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ANO 14 |
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Dentre os diferentes fazeres
deste período carnavalesco, estou elaborando uma palestra em três movimentos “Uma lição para este 2020”. O prelúdio é audacioso: "Eu
te dou um novo mandamento: Não grenalizarás!”
GRENALIZAR não é apenas
torcer pelo clube Alfa e torcer contra o clube Beta, mas é dar a mesma ou maior
dimensão do torcer por Alfa no secar
Beta (secar =torcer contra: secar,
aqui, não é nenhuma das 14 acepções do Priberam) isto é se seca Beta ou Alfa
até com mais ardor que se torce Alfa ou Beta.
Dadas questões como as
exemplificadas a seguir:
Quem tem a maior torcida?
Quem tem mais títulos?
Quem tem o melhor time?
Qual é o pior time?
Quem tem mais títulos?
Quem vai vencer o próximo grenal?
Quem jogou melhor o último grenal?
Quem foi mais prejudicado pelo juiz?
Quem tem o melhor goleiro?
Quem tem o melhor goleador?
Qual o maior (ou melhor) estádio?
Quem tem as mulheres mais linda entre suas torcedoras?
A estes interrogantes tanto os torceres do Internacional quanto
do Grêmio responderão igualmente, exibindo uns e outros sua superioridades indiscutíveis.
Já a tabela ao lado é
desqualificada por qualquer gremista. Uma notícia como esta: “Ibope,
que registra o número de torcedores dos times de todo o Brasil. No Rio Grande
do Sul, o Grêmio ainda tem a maior torcida. São 6 milhões de tricolores gaúchos
contra 5,6 milhões de colorados.” (O RS tem quase 11,5 milhões de
habitantes) para um torcedor do Internacional o resultado de tal pesquisa certamente
está equivocado ou é tendencioso. Talvez, tenha sido ‘comprado’ afinal é sabido
que os Institutos de pesquisas roubam sempre. Ou outra como esta: “Grêmio
e Inter estão em 8º e 9º lugar, respectivamente, em quantidade de fãs no
ranking com todos os clubes do Brasil” tem o mesmo descrédito.
Queria, momentaneamente, esquecer o duelo com as coisas do futebol entre
dois torcedores antípodas. A grenalização (torcer contra) é muito presente em
nosso cotidiano. Mesmo que eu seja um curioso, não estou muito presente nas
assim chamadas redes sociais. Mas
nestas a grenalização demole diálogos ali.
Lateralmente poderia dizer que adjetivo social parece não caber de
maneira adequada nesta adjetivação de redes, pois diz o Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa que social é quem tem
tendência para viver em sociedade. = SOCIÁVEL ≠ INSOCIAL]. A maioria das
redes ditas sociais são insociais.
Vou trazer apenas dois exemplo de grenalização, que vivi em tempos e
cenários muito distintos. Um dos relatos é inofensivo e folclórico. Outro,
malévolo e por tal, sofridamente, doloroso.
O primeiro já deve ter mais de 10 anos, de vez em vez, o recordo, mas é
primeira vez que o narro. Leiamos um e outro.
Uma das vezes que fui a Parintins AM, ao lado de uma banca de mestrado fiz
também uma palestra. Auditório lotado. Precisava algo para ter a simpatia de
cerca de 200 pessoas, para que estas não me vissem apenas um algoz que veio
para criticar o diretor do câmpus que seria avaliado por sua dissertação. Achei
que descobrira a América: “Recebi, ao
chegar a esta simpática cidade, com muita alegria DVDs e camisetas dos dois
bois. Fiz uma opção. Devemos ter a capacidade de mudar. Em Porto Alegre sou
azul! Aqui optei pelo vermelho!”
Cerca de 100 pessoas, do Caprichoso azul me apuparam de tal maneira que
os aplausos dos intimidados torcedores do Garantido quase não foram ouvidos! A
comunicação de minha escolha foi literalmente um tiro no pé. Satisfações que a
turma do Garantido pudessem ter com o visitante fazendo agrados ao seu boi foram
obliteradas. Claro se houvesse optado pelo Caprichoso, a cena seria a mesma. Só
trocariam de lado os agressores personagens. A grenalização é perversa: tira alegrias
e estimula agressividades. Ela desestimula a fraternidade e a solidariedade.
O outro relato é muito recente (Fevereiro 2020). O blogue do dia 14/02/2020
circulou no dia posterior da visita de Lula ao
Papa Francisco. É inegável a simbologia da foto de Lula sendo abençoado pelo
Papa. Porém, mais simbólico foi o seu ocultamento. Em uma visita às capas dos
jornais brasileiros da sexta-feira (14) se percebe que apenas a Folha de S. Paulo
colocou a foto na capa. Comentei, lateralmente, este detalhe ao final da
blogada.
Um ex-aluno meu, do
curso de Filosofia, imediatamente pegou uma pedra em cada mão. Talvez, uma
arminha em cada mão. Perguntou-me se eu não sabia que o Lula fora escolhido
como o ladrão do século. Parece que um professor de Filosofia deveria saber que
esta escolha nunca existiu, em qualquer tempo. Se existisse ela só poderia se
referir a um quinto do Século 21. Outra asneira de meu ex-aluno, que não eduquei
a contento, afirmou que no dia seguinte, certamente o Brasil receberia uma
conta do Vaticano decorrente de objetos roubado pelo Lula durante a visita. Sem
comentários.
Repito. A grenalização é perversa: tira alegrias e estimula agressividades.
Ela desestimula a fraternidade e a solidariedade. Não queremos apenas vencer.
Nossa alegria só parece completa se o outro se ralar. É difícil reconhecer que
uma colônia de cupins tem olhar diferente do meu ao saborear uma estante de
minha biblioteca. Uma traça e eu gostamos de livros de maneiras diferenciadas.
Eu, em tentativas que não são fáceis posso, vibrar que o Internacional
passou para outra fase na Libertadores. Saibam que é até uma sensação gostosa
não grenalizar. Alguém deve estar dizendo: futebol, até que deve ser possível não
grenalizar. Discute, porém com alguém do J. Messias sem grenalizar!
Pois, acho que possa ser possível. Talvez, eu pudesse dizer que me
desagrada que J. Messias transforma a República em um familiar feudo teocrático.
Ou como Palácio do Planalto mais parece um caserna de milicos. Eu não vou dizer
que Presidente é um ladrão, pois não tenho provas, mas posso dizer que ele está
matando as galinhas dos ovos de ouro.
Parece que política e religião são mais propícias a grenalizar. Então, experimentemos
ser menos secadores de nosso tradicional adversário futebolístico. Façamo-lo
parceiro. Vai ser uma boa experiência. Vale experimentar.
Talvez, esteja fazendo um sermão para cupins ou para traças. Oxalá que
não.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá, estimado amigo Chassot!
ResponderExcluirFiquei curioso com a pesquisa de preferência do time do coração. creio que levaram em consideração até as bebês, com a mesma preferência do pai ou da mãe (risos).
Atualmente, está muito "delicado" fazer qualquer observação acerca de alguma personalidade dita de esquerda. As pessoas xingam, hostilizam (gritam)...
Oxalá, que tenhamos dias melhores, com espaço para reflexões.
Abraço cordial, meu amigo Chassot.
Dirceu A. Borges