terça-feira, 31 de dezembro de 2013

31.- ANO VELHO//ANO NOVO


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2638

Parece natural que a edição de hoje se faça ferreteada com pauta obrigatória: adesão aos rituais de passagem de ano. Quando este blogue já é editado pela oitava vez no ‘dia de São Silvestre’ não há mais muita chance de ser original.
É usual se fazer retrospectivas do ano que está passando e prospectivas para o ano que se avizinha. Há peças publicitárias que dizem que se vai um velho arrastando os chinelos e surge um garoto descalço saltitante. Estes rituais de passagem são, de maneira usual, muito fortes em nós.
A significativa maioria dos meus leitores evoca o que foram as badalações, há 15 anos, quando trocamos 1999 por 2000. Recordam o ameaçador bug do milênio, quando até o primeiro acesso ao computador em 1º de janeiro de 2000 era temido? Lembro-me que quando era pequeno, muitas vezes subtraí 1939 (ano em que nasci) de 2000 fazendo cálculos que indicassem não estar mais vivo em 2000 ‘na chegada do fim dos tempos...’
Agora já estamos aqui sequiosos para amanhã abrir uma nova agenda para registrar as muitas promessas e as prováveis surpresas que estão reservadas para este não bissexto 2014. A tirinha ao lado, enviada por atenta leitora, pode oferecer bons propósitos.
E 2013? Não entendo de numerologia, mas este final 13 parece que deu marcas aziagas ao ano. Mesmo não sendo supersticioso, agasalho-me no pensamento mágico e quero ‘virar a folhinha’! Xô 2013!
Neste ano foi aziago um 20 de fevereiro, quando meu    apartamento, num sétimo andar, foi inundado. Também tive deslustrada minha autoestima — não sem desencantos com o sistema de avaliação produtivista a que são submetidos os docentes — ao ser contratado por um Programa de Pós Graduação em Educação no dia 01 de março e demitido em 31 de julho, como improdutivo, mesmo tendo apresentado denso relatório, como contei neste blogue em 31 de agosto.
Dizemos que a dimensão saúde é sempre a mais importante (e concordo). 2013, neste plano, me trouxe preocupações. Em maio tive diagnóstico que exigiu alterações de rotinas e que afortunadamente um precoce tratamento continuado já me faz quase esquecer a doença. Até o blogue que por tal abandou, por uns meses, a periodicidade diária, volta aos poucos à frequência inicial. Não bastasse este novos percalços, recebi um original presente nos dias natalinos: minha primeira pneumonia, que parece não emplacará 2014.
É ser injusto com a vida, fazer essa listagem que trouxe situações menos boas. Sou aquinhoado a cada dia com tantas alegrias, que não cabem colecionar momentos como os antes citados. Dos inúmeros ganhos preciosos que tive em 2013, dou destaque a apenas um — mesmo quando evoco silenciosamente dezenas de presentes não memorados aqui: 
10 de janeiro, nasceu a Betânia, minha nona neta que aumentou ainda mais o encanto de meu avonarNa foto a Betânia indica que fará um ano. Ela ajuda fazer melhor muitos presentes que a vida me dá a cada dia e nisso a troca de calendário, certamente, não fará modificações. Assim, adeus fatigado 2013, já te esperamos lépido 2014.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

30.- RAINHA INDULTOU TURING NESTE NATAL

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2637

Esta postagem ocorre no terceiro dia de temperaturas insalubres de mais de 40ºC em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Há expectativas que com advento de 2014 ocorra também amenidades climáticas.
É provável — em quase 7,5 anos deste blogue —, que   uma das personalidades do século 20 mais referida aqui foi Alan Turing. Em 2012, quando se celebrou centenário de seu nascimento, o desagravei em dezenas de palestras.
Matemático britânico se tornou herói da Segunda Guerra ao decifrar Código Enigma dos nazistas. Condenado por "indecência" na década de 1950, ele foi agora perdoado pela rainha.
 Na contramão da aparente onda internacional de retrocesso na tolerância à homossexualidade, o governo do Reino Unido anunciou uma medida de peso simbólico: o matemático e criptoanalista Alan Mathews Turing (1912-1954) recebeu, neste Natal, postumamente o perdão da rainha Elizabeth 2º, 61 anos após ter sido condenado por "indecência".
O cientista nascido em Londres conta entre os heróis da Segunda Guerra Mundial por ter decifrado o Código Enigma, utilizado pelos nazistas em suas comunicações. Em declaração publicada nesta terça-feira (24/12), o ministro britânico da Justiça, Chris Grayling, informou que o decreto real tem efeito imediato. Ele acrescentou que o perdão é um tributo a "um homem excepcional, com uma mente brilhante".
Herói de guerra Segundo o primeiro-ministro David Cameron, a decodificação das mensagens trocadas entre os nazistas teria salvado "incontáveis vidas". "Alan Turing foi um homem admirável, que desempenhou um papel-chave ao salvar seu país, desvendando o Código Enigma dos alemães. Ele também deixou um legado nacional notável, através de suas substanciais conquistas científicas, sendo frequentes as referências a ele como pai da moderna computação."
Atualmente é consenso que, com oo trabalho de criptoanálise – realizado no hoje célebre centro de Bletchley Park, a noroeste de Londres –, Turing conferiu aos Aliados uma vantagem decisiva contra os nazistas. As informações obtidas foram essenciais para combater a ofensiva alemã no Norte da África, ou em ajudar os navios aliados a escapar de submarinos nazistas no Oceano Atlântico.
Estudiosos como David Leavitt, autor de uma biografia do cientista, chegam a declarar que a quebra do Código Enigma abreviou a Segunda Guerra; ou até mesmo que, sem Turing, os Aliados talvez não tivessem saído vencedores. "Isso é altamente especulativo, mas não acho que a contribuição de Turing deva ser subestimada: ela foi imensa."
Leavitt também enfatizou a importância do gesto simbólico de Londres, no atual momento de recrudescimento da intolerância sexual no mundo, quando a Rússia e a Índia, por exemplo, endurecem suas legislações homofóbicas.
Cidadão "indecente" e suicida? Mesmo antes da guerra, Turing já postulara ideias a respeito da inteligência artificial que iriam servir de base à moderna computação. Depois de 1945, ele passou a lecionar na Universidade de Manchester e participou da programação dos primeiros computadores, além de desenvolver o primeiro jogo de xadrez eletrônico do mundo.
Apesar do papel crucial na vitória aliada, durante décadas o governo britânico se recusou a reconhecer a contribuição de Turing, alegando sigilo militar. Devido a seu relacionamento com outro homem, em 1952 ele foi condenado por "grave indecência" — o mesmo veredicto proferido contra o escritor Oscar Wilde, em 1895.
O matemático foi submetido a vigilância ostensiva e forçado a um tratamento hormonal com estrogênio, com o fim de reprimir seus impulsos sexuais. Alan Turing morreu em 7 de junho de 1954, dias antes de completar 42 anos de idade. Uma corte definiu suicídio como causa oficial. No entanto, esse veredicto tem sido questionado.
Apoio da Deustche Wele em http://www.dw.de

domingo, 29 de dezembro de 2013

29.- DEZ MANEIRAS DE COMEÇAR A SER UM LOCALÍVORO

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2636

Na edição de ontem se apresentou com satisfação, aqui, uma proposta de dicionarização de um novo substantivo/adjetivo. Localívoro é uma pessoa interessada em comer, quando possível, alimentos localmente produzidos, que não tenham percorrido longas distâncias entre a produção e o consumo. Uma distância máxima desejada seria algo de até 100 km.
É preciso destacar que não se está vibrando com (e aderindo a) mais um modismo. Há a defesa de uma postura política em busca de um necessário cuidado (cada vez maior) com a saúde do Planeta.        
Talvez fosse oportuno referir ‘semelhanças’ com uma versão muito saudável com o movimento slow food que a partir da Itália ajuda transformar o mundo para melhor.
Anunciei para hoje uma receita: 10 maneiras de começar a ser um localívoro. Trata-se de uma adaptação livre de um texto de Molly Watson em http://localfoods.about.com/od/localfoodsglossary/g/locavore.htm tr
A trazida aqui é como curiosidade para divulgar o movimento localívoro. É uma proposta estadunidense, mas serve para pensarmos alguns indicadores:
1. Saiba que produtos são da ‘estação’: Saber o que está em temporada em sua região irá ajudá-lo a saber o que esperar em mercados de agricultores e ajudá-lo a saber quais os itens em outros mercados e lojas podem ser obtidos a partir de fontes locais ou regionais (e quais os que definitivamente não são!). Há já Guias de Sazonalidade Regionais
2. Compra em mercados de agricultores: Compras em mercados de agricultores que apresentam produtos cultivados localmente é uma maneira fácil de aumentar a quantidade de alimentos locais que você compra e come. Nem todos os mercados de agricultores têm as mesmas diretrizes. Assim é recomendável verificar para ver exigências de vender produtos cultivados ou produzidos em propriedades locais ou regionais.
3. Conhecer os produtores é uma garantia extra: não conhecemos quem são as pessoas (no máximo sabemos quem são as empresas do agronegócio) que produzem a maioria dos alimentos que consumimos. Conhecer os agricultores que produzem o tomate, a cebola, o feijão etc nos assegura sabermos se não foram usados, por exemplo, inseticidas e sim que certamente foi feito o controle biológico de pragas. [Este item é alternativo à descrição do Community Supported Agriculture (CSA).
4. Compre em estabelecimentos onde conste a origem dos alimentos. Se você tem uma escolha de mercados, escolha aquele que anuncia a origem dos produtos. Em particular, procure por sinais que indicam a fonte de frutos do mar, carnes, aves. Cooperativas e lojas de alimentos saudáveis ​​são mais propensos a indicar claramente a origem dos alimentos que oferecem, mas mercearias convencionais estão cada vez mais rotulando a origem dos produtos.
Não há sinais em seu mercado local? Fale com o gerente ou gerentes de seção. Expresse seu interesse em alimentos cultivados e produzidos localmente. Peça para que todos os itens localmente ou regionalmente cultivados presente na loja sejam destacados.
5. Loja de mercearias: nestas lojas compre produtos frescos, carnes e laticínios - justamente os itens que você pode perguntar sobre sua origem e ter chance de encontrar alguns produzidos em locais próximos.
6. Seja também um ultra-produtor local: plantar no seu jardim, ou mesmo numa sacada, seu próprio alimento é a melhor forma de ser um localívoro. A partir de um simples jardim de ervas ou containers ou caixas (= terrário)             uma família produzir alguns de seus próprios alimentos.
7. Visita a Fazenda e sítios tipo “Colha e pague”
Para a maioria dos habitantes da cidade, sítios e fazendas não são solução para colher alimentos todos os dias. Mas quando a oportunidade se apresenta e se pode ir a estabelecimentos do tipo ‘colha & pague’ (aonde você vai a uma fazenda e escolhe seu próprio produto) são uma grande oportunidade de adquirir quantidades de produtos frescos.
8. Escolha restaurantes que privilegiam localívoros.
Restaurantes frequentemente compram de produtores locais e regionais, produtores e fornecedores que operam com alimentos certificados e isso representa seu aos localívoros, mesmo quando você come fora. Divulgue em suas redes sociais estes restaurantes para privilegiar sua postura em prol da sustentabilidade. [Aqui uma semelhança ao movimento ‘slow food’ referido a abertura].
9. Prestigie produtores de alimentos: Ofereça apoio a um sistema alimentar local através da compra de artesãos e produtores de alimentos de propriedades locais como padarias, açougues e torrefadores de café.
10. Procure descobrir como são produzidos os alimentos que não de sua região: Comer alimentos locais         certamente não é sempre possível, então procure saber como eles são produzidos nos locais distantes e prestigie aqueles que trazem indicações acerca de processos de produção e como eles chegam até a você.

sábado, 28 de dezembro de 2013

28.- QUE É UM LOCALÍVORO?


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2635
Dois fatos do meu cotidiano, nestes dias, teceram esta edição.

Talvez seja uma blogada histórica esta do último sábado do ano. Um: dei-me conta do absurdo que praticava: comprara — acriticamente — no supermercado cebola e caqui provenientes da Espanha. Outro: fui presenteado no Natal, pelo meu filho André com as primícias (foto) de sua produção agrícola em um sítio no Lami, na zona rural de Porto Alegre.

Observemos estes seis vocábulos: omnívoro, carnívoro, herbívoro, insetívoro, frutívoro, localívoro. Os cinco primeiros são facilmente identificados: quem se alimenta de tudo, de carnes, de ervas, de insetos e de frutas. O sufixo voro, do latim vorus, de vorare = comer; devorar.
E localívoro? Esta palavra parece que ainda não é dicionarizada em português; está sendo proposta, aqui e agora. Em inglês existe o vocábulo locavore.
Definition of LOCAVORE:   one who eats foods grown locally whenever possible [aquele que come alimentos cultivados localmente, sempre que possível]
Origin of LOCAVORE: local + -vore (as in carnivore)
First Known Use: 2005, palavra do ano de 2007 para o dicionário Oxford American!
Fonte: www.merriam-webster.com/dictionary/locavore
Em inglês a Wikipédia registra: Locavore is a person interested in eating food that is locally produced, not moved long distances to market. The desired maximum distance for local produce is between 50-100 miles. A Wikipédia em português não registra termo homólogo ao inglês. Além do inglês há, apenas, em catalão e islandês.
Localívoro (proposto, em português) é uma pessoa interessada em comer, quando possível, alimentos localmente produzidos, que não tenham percorrido longas distâncias entre a produção e o consumo. Uma distância máxima desejada seria algo de até 100 km.

Em espanhol usa-se a mesma proposta que faço aqui: Localívoro.
 O movimento Localívoro nos Estados Unidos e em outros países foi gerado a partir do interesse em sustentabilidade e consciência ecológica. Amanhã apresentarei uma ‘receita’: Dez maneiras de começar a ser um localívoro. Votos de um fim de semana/ano associando — também — comer à saúde.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

27.- FRACASSOS (TAMBÉM) NO BALANÇO DO ANO...

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2634

É natural que no fim de ano façamos balanços pessoais. Claro que não contabilizamos só sucessos. Para no ajudar olhar (também) os fracassos, trago um texto que Marcelo Gleiser —    professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita" — publicou na Folha de S. Paulo no último domingo. Vale lê-lo.
Homenagem ao fracasso Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que sucessos. Numa sociedade em que o sucesso é almejado e festejado acima de tudo, onde estrelas, milionários e campeões são os ídolos de todos, o fracasso é visto como algo embaraçoso e constrangedor, que a gente evita a todo custo e, quando não tem jeito, esconde dos outros. Talvez não devesse ser assim.
Semana passada, li um ensaio sobre o fracasso no "New York Times" de autoria de Costica Bradatan, que ensina religião comparada em uma universidade nos EUA. Inspirado por Bradatan, resolvi apresentar minha própria homenagem ao fracasso.
Fracassamos quando tentamos fazer algo. Só isso já mostra o valor do fracasso, representando nosso esforço. Não fracassar é bem pior, pois representa a inércia ou, pior, o medo de tentar. Na ciência ou nas artes, não fracassar significa não criar. Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que de sucessos. São frases que não funcionam, traços que não convencem, hipóteses que falham. O físico Richard Feynman famosamente disse que cientistas passam a maior parte de seu tempo enchendo a lata de lixo com ideias erradas. Pois é. Mas sem os erros não vamos em frente. O sucesso é filho do fracasso.
Tem gente que acha que gênio é aquele cara que nunca fracassa, para quem tudo dá certo, meio que magicamente. Nada disso. Todo gênio passa pelas dores do processo criativo, pelos inevitáveis fracassos e becos sem saída, até chegar a uma solução que funcione. Talvez seja por isso que o autor Irving Stone tenha chamado seu romance sobre a vida de Michelangelo de "A Agonia e o Êxtase". Ambos são partes do processo criativo, a agonia vinda do fracasso, o êxtase do senso de alcançar um objetivo, de ter criado algo que ninguém criou, algo de novo.
O fracasso garante nossa humildade ao confrontarmos os desafios da vida. Se tivéssemos sempre sucesso, como entender os que fracassam? Nisso, o fracasso é essencial para a empatia, tão importante na convivência social.
Gosto sempre de dizer que os melhores professores são os que tiveram que trabalhar mais quando alunos. Esse esforço extra dimensiona a dificuldade que as pessoas podem ter quando tentam aprender algo de novo, fazendo do professor uma pessoa mais empática e, assim, mais eficiente. Sem o fracasso, teríamos apenas os vencedores, impacientes em ensinar os menos habilidosos o que para eles foi tão fácil de entender ou atingir.
Claro, sendo os humanos do jeito que são, a vaidade pessoal muitas vezes obscurece a memória dos fracassos passados; isso é típico daqueles mais arrogantes, que escondem seus fracassos e dificuldades por trás de uma máscara de sucesso. Se o fracasso fosse mais aceito socialmente, existiriam menos pessoas arrogantes no mundo.
Não poderia terminar sem mencionar o fracasso final a que todos nos submetemos, a falha do nosso corpo ao encontrarmos a morte.
Desse fracasso ninguém escapa, mesmo que existam muitos que acreditem numa espécie de permanência incorpórea após a morte. De minha parte, sabendo desse fracasso inevitável, me apego ao seu irmão mais palatável, o que vem das várias tentativas de viver a vida o mais intensamente possível. O fracasso tem gosto de vida.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

26.-- EM QUE CREEM OS QUE NÃO CREEM?


ANO
 8
em fase de transição
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 2634
Esta blogada encerra aqui o tríduo natalino. Na terça-feira fiz uma reflexão (cognominada de teológica) sobre a mais significativa data religiosa do Ocidente. Ontem, trouxe aqui votos de Paz, em um pequeno texto que teve severa crítica de uma leitora, pois se diz que não há explicita clareza no meu texto. Releio aqui:
Referia “aos que creem e aos que não creem [...] — tenho sempre dúvidas acerca da existência real destes”. Esclareço que quis me referir aos que não creem em nada e não que ‘pudesse pensar que não existam pessoas que não creiam em Deus’ como fui interpretado.
Ontem referi aqui um livro, que já comentara em outros momentos neste blogue. Trago hoje mais informações sobre o mesmo.
ECO, Umberto; MARTINI, Carlo Maria. Em que creem os que não creem?   Rio de Janeiro: Record. 1999; 160 p. ISBN 978-85-010-5527-9. Há disponível edições em pdf.

O livro é um intenso e caloroso diálogo entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini. Através de cartas publicadas pela revista italiana Liberal, encontramos um leigo com imenso conhecimento e profundas dúvidas religiosas, e um religioso preocupado com as questões mais pragmáticas da vida.
A existência e a invenção de Deus, os fundamentos da ética, a mulher, o sacerdócio, a liberdade de escolha e de ação frente aos imperativos religiosos, o aborto, a engenharia genética, o respeito a vida, a ideia de fim na cultura laica e a existência ou não de uma noção de esperança comum a crentes e não crentes.
Esses são alguns dos temas debatidos ao longo de um ano por um dos mais importantes pensadores laicos da atualidade e um então cardeal da uma das arquidioceses mais importante: Milão.
Ao diálogo entre Eco e Martini se somam os filósofos Emanuele Severino e Manlio Sgalambro, os jornalistas Eugenio Scalfari e Indro Montanelli, além do teórico de extrema esquerda Vittorio Foa, fundador do jornal Il Manifesto, e do ex-ministro e ex-secretário do Partido Socialista Italiano Claudio Martelli. Esse rico debate, travado com total liberdade dialética, resulta na reflexão dos valores fundamentais do homem contemporâneo.
Umberto Eco, autor entre outros clássicos de "O Pêndulo de Foucault" e "O Nome da Rosa", nasceu no Egito em Alexandria no ano de 1932. Laureado em filosofia na Universidade de Torino, com uma tese estética sobre São Tomás de Aquino, trabalhou na RAI e na editora Bompiani e lecionou Semiótica na Universidade de Bolonha. Como estudioso, dedicou-se à estética medieval, à arte de vanguarda e aos fenômenos da cultura de massa.
Carlo Maria Martini nasceu em Torino em 1927, ordenando-se sacerdote pela Companhia de Jesus em 1952. Em 1958 forma-se em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, da qual mais tarde foi reitor. Foi elevado a cardeal em 1983 pelo papa João Paulo II. No conclave que escolheu Ratzsinger como papa, Martini era um dos mais fortes ‘papaveis’, mas descartado por razões de saúde. O jesuíta, ex-cardeal de Milão, faleceu em 31AGO2013.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

25.- AOS QUE CREEM E AOS QUE NÃO CREEM

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2633
Esta blogada é apenas para desejar alegrias pela data aos que creem e aos que não creem. Aos primeiros, os votos são de alegria pelo poder da fé na crença de um Deus que se encarna. Aos outros, — tenho sempre dúvidas acerca da existência real destes — que possam curtir o recesso laboral catalisado pela maior data religiosa do  mundo ocidental.
O anelo maior é que uns e outros, independente de credos,
possam hoje celebrar a Paz.
Nesta dicotomia, não há como não evocar o livro de Umberto Eco e Carlo Maria Martini: Em que creem os que não creem? Amanhã pretendo retornar com mais informações acerca deste livro.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

24.- ENTÃO, 24 DE DEZEMBRO ERA A NOITE MAIS ESPERADA DO ANO

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2632

Houve tempos de nossa infância e mesmo da pré-adolescência que a noite de 24 de dezembro era a mais esperada do ano. À medida que os dias passavam, no começo de um novo ano, parece que o natal ficava mais longe. Depois dos finados, havia a impressão que o calendário quase parava. Com a chegada de dezembro a espera tinha um balizador: as quatro velas da coroa do advento que eram acessas uma a cada semana.
Hoje parece que tudo passa tão rápido. Nossas agendas, então, eram tênues e os dias custavam a passar. Hoje, são muito densas e quase sem nos darmos conta: “... logo ali já é natal!”
Esta rapidação pode estar também conectada o abandono de nossas crenças em mitos. A lenda do papai-noel não se esboroa sozinha.
Mitos se esfumaçam, dogmas têm vacina contra demolição, mesmo quando na teogonia judaico-cristã se tenha que acreditar que no natal comemoramos o nascimento de um deus que foi gerado por uma virgem, inseminada por mensageiro celeste.
[Uso ‘teogonia’ na acepção etimológica mais ampla: Teogonia (em grego, Θεογονία {theos, deus + gonia, nascimento}; não na referência ao poema mitológico grego que contava a história do surgimento dos deuses]
A inclusão do gentílico judaico é porque na sabedoria dos Profetas do judaísmo se narra que “Uma Virgem conceberá e dará a luz um filho, e seu nome será Emanuel" - nome que significa: Deus está conosco" (Isaías 7:14). Isto é ratificado na tradição cristã: 34. Maria, então, perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?” 35. O anjo respondeu: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus (Lucas cap.1).
Assim, a celebração desta noite — deveras esquecida — é a de um Deus encarnado. O mistério da encarnação, central no cristianismo, encontra paralelo em diferentes teogonias que têm entre seus escritos míticos ‘uma virgem que é engravidada por ser superior e que dá a luz a deus ou deuses’.
Afortunadamente, nos tempos hodiernos, nesta celebração maiúscula dos crentes, os não crentes também confraternizam juntos, sem a ameaça das fogueiras inquisitoriais e irmanados celebram PAZ.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

23.—TALVEZ, UM LEONARDO DA VINCI PÓS-MODERNO


ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2631
Uma segunda-feira feira atípica, onde parece que nossos compromissos de rotina são canhestros. Tudo já sabe a festas. Recebi de uma leitora uma sugestão para esta blogada. Gênio, sim. Nerd, não está na Folha de S. Paulo deste do domingo com a seguinte chamada: Teen americano [leia-se: estadunidense] que criou teste para detectar câncer rejeita rótulo do nerd clichê antissocial e quer ser exemplo para jovens gays como ele. Talvez, poderíamos pensar meu um Leonardo da Vinci pós-moderno.
RESUMO Jack Andraka, 16, nasceu em Crownville, Maryland, nos EUA. No ano passado, ele recebeu o grande prêmio da Feira Internacional de Ciência e Engenharia, nos EUA, por sua pesquisa sobre um novo método para diagnosticar câncer de pâncreas. Em novembro, deu uma palestra sobre inovação no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e, na semana passada, escreveu um artigo para o "New York Times" sobre o ensino de ciência. Jack, que é gay, quer se tornar referência para jovens cientistas que pertençam a minorias.

(...) Depoimento a Raul Juste Lores

Já estive quatro vezes na Casa Branca com o presidente Obama e fui convidado a dar palestras em conferências médicas na França, na Itália, na Austrália e no Reino Unido, quase sempre falando sobre inovação e a importância de se estimular o interesse científico nas escolas.
Aos 15 anos, desenvolvi um teste que consegue diagnosticar precocemente o câncer de pâncreas. Meu tio morreu por causa disso e fiquei pensando no que eu podia fazer. Diferentemente das mulheres com tumor de mama, as vítimas desse câncer só têm o diagnóstico muito tarde, com uma alta taxa de mortalidade. Só 5% sobrevivem.
Desenvolvi um sensor usando papel-filtro e nanotubos para
detectar proteínas ligadas ao câncer rapidamente, cem vezes mais que outros testes (esquema ao lado).
Ganhei o primeiro prêmio da Feira Internacional de Ciência e Engenharia (ISEF) no ano passado, no maior evento para cientistas pré-universitários, e não parei.
ESTÍMULO Depois de procurar mais de 200 cientistas e centros de estudos e ser rejeitado por todos, fui abrigado pelo Anirban Maitra, pesquisador de câncer de pâncreas da Universidade Johns Hopkins, um dos maiores centros de pesquisa no mundo.
Minha escola é normal, ninguém estava preparado para me estimular ou ajudar nas pesquisas. O ensino científico ainda é fraco e raro. Ler artigos em publicações especializadas é caríssimo.
Meu laboratório mesmo é a garagem de casa, onde meu pai tinha uma marcenaria e, desde crianças, meu irmão e eu podemos fazer mil testes e usar ferramentas que nosso pai sempre nos deu ou emprestou. Lembro de uma maquete com um rio de brinquedo onde a gente aprendeu física e como os objetos flutuam. Meu irmão mais velho ganhou prêmios científicos antes de mim.
Pouca gente da minha idade se interessa por ciência. Sou gay, contei aos meus pais e amigos quando tinha 13 anos, e quero servir de exemplo para jovens gays. Há pouca mulher, pouco gay, poucas minorias em geral fazendo ciência. É um clube de garotos heterossexuais (ri).
Nunca sofri preconceito, mas as minorias trarão outras questões, outros problemas, enriquecerão a ciência.
'NERDICE' A mídia tem um papel enorme. Aquele seriado "The Big Bang Theory" mostra nerds e cientistas como gente antissocial, os estranhos que não sabem se relacionar. A série "Bones" é melhor, mostra que ciência é legal. Não sou um nerd clichê. Pratico esportes, tenho amigos, não me sento escondido no canto.
Ainda não sei nem que faculdade vou cursar. Só sei que quero continuar com pesquisas. Fui procurado por quatro grandes laboratórios que querem comercializar a minha invenção. Estou vendo qual é o melhor. Depois vem uma longa fase de testes e a aprovação pela FDA [agência reguladora de remédios dos EUA]. Leva de 5 a 10 anos até poder ser comercializado.
As escolas estão atrasadas em estimular a ciência. Encontrei vários estudantes brasileiros nas feiras de que participei. O "Team Brazil" era bem animado. Eles têm bastante apoio por lá?