ANO
10 |
Ciao!.... U M B E R T O E C O
*1932 +2016 |
EDIÇÃO
3139
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Terminamos a nossa
primeira edição do tríduo volta às aulas (dias
18, 21 e 24) com a pergunta: Por que,
ainda, produzir livros (em suporte papel)? E, então, respondia: para ler a escrita de conhecimentos já
produzidos e, para então, produzir novos saberes.
Centro, aqui e agora,
meu comentário no binômio escritaDleitura, que talvez se possa pensar como aquele que mais distingue os
humanos das demais espécies animais. Isto não significa que não considere
relevantes posições que colocam na capacidade de produzir trabalho útil o nosso
melhor distintivo. É evidente que considero como escrita qualquer expressão codificada que possa ser apreendida por
um leitor, como, por exemplo, os sinais gráficos de trânsito ou uma informação
como a pintura rupestre antes referida até um texto em qualquer dos cerca de
sete mil idiomas existentes.
Mas, por ora, vou
considerar apenas o processo evolutivo recente destes dois componentes do
binômio referido. E mais, vê-los com velocidades de modificações muito
díspares.
Já há 20 anos, escrevi
um texto* no qual celebrava o meu cinquentenário de uso da
escrita. Neste artigo descrevi como me alfabetizei em uma lousa de ardósia [uma
lâmina de ardósia enquadrada em madeira (muito semelhante em alguns aspectos
físicos a um tablete de hoje)] nela se escrevia ou desenhava com ponteiros da
mesma pedra (ardósia). Quando da escritura do texto referido, eu já usava
computador (um artefato tecnológico que então era uma quase novidade; e poderia
atualizar os meus instrumentais de escrita: agora, escrevo em smartphone).
Depois do uso de uma pedra, escrevi com lápis, pena de aço, caneta tinteiro; a
caneta esferográfica (ganhei a primeira em 1954), esta revolucionária, pois
escrevia ‘a seco’ eliminando a possibilidade dos borrões nos cadernos e das
manchas nas roupas tão temidos, pois muitas vezes determinavam castigo. Antes
do computador usei máquina de escrever. Recordo que o primeiro bem material que
comprei com meus salários de professor, em 1961, foi uma máquina de escrever
Remington, que hoje faria uma boa figura em um museu da escrita ou uma peça de
decoração de algum colecionador de antiguidades. Minha história, enquanto ser
escrevente, poderia ter esta síntese: da
pedra ao smartphone. Ao olharmos este
passado tão próximo nos perguntamos: O que ainda virá?
*
CHASSOT, Attico. Sobre o ferramental necessário para o trabalho
de escrever . Estudos Leopoldenses, v.32, n.148, p.37-55, 1996
Dedico esta edição a Mauro Melo Costa,
que na primeira postagem desta série escreveu: Olá Professor, bom dia! Iniciei o meu 1° ano
letivo como Professor de Química e logo me deparei com o desafio de trabalhar
na EJA aqui em Manaus-AM. Tenho me dedicado a trabalhar com os estudantes (e
comigo mesmo através de um blog) o binômio leitura-escrita e o seu texto
reforçam minhas concepções. Aguardo ansioso a próxima postagem. Abraço! M M C.
Admirável é o fato de que o Mestre acompanha a "evolução" dos artefatos da escrita com muita naturalidade incrível. Até porque é, de certa forma, uma necessidade na contemporaneidade, pois sem isso se criaria uma distância ainda maior para com os mais jovens. Aderir aos novos artefatos sem abandonar os anteriores (suporte papel), eis o grande desafio. O primeiro é fundamental. Dominar os diversos artefatos é compreender o processo todo, sinal de alfabetização completa. Até mesmo porque o processo de leitura-escrita ocorre, antes no intelecto, no nível das ideias. O suporte apenas vai apenas materializar...Daí que escrever com o mais moderno artefato "rsrsrsr, ok, vleu, kkk ou..." tenho minhas dúvidas quanto a questão da alfabetização. Nada contra abreviações, mas receber uma escrita dessas em textos, redações em avaliações é de se refletir se estamos acompanhado a "evolução" ou apenas substituindo o artefato na tentativa de escrever. Fico com a boa e correta escrita,seja em smartphone ou com um pedaço de carvão numa madeira. Grande abraço.
ResponderExcluirMuito estimado Vanderlei!
ResponderExcluirPrimeiro a gratidão não apenas por teus comentários, mas por seres meu continuado leitor. Sempre que vejo um acesso de Frederico Westphalen entre os mais de 200 leitores diários, digo-me: é o Vanderlei.
Agora acerca desta blogada. Fazes uma declaração de princípio: “Fico com a boa e correta escrita, seja em smartphone ou com um pedaço de carvão numa madeira”. Princípio que gostaria fosse de mais pessoas. Antecipas essa declaração com uma análise contundente: “Nada contra abreviações, mas receber uma escrita dessas em textos, redações em avaliações é de se refletir se estamos acompanhado a "evolução" ou apenas substituindo o artefato na tentativa de escrever”. Aceito tua análise e radicalizo. Parece que ao invés da necessária ‘evolução’ que prognosticas, está havendo uma ‘involução’.
Com gratidão, já um convite para leres, amanhã, o terceiro texto que preparei para volta às aulas.
Com espraiada admiração evocando tempos memoráveis que uma sala de aula nos fazia mais próximos,
attico chassot