segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

01.- ÁRVORES EM DOIS TEMPOS

ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2974

E... é dezembro. Se novembro passou a galope, dezembro deverá se esvair a jato. Nesse fim de semana, evoquei algo ocorrido em Porto Alegre há quase quarenta anos. Uma reminiscência aflorou forte no sábado. Vejamos árvores em dois tempos.
Primeiro tempo: Protesto sobre árvore da Av. João Pessoa
Uma tipuana, (ou acácia da espécie tipa), localizada no início do Viaduto Leopoldina, em frente à Faculdade de Direito, foi pivô de fato de grande repercussão na imprensa e na sociedade gaúcha, em meados da última década de 70. No plano de construção do Viaduto, estava previsto derrubar uma série de árvores, para viabilizar o alargamento da pista. No dia 25/02/1975, funcionários da Secretaria Municipal de Obras e Viação chegaram com a missão de cortar as árvores sobre a calçada, em frente à Faculdade de Direito da UFRGS. Faltava uma última árvore para ser derrubada; foram almoçar ("para terminar o serviço depois"). Nesse ínterim, um estudante da Faculdade de Engenharia Eletrotécnica, Carlos Alberto Dayrel, morador da Casa do Estudante, aproveitou para subir na árvore e, assim, evitar que fosse derrubada. Logo teve a solidariedade e apoio de transeuntes, e mais dois estudantes (Teresa Jardim, da Faculdade de Biblioteconomia; e Marcos Saracol, da Matemática) também a galgaram. Em plena época da ditadura, tal ato constituía "ofensa grave e intolerável" à ordem instituída pelo "regime de exceção".
Todavia, a atitude desafiante dos jovens logo impressionou e sensibilizou os transeuntes, que passaram a assistir a cena insólita e, em seguida, a gritar para que a prefeitura interrompesse o trabalho.
No transcorrer dos acontecimentos, um Batalhão de Choque da Brigada Militar foi chamado, transformando a Av. João Pessoa numa verdadeira praça de guerra. Mais tarde, o diretor da Faculdade de Engenharia conseguiu subir na árvore, e negociou a descida dos estudantes. Houve a garantia de que a árvore iria ficar. Nada aconteceria a eles. A promessa do secretário municipal de Obras e Viação, de que a árvore não seria cortada, foi mantida, mas alguns jornalistas, que cobriam o acontecimento, foram espancados e dois dos estudantes foram levados presos para o temido DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
A árvore continua lá, como símbolo de resistência a um crescimento desvairado; e o fato criou uma nova consciência na cidade. Cada vez que a vejo evoco a bravura de estudantes. Em 28/04/1998, o engenheiro Carlos Alberto Dayrel recebeu o título de "Cidadão de Porto Alegre", conferido pela Câmara Municipal.
Segundo tempo: Mariante perde um jacarandá centenário. Eu pensara em fazer uma bravata. Sabendo da condenação de um centenário jacarandá em frente de meu prédio, avisara a portaria que quando chegassem os carrascos executores da sentença me chamassem.
Repetiria Dayrel. Claro que bazofiava, mas queria mesmo salvar o jacarandá. Mesmo que nesta quarta contara aqui, que foram as flores jacarandá, que catalisaram minha queda, narrada na última quarta. Eles deveriam continuar enfeitando minha rua.
Há muitos anos, na primavera, jacarandás-mimoso tintam de anil muitas ruas de Porto Alegre. Parecia-me que um laudo da prefeitura que árvore fora condenada por ser velha, era insensibilidade.
Antes do corte
Na manhã de sábado sai cedo. No Centro Universitário Metodista do IPA envolvera-me com seleção de novos alunos para Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão e acompanhei uma mestranda que coletava dados de sua dissertação.
Quando voltei, quase 13 horas, o imponente gigante fora esquartejado por motosserras. A frondosa árvore agora era dezenas de pedaços. Fiquei triste, pois sabia que meu protesto não teria eco. Dizia-se lindo jacarandá estava doente. Mas parecia que ele precisava de alguém que fosse solidário a seu passamento. Eu faltei.

Um comentário:

  1. Acróstico
    Homo stultus

    Homo sapiens um sábio se acha
    Onde ele está torna-se prioridade
    Mata bichos e plantas e cobra taxa
    E torna-se vítima da mediocridade.

    Mais vale pássaro morto na mão
    O mais das vezes assim ele pensa
    Viver e deixar outro viver, isso não
    Íntimo da morte e maldade imensa.

    Reflorestar é apenas para os fracos
    Um dia todas as árvores ele acaba
    Se algum animal servir para casaco
    Destrói e mata, não resta uma aba.

    O planeta não precisa deste maldito
    Pode sumir que o mundo melhor fica
    Louco, insano, um vírus, tenho dito
    Alguém necessita dar-lhe uma dica.

    Nenhum benefício produz o homem
    Ele é tão somente o vírus do Planeta
    Tanto animais como plantas somem
    Assim que o beócio mostra a faceta.

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