deveras esse mundo que cada vez mais se torna efêmero e sem conteúdo. Nas avaliações desses proprietários de corporações há um viés sempre direcionado ao LUCRO. Relembremos a morte de nossa FOLHA DA TARDE aqui em Porto Alegre, periódico da memoravel Caldas Junior, que foi suprimido pela competição com a ZH do Grupo Sirotsky. Depois a Universal do Reino de Deus calou definitivamente o Correio do Povo (que hoje é um jornaleco), e recentemente ouvi a Radio Guaiba, que perdeu todas as suas características (pois não fazia comerciais pré-elaborados). Agora é o Caderno MAIS! que, certamente não tendo resultado financeiro compensador, se esboroa (verbo do qual sei que és adepto). Que pena! Começamos mal a semana. JB

    ResponderExcluir
  2. Meu caro Jairo,
    realmente o lucro parece ser a única meta deste mundo capitalista. Outra novidade na mesma direção: aumentam o número de jornais que cobram o acesso a suas versões eletrônicas.
    Uma boa semana, onde parece o sol contrariando as previsões,
    Obrigado por seres leitor deste blogue,
    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. Estimado Mestre,

    É uma pena mesmo...

    O Mais! era uma leitura domingueira obrigatória. Acho que tudo isso está na linha da transformação da Folha em "A Bolha", jornaleco cheio de figuras, gráficos e fotos, mas com textos superficiais.

    Saudações,
    Renato.

    ResponderExcluir
  4. Meu caro Renato,
    realmente no pomposo e laudatório obituário, deixaram de colocar a causa mortis pois é obvia – Mais! Deixou de dar lucro. Obrigado por tua bem posta crítica à Folha/Bolha
    com estima
    achassot

    ResponderExcluir
  5. Boa noite, Professor!
    A verdade bem sabemos [infelizmente]...quanto menos cultura e quanto menos fontes concretas desse tipo de manifestação, melhor.
    Mas bem sabemos também que não o melhor para nós!!
    É uma pena perder um trabalho tão bom...Como as coisas são desvalorizadas em nosso país...terrível!
    .
    p.s.: Vim trazer-lhe uma boa notícia hoje: mais um[a] brasileirinho[a] vem chegando! hehehe!!
    Meu 'dia das mães' me trouxe surpresas e um presente maior: vou ser mamãe outra vez!
    ^^!
    .
    Abraços, mestre!
    .

    ResponderExcluir
  6. Muito querida Thaiza,
    Viva!!!!
    Essa é uma notícia espetacular.
    Fico honrado por este blogue ser um dos locais em que é anunciada a boa nova: tornares-te Mãe mais uma vez.
    Que esse bebê seja bem-vindo ao Planeta que tu com tanta dedicação ajudas a cuidar.
    Estou feliz.
    O assunto do passamento do Mais! Se esboroa ante a grandeza dessa notícia.
    Uma vez mais: “Vivas efusivos!”
    attico chassot

    ResponderExcluir
  7. Obrigada pelo carinho, Professor!
    ^^!
    Muito obrigada mesmo!!

    ResponderExcluir
  8. Olá, Chassot

    Por favor, onde posso conseguir os artigos do Caderno Mais! para download?


    Atenciosamente

    ResponderExcluir
  9. Olá, Chassot

    Por favor, onde posso conseguir os artigos do Caderno Mais! para download?


    Atenciosamente

    ResponderExcluir
  10. Glauco,
    em http://www.folha.uol.com.br/
    há 10 acessos grátis por mês.
    attico chassot

    ResponderExcluir