ANO
11 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
3278
|
Receber presentes, é bom. Se for livro, ainda melhor. Quando
surpresa, é ótimo. Há dias chegou-me pelo correio — nestes tempos que o
carteiro só traz correspondências envelopadas e subscritadas por robôs — um
envelope que apalpadelas e o remetente diziam ser um livro.
PINTO, Élcio Mario. Pererezadas: Jeito Sacizeiro de Ser. São
Paulo: APMC, 95 p. 148 x 210 mm. 2016. ISBN 978-85-69045-89-2 * A edição tem o mecenato da Secretaria Municipal de Cultura de
Sorocaba no abrigo da LINC (Lei de Incentivo à Cultura) em edital de 2016.
O título “Pererezadas: Jeito Sacizeiro de Ser”, causou estranheza
para livros que habitam minha biblioteca, mesmo que na mesma tenha um canto dos
netos, que não é curtido o quanto o avô sonhava. O autor, o professor e
escritor Élcio Mário Pinto já foi apresentado para os leitores deste blogue. Na
edição “Nos pequenos frascos...” de 7 de janeiro deste ano,
compartilhei aqui o seu pequeno grande livro o ‘Bem-te-vi: na terra rasgada, a vida
plantada’.
Eis
que quando as águas de março despediam o verão, desde Sorocaba onde um poeta
nascido em Angatuba se aquerenciou, me chega mais um livro. Mais uma vez um
polilivro. Se o foco são histórias amealhadas e produzidas no folclore
brasileiro o livro traz um sumarento prelúdio escrevinhado (escrevinhar, aqui, na acepção de entreter-se com o escrever) pela professora doutora Maria
Aparecida Morais Lisboa. Ao livro está aditado ainda uma entrevista com
folclorista e poeta Carlos Carvalho Cavalheiro. Na cuidadosa produção do livro
está uma equipe liderada por Adriana Rosa, parceira intelectual e amorosa do Élcio,
responsável pela organização e seleção e produção de ilustrações e imagens). A
cuidadosa revisão e do poeta Sérgio Diniz.
O jornal O Progresso de Tatuí,
SP, em bem lavrada resenha assim apresenta os sete contos onde o nosso
Saci-Pererê é o foco: “A desmistificação do saci é apresentada a partir de um enredo
cativante. O autor pensou em uma criança que se sentia diferente das demais. O
personagem principal, Rique, não sente falta de uma das pernas, muito embora
ela esteja “presente”, o que o levou a uma questão: “Será que sou um saci?”.
O questionamento permite ao menino uma série de conhecimentos a
respeito do “modo de vida dos sacis”. As descobertas incluem o gosto pelas
brincadeiras e travessuras e o entendimento sobre elementos utilizados pelos
sacis. Entre eles, os gorrinhos para guardar de tudo um pouco, os cachimbos que
soltam nuvens e os ventos que os levam para todo lugar.
Em sua aventura, Rique vai conhecendo cada vez mais sobre o
universo do folclore. Os diálogos com os sacis permitem a ele também aproximar-se
da natureza, o que envolveu pesquisa do autor, especialmente para tratar de
bambus.
Os sacis do livro habitam um bambuzal que tem as cores do Brasil
(verde e amarelo). Para descrever com propriedade a planta, Mário Pinto
realizou estudos a respeito das espécies. No livro, ele mescla as informações
com imaginação. Foi assim com os diálogos entre os personagens.”
Reservo a sobremesa desta blogada para uma discreta nota que está
na página 11. Nela aprendo que o estado de São Paulo tem uma lei de 2004 que
consagra dia 31 de outubro como o Dia do Saci. Há na Câmara federal um
projeto de lei de 2013 para tornar a mesma data dia de comemoração nacional. A
escolha certamente foi feita para se contrapor à comemoração colonialista do
dia do Halloween. Escrevo quando recém acompanhamos uma ação colonial
comemorando no dia 17 de março o Saint Patrick Day.
A 31 de outubro temos uma
comemoração magna: No dia 31 de outubro de 1517 — neste ano é o 5º centenário —
Martinho Lutero (Eisleben, norte da
Alemanha, 1483-1546), um sacerdote
católico agostiniano e professor de teologia afixa 95
teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a venda de indulgências. Esta data é celebrada em
vários municípios, especialmente em estados do Sul, onde os luteranos são
presença como o Dia da Reforma. Ao lado de ser o Dia Reforma, poderíamos celebrar, em 31 de
outubro, o ‘Dia da Escola’ o grande presente do
Renascimento ao mundo Ocidental.
Há — no período mais fértil do Renascimento — uma meia dúzia de
propostas de eventos, que decretaram modificações significativas na Europa,
para marcar o fim da Idade Média. Assim, para o seu término são propostos os seguintes
eventos (aqui citados em ordem cronológica): 1439: invenção da imprensa //
1453: queda de Constantinopla // 1453: fim da Guerra dos 100 anos // 1492:
descoberta da América // 1517: Reforma Luterana // 1534: Reforma Anglicana.
Mesmo que eu não seja historiador, se tivesse eleger um, a minha
escolha seria: a Reforma Luterana, desencadeada por Lutero, talvez marcado pelo
meu viés dito ‘igrejeiro’, (leia-se querer ler a história marcada de maneira
significativa pela presença da religião).
Provavelmente, não imaginaríamos que o Saci poderia fazer essa
perezada em nossas datas. Como os 365 dias do ano não são suficientes para
todas as celebrações. Parece que temos uma boa combinação a celebrar. Lutero,
certamente, se encantaria com associação.
Neste 21 de março continuamos comemorando o 31 de outubro, tão especial para nosso estado de São Paulo e para todo o Brasil: vivas ao nosso SACI-PERERÊ!!! Ao mui querido amigo Chassot, que em tantas terras escreve sobre a nossa porção no mundo, cabe-me agradecê-lo. Também quero agradecer aos leitores deste concorrido blog. Tratar da nossa Cultura e da Memória que nos anima (de ânima = vida soprada, sopro vivo, vida) é nutrir-se de identidade, de objetivos, suas causas e razões, assim como suas conquistas e desfechos. Vamos festejar com Chassot, com o nosso Saci, com SP e o Brasil tudo o que nos une como POVO!
ResponderExcluirSalve, Élcio!
Excluirque venha 31 de outubro para celebrarmos Lutero e Saci-Pererê.
Com espraiada admiração
Saci substitui a imposição cultural do Halloween com maestria. Abraços
ResponderExcluirSalve Vanderley!
ExcluirSaudades. Imagino as (a)tribulações sartorianas no Sepé.
Mais uma colonização; O saint Patrick Day. Em Porto Alegre esperava-se nos bares 20 mil pessoas; reuniram 35 mil para evocar o santo desconhecidos da maioria.
Viva Saci-Pererê