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sexta-feira, 26 de março de 2010

26*SEX* Da Pauliceia: “Parabéns Porto Alegre!

São Paulo Ano 4 # 1331

Não faz muito a quinta-feira se transmutou em sexta-feira. Como relatei ao encerrar a blogada de ontem , viajei na meia-tarde à capital paulista, para na manhã desta sexta-feira falar para de coordenadores de cursos de Educação Continuada e Especialização em Direito da Fundação Getúlio Vargas. Devo voltar à Porto Alegre no começo da tarde.

Cheguei mais de uma hora atrasado. Congonhas esteve fechado por mais uma chuvarada tão comum aqui em São Paulo.

Nesta noite de quinta-feira, aproveitando estar na mega-metrópole jantei com Claudio Pinhanez. Conheci o Claudio, que é cientista da IBM, há um ano, quando ele, mais outros cinco colegas e eu passamos dois dias em ‘imersão de ideias’ no Hotel Vila Ventura em Viamão, num trabalho para as Faculdades-Senac. Sabendo de minha presença na Pauliceia – agora sem acento – atenciosamente me convidou para uma janta regada por um bom papo. Estivemos no bairro Bixiga, que há muito não visitava. Mesmo de mundos profissionais muito distintos conversamos frutuosamente por mais de duas horas.

Mas, nesta sexta-feira, Porto Alegre faz 238 anos. Mesmo estando em São Paulo, não posso deixar de homenagear a cidade que me acolhe há 52 anos. Não sou nascido na capital dos gaúchos. Mas nela nasceram os meus filhos e minhas filhas, também neta e netos. O evidenciar de meu bem querer à cidade se traduzirá em evocações de meus primeiros anos na cidade.
Quando estava na 2ª série, em 1948 eu era o “Repórter Esso” das freiras. Houve, então, em Porto Alegre o V Congresso Eucarístico Nacional e como preparação, à noite havia um programa radiofônico ‘A voz do Congresso’, patrocinado pela Casa Genta, Rua do Parque 75, fabricante de vidrais. Eu ouvia o programa e no outro dia contava as notícias do Congresso (que incluía cuidados sobre os batedores de carteiras e vigarista em ação) para freiras que não tinham permissão de ouvir rádio.

Recordo que fomos em caravana formada por alunos do ‘colégio das freiees’ de trem ao Congresso; foi a minha primeira viagem à Porto Alegre. Tínhamos uma bandeirinha de papel com nossos dados presa por uma joaninha, para não nos perdermos. Fomos ao Colégio Sevigné, também da congregação das irmãs de São José, onde ganhamos um lanche: um pãozinho com leite condensado dentro. Nunca tinha comido algo tão bom. Na volta de trem, as gurias mais adiantadas, talvez da 4ª serie, foram repreendidas por cantarem uma canção de carnaval que tinha um verso que dizia "Que me importa que a mula manca, o que eu quero é rosetá" tida como obscena.

Nos anos seguintes vim primeiro com meu pai e/ou minha mãe e depois com meu irmão Sirne a Porto Alegre. Estas viagens sempre foram de trem, pois como filho de ferroviário tínhamos abatimento de 75% e nas férias do pai tínhamos passe livre. O trem sai muito cedo de Montenegro (talvez 6h). Minha mãe fazia-nos rezar pelas benditas almas do purgatório para elas nos acordarem. O trem só chegava de volta a Montenegro pelas 21h, depois de sair de Porto Alegre às 18horas. São cerca de 70 km. Quando só o pai e/ou a mãe viajavam, era um feito fantástico estar ainda acordado, às 21 horas.

Nas férias de 1956/57 fiz minha primeira experiência em Porto Alegre. Trabalhei no Bar Caçula do tio Arnaldo e vivi com ele e a tia Rosinha e minhas primas Naldi, Enilda e Rosa Alice e meu primo Carlinhos.

Durante o ano letivo retorno e faço seleção para o curso científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Assim em 1958/59/60 estudo no Julinho. Destes três anos quero destacar uma data.

Trago minhas evocações do dia 29 de junho de 1958, um domingo. Em 2008 nessa data, eu, como muitos brasileiros evocamos um 29 de junho de 50 anos passado, quando o Brasil ganhou pela primeira vez a Copa do Mundo na Suécia. Não vou comentar esse assunto, pois mereceu, em alguns jornais de então, suplementos especiais, com chamadas de capa, a meu juízo, tintadas de exagero: ‘o dia que o Brasil foi inserido no mapa-múndi’.

Por ser dia de São Pedro, padroeiro do Estado, desde que o Império conhecia suas terras mais ‘surenhas’ como Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, fora a data escolhida para inauguração do prédio do Colégio Estadual Júlio de Castilhos na Praça Piratini. Desde março já tínhamos aulas nesse local, ainda em fase de acabamento, desprovido de vidraças. Eu era aluno do 1º Científico. Terminara o Ginásio em dezembro em Montenegro e vivia o meu primeiro ano de Porto Alegre. As solenidades foram pela manhã, marcadas por missa celebrada pelo arcebispo, entre dois magníficos leões de bronze, que se aprendera serem os únicos salvados do incêndio que consumira o antigo prédio do Julinho que ficava não João Pessoa, onde é hoje a Faculdade de Economia da UFRGS.

Após a missa voltei de bonde; primeiro da Azenha até a Riachuelo e desta descia a Borges de Medeiros, para na Praça Parobé tomar o bonde São João, para chegar a rua São Pedro com a Eduardo (nome como era conhecida a avenida Presidente Roosevelt) para ir até a Rua Ernesto Fontoura onde ficava o Bar Caçula onde eu morava e trabalhava. Então os rádios portáteis eram raros e não lembro que na viajada de quase uma hora houvesse ouvido algo acerca do que ocorria em Estocolmo. Neste março, estando na capital da Suécia vi o lendário estádio.

Não recordo muito do jogo. Acompanhávamos por rádio. A Rádio Guaíba, inaugurada no ano anterior, transmitia com esquema considerado inovador. O som ia da Suécia para Suíça e desta para o Rio de Janeiro e daí para Porto Alegre. O locutor era o Mendes Ribeiro que cunhara então um bordão: “Deus não joga, mas fiscaliza!”

A época não havia transmissão por televisão. Na Copa de 1966, no Chile, havia vídeo-taipes vindos de avião, transmitidos 24 depois. Recordo que em 1958 ter pintado um dístico na vitrine do Bar Caçula ‘Brasil Campeão do Mundo’. A maior emoção era o surgimento do “rei Pelé’ um ano mais jovem que eu.

No primeiro científico, estudei no turno da tarde, trabalhando de manhã no Bar Caçula. No segundo e terceiro anos estudei noite, trabalhando de dia no Restaurante da Reitoria da UFRGS. Quem fazia o científico tinha usualmente dois destinos: Engenharia ou Medicina. Quem fazia o Clássico, destinava-se ao Direito. Mesmo estudando naquele que era considerado o Colégio Padrão do Estado, não se falava em alternativas, como Agronomia ou mesmo uma Licenciatura.

Terminado os três anos de científico, fiz em janeiro, vestibular na UFRGS para Engenharia. Então se fazia vestibular unificado para a Escola de Engenharia e a opção por uma modalidade (Civil, Minas, Química...) acontecia durante o 1º ano. Fui reprovado em desenho. Não consegui desenhar uma parábola, como o exigido, com tinta nanquim. Em fevereiro, na segunda chamada, se repetiu o meu insucesso, pela mesma razão. Fiquei muito frustrado. Não sabia o que fazer. Vi que não havia sentido ficar em Porto Alegre, pois meu emprego servia para pagar o aluguel de um quarto de um apartamento que ficava na avenida Getúlio Vargas, que eu compartia com o colega de Julinho Omilton Bonotto, que fora aprovado na Medicina.

Há três anos passados (março 2007), quase ao acaso, tomei o ônibus T3 que passa, sem que soubesse, em quase toda extensão da av. Presidente Roosevelt, que já foi av. Eduardo. Quando vim morar em Porto Alegre era a minha rua. Foi um continuado ‘avivar saudades’ – a ordem é a geográfica –: admirei a Praça Pinheiro Machado, onde beijei a primeira menina; passei pelo Colégio Concórdia onde era minha seção eleitoral e onde fui professor de Química, quando em março de 1964, soube do golpe militar; vi a esquina onde ficava o Bar Caçula, onde eu trabalhava e morava com a família do tio Arnaldo; achei acanhada a igrejinha dos poloneses, onde fiz o dobre de finados quando morreu Pio 12, em outubro de 1958; reconheci prédios onde entregava ranchos à freguesia do bar; vi a parada onde aguardava o bonde para ir ao Colégio Júlio de Castilhos e esperava o ‘operário’ que custava a metade do preço; olhei o velho prédio dos Gondoleiros, onde fiz o meu primeiro título de eleitor.

Trazidas essas memórias vou ampliara minha homenagem a cidade aniversariante na blogada de domingo. Por hoje votos de uma sexta-feira. Desejo estar no inicio do shabath ma Morada dos Afagos. Queiram os céus que esteja satisfeito com minha fala desta manhã. Sei que para isso terei torcida de meus leitores.

4 comentários:

  1. Mestre Chassot, mesmo imersa na violência cada vez mais marcante e impune, Porto Alegre continua sendo uma relíquia e um orgulho para nós, gaúchos.

    Acredito que o agora Prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, não exagerou quando concluiu sua ode a Porto Alegre com a frase "Porto Alegre é demais."

    Ótimo dia.

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  2. Meu caro Marcos,
    tua adesão às homenagens a Porto Alegre são fundadas na tua vinculação a tua Viamão, predecessora no ser a capital dos Pampas.
    Assim digo que Viamão e Porto Alegre são demais.
    Com agradecimento por tua fidelidade a esse blogue
    attico chassot

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  3. Prezado mestre,
    obrigada por compartilhar conosco suas memórias, fico feliz e me sinto também privilegiada como pessoa, que possui, através da internet, a possibilidade de fazer leituras destes seus maravilhosos textos. Pude conhecer um pouquinho da Porto Alegre de ontem através de suas memórias.
    Abraços,
    Maria Lucia.

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  4. Estimada Maria Lúcia,
    primeiro obrigado por teu retorno a comentários aqui nesse blogue. Que bom pudeste curtir um pouco Porto Alegre. Amanhã estenderei mais um pouco a homenagem,
    Um afago com carinho do

    attico chassot

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