segunda-feira, 30 de novembro de 2015

30— UM DESPEDIR-SE DE NOVEMBRO


ANO
 10
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EDIÇÃO
 3108

Estamos encerrando o penúltimo mês do ano. Dezembro, em função das festas é um hemi-mês. Estamos quase terminando o ano. Aqueles de nós envolvidos com a docência, além dos encargos de final de semestres (com mais de uma grosa de trabalhos a corrigir) têm acrescido os encargos de fim de ano (Lattes, Sucupira e relatórios).  Não sem razão que pedimos: venham a nós as merecidas férias!
Quando olho novembro vejo que, em suas três primeiras semanas, tive produtivas viagens: Goiânia e Anápolis, primeiro; Ji-Paraná, na segunda e Montes Claros na terceira. Na quarta, tive a agenda bloqueada com compromissos com a 3ª Semana da Didática na UFAM. Por cancelamento do evento, não fui à Manaus; mas, fui (virtualmente) a Belém, onde participei da banca de qualificação do doutorando Luz Silva, na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC) que elabora tese, que tem como tema: A educação patrimonial ambiental na prática pedagógica do ensino crítico transformador.
Ainda, na última sexta uma palestra muito diferente. Salvo muito raras exceções, falo no meio acadêmico. Com o título: “Das certezas à incerteza” conversei com um grupo de jovens da Alest, parceira da Google, em uma atividade denominada “Ciências ao meio dia” em Porto Alegre e São Paulo, simultaneamente. Foi muito significativo e saboroso vê-los curiosos, acerca de temas do cotidiano aos quais estavam, então, dedicando uma leitura crítica.
A um mês de se completar um ano de abandonar as edições diárias deste blogue, vejo que a proposta de duas edições semanais está sendo garantida. Esta é a 10ª edição deste mês, no qual o blogue circulou nos dias divisíveis por 3.Em outubro, as 11 edições foram as terças e quintas. Das edições de novembro destaco a do dia 27 DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS (a do ‘Pesadelo de Darwin’ e dos coelhos australianos). Esta edição recebeu dois comentários, que reedito aqui, pois há a impressão que nem todos os cerca de 300 leitores diários, leem comentários de edições passadas.
O primeiro é CARLOS AUGUSTO B M NORMANN de um músico com mestrado em Biologia na UNICAMP, que exerce atividades como ambientalista. Outro texto é de JAIR C LOPES, um polímata que foi aviador, mas que agora está pousado em Florianópolis onde, também, é poeta ubérrimo.
Vale surpreender-se com estes dois upgrades, que a edição DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS recebeu do Guto e do Jair.
Mais um excelente texto, professor! Aliás, além dos coelhos, há exemplos de desastrosas introduções, tanto de animais quanto de plantas, pelo mundo afora. O pinheiro-americano (Pinus elliotti), o peixe blackbass e o javali aqui no estado, são bons exemplos. Ainda há as tentativas desastrosas de remediar os erros ambientais. Introduzir raposas para caçar os coelhos na Austrália fez com que elas, ao invés de caçar os coelhos, optassem pela fauna local, comprometendo várias espécies.
Nos Estados Unidos, há dois casos bem complicados, envolvendo a indústria de animais de estimação "exóticos". Muitas pessoas adquiriam pítons do sudeste asiático. O problema é alimentar essas serpentes, que comem presas vivas, como coelhos e frangos. Soltas na natureza, elas criaram um sério problema, em especial na Flórida. Outro problema causado por animais de estimação pouco convencionais é o que observou-se com o peixe Pterois volitans. Do oceano Índico, o peixe não tem predadores em outros locais. Exemplares da espécie foram soltos na costa americana, quer seja por danos causados por algum daqueles furacões que se bateu por lá (arrebentando aquários e arrastando os peixes pro mar), ou de propósito mesmo, para que alguém se livrasse de uma mascote indesejada (além de ter espinhos com glândulas de veneno nas nadadeiras, o peixe só come presas vivas, ou seja, outros peixes de aquário, dispostos para que ele os ataque e devore). O resultado é um verdadeiro massacre que esses peixes promovem à fauna aquática, que começaram a procriar da Flórida até o nosso nordeste, passando por todo o Caribe... Tem um porrilhão de outros casos pra relatar, caberiam várias blogadas. Abração, mestre!!
Chassot,
Tenho a vã pretensão de ser meio "australiano", meu filho mais novo é cidadão australiano e minha mulher e eu já fomos quatro vezes para lá. E mais, dia 01/12/15 nasce nosso primeiro neto lá. Um "aussie" autêntico. Bem essas, amenidades foram só o introito, para dizer é o seguinte: A Austrália é, possivelmente, o país que mais sofreu invasão involuntária (nem tanto involuntária algumas vezes) de fauna estranha. Para esclarecer é necessário que se diga: TODOS os mamíferos nativos australianos são MARSUPIAIS, não existem mamíferos placentários originais daquele país. Então desde o DINGO (oriundo da Polinésia), aquele simpático cão amarelado predador que vive no deserto (Out Back) central até o mais recentes como PORCOS e VEADOS selvagens foram introduzidos, às vezes por ingenuidade como o foi o caso dos GATOS DOMÉSTICOS, outras vezes por malícia e dolo, como é o caso dos COELHOS e RAPOSAS, que foram introduzidos pela elite inglesa que queria animais “caçáveis” para seu nobre lazer. O SAPO BOI mexicano, aqui no Patropi também chamado SAPO CURURU, foi introduzido para combater as pragas que prejudicam as plantações de cana-de-açúcar em Queensland. Não deu certo, hoje os sapos são uma praga que está dizimando a fauna miúda como: outros sapos, aves que nidificam no solo, pequenos ofídios, lagartos, lagartixas (gecos) e insetos úteis para polinização. Uma PRAGA na mais pura acepção do termo.
Ainda, RATOS que vieram a bordo de navios, DROMEDÁRIOS levados para servirem de transporte no deserto e que hoje são selvagens, e GATOS, cuja finalidade era combater os ratos, mas que se tornaram o que eles chamam de GATOS DOMÉSTICOS SELVAGENS, já que os felinos fugiram das cidades e hoje representam uma terrível ameaça à fauna nativa. Consta que levaram à extinção dezenas de espécies como aves, pequenos cangurus e outros marsupiais de pequeno porte, cobras, lagartos e até peixes. Tive oportunidade de ver em um museu de história natural um GATO desses de 16 quilos. Eles se tornaram imensos pela falta de predadores e abundância de comida.
Por último, existe um marsupial parecido com uma capivara, muito simpático, que é lento e vive em tocas que ele mesmo cava, o WOMBAT. Pois, o COELHO é rápido, famélico e se alimenta das plantas que o WOMBAT normalmente come. Assim, nas regiões infestadas por COELHOS, os WOMBAT estão morrendo fome. Este comentário é só para complementar o excelente texto do Ruben George Oliven. Abraços, JAIR

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

27— DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS


ANO
 10
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EDIÇÃO
 3107

Na aula de Ética, Sociedade e Meio Ambiente da última segunda-feira fizemos uma participada discussão do documentário de 2004 (assistido em aula anterior) O Pesadelo de Darwin (Le Cauchemar de Darwinis, título original em francês / Darwin's Nightmare, em inglês) escrito e dirigido por Hubert Sauper e resultante de uma parceria entre a França, Bélgica e Áustria. O filme aborda os efeitos sociais e ambientais no Lago Vitória na Tanzânia provocados pela indústria de pesca. O filme estreou em 2004, no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi nomeado/indicado para o Oscar de melhor documentário em 2006.
Durante os debates, foi muito oportuno a trazida do texto vai ser bom..., mas não foi de Ruben George Oliven, professor titular de Antropologia da UFRGS e membro da Academia Brasileira de Ciência, publicado no excelente caderno dominical Proa da Zero Hora do dia 22. Vale transcrever o texto:
O coelho é um símbolo de fertilidade em várias culturas. Esse mamífero se reproduz muito e rapidamente: uma fêmea em idade fértil pode ter de três a seis ninhadas por ano, em cada ninhada nascem de três a 12 filhotes e a gestação dura em torno de 30 dias. Vinte e quatro horas após o parto, a coelha já se encontra em estado de cio novamente.
A Austrália conhece bem a capacidade reprodutiva dos coelhos. Antiga colônia britânica, para lá eram enviados condenados na Inglaterra. Considerada um fim de mundo, era natural que os colonos admirassem e quisessem emular a metrópole.
Thomas Austin, colono que emigrou para lá, era membro da Victorian Acclimatization Society, que tinha como missão “civilizar a savana australiana”. Entre suas iniciativas, estava a de aprimorar a flora e a fauna locais, consideradas inferiores, introduzindo, por exemplo, peixes europeus como o salmão e a truta. Esse processo foi chamado de “imperialismo ecológico” e teve efeitos nefastos no meio ambiente, por causar desequilíbrio e introduzir espécies estranhas no país.
Austin visitou a Inglaterra e tomou gosto pelas caçadas. Em 1859, ele soltou, nas terras de sua propriedade que ficavam a oeste de Melbourne, 24 coelhos que seu irmão tinha enviado. Os animais se adaptaram com grande facilidade ao novo ambiente. Eles não encontraram predadores naturais, já que no seu afã por eliminar animais, Austin também abatera possíveis predadores, como gaviões, águias e gatos. Em 1868, 8 mil quilômetros quadrados de terra ao redor de sua fazenda tiveram que ser abandonados depois de arrasados pelos coelhos.
Houve uma impressionante procriação dos leporídeos que hoje ocupam mais da metade da superfície da Austrália. Trata-se da mais rápida migração de animais mamíferos no mundo. Em 1940, a população de coelhos australianos era estimada em 800 milhões – e cada um era responsável por causar dano equivalente a um dólar australiano, tendo se tornado uma praga difícil de controlar. Eles são o maior fator de perda de espécies de plantas, ao destruirem árvores e comerem plantas nativas. Ao deixarem, assim, o solo exposto, causam grande erosão. Pequenos animais, como os papagaios, também foram dizimados pelos coelhos.
Desde o século 19, o país tenta conter essa população predadora. As primeiras tentativas de controle envolveram caça, envenenamento e construção de cercas. A mais longa dessas cercas tem o comprimento de 1.150 quilômetros. Na década de 1950, a inoculação do vírus da mixomatose eliminou 95% dos coelhos australianos, mas os 5% restantes desenvolveram imunidade a ele e reiniciaram o crescimento de sua população.
  Foto: John Loo / Wikicommons publicada no Proa digital
A partir da década de 1990, foi introduzido o calicivírus chinês, junto com a pulga de coelho europeu. Isso ajudou a reduzir a população de leporídeos, mas eles continuam sendo uma praga em várias regiões da Austrália.
Durante épocas de crise e de desemprego, o coelho acabou se tornando uma fonte de proteínas. Nesse contexto, caçá-los não era um esporte, mas uma questão de sobrevivência. Nos anos 1930 e durante as grandes guerras, coelhos pegos em armadilhas garantiam comida e renda adicional. Eles também eram utilizados como alimento de animais de criação.
A propósito de sobrevivência, existe um grupo de pressão chamado “Foundation for the Rabbit-Free Australia” (“Fundação para a Austrália Livre de Coelhos”). O ódio é tamanho que se desenvolveu um movimento para expulsar a espécie dos festejos pascais. Em vez do coelho da Páscoa, promove-se o Bilby da Páscoa, um marsupial australiano que tem orelhas parecidas com a dos coelhos e está ameaçado de extinção justamente por causa deles. A introdução de coelhos na Austrália e a consequente devastação que causaram se enquadram no que pode ser chamado de “consequências não intencionais”, isto é, efeitos não previstos e indesejáveis de uma medida. O coelho pode ser um animal fofo e simpático no imaginário das crianças e símbolo de sexualidade para os adultos, mas deixado à solta… não vai ser nada bom, não foi?

terça-feira, 24 de novembro de 2015

24— UMA BLOGADA EM TRÊS MOVIMENTOS


ANO
 10
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EDIÇÃO
 3106

Teço esta blogada em três movimentos: #1) Uma pavana chamada saudades, onde se evoca marcas fortes que tem a data de hoje. #2) Uma sonata que marcada pela tolerância, que mostra a disseminação do bom nas redes sociais. #3) Um sinfonia para se aprender a viver juntos, numa realidade chamada cidade.
#1) Uma pavana chamada saudades. Há datas que tem marcas fortes em nossas histórias. 24 de novembro é talvez para mim a de mais densas emoções. Hoje é dia de aniversário do Sirne (1940-2002). Erámos sete filhos. Eu o primeiro. Ele o segundo. Um ano e 18 dias de diferença. Houve tempo que passávamos por gêmeos. Já faz 13 anos que ele partiu. Mas parece que a cada dia se aviva mais a saudade. Ter ele morrido quando estava em pós-doutorado em Madri, parece que potencializa a saudade.
Minha saudade é incomparavelmente menor que a daqueles que perderam pessoas queridas nos ataques terroristas. A dor deles, especialmente de Melvil e Antoine, que estão no segundo movimento, se faz exemplo para aprendermos a ser tolerantes.
#2) Uma sonata que marcada pela tolerância. Nesta segunda lemos na aula da Universidade do Adulto Maior uma carta que já foi disseminada, em dezenas de idiomas nas redes sociais. Meus alunos pediram que a colocasse no blogue. Antoine Leiris é o nome de um jornalista francês, até aqui desconhecido do grande público, mas que está inspirando o mundo após perder uma das pessoas mais importantes em sua vida nos atentados da última sexta-feira, 13 de novembro, em Paris: a mulher e mãe de seu filho.
O jornal Libération divulgou a carta do recém-viúvo e ela tem se tornado viral. Os motivos são óbvios: inspiradora, tocante, a carta é uma prova de que o amor vencerá.
Vocês não terão o meu ódio
Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez a sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.
Por isso eu não vos darei o presente de vos odiar. Vocês procuraram-no, mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.
Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no país das almas livres a que nunca terão acesso.
Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio.
#3) Um sinfonia para se aprender a viver juntos. Na noite desta segunda ocorreu a última das oito sessões do Fronteiras do Pensamento 2015. Ouvimos Janette Sadik-Khan, uma jovem urbanista estadunidense. Ela ficou conhecida ao transformar, em questão de dias, ruas e avenidas como a Broadway, reduzindo as pistas para os carros e ampliando o espaço para as pessoas. Formada em Ciências Políticas pela Faculdade Occidental e mestre em Direito pela Universidade de Columbia, foi Secretária de Transportes de Nova York de 2007 a 2013, durante a gestão do prefeito Michael Bloomberg. Em seus projetos, mudou o cenário da cidade, privilegiando o pedestre, o ciclista e o transporte público.
Em sua gestão, liderou quase 5 mil colaboradores e administrou mais de 10 mil quilômetros de ruas e centenas de pontes, apresentando novos conceitos e aproveitamentos à população nova-iorquina, através de testes rápidos e ensaios regulares. Além da Broadway Boulevard e da área na Times Square, criou outras dezenas de novas praças para pedestres, aumentando a circulação e incentivando o comércio local. Com mobiliário simples e provisório, estudava os impactos para, posteriormente, sugerir mudanças a longo prazo, com design melhorado. Também criou mais de quatro centenas de novas ciclovias e vias compartilhadas.
Atualmente, é presidente do Strategic Advisory Board da National Association of City Transportation Officials e diretora de transportes da Bloomberg Associates, onde trabalha com prefeitos de todo o mundo para redesenhar cidades com projetos rápidos e de baixo custo. Usuária das ciclovias, em 2013 colaborou para o projeto de compartilhamento de bicicletas em Nova York, tornando a cidade uma das capitais mais amigáveis à bicicleta nos Estados Unidos.
Janette Sadik-Khan defende que somente a criação de ciclovias não promove mudanças, pois é necessário negociar com o comércio e criar atrativos para que as pessoas frequentem as novas vias. Suas contribuições foram agraciadas com os prêmios da Fundação Rockefeller e do American Institute of Architects.
Os humanos optaram por morar em cidades. É cada vez maior o êxodo rural. O aumento da população urbano só é viável se diminuirmos os automóveis.

sábado, 21 de novembro de 2015

21— A formação de um cientista


ANO
 10
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EDIÇÃO
 3105
Há alguns dias, terminei de ler Fome de Saber livro de memórias de Richard Dawkins. Fez-se inevitável para mim, por primeiro, comparar com a autobiografia de Olivier Sacks, Sempre em movimento: uma vida, resenhada neste blogue em 11/10/2015. As evocações de Sacks me encantaram muito mais que as de Dawkins, mesmo que, talvez, tenha me decepcionado por três arestas que não quisera ver em alguém que tenho como ídolo: 1) seu envolvimento continuado com drogas pesadas; 2) os exageros do motoqueiro fanático; e 3) o halterofilista um tanto exagerado no culto ao corpo. Talvez o ponto de destaque do livro é como Sacks lida bonito com sua homossexualidade.
DAWKINS, Richard. Fome de Saber A formação de um cientista, Memórias. [Original inglês: An appetite for wonder (Tradução Érico Assis)] 344p. 14.00 x 21.00 cm; 416g; lançamento no Brasil, 15/05/2015. ISBN 978-85-359-2583-8. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Dawkins é um falso africano de 74 anos, nasceu em, Nairóbi Quênia, em 26 de março de 1941. Seus pais serviam, então, a coroa britânica em diferentes colônias na África ao tempo de Jorge VI (Rei de 1932~1952). Lá nasce e cresce um menino que se descreve prodígio e que pelo seu berço de pais naturalistas torna-se um biólogo evolucionista, considerado mais darwiniano que o próprio Charles Darwin.
As críticas usuais que dirijo no meu blogue a Richard Dawkins – que ouvi e aplaudi emocionado (e, também, decepcionado), em 25 de maio de 2015, no auditório Araujo Vianna, em Porto Alegre, junto com quase 4 mil pessoas – e a José Saramago não são, apenas, por suas militâncias ateístas, mas pelo deboche que fazem de Deus. Isso me ofende, pois destrata o Deus que foi de meus pais. Não me parece ético fazer conversões de religiosos ao ateísmo. Faço uma afirmação: algo que me encanta é dialogar com uma pessoa religiosa. Atesto isso num prosaico episódio familiar. Certa vez telefonei, para a casa de um de meus filhos. Atendeu-me minha neta. Ao pedir para falar com seu pai, respondeu: ‘Papai, agora, está rezando!’. Fiquei muito emocionado. Mais fiquei muito feliz. Outro pai talvez tivesse que ouvir que o filho estava chapado ou consumindo drogas.
O pseudo-título de ‘Papa dos ateus’ atribuído à Dawkins, foi ratificado com seu livro mais polêmico, Deus, um delírio [São Paulo, Companhia das Letras, 2007] no qual, num texto sagaz e sarcástico, ataca impiedosamente o que considera um dos grandes equívocos da humanidade: a fé em qualquer divindade sobrenatural.
Neste livro de memorias Dawkins fala muito pouco na defesa do ateísmo. De seus livros o que merece maiores comentários nestas memórias é O gene egoísta, (1976) seu primeiro livro, lançado em 1976 (no Brasil: São Paulo, Companhia das Letras, 2007) no qual popularizou o gene como a principal unidade de seleção na evolução e que catapultou Dawkins ao estrelato. Também introduziu o termo “meme", o equivalente comportamental do gene, para incentivar o pensamento de que os princípios darwinianos podem ser estendidos para além dos domínios dos genes.
Dawkins conta em Fome de saber uma história sobre Galileu, que parece importante destacar aqui e “resume a novidade da Ciência renascentista – [...] este estava apresentando a um homem instruído algum fenômeno astronômico através do telescópio. O cavalheiro disse, mais ou menos: ‘Senhor, sua demonstração com telescópio é tão convincente que, não afirmasse Aristóteles o contrário, eu acreditaria’” (2015, p.167). Eu não teria melhor ilustração para mostrar a marca do dogmatismo. Transcorrido 2.000 anos a autoridade de Aristóteles, ainda se impunha frente a experimentação. Não há como não lembrar um iluminista escocês: “Se acreditamos que fogo esquenta e a água refresca, é somente porque nos causa imensa angústia pensar diferente!” David Hume (1711-1776).
Encero este comentário com uma observação muito pessoal: Ver em uma orquestra uma violoncelista sempre tem para mim certo erotismo. Isso aumentou muito lendo Fome de Saber onde relata: “Só fui perder a virgindade muito depois, na idade bem avançada de 22 anos, em Londres, com uma linda violoncelista. Ela tirou a saia para poder tocar para mim, em sua quitinete (não há como tocar violoncelo com saia apertada) — e então tirou o resto da roupa” (2015, p. 171). É fácil imaginar (gosto deste verbo: fazer imagens) a linda cena.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

18— Pela primeira vez em MONTES CLAROS


ANO
 10
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EDIÇÃO
 3104

Esta postagem ocorre desde Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. Uma cidade fundada há 158 anos, com cerca de 300 mil habitantes, distante 422 km de Belo Horizonte. Embora situado na região Sudeste do país, o município de Montes Claros, devido às suas características climáticas, econômicas, sociais e culturais, está inserido na região mineira da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), recebendo incentivos fiscais e financeiros concedidos por essa agência de desenvolvimento regional. Através da SUDENE o município é contemplado com projetos de investimentos. Um querido amigo mineiro, sabendo desta viagem assim fez votos: Felicidades na simpática terra norte-mineira-sul-baiana-são-franciscana só um polímata como o Tavinho, para esta síntese rigorosa (ou vigorosa) em só adjetivo.
Considerada um polo universitário, Montes Claros conta com a presença de três universidades públicas: a Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) e um Campus IF-Norte Mineiro. Estas e diversas faculdades privadas que oferecem cursos nas diversas áreas e fazem da cidade um reconhecido polo universitário.
Cheguei aqui por dois voos: Porto Alegre / Belo Horizonte / Montes Claros. Uma vez mais encontros causais produzem efeitos. No primeiro trecho conversei ‘de maneira interessante’ com uma fotógrafa de modas; no segundo aprendi muito com a Viviana, uma enfermeira que como eu chegava aqui a primeira vez para proferi palestras.
Estou na cidade que ao chegar celebrava esperada chuva para participar de evento que ocorre desde ontem na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes): o III Congresso Biotemas, juntamente com a II Mostra Científica Biotemas na Educação Básica/Pibid, com o tema “Luz, Ciência e Vida”. A iniciativa está inserida no Projeto Biotemas na Educação Básica – integração Universidade-Escola, coordenado pelos departamentos de Estágios e Práticas Escolares e de Biologia Geral.
No aeroporto, fui atenciosamente recebido pelas professoras doutoras Luzimara Brás Machado e Fabiana Matrangolo, organizadoras dos eventos e que já há messes organizaram minha vinda. Almocei com a Fabiana e disse ao final: os saberes saborosos deste encontro dispensam qualquer sobremesa.
Na noite de hoje, fiz a palestra “O que é Ciência, afinal?” para um auditório muito atencioso formado por professores e alunos de licenciaturas. Como em diferentes locais houve a solicitação para muitas fotos, das quais algumas já antes do final da palestra estavam nas redes sociais. Hoje a situação de autógrafos foi bastante diferente. A comissão organizadora incluiu no preço da inscrição o valor de 20 reais que dava direito a um exemplar de A Ciência é masculina? É, sim senhora! Assim só deste livro houve uma centena de autógrafos. Destes momentos o professor de Matemática (e também astrônomo) Alisson fez o registro que está em seguida. Sou grato, de uma maneira muito especial, a Andressa, uma bióloga, também competente livreira.
Já estou prevenido que o minicurso “Diálogo entre os saberes primevos, escolares e acadêmicos’ previsto para amanhã se transformará em palestra, como ocorreu na última quinta em Ji-Paraná, em função do número elevado de inscritos.
Retorno na manhã de sexta-feira, quando aqui, e em centenas de cidades brasileiras, se comemora, neste 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. A data refere-se à morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do maior dos quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. 
A propósito, os vereadores de Porto Alegre, nesta semana definiram a comemoração do “Dia da Consciência Negra, como feriado municipal celebrável sempre no terceiro domingo de novembro.