31.-
UMA RESPOSTA SIBILINA
ANO
8 |
M A N A U S — AM
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EDIÇÃO
2790
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Um
sábado de despedir Manaus. Foram três dias preciosos. Ontem a agenda foi
cumprida: pela manhã a exitosa qualificação da proposta doutoral da Célia, que
foi assuntada ontem aqui. À tarde, concorrida palestra na Universidade do
Estado do Amazonas. Muitos autógrafos e muitas fotos. Antes e depois da
palestra, promissoras sessões de orientação com Célia.
Quando
a madrugada estiver terminando, estarei indo ao aeroporto. É a desejada volta
para casa.
Recebi nesta quarta-feira a mensagem seguinte:
Assunto: Aos
alunos do IFSP - Campus Guarulhos
Boa noite, Professor Chassot!
Primeiramente, exponho a minha gratidão por me
aceitar no site Facebook. Imagino
que o senhor tenha muitos compromissos e, por isso, não tenha lido as mensagens que postei.
Estamos realizando apresentações no IFSP -
Campus Guarulhos sobre a matéria História da Ciência e Tecnologia
(HCT), baseadas em seu livro "A ciência através dos tempos".
O professor enriqueceria muito o nosso trabalho
se enviasse uma mensagem sobre
a vossa leitura de mundo no que refere aos tempos que hão de vir.
Seria um oportuno recado aos novos alunos de
Análise e Desenvolvimento de Sistemas do 1º semestre, todos com
muita curiosidade em conhecer o que o mestre tem a dizer sobre o futuro da área da informática e, também, da ciência nesta área, com a vossa
experiência conhecimento.
Aguardo o vosso retorno.
Atenciosamente, Claudio Kobashigawa.
Estimado Cláudio e
demais discentes e docentes da disciplina História da Ciência e Tecnologia (HCT) do curso
de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de São Paulo - Campus
Guarulhos.
Preliminarmente dois agradecimentos: primeiro,
agradeço a mensagem, que me oportunizou algumas reflexões; segundo, sou grato
pelo privilégio de com A ciência através
dos tempos fazermos juntos uma parceria para entender como se deu /dá /
dará a construção da Ciência.
Li, reli, tresli a mensagem. Pincei um dela um pedido:
uma mensagem sobre minha leitura de mundo no que refere aos tempos
que hão de vir. Em mais de 53 anos como professor amealhei saberes.
Acredito que a afirmação de Martin Fierro no clássico gauchesco “O diabo sabe mais por ser velho do que por
ser diabo” é, de maneira usual, muito válida. Todavia, nesses anos ainda
não fui agraciado com o dom da profecia. Talvez, porque nunca o pedisse até por
nunca o desejei.
O pedido de vocês faz-me remontar a uma anedota
histórica. Na antiguidade, soldados antes de ir para guerra consultavam oráculos, magos e adivinhos para saber
seu destino. A frase resposta que recebiam: Ibis redibis non morieris in bello ou
Irás
voltarás não morrerás na guerra é um modelo de respostas dada por uma
Sibila a um soldado que havia consultado a pitonisa acerca do êxito de sua
missão. Sibilas são um grupo de personagens da mitologia greco-romana. São
descritas como sendo mulheres que possuem poderes proféticos sob inspiração de
Apolo. Na ilustração Dafne,
a Sibila de Delfos: afresco de Michelangelo na Capela Sistina.
A frase, como todas as respostas oraculares, é
propositalmente ambígua - ou sibilina. Dá margem à dupla interpretação conforme
a pontuação que se queira utilizar. Se for colocada uma vírgula antes de
"non" (Ibis, redibis, non morieris in bello), o significado da
resposta é "Irás, retornarás, não morrerás na guerra". Portanto, a
missão terá êxito. Se porém a vírgula for deslocada para depois da negação
(Ibis, redibis non, morieris in bello), a frase terá sentido oposto: "Irás,
não retornarás, e morrerás na guerra".
A frase resposta poderá ser sibilina: os alunos do curso de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas do Instituto
Federal de São Paulo - Campus Guarulhos em tempos que hão de vir, viverão realidades
jamais sonhadas. Para as vivências de cada uma e cada um de vocês qualquer
previsão se esboroará em realidades muito diferentes dos dias atuais.
Rejeito a hipótese de um mundo catastrófico,
que cabe na sibilina resposta. Opto pela possibilidade (desejada) de um mundo fantástico.
Quando escrevo esta resposta, ouço acerca do lançamento de automóveis elétricos
para duas pessoas que dispensam condutor.
O mundo dos bisavós de vocês diferiu muito
pouco do mundo dos avós e este foi quase igual aos dos pais de vocês. Comparem
o que os pais de vocês não conheceram quando tinham a idade de vocês: telefone
celular, internet, armazenamento de dados nas ‘nuvens’... e muitos inventos
mais. Assim assistimos uma modificação do mundo que vivemos marcada pela
rapidação. Um exemplo apenas: um bebê nascido há dois anos tem outra relação
com um tablete do que uma criança de cinco anos. Isto me parece de realismo
quase fantástico.
Fiquem apenas na profissão que vocês elegeram:
o que fazia um analista de Sistemas há dez anos comparado com o que faz hoje. Vejam
como o desenvolvimento de Sistemas
há 20 anos faz o nosso século 20 parecer dinossáurico.
Assim, encerro com minha resposta sibilina: os alunos do curso de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas do Instituto
Federal de São Paulo - Campus Guarulhos em tempos que hão de vir, viverão realidades
jamais sonhadas.