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quarta-feira, 24 de março de 2010

24*QUA* Apocrifia, o que é isso?

Porto Alegre Ano 4 # 1329

Esta blogada tem três movimentos independentes. No primeiro faço um rápido rescaldo de pontos que encerravam a agenda de ontem. No segundo – o principal – retomo o assunto da de textos apócrifos ou sobre a prática da apocrifia – assuntados na segunda-feira; isso suscitou comentários de leitores e meus que merecem ter excertos trazidos aqui. Antecipo que então se faz revelação que a mim surpreendeu. No terceiro movimento faço uma reverência póstuma a uma pessoa que admirava que faleceu.

A aula magna, mesmo que eu possa parecer imodesto, foi um sucesso. Eu gostei e senti que a plateia a apreciou. Houve dois detalhes especiais que deram dimensões diferenciada a aula: um, a presença do Pastor Paulo, que depois de fazer a abertura, onde só faltou entoar o “Veni creator Spiritum”, assistiu toda a fala. Perguntei-lhe, ao final, se não estava desempregado pelas minhas posturas em relação à religião e ele respondeu: ‘ao contrário’. O outro, a fala do professor André Reichert, dos cursos de Fonoaudiologia e Pedagogia, surdo de nascença que trouxe questionamento, traduzidos para o auditório por Angela Russo – intérprete de Libras (que antes traduzira a minha fala) e a final meu diálogo com o André Reichert. Um e outro desses detalhes deram emoções especiais à aula magna.

O almoço com me quarteto foi muito agradável. Depois me dava conta que mesmo que estivesse à mesa com o Pedro, meu neto mais novo com quase nove meses, ou ali estivesse o Bernardo, que há mais de 10 anos já me faz saborear o avonado com o nascimento da Maria Antônia, ainda no século passado, ou ali estava a Ana Lúcia esperando mais um mano para o Guilherme ou ainda a Clarissa, minha caçulinha que no próximo mês faz 30 anos, parecia que aquele quarteto eram os guris e as gurias para quem eu contava histórias na rede. Ele hoje eles me fizeram rejuvenescer pelo menos um quarto de século. Isso é bom.

O terceiro momento significativo foi à noite com o grupo de Filosofia. Foi muito discutirmos as não verdades da Ciência e sonharmos situações que eles hão de precisar tais assuntos enquanto professores de Filosofia. Termina uma aula e já estou pensando naquilo que teremos em continuação na próxima terça-feira isso é bom.

Depois da olhada de três pontos de agenda, aquilo que é central hoje: sobre apocrifia .

Luiz Carlos escreveu: Mestre Chassot, Imagine só a minha alegria em ser citado em seu Blog.
Qual não foi a minha surpresa ao visitar o vosso Blog e me deparar com a sua Blogada costumeira e pasme! Sobre o que havia lhe solicitado.

AC escreveu: Mui caro colega Luiz Carlos, a blogada desse 22 de março foi dedicada a tua seriedade intelectual. Outro poderia tomar aquela citação apócrifa [Que não é do autor a que se atribui // Que não foi reconhecido como devidamente inspirado] e colocado um número de página qualquer. Aceita assim por primeiro essa homenagem reconhecia. [...] Por fim um alerta a alunos que copiam texto na Internet: é fácil localizar a autoria e desmascarar a fraude.

Marcos escreveu: Mestre Chassot, a situação que o senhor apresentou na blogada de hoje nos coloca, mais uma vez, no eterno dilema: até onde a internet é um meio que favorece a informação e a educação?
Existem muitos sites e blogs que permitem a fraude, e eu mesmo já fiz esta experiência, criando um artigo sobre um filósofo ficcional na renomada e contestada Wikipedia, e digo-lhe que burlar a segurança dos revisores e editores desta enciclopédia virtual é muito simples, pois as mensagens de alerta que eles colocam no cabeçalho do artigo podem ser removidas com uma simples reedição.
Meu artigo ficou mais de um mês "no ar", e qualquer um poderia ter lido e acreditado nele, devido ao prestígio da Wikipédia. Ainda guardo o printscreen dele.
Fica a pergunta: até onde devemos confiar nas informações disponíveis na grande rede, se até mesmo as mais sérias e confiantes fontes virtuais podem ser fraudadas?

AC escreveu: Meu caro Marcos, realmente trazes uma questão que merece uma blogada especial. Estou te repassando em separado o que aditei ao comentário do Luiz Carlos, pois não sei se leste. Não há dúvida da existência de textos apócrifos na internet.

Por outro lado surpreende (e sem pieguice: me entristece) o que contas com da Wikipédia. Minha experiência é oposta da tua. Já tive verbetes acusados de plágio e realmente estavam corretos, pois usara textos meus que estavam na rede para construir determinado verbete,

Não quero me sentir um ‘professor passando tema’ mas gostaria que escrevesse algo sobre essa experiência coma Wikipédia. O máximo que posso te oferecer é quase uma centena de leitores.

Com continuada admiração mesmo agora te conhecendo, também como um autor dado a apocrifia (que isso fique em segredo!)

Marcos Escreveu: Sem problemas. Segue abaixo o que me solicitas e, em anexo, envio o print screen do artigo.

Que é o filósofo Leonardo de Parma? Para aqueles que conhecem um pouco de filosofia, o nome pode soar desconhecido, e isso instigaria uma pesquisa, daquelas rápidas, que fazemos na internet.

Qual o local mais confiável para esse tipo de pesquisa? Sabemos que a internet oferece muitos recursos, mas há muita informação distorcida e falsa circulando pela

grande rede. Logo, o ideal seria recorrer a um site sério, e não surpreendentemente optamos pela Wikipédia. Consultando o verbete, encontramos um artigo de tamanho médio, apresentando-nos um resumo da vida e da obra de um filósofo do século IV, que foi influenciado por grandes pensadores. Também são listadas algumas citações suas, e uma pequena lista com suas obras conhecidas. Tudo muito bem amarrado e coerente. Porém, há um pequeno detalhe: esse filósofo nunca existiu.

Criar um texto falso, mas com informações inventadas e informações reais misturadas, é trabalhoso, ainda mais quando se trata de filosofia. Entretanto, o que surpreende é a facilidade em veicular esse texto em um site considerado confiável, como é o caso da Wikipédia. A segurança é mínima, e embora os revisores e editores sejam atentos e rapidamente tenham identificado minha fraude, uma simples reedição deu conta de eliminar os avisos deles, e o artigo se manteve no ar por mais de um mês.

Com esse meu relato empírico, quero fazer um alerta importante: não se atenham a pesquisar em um único local, e nunca considerem comprobatórias todas as fontes que apresentem informações com um texto idêntico. Na maioria das vezes, retira-se um texto de um site e veicula-se o mesmo em sites diferentes. Se o mesmo acontece-se com o meu artigo na Wikipédia (algo que felizmente não ocorreu), teríamos muitas fontes auxiliando a disseminar uma invenção, e aconteceria um fenômeno muito comum na internet: uma mentira contada muitas vezes acaba tornando-se verdade para a maioria.

O ideal, ao se fazer uma pesquisa, é não se ater somente à internet. Livros e revistas, embora sejam de acesso mais difícil, são muito mais confiáveis, e falo isso não apenas como Historiador, mas como internauta e professor também. Então, fiquemos atentos àquilo que lermos.

AC escreve: O que meus leitores escreverão, agora?

Um momento póstumo: Leio no obituário da Zero Hora desta terça-feira, que o padre jesuíta Arthur José Rabuske faleceu no sábado, aos 85 anos, em São Leopoldo. Ex-Pesquisador do Instituto Anchietano de Pesquisas, da Unisinos. Em 1999, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unisinos, por sua atuação na área de pesquisa e produção histórica. Rabuske foi o responsável por sugerir o nome de Unisinos à universidade, uma referência à região e ao rio. Dedicou-se à história dos imigrantes alemães e da formação das paróquias no Rio Grande do Sul.

Surpreende, nos diferentes necrológios, o borramento daquela que talvez tenha sido a saga maior do Padre Rabuske. Ele foi o tradutor , anotador e responsável pelos diários do Pe. Balduino Rambo, escrito de 1919 à 1961. Entre os anos 1945-1961, escreveu mais de 10.000 páginas em alemão gótico, sobre os mais variados assuntos, inclusive suas aspirações e conflitos pessoais. Parte destes escritos já estão traduzidos e publicados na obra "Em busca da Grande Síntese", cujo título simboliza toda a vida de Pe. Rambo, que buscou uma grande síntese como ser humano, sacerdote, escritor, cientista e pensador. O terceiro volume [ISBN 85-7431-013-4] não teve mais que algumas horas de circulação. Retirado por decisão de superiores da Companhia de Jesus em 1999. Tenho um exemplar, verdadeira preciosidade, com um minúsculo bilhete: “Professor A. Chassot, com um abraço Pe. Rabuske”. Esse livro materializa as horas que na década de 90 fui, algumas delas em companhia de meu colega e amigo Aldo Melender Araújo, à residência jesuítica fruir da sabedoria do historiador que agora faleceu. Recordo com saudade daqueles encontros.

Uma boa quarta-feira e um convite para fazermos reencontros amanhã.

6 comentários:

  1. Muy querido Profesor Chassot,
    Aquello que relata Marcos como experiencia me parece una alerta muy válida para tener en cuenta. La palabra escrita tiene un "poder" mágico frente a la verbal. Una vez que está escrito algo es como si obtuviera un status de legitimación. ¿No es acaso ése parte del éxito de los periódicos, que se convierten en "fuentes confiables" del registro del social cotidiano? No es casualidad que cite un medio, ya que el internet se está convirtiendo -cada vez más- en uno de los medios más influyentes. Por tanto, con la información pasa como con la comida: hay que cuidar lo que nos llevamos dentro.
    Gracias por la alerta, a los dos, un abrazo cariñoso,

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  2. Muy estimada Matilde,
    tus comentarios remite a la cita de Pilatos cuando los judíos han pedido para que modificase el texto puesto para la cruz de Jesús: “Quod script, script”.
    Yo no absolvería nuestro tan querido y apreciado Marcos tan fácil como tú. ¿Por que el ha hecho eso? Para vivir una experiencia empírica radical, ital vez! Para mí el ha violado una de las instituciones más democrática da internet: la Wikipedía. Y ha sido eso que me ha molestado en la trampa de Marcos. El probablemente no ha traído prejuicios a ninguna persona por qué ha sido generoso y inventado un filosofo a que ningún buscaría. Imagínate si el colocase la biografía de alguien conocido. Todavía dices de manera muy apropiada: Por tanto, con la información pasa como con la comida: hay que cuidar lo que nos llevamos dentro.
    Yo continuaré como un fan de Wikipedía y deseoso que Marcos continúe trayendo sus tan preciosos comentarios cotidianos.
    Gracias por tan importantes consideraciones y permítame aditar que es un honor para ese blogue tenerla como lectora y comentarista, Tu confieres la dimensión internacional a ese blog
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, a ideia da criação do artigo na Wikipedia veio de uma triste comprovação acadêmica: as pessoas preferem concordar com o desconhecido do que admitirem que desconhecem. Isso ocorreu em uma aula com uma professora do Curso de Licenciatura em História, a qual omitirei o nome por questão de ética. Falávamos sobre a importância do homem em sua vida adulta e idosa, e tudo o que era dito pelos colegas, por mais estapafúrdio que fosse, era assentido pela professora.

    Então,em uma "prova de fogo", citei uma frase - inventada na hora - e a atribui há um filósofo conhecido como Leonardo de Parma. Qualnão foi minha surpresa quando a mestra não apenas concordou com minha citação, como também me elogiou por lembrar do quase esquecido Leonardo de Parma?!

    Decepcionado com a experiência, quis ver até onde os meus colegas de graduação poderiam ir, e, brincando com os mais chegados - e que eram meus cúmplices na invensão do filósofo - disse que iria criar um artigo na Wikipedia. Rimos bastante da ideia, mas eis que eu resolvo tentar pô-la em prática e, surpreendentemente, consigo com imensa facilidade.

    O assunto, por mais de uma semana, não foi outro: Leonardo de Parma na Wikipedia. Os meus amigos mais próximos riam, e nós esperávamos para ver a repercursão disso. Pois não é que alguns colegas, para darem ares de que sabiam da existência do ilustre e desconhecido Leonardo, puxaram assunto comigo, falando sobre a leitura que já haviam feito sobre a obra deste filósofo?! Tudo pesquisado, sem dúvida, na Wikipedia, mas transmitido como se fosse um conhecimento de muito tempo.

    E o nosso filósofo foi parar na UFRGS, em uma aula da esposa do professor e amigo Éder Silveira, que sabia da brincadeira e avisou a esposa. Ela usou o artigo para falar dos pseudônimos e pseudo-identidades criadas por alguns artistas, mostrando como é fácil, mesmo em meio a tanta informação, disseminar uma história ficciosa com ares de verdade. Até na FAPA o nosso ilustre italiano apareceu.

    O resultado dessa experiência foi pura e simples decepção, pois mostrou a fragilidade não apenas na veiculação de informações falsas em um ambiente sério, mas também a fragilidade da modéstia de alguns de meus colegas e de uma professora em, simplesmente, admitir que desconheciam algo que, de fato, não existia.

    Por esse motivo, não me arrependo em nada do que fiz, pois tive a prudência de retirar do site o artigo, mesmo podendo ter postergado sua permanência por tempo indetermindado. O que assusta é que, mesmo os editores e revisores seniors da Wikipedia sabendo que eu veiculei uma informação falsa, eu ainda tenho minha conta de editor, sem nenhuma restrição ou aviso.

    Fiquemos de olhos atentos, mentes abertas, e orgulho reduzido.

    Ótimo dia.

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  4. Meu caro Marcos,
    hoje muito esperei teu comentário. Afinal eu fora inclemente contigo na blogada desta quarta-feira. Chega-me já noite adiantada teu comentário, ou melhor, tua significativa e patética [que tem capacidade de provocar comoção emocional, produzindo um sentimento de piedade, tristeza, terror ou tragédia] história de Leonardo de Parma. Tua descrição é literalmente patética.
    Tomei imediata decisão. Tua história não podia ficar escondida num restrito Box de comentário. Alterei pauta e ela estará na blogada de amanhã.
    Por ora, só uma boa noite
    attico chassot

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  5. Mestre Chassot Boa Noite.
    Mestre, estava Eu por três dia em um Forum de Educação aqui de meu Estado (Goiás), que foi realizado em um dos Pontos Turísticos de Goiás cidade de Caldas Novas).
    Mestre, acesso o vosso Blog (pois percebo se não o fizer me falta algo)e vejo com bastante contentamento de que a citação apócrifa em questão serve de alerta em relação a tão complicado tema e que mais pessoas estão preocupadas com a autenticidade dos textos colocados na rede!
    Tenha uma grandioosa noite e um excelente Fim de Semana!

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  6. Meu caro colega Luiz Carlos,
    tua honestidade intelectual catalisou duas das mais significativas blogadas. Agradeço-te imensamente, Tenho orgulho de te ter como leitor,
    attico chassot

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