segunda-feira, 30 de novembro de 2015

30— UM DESPEDIR-SE DE NOVEMBRO


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3108

Estamos encerrando o penúltimo mês do ano. Dezembro, em função das festas é um hemi-mês. Estamos quase terminando o ano. Aqueles de nós envolvidos com a docência, além dos encargos de final de semestres (com mais de uma grosa de trabalhos a corrigir) têm acrescido os encargos de fim de ano (Lattes, Sucupira e relatórios).  Não sem razão que pedimos: venham a nós as merecidas férias!
Quando olho novembro vejo que, em suas três primeiras semanas, tive produtivas viagens: Goiânia e Anápolis, primeiro; Ji-Paraná, na segunda e Montes Claros na terceira. Na quarta, tive a agenda bloqueada com compromissos com a 3ª Semana da Didática na UFAM. Por cancelamento do evento, não fui à Manaus; mas, fui (virtualmente) a Belém, onde participei da banca de qualificação do doutorando Luz Silva, na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC) que elabora tese, que tem como tema: A educação patrimonial ambiental na prática pedagógica do ensino crítico transformador.
Ainda, na última sexta uma palestra muito diferente. Salvo muito raras exceções, falo no meio acadêmico. Com o título: “Das certezas à incerteza” conversei com um grupo de jovens da Alest, parceira da Google, em uma atividade denominada “Ciências ao meio dia” em Porto Alegre e São Paulo, simultaneamente. Foi muito significativo e saboroso vê-los curiosos, acerca de temas do cotidiano aos quais estavam, então, dedicando uma leitura crítica.
A um mês de se completar um ano de abandonar as edições diárias deste blogue, vejo que a proposta de duas edições semanais está sendo garantida. Esta é a 10ª edição deste mês, no qual o blogue circulou nos dias divisíveis por 3.Em outubro, as 11 edições foram as terças e quintas. Das edições de novembro destaco a do dia 27 DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS (a do ‘Pesadelo de Darwin’ e dos coelhos australianos). Esta edição recebeu dois comentários, que reedito aqui, pois há a impressão que nem todos os cerca de 300 leitores diários, leem comentários de edições passadas.
O primeiro é CARLOS AUGUSTO B M NORMANN de um músico com mestrado em Biologia na UNICAMP, que exerce atividades como ambientalista. Outro texto é de JAIR C LOPES, um polímata que foi aviador, mas que agora está pousado em Florianópolis onde, também, é poeta ubérrimo.
Vale surpreender-se com estes dois upgrades, que a edição DESEQUILÍBRIOS AMBIENTAIS recebeu do Guto e do Jair.
Mais um excelente texto, professor! Aliás, além dos coelhos, há exemplos de desastrosas introduções, tanto de animais quanto de plantas, pelo mundo afora. O pinheiro-americano (Pinus elliotti), o peixe blackbass e o javali aqui no estado, são bons exemplos. Ainda há as tentativas desastrosas de remediar os erros ambientais. Introduzir raposas para caçar os coelhos na Austrália fez com que elas, ao invés de caçar os coelhos, optassem pela fauna local, comprometendo várias espécies.
Nos Estados Unidos, há dois casos bem complicados, envolvendo a indústria de animais de estimação "exóticos". Muitas pessoas adquiriam pítons do sudeste asiático. O problema é alimentar essas serpentes, que comem presas vivas, como coelhos e frangos. Soltas na natureza, elas criaram um sério problema, em especial na Flórida. Outro problema causado por animais de estimação pouco convencionais é o que observou-se com o peixe Pterois volitans. Do oceano Índico, o peixe não tem predadores em outros locais. Exemplares da espécie foram soltos na costa americana, quer seja por danos causados por algum daqueles furacões que se bateu por lá (arrebentando aquários e arrastando os peixes pro mar), ou de propósito mesmo, para que alguém se livrasse de uma mascote indesejada (além de ter espinhos com glândulas de veneno nas nadadeiras, o peixe só come presas vivas, ou seja, outros peixes de aquário, dispostos para que ele os ataque e devore). O resultado é um verdadeiro massacre que esses peixes promovem à fauna aquática, que começaram a procriar da Flórida até o nosso nordeste, passando por todo o Caribe... Tem um porrilhão de outros casos pra relatar, caberiam várias blogadas. Abração, mestre!!
Chassot,
Tenho a vã pretensão de ser meio "australiano", meu filho mais novo é cidadão australiano e minha mulher e eu já fomos quatro vezes para lá. E mais, dia 01/12/15 nasce nosso primeiro neto lá. Um "aussie" autêntico. Bem essas, amenidades foram só o introito, para dizer é o seguinte: A Austrália é, possivelmente, o país que mais sofreu invasão involuntária (nem tanto involuntária algumas vezes) de fauna estranha. Para esclarecer é necessário que se diga: TODOS os mamíferos nativos australianos são MARSUPIAIS, não existem mamíferos placentários originais daquele país. Então desde o DINGO (oriundo da Polinésia), aquele simpático cão amarelado predador que vive no deserto (Out Back) central até o mais recentes como PORCOS e VEADOS selvagens foram introduzidos, às vezes por ingenuidade como o foi o caso dos GATOS DOMÉSTICOS, outras vezes por malícia e dolo, como é o caso dos COELHOS e RAPOSAS, que foram introduzidos pela elite inglesa que queria animais “caçáveis” para seu nobre lazer. O SAPO BOI mexicano, aqui no Patropi também chamado SAPO CURURU, foi introduzido para combater as pragas que prejudicam as plantações de cana-de-açúcar em Queensland. Não deu certo, hoje os sapos são uma praga que está dizimando a fauna miúda como: outros sapos, aves que nidificam no solo, pequenos ofídios, lagartos, lagartixas (gecos) e insetos úteis para polinização. Uma PRAGA na mais pura acepção do termo.
Ainda, RATOS que vieram a bordo de navios, DROMEDÁRIOS levados para servirem de transporte no deserto e que hoje são selvagens, e GATOS, cuja finalidade era combater os ratos, mas que se tornaram o que eles chamam de GATOS DOMÉSTICOS SELVAGENS, já que os felinos fugiram das cidades e hoje representam uma terrível ameaça à fauna nativa. Consta que levaram à extinção dezenas de espécies como aves, pequenos cangurus e outros marsupiais de pequeno porte, cobras, lagartos e até peixes. Tive oportunidade de ver em um museu de história natural um GATO desses de 16 quilos. Eles se tornaram imensos pela falta de predadores e abundância de comida.
Por último, existe um marsupial parecido com uma capivara, muito simpático, que é lento e vive em tocas que ele mesmo cava, o WOMBAT. Pois, o COELHO é rápido, famélico e se alimenta das plantas que o WOMBAT normalmente come. Assim, nas regiões infestadas por COELHOS, os WOMBAT estão morrendo fome. Este comentário é só para complementar o excelente texto do Ruben George Oliven. Abraços, JAIR

2 comentários:

  1. e o tema puxa as memórias... devido às introduções feitas pelos polinésios e colonizadores, a Nova Zelândia, que somente incluía em sua mastofauna terrestre três espécies de morcego (não falo dos pinípedes e cetáceos aqui), hoje apresenta animais vindos da Austrália, Europa, Ásia e África. Ao todo, foram introduzidas 65 espécies de mamíferos por lá. Isso impactou muito as aves, em especial as não voadoras, como o kiwi e os papagaios kakapo, de hábito terrícola. 46% das espécies de aves endêmicas de lá foram extintas por ação direta dessas introduções.
    No Brasil, dois cidadãos emplumados exóticos expulsam várias aves nativas das áreas urbanas: o pardal, de origem na península ibérica, e o pombo-correio, mais competitivos, expulsaram aves como o tico-tico das áreas das cidades. Também a soltura de papagaios não nativos do estado do RS, como o Amazona aestiva, pode ter maus resultados a médio prazo. No RS, temos nativos o papagaio charão (Amazona petrei) e o de peito-roxo (Amazona vinacea). Os resultados podem ser imprevisíveis...

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  2. Por falar em Tico-tico


    Penso que talvez uma das aves mais tipicamente brasileira seja o tico-tico, já mereceu uma composição musical de Zequinha de Abreu, que se tornou icônica na voz de Carmem Miranda e que foi gravada até por Ray Conniff. É uma ave pequena e seu nome de origem guarani deriva de seu canto. Conhecida como jitica no Paraná, na cidade onde nasci sua sobrevivência encontra-se ameaçada pela ocupação humana e pelas ações predatórias do pardal, ave oriunda da Europa, mas que foi importada no tempo do Brasil colônia com o fito de eliminar as pragas que atacavam as lavouras. Não livrou as lavouras das pragas e a própria ave se tornou uma praga que se alimenta dos grãos nas roças, faz o ninho nos beirais das casas de madeira dos colonos, bem como expulsa o tico-tico de seu ambiente. Como quase toda solução “ecológica” sem base científica, a importação de pardais foi um tiro no pé.
    Mas quero falar dessa vítima mais comum dos pardais, o tico-tico. O tico-tico é uma ave passeriforme da família Emberizidae. É um dos pássaros mais conhecidos e estimados do Patropi. Vive (ou vivia) em todas as regiões do País, com exceção das áreas florestadas da Amazônia. É migratório no Rio Grande do Sul e Paraná, aparecendo em bandos provavelmente procedentes dos países vizinhos. Encontrado também do México ao Panamá e na maior parte da América do Sul até a Terra do Fogo. Apesar dessa distribuição quase continental, não é mais tão comum vê-lo próximo aos centros urbanos.
    Costumam se reproduzir na primavera-verão. Durante a reprodução vivem estritamente aos casais sendo extremamente fiéis a um território, que o macho defende com garra contra a aproximação de outros machos de sua espécie. O ninho, pouco elaborado, é uma tigela aberta e rala, feito de capim seco e raízes, às vezes rematado por dentro com crina e pêlos de animas. A fêmea bota de 2 a 4 ovos, que são de cor verde-amarelado com uma coroa de salpicos avermelhados. O fato de construir seu ninho próximo ao solo facilita a ação de predadores, especialmente cobras, que gostam de se alimentar de seus ovos e filhotes.
    Contudo, o que mais torna complicada a reprodução desse passarinho são os chupins. O chupim (Molothrus bonariensis) é uma ave passeriforme da família Icteridae. O chupim não constrói ninhos, é conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no ninho de outras aves, para que as mesmas possam chocá-los, criar e alimentar seus filhotes. Por isso, acabou virando sinônimo de aproveitador, costuma-se referir, com certa justiça é bom que se diga, àquele que vive a custa dos outros como chupim. São diversas as espécies parasitadas por essa ave, mas a mais comum de se ver alimentando um filhote de chupim, é o tico-tico, porque os ovos de ambas as aves são muito parecidos, embora os do chupim sejam um pouco maiores. E a jitica é ingênua o suficiente para não notar que os ovos não são dela. O mais perverso dessa estratégia reprodutiva adotada pelos chupins é que os filhotes destes são maiores que os do tico-tico, de forma que a maior parte da comida que os pais tico-tico trazem vai para os chupinzinhos e, muitas vezes, os filhotes do tico-tico morrem de fome. Mais uma vez a simplória jitica é enganada, é vítima dessa tragédia grega com final anunciado.
    Dessa forma, o notável passarinho que deu nome a uma revista infanto-juvenil nos anos trinta e quarenta; foi objeto de um dos chorinhos mais populares e tocados do Planeta; e nomeia um tipo de serra manual usada para fazer cortes em curvas de raio bem pequeno, está à mercê de uma ave que só consegue se reproduzir parasitando outra. Será que é válido fazer uma analogia com a faustosa vida dos políticos (chupins) em Brasília, usufruída graças ao povo bisonho (tico-tico) desse país? JAIR, Floripa, 14/12/11.

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