ANO
10 |
EDIÇÃO
3108
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Estamos encerrando o
penúltimo mês do ano. Dezembro, em função das festas é um hemi-mês. Estamos
quase terminando o ano. Aqueles de nós envolvidos com a docência, além dos
encargos de final de semestres (com mais de uma grosa de trabalhos a corrigir)
têm acrescido os encargos de fim de ano (Lattes, Sucupira e relatórios). Não sem razão que pedimos: venham a nós as merecidas férias!
Quando olho novembro
vejo que, em suas três primeiras semanas, tive produtivas viagens: Goiânia e
Anápolis, primeiro; Ji-Paraná, na segunda e Montes Claros na terceira. Na
quarta, tive a agenda bloqueada com compromissos com a 3ª Semana da Didática na
UFAM. Por cancelamento do evento, não fui à Manaus; mas, fui (virtualmente) a
Belém, onde participei da banca de qualificação do doutorando Luz Silva, na Rede
Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC) que elabora tese, que tem como tema: A
educação patrimonial ambiental na prática pedagógica do ensino crítico
transformador.
Ainda, na última sexta uma palestra muito diferente. Salvo muito
raras exceções, falo no meio acadêmico. Com o título: “Das certezas à incerteza”
conversei com um grupo de jovens da Alest, parceira da Google, em uma atividade
denominada “Ciências ao meio dia” em Porto Alegre e São Paulo, simultaneamente.
Foi muito significativo e saboroso vê-los curiosos, acerca de temas do cotidiano
aos quais estavam, então, dedicando uma leitura crítica.
A um mês de se completar um ano de abandonar as edições diárias
deste blogue, vejo que a proposta de duas edições semanais está sendo
garantida. Esta é a 10ª edição deste mês, no qual o blogue circulou nos dias divisíveis
por 3.Em outubro, as 11 edições foram as terças e quintas. Das edições de
novembro destaco a do dia 27 DESEQUILÍBRIOS
AMBIENTAIS (a do ‘Pesadelo
de Darwin’ e dos coelhos australianos). Esta edição recebeu dois comentários,
que reedito aqui, pois há a impressão que nem todos os cerca de 300 leitores
diários, leem comentários de edições passadas.
O primeiro é CARLOS AUGUSTO B M NORMANN de um músico com mestrado em Biologia na UNICAMP, que exerce
atividades como ambientalista. Outro texto é de JAIR C LOPES, um polímata que foi aviador, mas que agora está pousado em
Florianópolis onde, também, é poeta ubérrimo.
Vale surpreender-se com estes dois upgrades, que a edição DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS recebeu
do Guto e
do Jair.
Mais um excelente texto, professor! Aliás, além dos coelhos, há
exemplos de desastrosas introduções, tanto de animais quanto de plantas, pelo
mundo afora. O pinheiro-americano (Pinus elliotti), o peixe blackbass e o
javali aqui no estado, são bons exemplos. Ainda há as tentativas desastrosas de
remediar os erros ambientais. Introduzir raposas para caçar os coelhos na
Austrália fez com que elas, ao invés de caçar os coelhos, optassem pela fauna
local, comprometendo várias espécies.
Nos Estados Unidos, há dois casos bem complicados, envolvendo a
indústria de animais de estimação "exóticos". Muitas pessoas
adquiriam pítons do sudeste asiático. O problema é alimentar essas serpentes,
que comem presas vivas, como coelhos e frangos. Soltas na natureza, elas
criaram um sério problema, em especial na Flórida. Outro problema causado por
animais de estimação pouco convencionais é o que observou-se com o peixe
Pterois volitans. Do oceano Índico, o peixe não tem predadores em outros
locais. Exemplares da espécie foram soltos na costa americana, quer seja por
danos causados por algum daqueles furacões que se bateu por lá (arrebentando
aquários e arrastando os peixes pro mar), ou de propósito mesmo, para que
alguém se livrasse de uma mascote indesejada (além de ter espinhos com
glândulas de veneno nas nadadeiras, o peixe só come presas vivas, ou seja,
outros peixes de aquário, dispostos para que ele os ataque e devore). O
resultado é um verdadeiro massacre que esses peixes promovem à fauna aquática,
que começaram a procriar da Flórida até o nosso nordeste, passando por todo o
Caribe... Tem um porrilhão de outros casos pra relatar, caberiam várias
blogadas. Abração, mestre!!
Chassot,
Tenho a vã pretensão
de ser meio "australiano", meu filho mais novo é cidadão australiano
e minha mulher e eu já fomos quatro vezes para lá. E mais, dia 01/12/15 nasce
nosso primeiro neto lá. Um "aussie" autêntico. Bem essas, amenidades
foram só o introito, para dizer é o seguinte: A Austrália é, possivelmente, o
país que mais sofreu invasão involuntária (nem tanto involuntária algumas
vezes) de fauna estranha. Para esclarecer é necessário que se diga: TODOS os
mamíferos nativos australianos são MARSUPIAIS, não existem mamíferos
placentários originais daquele país. Então desde o DINGO (oriundo da
Polinésia), aquele simpático cão amarelado predador que vive no deserto (Out
Back) central até o mais recentes como PORCOS e VEADOS selvagens foram
introduzidos, às vezes por ingenuidade como o foi o caso dos GATOS DOMÉSTICOS,
outras vezes por malícia e dolo, como é o caso dos COELHOS e RAPOSAS, que foram
introduzidos pela elite inglesa que queria animais “caçáveis” para seu nobre
lazer. O SAPO BOI mexicano, aqui no Patropi também chamado SAPO CURURU, foi
introduzido para combater as pragas que prejudicam as plantações de
cana-de-açúcar em Queensland. Não deu certo, hoje os sapos são uma praga que
está dizimando a fauna miúda como: outros sapos, aves que nidificam no solo,
pequenos ofídios, lagartos, lagartixas (gecos) e insetos úteis para
polinização. Uma PRAGA na mais pura acepção do termo.
Ainda, RATOS que
vieram a bordo de navios, DROMEDÁRIOS levados para servirem de transporte no
deserto e que hoje são selvagens, e GATOS, cuja finalidade era combater os
ratos, mas que se tornaram o que eles chamam de GATOS DOMÉSTICOS SELVAGENS, já
que os felinos fugiram das cidades e hoje representam uma terrível ameaça à
fauna nativa. Consta que levaram à extinção dezenas de espécies como aves,
pequenos cangurus e outros marsupiais de pequeno porte, cobras, lagartos e até
peixes. Tive oportunidade de ver em um museu de história natural um GATO desses
de 16 quilos. Eles se tornaram imensos pela falta de predadores e abundância de
comida.
Por último, existe
um marsupial parecido com uma capivara, muito simpático, que é lento e vive em
tocas que ele mesmo cava, o WOMBAT. Pois, o COELHO é rápido, famélico e se
alimenta das plantas que o WOMBAT normalmente come. Assim, nas regiões
infestadas por COELHOS, os WOMBAT estão morrendo fome. Este comentário é só
para complementar o excelente texto do Ruben George Oliven. Abraços, JAIR
e o tema puxa as memórias... devido às introduções feitas pelos polinésios e colonizadores, a Nova Zelândia, que somente incluía em sua mastofauna terrestre três espécies de morcego (não falo dos pinípedes e cetáceos aqui), hoje apresenta animais vindos da Austrália, Europa, Ásia e África. Ao todo, foram introduzidas 65 espécies de mamíferos por lá. Isso impactou muito as aves, em especial as não voadoras, como o kiwi e os papagaios kakapo, de hábito terrícola. 46% das espécies de aves endêmicas de lá foram extintas por ação direta dessas introduções.
ResponderExcluirNo Brasil, dois cidadãos emplumados exóticos expulsam várias aves nativas das áreas urbanas: o pardal, de origem na península ibérica, e o pombo-correio, mais competitivos, expulsaram aves como o tico-tico das áreas das cidades. Também a soltura de papagaios não nativos do estado do RS, como o Amazona aestiva, pode ter maus resultados a médio prazo. No RS, temos nativos o papagaio charão (Amazona petrei) e o de peito-roxo (Amazona vinacea). Os resultados podem ser imprevisíveis...
Por falar em Tico-tico
ResponderExcluirPenso que talvez uma das aves mais tipicamente brasileira seja o tico-tico, já mereceu uma composição musical de Zequinha de Abreu, que se tornou icônica na voz de Carmem Miranda e que foi gravada até por Ray Conniff. É uma ave pequena e seu nome de origem guarani deriva de seu canto. Conhecida como jitica no Paraná, na cidade onde nasci sua sobrevivência encontra-se ameaçada pela ocupação humana e pelas ações predatórias do pardal, ave oriunda da Europa, mas que foi importada no tempo do Brasil colônia com o fito de eliminar as pragas que atacavam as lavouras. Não livrou as lavouras das pragas e a própria ave se tornou uma praga que se alimenta dos grãos nas roças, faz o ninho nos beirais das casas de madeira dos colonos, bem como expulsa o tico-tico de seu ambiente. Como quase toda solução “ecológica” sem base científica, a importação de pardais foi um tiro no pé.
Mas quero falar dessa vítima mais comum dos pardais, o tico-tico. O tico-tico é uma ave passeriforme da família Emberizidae. É um dos pássaros mais conhecidos e estimados do Patropi. Vive (ou vivia) em todas as regiões do País, com exceção das áreas florestadas da Amazônia. É migratório no Rio Grande do Sul e Paraná, aparecendo em bandos provavelmente procedentes dos países vizinhos. Encontrado também do México ao Panamá e na maior parte da América do Sul até a Terra do Fogo. Apesar dessa distribuição quase continental, não é mais tão comum vê-lo próximo aos centros urbanos.
Costumam se reproduzir na primavera-verão. Durante a reprodução vivem estritamente aos casais sendo extremamente fiéis a um território, que o macho defende com garra contra a aproximação de outros machos de sua espécie. O ninho, pouco elaborado, é uma tigela aberta e rala, feito de capim seco e raízes, às vezes rematado por dentro com crina e pêlos de animas. A fêmea bota de 2 a 4 ovos, que são de cor verde-amarelado com uma coroa de salpicos avermelhados. O fato de construir seu ninho próximo ao solo facilita a ação de predadores, especialmente cobras, que gostam de se alimentar de seus ovos e filhotes.
Contudo, o que mais torna complicada a reprodução desse passarinho são os chupins. O chupim (Molothrus bonariensis) é uma ave passeriforme da família Icteridae. O chupim não constrói ninhos, é conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no ninho de outras aves, para que as mesmas possam chocá-los, criar e alimentar seus filhotes. Por isso, acabou virando sinônimo de aproveitador, costuma-se referir, com certa justiça é bom que se diga, àquele que vive a custa dos outros como chupim. São diversas as espécies parasitadas por essa ave, mas a mais comum de se ver alimentando um filhote de chupim, é o tico-tico, porque os ovos de ambas as aves são muito parecidos, embora os do chupim sejam um pouco maiores. E a jitica é ingênua o suficiente para não notar que os ovos não são dela. O mais perverso dessa estratégia reprodutiva adotada pelos chupins é que os filhotes destes são maiores que os do tico-tico, de forma que a maior parte da comida que os pais tico-tico trazem vai para os chupinzinhos e, muitas vezes, os filhotes do tico-tico morrem de fome. Mais uma vez a simplória jitica é enganada, é vítima dessa tragédia grega com final anunciado.
Dessa forma, o notável passarinho que deu nome a uma revista infanto-juvenil nos anos trinta e quarenta; foi objeto de um dos chorinhos mais populares e tocados do Planeta; e nomeia um tipo de serra manual usada para fazer cortes em curvas de raio bem pequeno, está à mercê de uma ave que só consegue se reproduzir parasitando outra. Será que é válido fazer uma analogia com a faustosa vida dos políticos (chupins) em Brasília, usufruída graças ao povo bisonho (tico-tico) desse país? JAIR, Floripa, 14/12/11.