ANO
11 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
3277
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Antecedo ao que se faz central neste blogar — uma referência a uma das primeiras sementes para uma teologia feminista — um registro
trazido de meu diário pessoal. Neste dia de São Patrício nele se escreve:
Compareci esta manhã
no CUM-IPA, onde participei da banca de qualificação de Tuani de Morais que
trouxe à discussão a dissertação “Aprendizagem interdisciplinares: construção
de saberes a partir de contexto significativo, nas diferentes áreas do
conhecimento”. A proposta é orientada pelo Prof. Dr. José Clovis de Azevedo e
teve o Prof. Dr. Clemildo Anacleto da Silva como avaliador interno. Recebi,
então, cumprimentos do Prof. Dr. Norberto Garin, coordenador do Programa de
Pós-graduação em Reabilitação e inclusão. Uma vez mais, reverberei sobre o
quanto vir ao IPA se reveste ainda de vivências antípodas muito díspares: agradável / desagradável. Agradável
pelos múltiplos acarinhamentos que de maneira usual me são brindados por parte
daqueles que foram meus colegas e também meus alunos. Desagradável porque mesmo
já passado um ano de minha demissão, que continua me parecendo injusta, eu ainda
não consegui elaborar o luto que tomei pela perda da sala de aula.Presentear com contos
que estão em “Cada homem é uma raça” de Mia Couto foi uma maneira carinhosa de
Tuani afagar com livros a banca. Comovi-me.
Parece oportuno,
antecipar aqui e agora, um dos verbetes que foi aditado ao “Para saber mais” da
oitava edição de “A Ciência é Masculina? É, sim senhora” que devera circular no
outono que se avizinha:
& Lettres
sur l’égalité des sexes [(1838)
Genève: Labor et Fides, 2016. ISBN
978-2-8309-1604-1] com textos de Sarah Grimké (1792-1873) e
Angelina Grimké (1805-1879), nascidas na Carolina do Sul em uma família
proeminente e rica de fazendeiros, mudaram-se Pensilvânia na década de 1820,
onde se tornaram Quakers. Após, tiveram que deixar os Quakers, pois estes se
opunham a mulheres falassem em público. Ambas estão entre as primeiras
estadunidenses a falar em público sobre questões políticas (Wikipédia ‘Sisters
Grimké’). Tornaram-se duas irmãs ativistas nas lutas em prol da abolição da
escravatura, que sabemos o quanto nos Estados Unidos foram emblemáticas e
também foram das primeiras mulheres a usar argumentos teológicos e bíblicos
para defender a lei e a igualdade das mulheres. Estes mesmos argumentos foram
usados de maneira pioneira para defenderem os direitos iguais de negros e
brancos, mostrando que não se podia conceber que a cor de um rosto levasse a
degradantes discriminações fortemente vigentes então. Se dizer isso nos Estados
Unidos do século 19 era ousado, mas isso ser difundido por mulheres e ainda
mulheres ligadas ao protestantismo era impensável. Os argumentos de não se
reconhecerem direitos iguais para negros e branco eram usados para combater
posturas machista, fruto de interpretações bíblicas erradas de inúmeras passagens
bíblicas sobre a relação entre homem e mulher. Tudo isso transforma-se em
bandeiras para defender direitos iguais para homens e mulheres. Isso foi uma
luta tão grande então quanto se pudesse imaginar que os
Estados Unidos elegendo uma negra com presidente. Possuo apenas a
edição francesa publicada na Suíça em 2016. Ela é precedida de uma introdução histórica fascinante pelo professor doutor Michel Grandjean, professor de História do Cristianismo na
Faculdade de Teologia da Universidade de Genebra, que é o tradutor do texto e
também o autor de inúmeras notas, que se reconhece serem da lavra de alguém que
tem expertise em teologia. Encontrei a venda uma edição
estadunidense de 1970, Letters on the
equality of the sexes and the condition of woman de autoria se Sarah Moore
Grimke, ISBN 978-0876810613. O texto pode ser considerado
como um dos primeiros livros sobre o assunto de autoria de mulheres e talvez
uma das primeiras sementes para uma posterior produção de uma teologia
feminista.
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